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CAPÍTULO 3 – “BIOQUÍMICA NA ESCOLA”: UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA

3.2. METODOLOGIAS DE ENSINO: ESTRUTURA DIDÁTICA DA “BIOQUÍMICA NA

3.2.6. Contextualização

A contextualização é um termo novo no ensino, que foi inserido na língua portuguesa para ser utilizado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, considerando- se como um “recurso para promover inter-relações entre conhecimentos escolares e fatos ou situações presentes no dia-a-dia dos alunos, é imprimir significados aos conteúdos escolares, fazendo com que os alunos aprendam de forma significativa” (OLIVEIRA, 2005, p. 13). Wartha, Silva e Bejarano (2013) abordam a contextualização

como uma metodologia de ensino, em que o ensino contextualizado “é aquele em que o professor deve relacionar o conteúdo a ser trabalhado com algo da realidade cotidiana do aluno”.

Portanto, contextualizar implicaria incorporar vivências concretas e diversificadas para elaborar novos conhecimentos no contexto da sociedade em que se vive (WARTHA e ALÁRIO, 2005). Não obstante, é importante esclarecer que o termo contextualização e contexto, embora sejam hoje utilizados de forma popularizada ou “trivializada”, são diferentes (SILVA e NUÑEZ, 2007).

O termo “contexto”, que tem origem do latim contextus, pode descrever o espaço ou entorno físico ou simbólico, onde se criam diferentes situações que envolvem um ou vários indivíduos, situações que podem fornecer ferramentas culturais e elementos para a interação entre os sujeitos (WARTHA, SILVA e BEJARANO, 2013). Dentro do contexto podem ser construídos conhecimentos, no entanto, de acordo a Silva e Núñez (2007), esses conhecimentos são construídos em contextos específicos e são produzidos em relação a metas significativas para os sujeitos. No caso do ensino – aprendizagem da Química, os contextos específicos a considerar são: o cotidiano, o cientifico e o escolar, descritos na Figura 38.

Figura 38 – Contextos envolvidos no ensino – aprendizagem da Química.

Fonte: (SILVA e NUÑEZ, 2007, p. 6).

Mediador do cotidiano e da ciência na aprendizagem escolar Contexto da ciência Contexto cotidiano Contexto escolar

a) Da produção do conhecimento científico b) Da justificativa

c) Da aplicação Situações de

rotina no grupo sociocultural

Por outro lado, o termo “contextualização” é o processo de criação de cenários (contextos) para as formulações abstratas dos modelos teóricos, permitindo a construção de significados por meio do aproveitamento de relações vivenciadas e valorizadas no contexto (SILVA e NUÑEZ, 2007; WARTHA, SILVA e BEJARANO, 2013), com as finalidades no processo de ensino – aprendizagem de desenvolver atitudes e valores diante as questões sociais relativas à ciência e à tecnologia, auxiliar na aprendizagem de conceitos científicos e encorajar os estudantes a relacionar suas experiências escolares em ciência com problemas do cotidiano (SANTOS, 2007).

Além disso, os PCN+ consideram que no processo de ensino – aprendizagem da Química a contextualização contribui no exercício da cidadania a “abarcar competências de inserção da ciência e de suas tecnologias em um processo histórico, social e cultural e o reconhecimento e discussão de aspectos práticos e éticos da ciência no mundo contemporâneo” (BRASIL, 2002a, p. 30-31).

Esta pesquisa faz uso da contextualização como metodologia de ensino dado que como menciona Wartha e Alário (2005), auxilia na busca do significado do conhecimento a partir do contexto do mundo ou da sociedade, criando condições para que o estudante experimente a curiosidade e a satisfação de construir o conhecimento com autonomia, compreendendo a relevância de aplicar o conhecimento para entender fatos, tendências, fenômenos, processos que o cercam. Para tanto, foram empregadas atividades como: atividades experimentais, situações problema e estudos de caso que foram explicados neste capítulo. Além disso, utilizaram-se atividades como a análise de rótulos e a visualização de filmes como forma de contextualizar os conteúdos de Química.

Os rótulos dos alimentos têm como finalidade informar ao consumidor as propriedades nutricionais, e essa informação pode vir nos rótulos em duas formas:

Um é a propaganda nutricional do tipo descritiva ou comparativa, que apresenta denominações do tipo “rico em fibras”, que aparecem geralmente na parte anterior e mais visível. O outro é a declaração nutricional, ou informação nutricional, que usualmente está na parte posterior da embalagem, apresentando informações referentes a calorias, carboidratos, proteínas, gorduras totais, saturadas e trans, teor de fibras e sódio, entre outros nutrientes (SOUZA et al., 2011, p. 338).

No Brasil, a rotulagem nutricional foi regulamentada a partir de março de 2001, onde segundo a ANVISA os rótulos dos alimentos e bebidas devem conter “o valor calórico, o conteúdo de nutrientes e componentes em forma numérica” (AGÊNCIA

NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2001), tomando como base uma dieta de 2000 Kcal ou 8400 KJ. Entre os nutrientes os rótulos devem especificar: carboidratos, proteínas, gordura Total, gordura saturada, colesterol, fibra alimentar, cálcio, ferro e sódio (RADAELLI et al., 2001). Como se exemplifica na descrição nutricional do iogurte de frutas desnatado apresentado na Figura 39.

Figura 39 – Descrição nutricional do iogurte de frutas desnatado.

INFORMAÇÃO NUTRICIONAL Porção de 200 ml (1 copo) Quantidade por porção

. . % VD (*)

Valor energético 140 kcal = 588 KJ 7%

Carboidratos 20 g 7% Proteínas 6,0 g 8% Gorduras Totais 4,0 g 7 % Gorduras Saturadas 2,8 g 13 % Gordura trans 0 g --- Fibra Alimentar 0 g 0% Sódio 80 mg 3 %

Fonte: (NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM ALIMENTAÇÃO – NEPA, 2004, p. 33)

Percebe-se na Figura 39 que os rótulos nutricionais contêm em sua informação as macromoléculas: carboidratos, proteínas e lipídeos (gorduras totais, gorduras saturadas e gorduras trans), trabalhadas nesta pesquisa. Permitindo a contextualização dos conteúdos químicos e o fortalecimento de habilidades relativas à formação da cidadania, como a tomada de decisão e o posicionamento crítico nos aspectos sociais. Dado que, com análise dos rótulos os estudantes podem observar que nutrientes estão consumindo em cada alimento, além de possibilitar discussões sobre o consumo excessivo dos nutrientes.

Algumas pesquisas que podem ser citadas por utilizarem a análise de rótulos como estratégia para contextualizar são: “Interpretação de Rótulos de Alimentos no

Ensino de Química”, a qual ressaltou a importância do conhecimento químico na

compreensão, análise e interpretação da composição química de alimentos (NEVES, GUIMARÃES e MERÇON, 2008); “De olho nos rótulos: Compreendendo a unidade

caloria” o qual tinha como finalidade facilitar a leitura e a compreensão de rótulos em

relação à unidade caloria, instigando uma análise crítica (CHASSOT, VENQUIARUTO e DALLAGO, 2005) e “Quimica na odontologia”, a qual utilizou os rótulos de produtos de higiene bucal (flúor tópico em gel, cremes dentais e enxaguatórios bucais), bebidas

e alimentos, com o objetivo de relacionar que ingredientes poderiam ser “nocivos” à nossa saúde bucal (STORGATTO, 2016). A atividade de análise de rótulo realizada nesta pesquisa será explicada no capítulo 4.

Por fim, os filmes, de acordo com Napolitano (2003, p. 11-12) “ajudam a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, as ideologias e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte”. Além de auxiliar no processo de ensino – aprendizagem dos mais variados conteúdos a serem abordados, com a apresentação de filmes em forma de documentário, ficção, biografia, etc. (COELHO e VIANA, 2011). Seu uso como recurso didático na sala de aula no Brasil remonta às décadas de 1920 e 1930, com a finalidade de realizar “mudanças significativas nos processos educacionais, privilegiando o aprendizado centrado na atenção do aluno e incorporando, para a concretização desse processo, ferramentas auxiliares como imagens estáticas, mapas e filmes” (PEREIRA e SILVA, 2014, p. 319).

No entanto, como é destacado por Silva e Davi (2012), um filme não faz sozinho o papel de despertar o conhecimento nos estudantes, pelo qual requer que os professores tenham a disposição de planejar o que vai ser apresentado, estudando o tema do filme e descobrindo como adequá-lo ao eixo a ser trabalhado, analisando a faixa etária dos alunos, o conhecimento prévio, a comunidade na qual está inserido, entre outros tantos fatores que devem ser observados pelo educador com o intuito de não perder o foco na educação.

O filme, como é mencionado por Coelho e Viana (2011), é uma prática pedagógica que pode fazer o aluno se interessar pelo conhecimento, na qual o professor direciona a ligação entre o filme e o conhecimento, articula conceitos e contextos e desenvolve reflexões que instiguem os alunos a raciocinar de forma crítica. Entre os filmes de caráter comercial de sucesso que abordam, direta ou indiretamente, conceitos de Bioquímica, Leal (2012) destaca: “GATTACA”, “A ilha do

Dr. Moureau” e o “Óleo de Lorenzo” os quais foram utilizados nesta pesquisa dentro

da oficina temática com enfoque no ensino de Lipídeos, como forma de conscientizar os estudantes da presença dos ácidos graxos nos alimentos e de sua relação com doenças e tratamentos medicinais.