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TAXONOMIA DE BLOOM COMO ESTRATÉGIA PARA UMA APRENDIZAGEM

CAPÍTULO 1 – APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

1.6. TAXONOMIA DE BLOOM COMO ESTRATÉGIA PARA UMA APRENDIZAGEM

Para a ciência como a biologia, o termo taxonomia procura identificar, delimitar e classificar as espécies (BARRIENTOS, 2003). No caso da pedagogia, que é uma ciência que tem como objeto de estudo os processos de ensino – aprendizagem dentro da educação, a taxonomia é um modelo explicativo de como progredir na aprendizagem para obter uma aprendizagem significativa nos estudantes (SANTAELLA, 2012). A taxonomia, no âmbito pedagógico, iniciou-se como um projeto da Associação Norte Americana de Psicologia, reunida em Boston (USA) no ano de 1956, liderado por Benjamin Bloom. Bloom propôs uma taxonomia de domínios específicos de desenvolvimento da aprendizagem conhecida como a Taxonomia de

Bloom ou Taxonomia dos objetivos da educação, indicando, a partir dela, um sistema

de classificação para objetivos educacionais, com a finalidade de facilitar a comunicação entre docentes, docentes/estudantes, docentes/currículo e procedimentos de avaliação. Dado que, segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975, p. 69, tradução nossa) “a falta de um procedimento sistemático operacionalizado como este, era responsável pela ambiguidade, a má interpretação e da conversação sem

comunicação que caracterizava a intenção dos educadores em compartilhar ideias sobre objetivos e avaliação”.

Por esta razão, a Taxonomia de Bloom é um sistema que orienta os professores como elaborar os objetivos de um processo de aprendizagem, no qual os estudantes adquiram novas habilidades e conhecimentos (BLOOM, HASTINGS e MADAUS, 1975). Além disso, a Taxonomia de Bloom é uma ferramenta que, de acordo com Bloom (1956, apud MARCHETI e VAIRO, 2010):

1. Padronizaria a linguagem sobre os objetivos de aprendizagem para facilitar a comunicação entre pessoas (docente, coordenadores etc.), conteúdos, competências e grau de instrução desejado;

2. Serviria como base para que determinados cursos definissem, de forma clara e particular, objetivos e currículos baseados nas necessidades e diretrizes contextual, regional, federal e individual (perfil do discente/curso);

3. Determinaria a congruência dos objetivos educacionais, atividade e avaliação de uma unidade, curso ou currículo;

4. Definiria um panorama para outras oportunidades educacionais (currículos, objetivos e cursos), quando comparado às existentes antes dela ter sido escrita (MARCHETI e VAIRO, 2010, p. 424).

Os domínios específicos de desenvolvimento nos quais se divide a Taxonomia

de Bloom, são utilizados para analisar e/ou avaliar os aspectos cognitivos, afetivos e

psicomotores do estudante. Para o caso desta pesquisa, o domínio de desenvolvimento a ser favorecido é o domínio cognitivo que, segundo Marcheti e Vairo (2010, p. 422) é relacionado

(...) ao aprender, dominar um conhecimento. Envolve a aquisição de um novo conhecimento, do desenvolvimento intelectual, de habilidades e atitudes. Inclui reconhecimento de fatos específicos, procedimentos, padrões e conceitos que estimulam o desenvolvimento intelectual constantemente (MARCHETI e VAIRO, 2010, p. 422).

O domínio cognitivo se caracteriza por ter uma organização hierárquica indutiva do conhecimento, isto significa que o conhecimento inicia a partir de conceitos simples aos mais complexos (BLOOM, HASTINGS e MADAUS, 1975), para ter uma ordem lógica na construção do novo conhecimento: lógica com a estrutura cognitiva do estudante e lógica com os conteúdos a abordar. Esta organização hierárquica é elaborada por meio de níveis e categorias que são cumulativas e que tem uma relação de dependência com o anterior, como se observa no Quadro 2:

Quadro 2 – Níveis do domínio cognitivo da Taxonomia de Bloom.

NÍVEL CATEGORIA DESCRIPÇÃO

1 Conhecimento

Habilidade de lembrar elementos específicos e considerados como universais, como: formulas, palavras, fatos, datas, classificações, teorias, etc.

2 Compreensão Habilidade para entender, interpretar e dar significado ao conhecimento.

3 Aplicação

Habilidade de usar o conhecimento (informações, métodos e conteúdos aprendidos) para resolver problemas.

4 Análise

Habilidade para fragmentar uma comunicação em seus elementos, identificando relações e princípios de organização.

5 Síntese

Habilidade de produzir uma comunicação única depois de fazer um esquema de ação. Reunindo, organizando e combinando elementos, partes, fragmentos, etc. para formar um “todo”.

6 Avaliação

Habilidade de julgar materiais e métodos a partir de critérios que podem ser determinados pelos estudantes ou proporcionados pelo professor.

Fonte: Adaptação de (AYALA et al., (2010, p. 56); BLOOM, HASTINGS e MADAUS (1975, p. 408-409)). As categorias que integram o domínio cognitivo na Taxonomia de Bloom, favorecem na construção da aprendizagem significativa dos estudantes e habilidades para resolver problemas, desde que o aprendiz tenha o compromisso e a predisposição para aprender como já mencionado nas condições da aprendizagem significativa. Porém, conduz os professores a “elaborarem um processo de aprendizagem que recorra aos diferentes níveis e que consiga que os estudantes alcancem o último nível da taxonomia” (SANTAELLA, 2012, p. 472, tradução nossa), para favorecer a aprendizagem em níveis superiores e não só os primeiros níveis da taxonomia (níveis baixos), pois, favorecerem uma aprendizagem mecânica.

Este domínio foi objeto ao longo do tempo de revisões, modificações e introdução de novas teorias, feitas por diferentes autores com conhecimento didático para o desenvolvimento deste na sala de aula, como os citados no Quadro 3.

Quadro 3 – Taxonomias da aprendizagem.

(continua)

ANO AUTOR (ES) CATEGORIAS

1956 BLOOM Conhecimento Compreensão Aplicação Análise Síntese Avaliação 1988 BROUDY Replicar Associar Aplicar Interpretar 2001 ANDERSON e COLABORADORES (revisão da Taxonomia de Bloom)

Lembrar Entender Aplicar Analisar Avaliar Criar 2003 FINK Aquisição de conhecimentos Aplicação Dimensão humana Interesse e motivação Aprender a aprender 2004 SHULMAN Implicação/Motivação Conhecimento/Compreensão Execução Reflexão Elaboração Compromisso 2005 WINGGINS e McTIGHE Explicação Interpretação Aplicação Perspectiva Empatia Tomada de Consciência 2008 ANDREW CHURCHES (Articulação da revisão de Anderson e colaboradores e as Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC))

Lembrar Entender Aplicar Analisar Avaliar Criar

Quadro 3 – Taxonomias da aprendizagem.

(conclusão)

ANO AUTOR (ES) CATEGORIAS

2013

KATHY SCHROCK

(Articulação da revisão de Anderson e o modelo SAMR de Ruben

Puentedura)

Substituição Aumento Modificação Redefinição

Fonte: (CHURCHES, 2009, p. 6; SANTAELLA, 2012, p. 471; SCHROCK, 2013, tradução nossa).

Para esta investigação utilizaremos as modificações da revisão do domínio cognitivo da Taxonomia de Bloom elaborada por Anderson e colaboradores em 1999, mas publicadas no ano de 2001 com o nome de “A Taxonomy for Learning, Teaching,

and Assessing: A Revision of Bloom’s Taxonomy of Educational Objectives”, as quais

são mencionas por Krathwohl (2002 apud MARCHETI e VAIRO, 2010, p. 427).

1. Os aspectos verbais utilizados na categoria conhecimento foram mantidos, mas esta foi renomeada para lembrar; compreensão foi renomeada para entender; e aplicação, análise, síntese e avaliação, foram alteradas para a forma verbal aplicar, analisar, sintetizar e criar, por expressarem melhor a ação pretendida e serem condizentes com o que se espera de resultado a determinado estímulo de instrução.

2. As categorias avaliação e síntese (avaliar e criar) foram trocadas de lugar.

3. O verbo e substantivo do objetivo foram separados em duas dimensões, nas quais os substantivos formariam a base para a dimensão conhecimento (o que/conteúdo) e verbo para dimensão relacionada aos aspectos cognitivos (como). Exemplo: Lembrar (verbo) as três leis de Newton (substantivos/conteúdo) (MARCHETI e VAIRO, 2010, p. 427).

Também serão utilizadas as categorias renomeadas da Taxonomia de Bloom (Figura 3) e os verbos de ação para cada um dos níveis (Quadro 4), os quais darão início aos objetivos de aprendizagem, que descrevem a ação pretendida que o estudante deve desenvolver durante ou ao final do processo de ensino e não os conteúdos a ser ensinados, caracterizando-se por não descrever uma meta a longo prazo (DILLMAN e RAHMLOW, 1976).

Os verbos segundo Bloom, Hastings e Madaus (1975), orientam na definição dos resultados esperados ou objetivos de aprendizagem, na determinação da sequência de ensino dos conteúdos, os procedimentos e/ou atividades e procedimentos de avaliação que favorecerão a aprendizagem significativa.

Figura 3 – Taxonomia de Bloom proposta por ANDERSON, et al., 2001.

Fonte: Adaptação de MARCHETI e VAIRO (2010, p. 429).

Quadro 4 – Verbos de ação.

NÍVEIS CATEGORIAS VERBOS DE AÇÃO

1 Lembrar Nomear, definir, numerar, reconhecer e lembrar.

2 Entender Interpretar, exemplificar, classificar, resumir, inferir, comparar e explicar.

3 Aplicar Implementar e executar.

4 Analisar Diferenciar, organizar, comparar e estruturar. 5 Avaliar Comprovar, formular hipóteses e experimentar. 6 Criar Generalizar, planejar, elaborar e produzir.

Fonte: (LOPEZ, 2014, p. 3).

Para o caso da Química, Tikkanen e Aksela (2012) propõem exemplos de objetivos elaborados utilizando a Taxonomia de Bloom para cada categoria, apresentados no Quadro 5: LEMBRAR ENTENDER APLICAR ANALISAR AVALIAR CRIAR

Colocar elementos junto com o objetivo de criar uma nova solução, estrutura ou modelo utilizando conhecimentos e habilidades previamente adquiridos.

Dividir a informação em partes relevantes e irrelevantes e entender a inter-relação existente entre as partes.

Executar ou usar um procedimento numa situação especifica.

Reconhecer ou recordar uma determinada informação relevante memorizada. Realizar julgamento baseados em critérios e padrões qualitativos e quantitativos ou de eficiência e eficácia.

Estabelecer uma conexão entre o novo e o conhecimento previamente adquirido.

Aprendizagem Mecânica (Ordem inferior) Aprendizagem Significativa (Ordem superior) Aprendizagem Significativa (Ordem média)

Quadro 5 – Taxonomia de Bloom aplicada no contexto da Química.

CATEGORIA EXEMPLO

LEMBRAR Reconhecer os símbolos dos elementos químicos.

ENTENDER

Exemplificar os compostos orgânicos. Classificar os diferentes carboidratos.

Comparar os elementos da tabela periódica.

APLICAR Implementar a lei dos gases ideais na resolução de problemas. Executar o processo de destilação.

ANALISAR Identificar os principais elementos de um problema. Analisar artigos de investigação em química.

AVALIAR Criticar os diferentes métodos químicos.

Formular hipóteses para a solução de problema. CRIAR Planejar um método químico.

Escrever um ensaio de química.

Fonte: (TIKKANEN e AKSELA, 2012, p. 260).

Além disso, a Taxonomia de Bloom tem sido utilizada na elaboração e/ou análise de questões de provas em algumas pesquisas, como: a análise das questões de provas aplicadas em disciplinas oferecias pelo Departamento de Bioquímica da Universidade de São Paulo, indicando uma forte predominância de níveis cognitivos baixos e pouca representatividade de níveis cognitivos altos (KISIL, 2010) e a identificação dos processos cognitivos solicitados nas provas de química dos concursos vestibulares das universidades estaduais paulistas, encontrando-se que os processos cognitivos preferidos pertencem ao primeiro e segundo nível da Taxonomia (QUÍNTINO, 2010).

É evidente que a aprendizagem significativa é uma construção da qual participam de forma ativa o estudante e o professor. A Taxonomia de Bloom ajuda e/ou orienta o professor dentro dessa participação na elaboração de objetivos de aprendizagem e atividades que permitam o progresso da aprendizagem de forma indutiva, não-arbitraria e não-literal, levando em conta a estrutura cognitiva do estudante e suas necessidades. Nesse sentido, a Taxonomia de Bloom constitui uma estratégia para conseguir a aprendizagem significativa e incentivar a mudança de metodologias em sala de aula, para estimular o uso de capacidades maiores do estudante, que impliquem em fazê-lo ir muito além de lembrar.