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2 ACERCA DAS BARRAGENS: BREVES REGISTROS

2.3 CONTRA A CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS

Comunidades afetadas, em todo mundo, se mobilizaram e se mobilizam para expressar a opinião quanto à apropriação das águas e dos rios por grupos econômicos nacionais e internacionais. Passagens desse movimento contra a construção de barragens são abordadas, na sequência, com informações acerca da mobilização internacional e nacional, sendo que, no âmbito do Brasil, situam-se a história da criação do MAB, sua dinâmica de trabalho e a inclusão da educação formal dos atingidos por barragens nos seus itens de reivindicação.

2.3.1 A Mobilização Internacional

A mobilização internacional contra as barragens resulta do sofrimento de pessoas afetadas em todo o mundo, de populações indígenas nos Estados Unidos da América a agricultores na Tailândia que perderam, para as represas e usinas, suas terras, casas, postos de

trabalho e recursos vitais como florestas e peixes. Cerca de 5.400 grandes obras foram concluídas na década de 1970, mas nos anos 1990 esse número caiu para 2.000. Estima-se que a principal razão para esta diminuição tem sido o crescente fortalecimento dos que se opõem à construção de grandes barragens (MCCULLY, 2000).

Desde o final dos anos 1980, eclode um movimento internacional de grupos que lutam contra as barragens deflagrando campanhas locais, regionais e nacionais, além de grupos de apoio local, nacional e internacional. Luta-se contra a edificação de novas barragens e para que as vítimas das barragens que já foram construídas sejam indenizadas e compensadas retroativamente por suas perdas econômicas e culturais, responsabilizando governos, financiadores e construtoras (MCCULLY, 2000).

A pressão contra as grandes represas, mesmo sem conseguir barrar as construções, na maioria dos casos, atua no sentido de delongar o inicio das obras. É reivindicada a formulação de leis para tornar mais rigoroso o processo de planejamento e aprovação de barragens – e, portanto, mais caro e demorado. Nas audiências públicas obrigatórias, as comunidades afetadas se mobilizam e lutam por alternativas a projetos de construção de represas. Nesse sentido,

o debate trouxe mudanças consideráveis no ritmo de construção. A construção de barragens está decaindo substancialmente: de um pico de aproximadamente 540 por ano, na década de 1970, para 200 por ano na década de 1990. Além disso, a partir da década de 1970, as agências financiadoras - Banco Mundial, BID e outras – foram pressionadas a criarem regras específicas para o tratamento das questões social e ambiental. Vários governos também se viram pressionados a adotar regras para licenciar barragens, de modo a obter os empréstimos desejados. O licenciamento ambiental e as audiências públicas são exemplos desse processo. Mas, além de sua precariedade, nem sempre estas normas e requisitos vêm sendo respeitados (MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS, 2003a, p. 2).

Tal processo de mobilização não tem sido nem um pouco pacífico. A Rede Internacional de Rios (2000) anunciou a presença de homens armados impedindo que os oponentes tomem as ruas em protesto e divulga vários incidentes de repressão à mobilização popular. As divergências foram brutalmente esmagadas em incidentes abafados, como: na Guatemala, os opositores da construção da Barragem Chixoy foram assassinados; no Paraguai, a polícia espancou posseiros que construíram cabanas provisórias às margens do Reservatório de Yacyretá; na Colômbia, líderes indígenas foram assassinados brutalmente.

Ainda assim, em todo o mundo, populações se mobilizam, marcadas pelas consequências destrutivas das barragens, incluindo nas suas estratégias de luta fóruns de debate sobre a possibilidade de implementar modos alternativos e efetivos de abastecimento de energia e de gestão de recursos hídricos.

Face aos conhecidos impactos sociais e ambientes decorrentes das grandes barragens, acirra-se a luta de classe. De um lado, se posicionam os governos e as empresas privadas, envolvidos no planejamento, financiamento, construção e operação das barragens. Na posição inversa, estão os movimentos locais de resistência, ambientalistas e ONGs, que agem de modo isolado ou articulado. Progressivamente, as coalizões foram ocorrendo, tanto em nível regional como nacional e internacional com resultados efetivos, a exemplo de alterações de cronogramas e de formatos de obras e, até mesmo, interrupções de projetos (MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS, 2003a).

Focalizando a América Latina e o Caribe, comunidades indígenas e tradicionais, já muito fragilizadas, foram afetadas com a expansão da construção de barragens. Alguns exemplos deste problema podem ser citados. Trata-se do caso das comunidades à jusante da Barragem de Urra, no Rio Sinú, na Colômbia, que lutam, há anos, por indenizações pela perda de sua principal fonte de sobrevivência, que é a pesca. Outro exemplo são os atingidos pela Barragem de Yacyretá, no Rio Oaraná, na divisa entre o Paraguai e a Argentina, que lutam para que a cota de água do reservatório não suba, destruindo ainda mais o meio ambiente e os modos de vida da população (MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS, 2003a).

Além do caso da comunidade indígena Maya Achí, na Guatemala, atingida, em 1982, pela Barragem de Chixoy, no Rio Negro, registra-se, ainda, o caso gravíssimo das comunidades ameaçadas por diversas barragens do Rio Bío-Bío, no Chile. Este Rio é território ancestral de um grupo indígena, que abastece cidades e regiões rurais totalizando mais de 1 milhão de pessoas. Os índios Pehuenche, um dos grupos indígenas mais importantes e representativos do país, habitam a região do alto Bío-Bío. Existe uma disputa entre a Lei de Proteção às Terras Indígenas e a Lei de Energia Elétrica do País, aprovada durante a Ditadura de Pinochet, que deu

“carta branca para qualquer projeto de geração de energia no que diz respeito às questões

socioambientais” (MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS, 2003a, p. 5). Momentos fundamentais da luta internacional contra as barragens são registrados, também, pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (2003a). Dentre eles, destaca-se a fundação da já referenciada ONG International Rivers Network (IRN), que se firmou como um dos principais articuladores da resistência internacional às barragens. Outro movimento expressivo, por volta de 1989, foi o de atingidos pela Barragem de Sardar Sarovar no Vale do Rio Narmada, na Índia, que se tornou forte na luta para salvar o Rio Narmada. Trata-se do Narmada Bachao Andolan (NBA) ou Movimento Salvemos Narmada.

Em 1990, o NBA exigiu a suspensão da obra de construção da Barragem de Sardar Sarovar até que fosse feita uma revisão independente e participativa do referido projeto. Os

atingidos se recusaram a mudar para os reassentamentos, até que a revisão fosse realizada, mesmo que precisassem morrer afogados no reservatório. Pressionado por uma grande marcha do NBA, em 1991, o Banco Mundial avaliou o projeto e, em 1993, cancelou seu financiamento. Mesmo assim, o Governo construiu a barragem e os atingidos foram retirados à força de suas terras. Na década de 1990, o NBA continuou sua ação organizando os atingidos do Vale do Narmada. Em Janeiro de 2000, o canteiro de obras da Barragem de Maheshwar foi ocupado várias vezes e milhares de pessoas foram presas (MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS, 2003a.).

A IRN e o NBA articularam, no vale do Rio Narmada, em junho de 1994, a Declaração de Manibeli, documento assinado por 326 grupos de 44 países, que se tornou um marco na luta por maior transparência nos projetos apoiados pelo Banco Mundial, um dos principais financiadores das grandes barragens do século XX. Quatro meses depois, o Banco Mundial iniciou a primeira avaliação de um conjunto de barragens que receberam seu apoio (MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS, 2003a).

Segundo McCully (2000), a Declaração de Manibeli, endossada por coalizões de direitos humanos e ambientalistas, marcou esta mobilização internacional. Esse documento se configurou como uma

convocação para uma moratória do financiamento de grandes barragens pelo Banco Mundial, em homenagem à heróica resistência do povo de Manibeli e outros do Vale de Narmada que sofreram as consequências da construção da Barragem de Sardar Sarovar, financiada pelo Banco Mundial. Esta declaração é também uma homenagem aos milhões de refugiados devido à construção de barragens no mundo (DECLARAÇÃO DE MANIBELI, 1994, p. 36).

Esta declaração exige do Banco Mundial uma moratória nos financiamentos de grandes usinas até que uma série de condições seja atendida. O documento faz uma série de exigências ao Banco Mundial incluindo, dentre outras, as reivindicações listadas a seguir:

a) estabelecimento de um fundo de indenização para populações expulsas de suas casas e terras por grandes usinas financiadas pelo Banco, sem compensações adequadas e que esse fundo seja administrado por instituições transparentes, confiáveis e independentes do Banco;

b) revisão das suas políticas e garantia de que nenhum projeto de grandes barragens exija o desalojamento forçoso, em países desprovidos de políticas e normas legais que assegurem a recuperação de níveis de vida das pessoas desalojadas;

c) garantia de que as comunidades desalojadas participem em todo o processo de identificação, desenho, implementação, e monitoramento do projeto, além de dar seu consentimento antes do início das obras;

d) criação de uma comissão independente que revise todos os projetos de grandes barragens e calcule seus custos reais, diretos e indiretos, incluindo os custos sociais e ambientais e os benefícios efetivos de cada um dos projetos (DECLARAÇÃO DE MANIBELI, 1994).

Além da Declaração de Manibeli, outras declarações foram elaboradas e divulgadas a exemplo da Declaração de San Francisco e a Declaração de Walker Creek. A declaração de San Francisco foi publicizada em junho de 1988, resultante de uma conferência internacional em São Francisco, na Califórnia (EUA), organizada pela IRN, que congregou organizações civis preocupadas em proteger os rios e os recursos hídricos da ameaça da construção das grandes usinas hidrelétricas. Nessa conferência, 60 pessoas de 26 países iniciaram um programa de ação que fundamentou a campanha global da IRN para resguardar os rios do mundo. O teor da referida declaração exigia uma moratória para todas as novas grandes barragens, planejadas ou em construção que não satisfaziam vários quesitos estabelecidos e elencados na declaração. Essa moratória deveria ser instituída por países, agências e instituições financeiras envolvidas na edificação de grandes barragens, seja através de empréstimos, venda de equipamentos ou prestação de serviços. Quanto às exigências, foram elencadas várias, perpassando desde recomendações sobre a definição dos objetivos de um projeto de barragem, seu planejamento e financiamento, um estudo completo dos impactos ambientais, a recompensa justa das perdas das pessoas afetadas, dentre outros (DECLARAÇÃO DE SAN FRANCISCO, 1988).

Quanto à Declaração de Walker Creek, datada de 25 de julho de 1998, grupos civis de todas as partes do mundo reuniram-se num Seminário Internacional sobre Estratégias para o Desmantelamento de Barragens, organizado pela IRN. Na ocasião, foi instituída a Coalizão Internacional para a Restauração dos Rios e das Comunidades Atingidas por Barragens. A referida declaração consistiu no manifesto da fundação dessa coalizão também chamada de Rios com Vida.

No texto da Declaração de Walker Creek, os signatários ratificam a essencialidade dos rios para a vida no ambiente natural, humano e social, e denunciam a sua degradação mediante a construção de milhares de barragens que inundam grandes áreas de terras, atingindo milhões de pessoas.

Na continuação, o documento menciona vários impactos destas edificações, como: empobrecimento das comunidades; bloqueio do fluxo de nutrientes e sedimentos; contaminação

das águas; eliminação de regimes naturais e essenciais de inundações, degradando ecossistemas e áreas cultivadas, além de prejudicar a atividade pesqueira; diminuição e extinção de espécies ribeirinhas; degradação ecológica de estuários e encostas.

O documento argumenta, ainda, que os serviços proporcionados pelas barragens têm um custo ecológico e social muito alto, sem contar que os custos e os benefícios são desigualmente compartilhados. Considerando os impactos negativos para rios e comunidades ribeirinhas, o documento exige avaliações independentes e transparentes para identificar quais barragens devem continuar em operação, quais devem ter suas operações alteradas com vistas à mitigação dos impactos ambientais sociais e quais devem ser desmanteladas e removidas (DECLARAÇÃO DE WALKER CREEK, 1998).

Outro momento crucial na mobilização internacional foi a realização do Encontro Internacional de Atingidos por Barragens, realizado em março de 1997, em Curitiba, Paraná, contando com a presença de representantes de movimentos sociais e ONGs de cerca de 20 países, tendo sido aprovada a Declaração de Curitiba pelo Direito à Vida e aos Modos de Vida das Populações Atingidas por Barragens, datada de 14 de março de 1997. Este dia foi consagrado o Dia Internacional contra as Barragens, pelos Rios, pela Água e pela Vida (MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS, 2003a).

A Declaração de Curitiba, cujo lema é Pelo direito à vida e aos modos de vida das populações atingidas por barragens, demarca o posicionamento de pessoas de 20 países, representando organizações das populações atingidas e movimentos de oposição a barragens destrutivas, que socializaram experiências e perdas. O documento, inicialmente, menciona os prejuízos dessas edificações e justifica a organização e bandeiras de luta dos atingidos. Argumenta a distância entre o que prometem as barragens e o que de negativo ocorre após a sua construção. Menciona, ainda, os que se beneficiam (latifundiários, grandes empresas agroindustriais e especuladores) em detrimento da expropriação de pequenos agricultores, trabalhadores rurais, pescadores, comunidades indígenas tribais e tradicionais, comunidades remanescentes de quilombos.

O documento reconhece que a luta dos atingidos é contra os interesses dos poderosos, que são os financiadores internacionais, as agências multilaterais e bilaterais de crédito e de ajuda, as empresas de construção e de produção de equipamentos, as firmas de consultoria em engenharia e meio ambiente, as coligações envolvidas com indústrias eletrointensivas marcadamente subsidiadas. Exige, também, que seja incluída a participação pública e a transparência no desenvolvimento e implementação das políticas energéticas e de recursos hídricos, associada à descentralização do poder político e o fortalecimento das comunidades

locais. Após essas considerações, são relacionados posicionamentos e outros itens reivindicatórios, dentre outros:

a) reconhecimento e endosso dos princípios da Declaração do Rio de Janeiro, elaborada por ONGs e Movimentos Sociais, em 1992 e da Declaração de Manibeli, de 1994;

b) oposição à construção de barragens sem aprovação prévia da população atingida, mediante processo participativo e informado;

c) exigência de moratória na construção de grandes barragens até que sejam assegurados: o fim de formas de violência e intimidação contra populações afetadas e movimentos contrários às barragens; a reparação dos prejuízos das pessoas que tiveram seus modos de vida alterados; restauração de danos ambientais; respeito aos direitos territoriais de populações indígenas, tribais, semitribais, tradicionais e remanescentes de quilombolas; formação de uma comissão internacional independente, com a participação dos atingidos, para revisar as grandes barragens; e implementação de políticas energéticas e de recursos hídricos fundamentadas no uso de tecnologias sustentáveis;

d) oposição ao processo de privatização e defesa do controle público e gestão democrática dos recursos hídricos energéticos, de forma a garantir as necessidades da população;

e) ratificação dos objetivos e das conquistas e reafirmação do compromisso com a luta organizada contra as barragens (DECLARAÇÃO DE CURITIBA, 1997).

Uma série de eventos internacionais se sucedeu, culminando com a criação da CMB, já referenciada neste trabalho, um fórum misto composto por governos, empresas, ONGs e movimentos sociais. Essa comissão avaliou e propôs critérios para a construção de barragens no mundo, sendo que algumas reivindicações dos movimentos contra barragens foram contempladas, apesar da influência de governos e do setor privado. Registrou-se, nesse processo, uma aproximação e uma colaboração entre os movimentos. Em novembro de 2000, a CMB concluiu seus trabalhos, mas permaneceu em funcionamento o Comitê Internacional contra Barragens, pelos Rios e pelos Povos (ICDRP). Este Comitê organizou o 2º Encontro Internacional dos Atingidos por Barragens, na Tailândia, em dezembro de 2003, ao lado da Barragem de Pak Mun (MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS, 2003a).

Sobre a mobilização na Tailândia, o Movimento dos Atingidos por Barragens (2003a) informa que grupos de ambientalistas, pesquisadores e estudantes conseguiram, em 1988 e após muito insistir impedir a construção da Barragem de Nam Choan, no Rio Khwae. Pouco tempo

depois, o Santuário Natural de Thung Yai, que ficaria submerso na barragem, foi declarado Patrimônio Natural Mundial. A Barragem de Pak Mun, mencionada anteriormente, também, foi palco de difícil embate. Os atingidos fizeram grande oposição à instalação da Usina e lutaram por indenizações desde a conclusão das obras, em 1994. Em 23 de março de 1999, mais de 5.000 ribeirinhos ocuparam a Usina de Pak Mun, determinados a permanecer até que suas exigências fossem cumpridas. Eles reivindicavam um hectare de terra para cada uma das 4.500 famílias de pescadores prejudicados em suas rendas. Essa organização, em prol das compensações justas, obrigou o primeiro ministro a declarar que para o bem da proteção ambiental, a Tailândia não iria mais construir barragens para produção de energia.

A defesa da restauração dos rios pelo mundo, através da desativação de barragens obsoletas, preconizada por grupos de ambientalistas e de defesa dos direitos humanos, tem ganhado apoio como uma alternativa viável. Reconhece-se que as barragens não são permanentes, pois muitas delas têm sucumbido por forças naturais e/ou por falhas de planejamento e de construção. Muitas chegam ao final de sua vida funcional e não servem mais ao propósito inicial que justifique seus impactos negativos e, ainda, ameaçam milhões de pessoas, propriedades, peixes e vida silvestre. Muitas barragens nunca serviram aos propósitos para que foram construídas e mais causam danos significativos aos ecossistemas e meios de sobrevivência das populações locais. Campanhas para desativar barragens, fundamentadas em termos sociais, ambientais, econômicos ou uma combinação entre eles, têm se estendido. Como exemplos, são citadas as campanhas para drenar o lago Pedder na Austrália e os esforços para remover duas barragens do Vale Loire, na França (REDE INTERNACIONAL DE RIOS, 2000).

Outras campanhas deflagradas por grupos de ambientalistas dos EUA merecem ser referenciadas como indica o trecho, a seguir:

Alguns dos trabalhos mais amplos de remoção de barragens têm sido feitos nos EUA, nascidos das bem sucedidas lutas como aquelas pela desativação da Barragem de Edwards, no Maine, e das barragens do Rio Elwha, em Washington. Entre as campanhas em andamento incluem-se aquelas pela demolição de quatro barragens no Rio Snake e das Barragens de Savage Rapids, no Oregon, e pela drenagem do reservatório de Powell, no Rio Colorado para restaurar o Grand Canyon. Também estão sendo desenvolvidos planos para uma abertura na Barragem de Elk Creek, no Oregon, parcialmente completada, para restaurar a passagem de cardumes de peixes. Estas campanhas têm-se beneficiado da experiência que os grupos ambientalistas dos EUA adquiriram lutando contra barragens destrutivas nos últimos 30 anos e das novas iniciativas em políticas públicas, tais quais as conquistas na reforma de políticas referentes a hidroelétricas (REDE INTERNACIONAL DE RIOS, 2000, p. 33).

A mobilização internacional, empreendendo esforços para acompanhar as iniciativas e fazer frente aos projetos de barragens destrutivas, também, organizou uma relação de rios localizados na América Central e na América do Sul, nos quais, à época, estavam sendo desenvolvidos projetos da indústria de barragens, alvo de controvérsias e de oposição. Os nomes desses rios, sua localização e os impactos advindos foram publicados pela Rede Internacional de Rios (2000). Dentre eles encontram-se os seguintes rios brasileiros e respectivos projetos de barragens: Rio Tibagi, no Estado do Paraná, com projetos para as barragens de Jataizinho, Cebolão, São Jerônimo e Mauá; Rio Xingu, no Estado do Pará, com projeto para a construção da Barragem de Belo Monte; e Rio Ribeira do Iguape, Estado de São Paulo, com o projeto das barragens Tijuco Alto, Funil, Itaóca e Batatal. A articulação contra esses empreendimentos, em nível de Brasil, é tratada a seguir.

2.3.2 A Mobilização Nacional

Articulado à mobilização internacional, ganhou visibilidade a luta do Movimento dos Atingidos por Barragens, do Brasil. Segundo seus militantes,

a luta do MAB tem por cenário os vales. São nestes vales nas barrancas, nos rios que os atingidos lutam para defender seus direitos, e, também, a integridade ambiental dos rios, da fauna, da flora, mas, a luta dos atingidos se desdobra em luta nacional e internacional por outro projeto energético (MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS, 2008b, p. 2).

Um evento conhecido internacionalmente, ocorrido no Brasil, tornou-se um ícone da reação popular contra as barragens destrutivas. Trata-se das imagens, divulgadas em âmbito internacional, que mostravam uma guerreira Kayapó, em Altamira, Pará, nos anos 1980, brandindo a lâmina de seu facão junto ao rosto do diretor de uma grande empresa hidrelétrica. Magalhães (2008) noticiou um fato recorrente em 21 de maio de 2008. Segundo a reportagem, 600 índios acompanhavam um encontro para discutir a construção de barragens na bacia do Rio Xingu e ouviam especialistas apresentarem estudos de aproveitamento hidrelétrico da usina de Belo Monte, no Rio Xingu. Após a fala de um dos especialistas favoráveis á construção da