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2 ACERCA DAS BARRAGENS: BREVES REGISTROS

2.1 UMA INTRODUÇÃO

De início, são apresentados subsídios gerais que envolvem informações sobre a construção de grandes lagos denominados barragens, resultantes da técnica de represamento de rios. Quanto à terminologia, barragens ou represas são estruturas construídas num vale e que o fecham transversalmente, proporcionando a obstrução e o represamento do curso de água. Barragens também são chamadas de açudes, sendo que esse termo é utilizado para denominar o lago propriamente dito, formado pelo represamento das águas (FERREIRA, 2004).

Tais estruturas são edificadas tendo em vista suas várias funções, conforme classificação que se segue:

a) barragem de acumulação, que se destina a represar a água para abastecer cidades, para usar na irrigação ou para produzir energia;

b) barragem de derivação, que se destina a desviar um curso de água;

c) barragem de regularização, construída para impedir grandes variações do nível de um curso de água, para controlar inundações ou para melhorar as condições de navegabilidade (FERREIRA, 2004).

A Rede Internacional de Rios6, temporalizando e detalhando a função de barragens, afirma que, desde milhares de anos, as barragens vêm sendo construídas, porém o século XX marca a era das grandes barragens. São três as funções das barragens destacadas pela referida Rede. A primeira grande demanda identificada é o fornecimento de água para irrigação, uma

6 Órgão de articulação internacional contra a construção das barragens e em defesa dos rios do planeta. A Rede Internacional de Rios é a mesma International Rivers Network (IRN), uma organização sem fins lucrativos com sede em Berkeley, Califórnia, Estados Unidos da América (EUA), fundada em 1986 por engenheiros, hidrólogos e ambientalistas em oposição à utilização generalizada de métodos destrutivos de aproveitamento dos rios do planeta. Objetiva reverter a degradação dos sistemas fluviais; apoiar as comunidades tradicionais; proteger e restabelecer o bem-estar dos povos, das culturas e dos ecossistemas que dependem dos rios; e promover alternativas à construção de represas e canalização dos rios. Na América Latina, diz cooperar com organizações de populações atingidas por barragens, organizações de base, grupos ambientalistas e de direitos humanos, além de apoiar cientistas e especialistas, fomentando o respeito pelos rios e apoiando a luta pela integridade ambiental e justiça social. A IRN faz parte da Coalizão Rios Vivos, que reúne aproximadamente 300 grupos ambientalistas e indígenas que trabalham em prol da proteção da Bacia do Prata. Compõe, ainda, a Rede Latinoamericana pelos Rios e Povos, que visa intercambiar experiências, lutas e ideias entre grupos de atingidos, de ambientalistas, de direitos humanos e grupos de apoio técnico (REDE INTERNACIONAL DE RIOS, 2000).

vez que a agricultura é o setor que mais gasta água doce7. Mas no final do século XIX, foi registrado o crescimento da prática da irrigação, havendo um incremento maior no Século XX, mais precisamente a partir da década de 1960, quando a agricultura, em larga escala, passou a depender de grandes quantidades de água. Barragens, também, são construídas para instalação de usinas hidrelétricas que geram eletricidade por meio do aumento do nível de água nos reservatórios a montante8 e da sua canalização para turbinas. Ademais, podem ser construídas para controlar inundações, eliminando alagamentos anuais e cíclicos, apesar de tenderam a agravar inundações mais extremas (REDE INTERNACIONAL DE RIOS, 2000).

Quanto ao modelo, as barragens são classificadas em barragem de terra, de entroncamento, de gravidade e de arco, sendo que a escolha do tipo de barragem a ser construída é feita, principalmente, de acordo com a topografia e a geologia do local. As barragens de terra e entroncamento são comumente construídas ao longo de grandes vales, em locais que permitem acesso para o transporte de enormes quantidades de material de construção utilizados durante as obras. As barragens de gravidade são basicamente paredes grossas e retas de concreto, construídas ao longo de vales estreitos com fundação rochosa firme9. Já as estruturas do tipo arco, também feitas de concreto, têm aplicação restringida a estreitos desfiladeiros com paredes fortes de pedras, sendo um modelo de barragem cuja força inerente permite que uma parede fina retenha um reservatório, usando apenas uma fração do concreto que seria utilizado em uma barragem de gravidade de altura similar (REDE INTERNACIONAL DE RIOS, 2000).

Comparando a predominância dos modelos, as barragens de terra e entroncamento representam mais de 80% das grandes barragens existentes, enquanto que as barragens tipo arco representam apenas 4% das represas que existem no mundo. As maiores estruturas que a humanidade ergueu até hoje são barragens do primeiro tipo – de terra e entroncamento - a exemplo da Barragem de Tarbela, no Paquistão, que contém 106 milhões de metros cúbicos de terra, superando em mais de 40 vezes o volume da Grande Pirâmide, no Egito (REDE INTERNACIONAL DE RIOS, 2000).

7 Segundo o Relatório GEO-3, “o volume total de água na Terra é de aproximadamente 1,4 bilhão de km³, dos

quais apenas 2,5%, ou cerca de 35 milhões de km³, correspondem a água doce. A maior parte da água doce se apresenta em forma de gelo ou neve permanente, armazenada na Antártida e na Groenlândia, ou em aquíferos de águas subterrâneas profundas. As principais fontes de água para uso humano são lagos, rios, a umidade do solo e bacias de águas subterrâneas relativamente pouco profundas. A parte aproveitável dessas fontes é de apenas cerca de 200 mil km³ de água – menos de 1% de toda a água doce e somente 0,01% de toda a água da Terra. Grande parte dessa água disponível está localizada longe de populações humanas, dificultando ainda mais sua utilização. A reposição de água doce depende da evaporação da superfície dos oceanos” (PNUMA, 2004, p. 162).

8

Rio acima ou para o lado da nascente de um rio (FERREIRA, 2004).

9 A Barragem de Acauã, alvo do presente estudo, foi projetada como uma barragem do tipo gravidade (GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA, 2000).

Outra informação diz respeito à classificação das barragens quanto ao tamanho. A Comissão Internacional de Grandes Barragens (ICOLD/CIGB)10 reconhece como uma grande barragem, aquela cuja distância entre a fundação e o topo da construção é de 15 metros ou mais. Conforme a referida Comissão, para termos uma ideia da proporção dessas construções,

as maiores barragens existentes “medem pelo menos 150 metros de altura, têm um volume

mínimo de 15 milhões de metros cúbicos, possuem um reservatório com capacidade de armazenamento de pelo menos 25 quilômetros cúbicos de água – ou são capazes de gerar no mínimo 1.000 megawatts (MW) de energia” (REDE INTERNACIONAL DE RIOS, 2000, p. 8).