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No âmbito da gestão da dívida pública e da tesouraria do Estado são ainda celebrados pelo IGCP outro tipo de contratos financeiros, com finalidades diversas.

Nestas circunstâncias, pela importância e regularidade de utilização, referimos o contrato de Emissão Sindicada.

Este contrato está associado à colocação inicial de novas séries de OT e BT em mercado primário.90 Os contratos de colocação91 são objeto de negociação direita durante um determinado tempo entre o emitente e um grupo de instituições financeiras, que vulgarmente também se designa de “sindicato bancário”, instituições essas a quem é atribuído o estatuto de Operadores Especializados de Valores de Tesouro (OEVT), a que se aludirá mais adiante. Pode ainda ser celebrado um contrato de colocação de tomada firme92, através do qual o intermediário financeiro ou o sindicato bancário garante a colocação integral no mercado dos títulos em causa e, na eventualidade de não conseguirem ordens de compra suficiente para a totalidade da emissão assumem eles próprios os restantes títulos.

As emissões sindicadas visam assegurar a colocação de um grande volume de títulos de uma só vez, assim como, atingir uma elevada diversificação da base de investidores, quer a nível geográfico, quer por tipo/perfil de investidor.

O contrato celebrado é constituído por documentação típica que abrange os

90

Em consonância com o artigo 338.º do Códigos dos Valores Mobiliários no contrato de colocação “… o intermediário financeiro obriga-se a desenvolver os melhores esforços em

ordem à distribuição dos valores mobiliários que são objeto de oferta pública, incluindo a receção das ordens de subscrição ou de aquisição.”

91 Este tipo de contrato encontra-se regulado pelo artigo 341.º do CVM (consórcio para

assistência ou colocação).

47 “termos e condições”, de onde constam as condições principais das operações, o “Acordo de subscrição” que estabelece as condições contratuais às quais ficam subordinados os diversos membros do sindicato e pelo “Information

Memorandum” que se destina aos investidores. Ao contrato de emissão

sindicada aplica-se a lei e a jurisdição portuguesa.

O Programa Euro Medium Term Notes (EMTN) assume também a forma de contrato e tem como finalidade a emissão de dívida pública em mercados estrangeiros.

A documentação do EMTN é constituída por um “Dealer agreement” entre o emitente e os bancos (dealers) do programa; “Notes set as Agency Procedures” outorgado com a Interbolsa, na qualidade de Portuguese Paying Agent, definindo os procedimentos de pagamento de capital e juros; o “Deed of

Covenant” do qual consta o compromisso do emitente perante os investidores

(“Noteholders”) e que na pendência do programa fica depositado junto do “Fiscal & Paying Agent”, que será a entidade designada no programa para concretizar os pagamentos devidos; o “Agency agreement” que é contratado com a entidade/banco que no programa assume a tal função de Fiscal &

Paying Agent internacional e na qual se define os procedimentos a seguir nos

pagamentos (capital e juros) relativos a “Notes” que liquidem ao abrigo deste

Agency agreement. De referir que podem ser emitidos dois tipos de Notes,

designadamente as que são emitidas de forma desmaterializada e que consistem num registo (“book entry”) detidas na Interbolsa, em contas abertas pelos Noteholders junto dos membros afiliados da Interbolsa, ou as que são emitidas sob “bearer and registered form”, isto é, em forma de uma Temporary

global Note ou de uma Permanent Global Note (ambas designadas “bearer global note“) que ficam depositadas junto do Fiscal & Paying Agent International. A lei e a jurisdição aplicável aos EMTN é a inglesa.

O Revolving and swingline loan agreement é um outro tipo de contrato celebrado entre a República Portuguesa e diversos bancos e tem como finalidade estabelecer uma linha de crédito até um certo montante, permitindo efetuar saques com pré-avisos de 3 dias úteis.

No caso do revolving a comunicação tem de ser efetuada pelo sacador até às 10 horas do terceiro dia útil anterior ao dia do saque. No swingline os saques

48 podem ser efetuados sem pré-aviso respeitando-se, contudo, uma comunicação até às 9 horas do próprio dia do saque.

Os bancos funcionam como “facility agent” e “swingline agent” uma vez que são os intermediários entre a República e os mutuantes. Os pedidos de saque são dirigidos aos bancos que se responsabilizam por efetuar as operações necessárias à disponibilização da verba solicitada na data pretendida.

Esta forma de financiamento é dispendiosa mas pode ser necessária para prevenir situações inesperadas de dificuldades de tesouraria que não possam ser supridas por outras vias.

O financiamento é de curto prazo, especificamente no caso dos saques ao abrigo do revolving o reembolso terá de ocorrer em 1, 2 ou 3 meses ou em qualquer outro período acordado entre a República e os bancos que não ultrapasse os 3 anos, data limite do próprio contrato de Revolving and swingline

loan agreement.

No caso de saques ao abrigo de swingline o reembolso terá de ocorrer nos 5 dias úteis posteriores à data de saque.

O Euro-Commercial Paper (ECP) é um contrato celebrado entre a República e o banco (dealer), semelhante ao EMTN em termos de documentação e pré- registos, e que visa facilitar a emissão de papel comercial93 até ao valor global do compromisso assumido pelo conjunto de bancos que outorgam o contrato94. É um instrumento de curto prazo, mínimo 7 dias e máximo de 1 ano, emitido em euros ou em dólares, a desconto, sendo negociável em mercado OTC. A título excecional e, por isso, como medida de último recurso, visando colmatar necessidades adicionais, marginais e pontuais de financiamento, há ainda a possibilidade de contratar a emissão de instrumentos de médio e longo prazo em moedas não-euro95, no âmbito de um programa Global Offerings. Por último, uma breve nota quanto ao Schuldscheindarlehen. Consiste na celebração de um contrato de empréstimo especificamente dirigido a investidores alemães e rege-se pela lei alemã.

93 Papel comercial é um instrumento financeiro de mercado monetário de curto prazo,

geralmente um ano, vocacionado para o financiamento da tesouraria.

94 Montante máximo de 4 mil milhões de euros ou equivalente. 95 Designadamente em US dólar.

49 Este contrato é, contudo, mais utilizado no universo do sector público empresarial do que propriamente no financiamento da República.