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As Obrigações do Tesouro (OT)65 constituem o principal instrumento financeiro de captação de financiamento do Estado.

As OT são valores mobiliários escriturais66 representativos de um empréstimo de médio e longo prazo.

A colocação das OT pode ser efetuada através de um consórcio de instituições financeiras, as designadas “emissões sindicadas”, a que faremos alusão mais adiante, através da realização de leilões ou por oferta de subscrição limitada (“tapping”) a uma ou algumas instituições financeiras, no mercado secundário dos títulos da dívida pública67.

As OT podem ser emitidas com prazos entre 1 e 50 anos, com ou sem cupão68 (cupão zero)69. Regra geral, são emitidas OT com taxa de juro fixa70,

64 Os derivados constituem uma categoria dos instrumentos financeiros prevista genericamente

no art.º 2.º, n.º1, al. c) do CVM.

65 Decreto-Lei n.º 280/98, de 17 de setembro, aprovou o regime jurídico das Obrigações do

Tesouro.

66 Nos termos do art.º 46.º e ss do CVM os valores mobiliários podem distinguir-se consoante a

sua forma de representação, isto é, valores titulados (com representação cartular, isto é, em papel) e valores escriturais (representação eletrónica através de registo em conta).

67 O mercado especializado de venda de títulos da dívida pública estava inicialmente

circunscrito a uma única plataforma eletrónica, a MTS. Em 2010, foram admitidas mais duas plataformas eletrónicas de negociação de títulos da dívida pública, designadamente a

BrokertTec e a BGC, introduzindo neste mercado uma maior competitividade. O mercado

secundário dos títulos de dívida do Estado está organizado e segmentado da seguinte forma: i) Negociação por grosso entre especialistas a funcionar em plataformas eletrónicas;

ii) Transações de retalho onde são admitidas à negociação a maioria das OT emitidas. Funciona como um mercado regulamentado, designadamente a Eurolist by Euronext (mercado de cotações oficiais), gerido pela Euronext Lisbon;

iii) Operações realizadas fora de mercado regulamentado ou “over the counter”.

No sistema de plataformas eletrónicas, estão admitidos à negociação todas as OT e os BT emitidos pela República Portuguesa.

68 O cupão é o montante do juro periódico devido pelo emitente ao obrigacionista.

69 Obrigação que não paga juros periódicos, sendo adquirida/subscrita a um preço abaixo do

par (abaixo do valor nominal), por forma a proporcionar aos investidores uma compensação sob a forma de ganho de capital. Este tipo de obrigação pode igualmente ser

40 amortizáveis no vencimento pelo seu valor nominal71 e possibilidade de destaque de direitos (stripping). Podem ser emitidas no mercado doméstico (área Euro) ou em mercados internacionais.

Às novas emissões de OT aplicam-se, desde janeiro de 2013, as denominadas “Cláusulas de Ação Coletiva” (CAC), obrigatórias em todas as emissões de dívida do Estados da Zona Euro72. AS CAC visam assegurar que uma determinada percentagem de titulares de OT possam, se necessário, deliberar sobre modificações das condições dos títulos em causa, sendo que as deliberações aprovadas por essa determinada percentagem de titulares vinculam os restantes.73

As Obrigações do Tesouro de Rendimento Variável (OTRV) são também valores mobiliários representativos de empréstimos a médio e longo prazo. As OTRV são colocadas através de oferta pública de subscrição, assumem a forma escritural e ao portador74 e são denominadas em euros. Regra geral, as OTRV pagam juros e o reembolso do capital é efetuado na data de vencimento. De salientar que as OTRV são consideradas obrigações comuns da República Portuguesa a que corresponderá um tratamento igual ao das restantes obrigações emergentes de financiamentos do Estado que se encontrem nas

adquirida/subscrita ao par (isto é, ao valor nominal) e verificar-se um reembolso na data de maturidade acima do valor nominal (prémio de reembolso) por forma a atingir o mesmo fim.

70 Taxa de juro fixada no momento da emissão e que se mantém inalterada durante a vida do

empréstimo.

71 Valor facial/inscrito dos títulos, sobre o qual são calculados os juros e que é reembolsado na

data de maturidade.

72 Os termos de referência comuns das cláusulas de ação coletiva foram aprovados pelo

Comité Económico e Financeiro da União Europeia em 18 de novembro de 2011 e estão disponíveis para consulta em https://www.igcp.pt/pt/menu-lateral/legislacao/

73 As CAC constituem a forma encontrada pela União Europeia de evitar situações de

impossibilidade de restruturação das dívidas soberanas idênticas às que se verificaram na Argentina. Em virtude das ações judiciais interpostas num tribunal de Nova Iorque, EUA, fundos de investimento internacional especializados na obtenção de lucros de dívida, vulgarmente designados como “fundos abutre”, impediram a restruturação da dívida soberana da Argentina sob o pretexto da interpretação das cláusulas pari passu integradas nos contratos de empréstimo, inviabilizando que aquele país pudesse chegar a acordo de pagamento com alguns investidores que aceitaram renegociar a dívida em detrimento daqueles que não quiseram renegociar.

74 Recentemente a Lei n.º 15/2017, de 03 de Maio, determinou a proibição da emissão de

valores mobiliários ao portador, criando um regime transitório destinado à conversão, em nominativos, dos valores mobiliários ao portador existentes à data da sua entrada em vigor, alterando, assim, o art.º 52.º e 97.º do Códigos dos Valores Mobiliários, bem como, os artigos 272.º, 299.º e 301.º do Código das Sociedades Comerciais. No entanto, o Decreto-Lei n.º 81- B/2017, de 7 de julho, veio determinar que o disposto naquele diploma não prejudica a emissão de dívida pública direta do Estado nos termos previstos na Lei n.º 7/98, de 3 de fevereiro.

41 mesmas condições (pari passu), isto é, não condicionais, não garantidas75 e não subordinadas76, sem prejuízo dos direitos que resultam da lei77. As OTRV também integram CAC.