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Contribuição do feminismo socialista para o projeto ético-político profissional

3.3 Análise das entrevistas

3.3.2 Análise da incidência do feminismo socialista sobre o trabalho profissional

3.3.2.8 Contribuição do feminismo socialista para o projeto ético-político profissional

A Participante A infere que o feminismo socialista contribui e tem contribuído para que as pautas das mulheres estejam presentes no Serviço Social, como já exposto no segundo capítulo, quando foram analisados os documentos CFESS Manifesta.

Já a Participante B acredita que o projeto ético-político da profissão ainda está em disputa, assim como o debate do feminismo socialista dentro das entidades da categoria. Portanto, não conseguiu perceber um momento ou uma ação que pudesse demarcar o feminismo socialista dentro do projeto ético-político profissional. Assim, acredita que as assistentes sociais feministas socialistas devem sempre levar, aos debates da categoria, as discussões de gênero, raça/classe e etnia:

Como o projeto ético-político não é uma coisa findada, mas está em permanente construção, avalio que está em permanente construção essa discussão sobre o feminismo socialista dentro do nosso projeto. Está em construção. Não vejo uma coisa acabada, que consiga pegar com as mãos e falar: “Agora, sim, o projeto ético-político tem isso e estamos completos”. Não. Como eu disse, o projeto ético- político é hegemônico, mas não é a totalidade da categoria, ele está em disputa, assim como a discussão do feminismo também, dentro da categoria. Tem muitas companheiras nossas que não acham essa questão do feminismo necessária, que é mais necessário discutir a luta de classes, ou qualquer outra coisa, do que discutir o feminismo. E uma coisa não se descola da outra. Então, quando vamos discutir, temos que trazer isso como pano de fundo, sempre. Para mim, o projeto ético- político está em construção e essa pauta do feminismo socialista, dentro do projeto ético-político também está em construção. E isso manifestamos nas nossas ações. As assistentes sociais feministas manifestam isso nas suas ações, têm como horizonte estratégico o projeto ético-político e o feminismo socialista, de classe. Então, não consigo apalpar uma coisa para falar: “Olha, Lú, isso aqui ajudou nisso”. Não consigo, eu, particularmente, não consigo. Depois, até vou ler sua pesquisa, para ver se conseguiu achar uma coisa maior, para poder me ajudar aí. Nesse momento, não vejo assim. Vejo que está em construção, com toda a disputa que o projeto ético-político perpassa. Está em disputa para virar alguma coisa (Participante B).

Já a Participante C, apesar de considerar que as entidades da profissão têm avançado, e muito, nessa discussão, acredita que, para o projeto ético-político, o feminismo

socialista tem influenciado pouco. O que tem percebido é um avanço do ideário conservador para dentro do Serviço Social, seja na academia, seja na atuação profissional, de outros/as profissionais com quem tem ou teve contato:

Influencia pouco. A profissão tem se aproximado bastante desse debate relacionado às questões de gênero. Por ser uma profissão que está próxima da análise marxista, tem essa perspectiva de analisar pelo viés da classe, mas não vejo o feminismo socialista contribuindo muito nesse processo. Muito pelo contrário, tenho percebido a renovação do conservadorismo na profissão. Tanto na graduação, quanto na atuação profissional. Tenho uma amiga, que está fazendo mestrado na PUC do Rio de Janeiro e ela falou que, na graduação, tem aluno que antes da prova, ou mesmo em um dia comum, está fazendo roda pra orar e que está levando seus valores religiosos para dentro da sala de aula, para os debates que acontecem. Temos feito os enfrentamentos, ocupado os espaços, proposto alguns debates e contribuído dessa forma... Insistindo e não recuando e participando desses espaços, poucos espaços que têm da profissão. Mas, infelizmente, tenho percebido que o conservadorismo tem ganhado mais força, assim, do que uma perspectiva crítica. Tenho ouvido cada absurdo que..., às vezes, dá vontade de sair gritando [...].

(Participante C).

Em um contexto em que muitos/as assistentes sociais precisam lutar todos os dias contra o preconceito e o conservadorismo dentro da própria profissão, a Participante C diz que se ampara nos movimentos sociais para continuar se motivando em seu espaço sócio- ocupacional. Acredita que a profissão precisa de unicidade política maior, já que, algumas vezes, percebe que há tantas diferenças entre os profissionais, que parece que existem duas profissões diferentes:

[...] Ainda bem que tenho com quem contar, com quem conversar, porque, se não, nos fragilizamos também, que é um absurdo atrás do outro; se não tivermos esses espaços de ir para a militância, de ir para a luta política, de refletir, vai se fragilizando, vai se desmotivando. Além da desmotivação, pela desvalorização profissional, quando vê que as coisas não têm progredido, muito pelo contrário. E é muito engraçado, parece que são duas profissões, dependendo dos espaços que ocupa. Às vezes, estou lá trabalhando, e parece que o Serviço Social é uma coisa e quando vou numa atividade do Cress ou numa convenção de solidariedade a Cuba, que tem assistentes sociais lá, parece que é outra profissão. Quando coloca um grupo de assistentes sociais junto, parece que são pessoas diferentes, de profissões diferentes. Então, é uma profissão que podia ter uma unicidade maior, porque está muito fragmentada, nesse sentido. (Participante C).

As três participantes acreditam que o feminismo socialista tem contribuído com seu trabalho profissional, ainda que, no âmbito do Serviço Social, considerem que as entidades precisam ser ainda mais fortalecidas, para fazer discussões de cunho classista, feminista, anti- homofóbico e antirracista, com vistas a combater o preconceito tão visível na atuação de alguns/as profissionais.

Dos pontos analisados, o ideário feminista socialista, articulado ao projeto ético- político profissional, tem facilitado o entendimento das assistentes sociais militantes sobre a

natureza da profissão; os limites das políticas públicas; o indivíduo enquanto sujeito integral; a necessidade da articulação entre os serviços, programas/projetos e benefícios socioassistenciais; a análise de conjuntura; e o lugar da mulher, negra, periférica e trabalhadora, no contexto da sociedade capitalista.

Demonstra, ainda, possibilitar a articulação de estratégias, direcionadas às/aos usuárias/os, com vistas ao seu fortalecimento enquanto sujeitos de direitos e membros da classe trabalhadora, fomentando sua auto-organização. As lacunas na formação acadêmica quanto ao tema tratado têm sido preenchidas com a aprendizagem disponibilizada pelos movimentos e espaços sócio-ocupacionais que lidam com as demandas femininas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como foco a análise da influência do feminismo socialista no trabalho profissional das assistentes sociais, que militam em movimentos com esse recorte.

Na análise empreendida no primeiro capítulo, pôde-se perceber que a luta feminista tem abarcado diversas correntes, as quais se diferenciam quanto à visão de mulher, homem, sociedade e mundo.

O feminismo socialista, entretanto, tem se mostrado como capaz de integrar a luta contra a opressão à luta contra a exploração, levando adiante um projeto de sociedade plenamente livre. A compreensão de que a objetividade e a subjetividade são aspectos interdependentes da totalidade do ser social, faz com que o feminismo socialista não se atenha apenas na análise e no combate ao patriarcado, por si, e tampouco fique preso apenas na luta pela revolução. A perspectiva emancipatória, presente nessa vertente do feminismo, pressupõe que as lutas imediatas e históricas sejam travadas ao mesmo tempo. Assim, a luta atual empreendida pelo feminismo socialista, em torno da garantia dos direitos humanos das mulheres, tem potencializado a importante construção de um legado, que repercute na luta do conjunto dos/as trabalhadores/as por outra forma de sociabilidade, como diz uma das participantes:

[...] Não existe socialismo, comunismo, outra ordem societária, se não existir feminismo. E se não existir... se não acabarmos de uma vez por todas com o racismo, com a homofobia, com a lesbofobia, com tudo isso, nunca vamos viver numa outra sociedade sem opressão, se não acabarmos com isso e se não tiver o feminismo. Na minha visão. (Participante B).

Da mesma forma, salienta-se que o feminismo socialista foi bastante influenciado pelas outras correntes do feminismo, inclusive do feminismo liberal e do próprio feminismo radical. Isso pode ser percebido, por exemplo, com o fato de o feminismo socialista ter sido diferente, quando do início da segunda onda brasileira. Os primeiros grupos, de formato privado, eram formados por mulheres de esquerda que haviam retornado do exílio; entretanto, as discussões sobre sexualidade, aborto, etc., começaram a repercutir com incidência no feminismo socialista, a partir dos calorosos debates trazidos pelas feministas radicais.

De outra feita, atualmente, as feministas socialistas têm discutido bem mais as políticas públicas, ratificando a inserção de feministas no meio político institucional, como se

percebe na eleição de candidatas feministas socialistas para cargos políticos e do apoio às secretarias especiais de políticas para mulheres, como apontado algumas vezes na análise da Participante B.

Ademais, o feminismo socialista tem sofrido paulatinamente a interferência da concreticidade da vida das mulheres trabalhadoras, incorporando às bandeiras de luta temas como violência, saúde sexual e reprodutiva, prostituição, violência policial contra a população jovem, pobre e negra, etc. O que se infere desta questão é que o feminismo socialista encontra-se em processo de construção contínuo, a partir de um acúmulo prático, ético- político e teórico.

Por ser a vertente do feminismo que mais se aproxima da realidade dos/as usuários/as dos serviços sociassistenciais, nos quais os/as assistentes sociais atuam, e por empreender um diálogo constante com a teoria marxiana e marxista, o ideário feminista socialista surge nos documentos redigidos e/ou na prática cotidiana das entidades da categoria, sobretudo do Cfess. A análise das resoluções e dos documentos CFESS Manifesta indica uma politização feminista e classista dessa entidade, o que foi permitido não apenas pelos avanços teórico- metodológicos e ético-políticos do Serviço Social, mas, principalmente, pela aproximação da profissão aos movimentos sociais, em geral, e ao movimento feminista e de mulheres, em particular, a partir de sua reconceituação.

A reconceituação do Serviço Social abriu a possibilidade para que a categoria refutasse os valores conservadores que até então pautavam o trabalho profissional, apropriando-se de valores libertários e da defesa dos interesses dos segmentos populares. Colaborou, para esse processo, a organização da categoria em torno de suas próprias demandas trabalhistas - como a constituição de sindicatos da profissão, nos anos 70 e 80 e, depois, a dissolução deles, por uma compreensão política de que a luta deveria se dar por ramo de atividade - bem como a renovação das diretrizes curriculares e do Código de Ética Profissional, primeiro em 1986 e, depois, em 1993.

Tanto as resoluções, como os manifestos, demonstram que o Cfess tem se preocupado com a intervenção profissional dos/as assistentes sociais em relação às mulheres, negras/os e à população LGBT. Tais documentos, além de defenderem um posicionamento político acerca das condições de vida desses públicos, instruem a categoria para a defesa de seus direitos humanos, potencializando a elaboração de estratégias, para a consecução do projeto ético-político, no cotidiano profissional. Faz parte, portanto, de um esforço ético dessa entidade da categoria, na medida em que confronta o conservadorismo e o senso comum, os

quais ainda permeiam a atuação profissional de muitas/os assistentes sociais, como analisado pelas participantes da pesquisa.

Nesse sentido, nota-se que o projeto ético-político hegemônico está em disputa, havendo um avanço conservador considerável dentro da profissão, o qual deve ser analisado com profundidade na academia e pelo conselho da categoria, com vistas à elaboração de estratégias políticas que possam contrapor-se a esse avanço. O que resta de esperança é que o feminismo socialista também está em construção, dentro do projeto hegemônico do Serviço Social, e pode se caracterizar como potencial instrumento de formação crítica contínua da categoria. Assim, é importante que as assistentes sociais feministas socialistas estejam em todos os espaços de discussão da categoria, seja no Cfess, na Enesso ou na Abepss, instituição de menor inserção das entrevistadas (das três, apenas uma participa de espaços da Abepss, relacionados às discussões sobre supervisão de estágio).

No âmbito da formação profissional, sobretudo no nível da graduação, o Serviço Social precisa avançar bastante em relação aos estudos de gênero, atrelados às questões de classe e raça/etnia, bem como no que se refere aos estudos sobre o movimento feminista, enquanto ator primordial para as mudanças culturais vivenciadas pela sociedade no decorrer histórico. Tanto no nível estrutural da política de formação profissional (Diretrizes Curriculares), como no cotidiano escolar das participantes, tais temas aparecem em segundo plano, o que pode prejudicar a análise mais global acerca das problemáticas vivenciadas pela população atendida.

Foi por esse motivo que as participantes da pesquisa, sobretudo as Participantes B e C se inseriram em movimentos feministas socialistas: por atuarem com mulheres trabalhadoras que sofriam violência e não terem o devido respaldo teórico na graduação, as assistentes sociais citadas procuraram, na militância, apoio para entender a situação da mulher na sociedade. Obviamente, compreende-se que a militância não substitui os estudos. Devido à sua natureza eminentemente política, a militância possibilita aquisições muito particulares, como se percebeu na própria pesquisa de campo, as quais são bastante diferentes daquelas constatadas no nível dos estudos acadêmicos.

Apesar de a militância ser considerada espaço primordial para que os/as assistentes sociais se organizem em torno das demandas dos segmentos populares e de suas próprias, a formação profissional deve oferecer todos os elementos necessários para a consecução do trabalho profissional, no que se refere ao entendimento das particularidades dos públicos atendidos. Assim, considera-se fundamental que a formação em Serviço Social seja permeada pelas temáticas de raça/etnia, gênero e classe, desde os primeiros semestres de curso e que as

disciplinas voltadas a esses temas tenham uma duração que permita aos/às estudantes conhecerem as vertentes teóricas importantes, impulsionando-os no ambiente da pesquisa. De outra feita, faz-se primordial que as disciplinas sobre classes e movimentos sociais tenham como pauta o feminismo, abrangendo todos os seus matizes e sua atualidade. Acredita-se que, com a obrigatoriedade da disciplina de Gênero, Classe e Raça/Etnia, conforme aprovado em Assembleia Geral da Abepss pós XIV Enpess (2014) a situação de inexistência ou de insuficiência quanto a esse tema na graduação em Serviço Social seja superada.

No que tange à influência, propriamente dita, do feminismo socialista para a atuação profissional das assistentes sociais que militam em movimentos dessa natureza, pôde-se perceber que tal ideário contribui para a defesa da liberdade, enquanto um dos princípios do Código de Ética profissional, e na recusa do conservadorismo, da tutela e do autoritarismo dentro da profissão. Neste sentido, o ideário feminista socialista contribui para que as assistentes sociais reconheçam os homens e as mulheres atendidos/as como sujeitos éticos, capazes de construir sua própria história.

Assim, para as assistentes sociais entrevistadas, o trabalho profissional não se esgota em seu caráter educativo, tampouco na execução de benefícios socioassistenciais. Esses são concebidos como elementos importantes para que os/as usuários/as possam ter autonomia em sua vida cotidiana, apesar de não emancipá-los de nenhuma forma, devido aos seus próprios limites dentro do capitalismo, que é inerentemente desigual.

Os benefícios e programas socioassistenciais, no entanto, podem fazer com que os sujeitos tenham algumas de suas necessidades básicas providas, o que poderá facilitar a sua organização e asserção de classe, enquanto trabalhadores/as.

Neste sentido, as assistentes sociais entrevistadas têm criado estratégias bastante interessantes, com vistas a possibilitar a reflexão aos/às usuários/as sobre suas condições de vida e sobre a necessidade de se organizarem na luta por seus direitos e, também, por outra sociabilidade. Tanto o atendimento individual como em grupo, de acordo com as entrevistadas, tem potencializado o estabelecimento de reflexões críticas aos/às usuários/as dos respectivos serviços, quanto à sua asserção de classe, raça/etnia e gênero, possibilitando, também, a crítica à precariedade das políticas públicas. O feminismo socialista também tem se demonstrado importante para a análise dos/as atendidos/as enquanto sujeitos integrais, que necessitam da atenção articulada entre as diversas políticas intersetoriais, para além de suas demandas aparentes e/ou imediatas, como se percebe do relato, por exemplo, da Participante B.

Esta análise permite que as entrevistadas apontem como um dos fatores de seu trabalho profissional com as/os usuárias/os, a elaboração de estratégias para articulação entre os diversos serviços, programas e projetos, apesar das dificuldades impostas pelos próprios limites institucionais e pela precarização das políticas públicas, no contexto de desmonte dos direitos sociais, da crise econômica e do aprofundamento do neoliberalismo.

Além disso, o feminismo socialista contribui, de acordo com as participantes da pesquisa, para uma análise mais crítica e abrangente da conjuntura socioeconômica, além de possibilitar a análise sobre a condição da mulher e da população LGBT dentro dessa conjuntura. Isso também permite que as assistentes sociais possam argumentar, com a população atendida, sobre a necessidade de tomar parte nas lutas sociais. Ademais, o feminismo socialista demonstra ser profícuo para a análise das especificidades dos segmentos que compõem o próprio gênero feminino. Assim, há um entendimento, das assistentes sociais entrevistadas, de que a situação de uma mulher negra não é igual à situação de uma mulher branca; bem como de que uma mulher em situação de rua está mais propícia à marginalização do que uma mulher trabalhadora, que não vive tal situação, dentre outros exemplos.

Todas as participantes demonstraram estar convictas de sua asserção de classe e de gênero: as três se consideram mulheres trabalhadoras, que podem sofrer as mesmas desigualdades e opressões impostas a todas as mulheres que vivem de seu trabalho, assim como as usuárias que atendem. Desta forma, percebe-se que o ideário feminista socialista possibilita o próprio reconhecimento das assistentes sociais nas usuárias atendidas, o que potencializa a empatia e uma análise humanista da situação vivenciada por elas, o que contribui, por sua vez, para o direcionamento ético-político da atuação profissional.

O feminismo socialista, seja por meio da luta política estabelecida pelos movimentos, seja por meio dos estudos proporcionados por eles, tem possibilitado a superação da cotidianidade alienada e alienante, conforme afirmação da Participante C. Apesar de não ser o foco de análise do presente trabalho50

, faz-se importante lembrar que, de acordo com Heller (1972), a vida cotidiana é heterogênea (os seres humanos empreendem esforços para realizar várias atividades, diferentes entre si), hierárquica (as atividades são desenvolvidas de acordo com o grau de importância atribuído pelo indivíduo) e se caracteriza por sua imediaticidade (na prática profissional, por exemplo, o/a assistente social deve responder de acordo com as demandas institucionais, que surgem em seu cotidiano), o que faz com que os sujeitos atuem de forma pragmática e espontânea. A vida cotidiana, entretanto, não é, em si, alienada; nela,

50

Para entendimento da categoria cotidiano, sugere-se a leitura de HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. São Paulo: Paz e Terra, 1972.

há espaços para que os indivíduos a superem, e a política é um desses espaços. Por meio da ação política nos movimentos feministas socialistas, por exemplo, a Participante C consegue superar a sua cotidianidade, encontrando-se com o humano genérico, a saber, com as lutas das mulheres trabalhadoras, enquanto construção histórica e humana, tendo um legado que reforça as conquistas atuais e a luta do devir.

É por meio dessa superação da cotidianidade, que as assistentes sociais feministas socialistas pesquisadas têm encontrado forças, subsídios e argumentos para enfrentar o machismo dentro de seus próprios espaços sócio-ocupacionais, em que há diversos/as assistentes sociais que expressam o conservadorismo no atendimento às mulheres. Além disso, até mesmo as péssimas condições de trabalho (não apenas aquelas relacionadas aos limites institucionais, mas também que têm origem na precariedade dos programas, projetos, serviços e benefícios desenvolvidos pelas políticas setoriais) são alvo de resistência das participantes da pesquisa, que se articulam até mesmo com os/as usuários/as, para tentar