• Nenhum resultado encontrado

Dificuldades na execução do trabalho profissional

3.3 Análise das entrevistas

3.3.2 Análise da incidência do feminismo socialista sobre o trabalho profissional

3.3.2.1 Dificuldades na execução do trabalho profissional

Como já exposto, foi realizada uma pergunta sobre as dificuldades enfrentadas no trabalho profissional, partindo da implantação das políticas neoliberais e do sucateamento dos

serviços públicos. Os/as leitores/as perceberão que muitas dificuldades, vivenciadas pelas pesquisadas, referem-se não apenas aos limites postos pelas políticas públicas norteadoras do atendimento a ser prestado pelos serviços, nos casos em tela, vinculados a entidades filantrópicas, mas também aos próprios limites institucionais, também relacionados ao sucateamento das políticas sociais.

Para essa pergunta, a Participante A menciona que a própria mudança na política de acolhimento institucional para crianças e adolescentes alterou o trabalho realizado com o público atendido e suas famílias.

Tiveram algumas mudanças. Por exemplo, a política... o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária passou a prever, salvo engano, a partir de 2006, ou 2008, que as crianças só poderiam ser acolhidas no seu município. E Poá era uma cidade-satélite para acolhimento [...]. E até um dado período, Poá tinha cinco instituições grandes de acolhimento [...] a Aldeias era uma instituição de acolhimento. Tinham outras organizações sociais. Conforme veio a mudança da legislação, que não poderiam receber mais crianças de outros municípios, isso começou a enxugar e diminuir. Então, a Vara da Infância começou a ser interpelada para não encaminhar mais crianças de outros municípios para a cidade, porque não se faz o desenvolvimento do Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária se a criança está no município distante da família. E as outras instituições de acolhimento já iam fechando nesse período (Participante A).

Além disso, ela vincula a crise internacional de 2008 às mudanças institucionais, pelas quais o serviço de acolhimento em que trabalhava passou.

Agora, o impacto sobre o neoliberalismo, é muito grande. Posso dizer que na Aldeias Infantis, o [...] impacto que eu senti da conjuntura internacional foi quando teve a crise na Europa, porque, sendo uma organização social, a Aldeias tinha convênio muito ínfimo com a prefeitura. Ele não pagava nem 10% do orçamento do serviço e boa parte de sua subvenção era de doação internacional. Conforme teve a crise da Europa, quebrou muito a doação, e aí o serviço teve que encolher. Então, tive que trabalhar na diminuição da proposta de acolhimento das Aldeias Infantis. Então, as dez casas-lares, 111 crianças – considerando as famílias extensas, as famílias que já eram atendidas nas suas casas, eu tive que passar para o atendimento de três casas-lares e duas famílias extensas. No acolhimento

(Participante A).

Não foi apenas a crise internacional que fez com que a instituição encolhesse o seu atendimento, devido ao fato de as doações terem se tornado escassas. O ínfimo repasse da prefeitura para o serviço, que, de acordo com a Participante A, não cobria nem 10% de seu orçamento total, foi o fator determinante para que o atendimento fosse impactado, no contexto da crise.

Foi reduzido (o atendimento) drasticamente. Assim... o trabalho, nesse período, ainda que eu ficasse feliz de fazer esse trabalho, porque eu sempre considerei que o melhor lugar para a criança era com a família; e uma política muito de exacerbação, que o melhor lugar para a criança seria acolhida. E fui tentando desenvolver essa perspectiva de trabalhar com as famílias, nem sempre no avanço

do tempo que eu queria de articular as políticas e tudo o mais. Mas, em si, boa parte delas voltavam para as famílias. Mas fecharam muitas casas. [...].

(Participante A).

Tendo que trabalhar na perspectiva de desinstitucionalização das crianças e dos adolescentes atendidos, ainda que “nem sempre no avanço do tempo” (Participante A) para articular as políticas da forma como desejava, a Participante A relaciona a crise internacional e a mudança da política de acolhimento institucional com o plano neoliberal e as reformas do Estado, para fazer menção aos impactos no seu trabalho profissional, o que revela uma leitura de totalidade, por essa Participante.

[...] o próprio Plano Nacional casado também com a crise internacional ajudou muito a fechar o projeto, a diminuir drasticamente o projeto.

É um impacto na política e um impacto na conjuntura. Agora... articular com a ideia de um plano neoliberal é um pouco mais extenso. Dentro do âmbito das reformas do Estado, elas casam muito bem (Participante A).

Outro desafio que a Participante A percebe em seu espaço sócio-ocupacional refere- se ao fato de seus empregadores conceberem que a coordenação pode ser acumulada com o trabalho do Serviço Social. Para ela, isso está implícito no fato de a instituição priorizar a contratação de assistentes sociais como coordenadores/as:

Sou só coordenadora. Aí, dizer que não acumula é lenda. Porque a organização tem preferência por contratar assistentes sociais como coordenação, até mesmo no sentido de fazer essa dualidade no trabalho do Serviço Social e coordenação. Por exemplo, agora, a minha assistente social está de férias; o primeiro pedido seria que eu acumulasse, durante as férias dela, os dois cargos. E bati o pé e falei não. Peço uma para substituir, porque é muita coisa para uma pessoa só (Participante A).

Para a Participante B, os desafios conjunturais começam a partir dos fatores que fizeram com que a Casa Viviane retornasse ao seu território. A Casa foi furtada tantas vezes, quando estava em Guaianases, que teve de voltar a Lajeado, seu território de origem:

Estamos aqui nesse território, voltamos para cá, fazem dois anos, por quê? Estávamos em Guaianases, até 2012, só que sofremos uma sucessão de furtos. Fomos assaltadas 12 vezes, seguidas, e solicitamos para a prefeitura a mudança de território, o retorno para o Lajeado, porque a Casa Viviane nasce no Lajeado e depois vai para Guaianases. Então, voltamos para cá. Estamos aqui a esse período de dois anos. [...] Os assaltos impactaram muito, porque foram 12 assaltos. Inclusive, essa casa foi assaltada recentemente... décimo terceiro assalto. Entendemos que não é comum, o único serviço a sofrer tantos assaltos (Participante B).

Apesar de não ter afirmado, a Participante B demonstra acreditar que o fato de a Casa sofrer tantos assaltos tenha a ver com sua condição de estar a serviço das mulheres que sofrem violência de gênero. Outros problemas enfrentados pela Casa referem-se, sobretudo, à

sua vinculação à Smads, em vez de estar articulada à Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, à qual deveriam estar vinculados todos os serviços voltados às mulheres em situação de violência, dado a sua natureza.

[...] E qual é a percepção que temos... Aqui na casa, não posso dizer por todas,... mas 90% de nós, trabalhadoras da Casa Viviane, somos feministas e organizadas em algum espaço... têm as meninas que são da Marcha, eu, que sou do Ana; a Margarida, que você cumprimentou na cozinha, é promotora Legal Popular. Então, temos essa natureza de ir para o enfrentamento e questionar muitas questões que não estão andando. No âmbito das políticas públicas, fizemos diversos enfrentamentos com a prefeitura, no que diz respeito à não realização, à não materialização da política pública, porque existe no papel, mas não é executada como deveria. Na conjuntura, de forma real, sofremos sim diversas retaliações por fazer esses enfrentamentos cotidianos [...].

[...] Então, travamos alguns diálogos. Alguns diálogos com a secretaria, principalmente, com a Secretaria de Mulheres, que está aberta para dialogar com a gente. Só que, como somos uma organização social, vinculada à Smads, nem tudo o que a Secretaria de Políticas para as Mulheres tem, nesse momento, nos cabe, porque não pode fazer uma interferência entre secretarias. Então, estamos muito vinculada à Smads. E já a Smads não se põe em diálogo como a Secretaria das Mulheres. Por que a Secretaria das Mulheres se põe em diálogo? Porque são companheiras de luta, que estão com a gente, que estão na rua e sabem do sofrimento das mulheres, que estão passando por esse processo de violência. No entanto, a Smads se mostra de forma totalmente apática em relação aos problemas que levantamos em nosso serviço [...]. (Participante B).

Assim, há apenas três Centros de Referência da Mulher (CRM) na cidade de São Paulo - o Centro de Referência da Mulher da Rua 25 de Março, a Casa Eliane de Gramont e a Casa Brasilândia - administrados pela Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, já que são serviços públicos estatais, isto é, de administração direta da prefeitura. Os serviços conveniados de atendimento às mulheres são vinculados à Smads, fato que a Participante B critica:

Todos os outros Centros de Defesa conveniados estão na Smads. É outra luta que travamos agora, né, para ter recurso na Secretaria de Políticas para as Mulheres, por que ainda não tem orçamento, para que possamos migrar para a Secretaria de Políticas para as Mulheres, porque entendemos que esse serviço é de natureza daquela secretaria. Não da Smads... que pouco entende de muitos serviços que estão lá, por exemplo, medida socioeducativa que está na Smads, pouco eles entendem do que é esse serviço, da magnitude desse serviço. E será que é mesmo na Smads que esse serviço deveria estar vinculado? É a mesma pergunta que fazemos com o Centro de Defesa. Entendemos que não, que deveríamos estar na Secretaria de Políticas para as mulheres, mas ainda é uma secretaria nova, tem um ano e meio, se não me engano, está com migração de equipe, ainda, então, entra gente, sai gente. Eles ainda estão modelando e dando uma cara para essa Secretaria e não tem orçamento, né. Então, não temos como ir para lá, porque a gente necessita de orçamento, né, de repasse público pra gente funcionar. Por enquanto, estamos na Smads (Participante B).

Um dos principais desafios para a consecução do trabalho profissional com as mulheres vítimas de violência, de acordo com a Participante B, refere-se à demora para a inserção das atendidas em benefícios de transferência de renda, que poderiam apoiá-las em novos projetos de vida, para materializar a saída da situação de violência. Tal demora demanda da equipe o encaminhamento ao Ministério Público, o que causa preocupação à Participante B, uma vez que é contra o processo, cada vez mais recorrente, de judicialização das expressões da questão social:

[...] aqui, encaminhamos as mulheres para o Ministério Público, tem mulheres que estão há dois anos esperando Parceria Social47

, e aí você pensa: “Se essa mulher dependesse do Parceria Social para romper com a violência e não morrer, ela teria morrido”. Muitas mulheres saem das suas casas e vão para os abrigos, porque o Parceria Social não está funcionando, e elas acabam sendo institucionalizadas porque um programa, uma política, não vem sendo executada como deveria. Estamos nesse processo de organização das mulheres, já encaminhamos algumas mulheres para o Ministério Público, temos outras mulheres para encaminhar. Só que minha preocupação, também, é não ficar judicializando a vida dessas mulheres. Então, tudo é “Vamos para a justiça...”. Algumas coisas precisam funcionar! Não é possível! [...] (Participante B).

A ausência de preparo das demais políticas, para apoiar as mulheres que sofrem violência, causa impactos diretos à vida das atendidas. Devido à ausência de programas que as auxiliem, por exemplo, no âmbito habitacional, essas mulheres acabam sendo institucionalizadas, rompendo ou fragilizando diversos vínculos construídos com sua comunidade e com sua família de origem. A Participante B, nesse sentido, considera que os programas de transferência de renda oferecem valores irrisórios aos seus beneficiários e não são fatores determinantes para que as mulheres rompam com a situação de violência que vivenciam. Apesar disso, tais benefícios são importantes, pois oferecem às mulheres algumas alternativas para a saída dessa situação:

O Parceria Social é um dos problemas. Tem Programa de Transferência de Renda, que, muitas vezes, se não tivermos conhecimento, encaminhamos a usuária, ela faz o cadastro e depois nunca mais tem uma devolutiva. Não estou dizendo que o Bolsa Família e o Parceria Social vão fazer com que essa mulher rompa com o processo de violência, que sabemos que isso é muito maior, que precisa ser trabalhado aqui, mas é o suporte que essa mulher precisa para romper. Porque, se essa mulher tem uma garantia de que vai ter - e é um valor ridículo, que hoje em dia tem que ser

47

O Programa Parceria Social é desenvolvido pela Secretaria Municipal de Habitação (Sehab)) e Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab). É destinado às famílias com renda de até três salários-mínimos e que estejam em áreas de risco habitacional, em alojamentos provisórios ou em terrenos desapropriados pela prefeitura. Além desse público-alvo, o programa se expandiu às mulheres vítimas de violência, em 2013 (Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/politicas_para _as_mulheres/noticias/?p=142317>. Acesso em: 20 nov. 2014). O valor do benefício pecuniário é de R$ 300,00 e oferecido para que as famílias/indivíduos consigam alugar um imóvel.

revisto. Por exemplo, Parceria Social era R$ 300,00..., aqui na Zona Leste, aqui na periferia, você não aluga nada por esse valor. O Bolsa Família, o Renda Mínima, o Renda Cidadã, são benefícios, programas que entendemos que é para dar um suporte para o processo dessa mulher, que não é isso diretamente que vai fazer com que essa mulher rompa, mas que dá um suporte, dá uma segurança maior. Aqui em São Paulo, é muito difícil essa relação, com essa secretaria em especial e é a secretaria à qual estamos vinculados (Participante B).

A carência de articulação entre as políticas públicas causam impactos negativos para o trabalho profissional:

[...] Isso, sim, impacta no nosso trabalho de tal forma que ficamos buscando estratégias para fazer o atendimento. Tem usuárias que atendo e que não sei mais o que dizer para ela. Porque, inclusive, tem usuária que encaminhamos para o Ministério Público e o Ministério Público devolveu, dizendo que não vai fazer mediação entre secretarias, que não pode fazer nada. Então, falo o quê, para essa mulher? Se o Ministério Público diz que não vai fazer mediação entre as secretarias; as secretarias “não têm recursos” ..., entre várias aspas, para liberar o benefício para essa mulher. Eu vou falar: “Minha senhora, fica em casa e se apega no que a senhora acreditar”, porque, sabe, é o que a gente sente de angústia. Óbvio que não falo isso para ela... Tento, fervo os meus miolos, aqui, com as meninas, porque temos muito isso de compartilhar os casos. Então, vamos jogando tudo na mesa... assim, o que dá para fazer, tentamos tudo até o fim, ... e, aí, ficamos amarrados, então, é um desafio... eu coloco como um desafio, não coloco como limite, porque o limite nos paralisa, ... eu coloco como um desafio; atuar encima das políticas públicas em São Paulo é um desafio (Participante B).

Outro fator que causa impacto para o trabalho profissional é o mau atendimento oferecido pelas políticas de segurança pública às mulheres que sofrem violência. As delegacias, quase sempre, não suprem as necessidades das mulheres que buscam o apoio necessário para superar tal situação. O mau atendimento recebido aliado às informações transmitidas pela mídia aberta, vaticinando uma suposta falência da Lei Maria da Penha, fazem com que o trabalho do Serviço Social tenha um desafio a mais para superar, em relação às mulheres atendidas:

[...] e isso é porque nem entramos ainda no âmbito de segurança pública. Porque vamos discutir o atendimento dessas mulheres nas delegacias, como os casos são tratados, as medidas protetivas que não são expedidas; muitas vezes nem são solicitadas e não é explicado para essa mulher o que é, a forma como elas chegam aqui desacreditando da lei e fazemos todo um trabalho de resgate, de mostrar para elas que a Lei Maria da Penha é recente... agora, em agosto, se não me engano, de 2007... agora em agosto vai fazer o quê? Sete anos. Então, é uma lei neném ainda, e que, mesmo assim, é muito redonda. É uma lei bonita mesmo, mas não é aplicada. E quando as mulheres chegam: “Ah, mas isso não existe” e entra a mídia, com outra estrutura do estado que temos, a mídia, a religião e a família. Esses três pilares que, quando a mulher se senta na nossa frente, com toda essa questão imbuída, ela fala: “Eu não vou na delegacia, porque eu vi no Datena ou eu vi no Marcelo Rezende, uma mulher que fez oito BOs [Boletins de Ocorrência] e morreu”. Explicar para essa mulher. Porque essa mulher fez oito boletins, porque nada foi feito, é um trabalho nosso,... e então incide diretamente em nossa atuação, também... a não

execução da Lei Maria da Penha, ... o descaso com que essa lei é tratada aqui no país e ai pegando o recorte menorzinho, aqui em São Paulo, Zona Leste, descaso total (Participante B).

Assim, tanto o ideário sexista, imposto pela religião, como a estrutura familiar patriarcal e a mídia são, para a Participante B, importantes aspectos a serem trabalhados e desconstruídos com as mulheres atendidas pela Casa Viviane. Outro fator que dificulta o trabalho, de acordo com a entrevistada, é a ausência de recursos humanos compatíveis para o atendimento à demanda. A Smads, em sua normatização, abriu brecha para que diversos serviços socioassistenciais fossem tipificados com nomes e quadros de recursos humanos distintos da Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (Resolução CNAS 109/2009). Com isso, muitos serviços ganham novos padrões, o que possibilita à Smads burlar, inclusive, os investimentos financeiros para a contratação de funcionários/as, bem como para a capacitação deles/as:

Aqui só tem um profissional de cada área, contrariando as normas técnicas de padronização dos serviços que,... pela Secretaria de Políticas para as Mulheres e a Secretaria Nacional, do Governo Federal, no programa de padronização, fizeram um documento, uma norma técnica de padronização dos Centros de Referência da Mulher: são dois assistentes sociais, dois psicólogos, dois advogados... não, um advogado, para orientação e dois educadores sociais. Aqui em São Paulo, isso não acontece. É totalmente defasado... tenho conhecimento de outros Estados, do Nordeste... que tem essa estrutura, óbvio que a questão salarial lá..., é muito menor do que aqui, mas eles garantem esse quadro e aqui não. Inclusive, pedimos aditamento para contratação de uma assistente social e de mais um psicólogo, porque a demanda psicológica é imensa e a demanda social também,... e eu faço 30 horas. Embora saibamos que as 30 horas, para nós, foi um avanço, um ganho, uma vitória, mas temos que fazer o enfrentamento constante para não fazer em 30 horas o que fazíamos em 40. E acabar sobrecarregando ainda mais. Então, só tem eu aqui, de assistente social (Participante B).

Já para a Participante C, o sucateamento do serviço em que trabalha, causado em grande parte pelo recuo na aplicação dos recursos financeiros, faz com que tanto atendidos/as como trabalhadores/as sejam prejudicados/as. Um dos exemplos utilizados por ela, refere-se ao fato de que o Serviço Social não tem sequer uma sala apenas para atendimento, vez que o ambiente é utilizado também como depósito:

[...] entrei agora, no Guri, mas o tempo inteiro eu tenho ouvido que o projeto tem sido cada vez mais sucateado. Que a verba, há uns dois, três anos atrás, era bem maior. Essa verba sofreu um corte muito grande e isso interfere diretamente na execução do serviço. O Guri tem 44, 45 polos de ensino. Eu trabalho no polo que fica dentro do CCA Itaquera, mas a maioria dos polos ficam dentro dos CEUs [Centros Educacionais Unificados]. E são polos totalmente precarizados. Tem aluno com aula dentro do banheiro; que não tem instrumento suficiente. Então, tem polo em que as condições de trabalho são muito ruins, os computadores são

péssimos. Tem falha de comunicação muito grande, por causa dessa precariedade dos instrumentos de trabalho oferecidos. No polo onde trabalho agora, a sala do Serviço Social, há uns dois anos que não fica pronta. Ela não está pronta. Faço atendimento lá por toda a questão do sigilo ético e respeito à pessoa que estou atendendo, mas não fico lá. É uma sala que não está pronta, não tem cabeamento de Internet, de telefone. Se for preciso fazer uma ligação, faço na sala de uso comum de todos os funcionários. E o sigilo já é prejudicado por essa questão. No atendimento, as pessoas têm que pular as carteiras, pular todo o material de depósito que está lá na sala do Serviço Social para conseguir sentar, para poder atender (Participante C).

Como se apreende, o trabalho do Serviço Social, no Guri, tem sido prejudicado técnica e eticamente, devido à precarização do equipamento em tela: não há rede de Internet, o que é imprescindível para obter as informações pertinentes ao trabalho, como endereços de serviços para encaminhamento, normativas relacionadas ao trabalho profissional, ou mesmo notícias diárias, que podem impactar de alguma forma o trabalho profissional. Não há telefone e, assim, a Participante C precisa conversar com os/as atendidos/as em outra sala, prejudicando o sigilo. A sala do Serviço Social tem que ficar a maior parte do tempo fechada, já que, por guardar objetos, não é de fácil acesso a todos: