• Nenhum resultado encontrado

Contribuição do Projeto de Constituição 78 para promover a Democracia na União Européia

3 A UNIÃO EUROPÉIA

3.3 Democracia na Europa

3.3.4 Contribuição do Projeto de Constituição 78 para promover a Democracia na União Européia

A constituição democrática na Comunidade Européia foi durante muito tempo tida como um tema detentor de precária atenção por parte dos países membros, bem como dos estudiosos, uma vez que a legitimidade democrática das instituições européias era tida como desnecessária por aqueles que argumentavam que a criação de um mercado interno seria suficiente para promover a liberdade individual de cada um. Porém, essa linha de pensamento, totalmente desatualizada, talvez derivasse de pouca esperança no sucesso da União Européia, pois com o desenvolvimento de uma cooperação econômica para uma cooperação política, a questão da legitimidade democrática e a formação constitucional européia vem sendo o principal tema de debate tanto na arena política quanto da arena legal. (PETERSEN, 2005).

A Constituição Européia, atualmente em processo de ratificação79, significa um passo decisivo na formação de uma Europa mais democrática. Pela primeira vez, os valores sobre os

78 No decorrer do trabalho quando se falar em Constituição Européia, estará se referindo também ao projeto constitucional europeu.

quais assenta a UE são explicitamente destacados: liberdade, igualdade, democracia, dignidade humana, o respeito pelos direitos do homem e o Estado de direito. Esse documento incorpora a Carta dos Direitos Fundamentais e atribui força jurídica vinculativa às suas disposições. Disso faz-se saber que seriam impostas medidas coercitivas para qualquer Estado-Membro que não respeitasse esses valores de forma grave e persistente. 80

apesar de los condicionamientos que pesaban sobre los trabajos de la Convención y de las limitaciones del proyecto, los cambios institucionales propuestos para hacer más aceptable la gobernanza europea constituyen un punto de partida importante para reforzar el gobierno democrático de la Unión incrementando la responsabilidad y la centralidad de las instituciones, mejorando su representatividad, la simplificación de las decisiones y la participación de los ciudadanos, dando así parcialmente respuesta al mandato de Laeken a favor de una Unión “más democrática, más transparente y más eficiente”. (MORATA, 2004: 279).

De fato, o projeto constitucional avigora a legitimidade democrática da União por meio de medidas, tais como81: a simplificação tanto dos Tratados, uma vez que estes foram compactuados em um único texto, quanto dos procedimentos, a fim de tornar mais acessíveis aos cidadãos; o reforço à proteção dos fundamentos democráticos, com a inserção da Carta dos Direitos Fundamentais; a associação mais estreita dos parlamentos nacionais ao processo de decisão europeu (alertando também sobre o respeito ao princípio da subsidiariedade); a repartição mais clara das competências entre a União e os Estados-Membros, bem como entre as instituições européias; novas obrigações para as instituições européias no que diz respeito à consulta da sociedade civil, à transparência e ao acesso aos documentos; dentre outras. Além disso, contempla, igualmente, o papel dos parceiros sociais82. Vale dizer que as instituições devem respeitar plenamente os valores referidos na Carta dos Direitos Fundamentais, estando o Tribunal de Justiça responsável pela garantia do cumprimento desse dever.

No que se refere à vida democrática da União, a constituição preocupou-se com o diálogo com a sociedade civil, incluindo um novo título referente à democracia participativa. Fixa que as instituições devem proporcionar aos cidadãos e às associações representativas a propriedade de comunicarem e trocarem as suas opiniões em todas as áreas de ação da União Européia. A instituição deveria ao mesmo tempo manter um diálogo regular com os 79 Já ratificaram o tratado constitucional: Áustria, Bélgica, Chipre, Estônia, Grécia, Hungria, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Eslováquia, Eslovênia e Espanha. Os parlamentos da Alemanha e da Finlândia completaram o estagio de ratificação parlamentar, mas não foram além. Dinamarca, Republica tcheca, Irlanda, Polônia, Suécia e a Grã-bretanha deixaram a ratificação em suspenso. Todos, exceto a Suécia, se comprometeram a realizar um referendo se e quando ratificarem a Carta. Franca e Holanda não têm planos de realizar nova votação. Romênia e Bulgária acabaram de entrar no bloco. Fonte: Folha on line. Acesso em: 17/01/2007.

80

Disponível em: http://europa.eu/constitution Acesso em: 11/10/2006.

81 Disponível em: http://europa.eu/scadplus/glossary/democratic_deficit_pt.htm. Acesso em: 01/08/2006. 82 Disponível em: http://europa.eu.int/futurum Acesso em: 21/10/2006.

representantes das associações da sociedade civil. Junto a isso, deverão também as instituições realizar amplas consultas a fim de assegurarem a transparência e coerência das ações da União Européia. (Pode ser esse o início da implantação do processo de accountability na EU e da criação de um especo público europeu)83.

Artigo I-47.° Princípio da democracia participativa

1. As instituições, recorrendo aos meios adequados, dão aos cidadãos e às associações representativas a possibilidade de expressarem e partilharem publicamente os seus pontos de vista sobre todos os domínios de ação da União. 2. As instituições estabelecem um diálogo aberto, transparente e regular com as associações representativas e com a sociedade civil.

3. A fim de assegurar a coerência e a transparência das ações da União, a Comissão procede a amplas consultas às partes interessadas.

4. Um milhão, pelo menos, de cidadãos da União, nacionais de um número significativo de Estados-Membros, pode tomar a iniciativa de convidar a Comissão a, no âmbito das suas atribuições, apresentar uma proposta adequada em matérias sobre as quais esses cidadãos considerem necessário um ato jurídico da União para aplicar a Constituição. As normas processuais e as condições para a apresentação de tal iniciativa pelos cidadãos, incluindo o número mínimo de Estados-Membros de que aqueles devem provir, são estabelecidas por lei européia.

Juridicamente, a Constituição é um Tratado. Por conseqüência, só entrará em vigor depois da sua ratificação por todos os Estados-Membros, o que implica numa consulta popular em alguns países, tornando-a instrumento realmente de uma Europa mais voltada para democracia. Convém dizer que qualquer alteração posterior da Constituição exigirá igualmente o acordo unânime e, via de regra, a ratificação por todos os Estados-Membros; por outro lado, para certas alterações, como, por exemplo, para alargar o âmbito da votação por maioria qualificada, bastará um acordo por unanimidade no Conselho Europeu. A Constituição permite igualmente criar cooperações reforçadas ou uma cooperação estruturada em matéria de defesa.84

Como dito anteriormente, a Constituição introduz um número significativo de disposições que pretendem tornar as instituições da União mais democráticas, mais transparentes, mais controláveis e mais próximas dos cidadãos. A título de exemplo, a Constituição introduz a possibilidade de os cidadãos, desde que reúnam um milhão de assinaturas em um grande número de Estados-Membros, convidarem a Comissão a apresentar uma proposta adequada ao legislador. Com relação à questão da transparência, a Constituição Européia preocupou-se em inovar a atuação do Conselho, determinando que esse passará a reunir em sessão pública sempre que debater e votar um projeto legislativo. Junto a essa

83 Idem.

determinação, houve também a confirmação do acesso público aos documentos das instituições européias.85

O papel do Parlamento Europeu também obteve importância. Os parlamentos nacionais serão comunicados de qualquer nova iniciativa da Comissão e se um terço desses parlamentos avaliar que uma proposta viola o princípio da subsidiariedade, a Comissão será obrigada a reexaminá-la. Novas disposições sobre a democracia participativa e a boa governança também adquiriram valor constitucional. A Carta garantirá uma maior proteção dos direitos fundamentais.86

O princípio da proporcionalidade permanece inalterado na Constituição Européia, porém, o princípio da subsidiariedade87 é alvo de novos e importantes desenvolvimentos. Com esse novo documento legal, o nível regional e local passa a ser levado em consideração na aplicação desse último princípio, o que acaba também fortalecendo o papel do Comitê de Regiões na UE.

Uma inovação institucional trazida pela Constituição é a criação da função de Ministro dos Negócios Estrangeiros da União, responsável pela iniciativa e pela representação da UE a nível internacional, na qual se integram as atuais funções de Alto Representante da Política Externa e de Segurança Comum e de Comissário encarregado das Relações Externas. Assim, o Ministro dos Negócios Estrangeiros será ao mesmo tempo mandatário do Conselho para a política externa e de segurança comum e membro de pleno direito da Comissão, encarregado das funções que incumbem a esta última no domínio das relações externas e da coordenação dos outros aspectos da ação externa da União; além disso, presidirá ao Conselho Relex. A atribuição à União de uma personalidade jurídica única permitir-lhe-á ter um papel mais visível na cena internacional.88

Por outro lado, o projeto constitucional europeu, apesar de trazer mudanças significativas, principalmente no tocante à democracia, não tem sido visto de maneira positiva pelos cidadãos. Uma pesquisa realizada em 2004 pelo Eurobarómetro afirma que os cidadãos europeus ainda consideram que estão mal informados a respeito da Constituição Européia. Assim, fica claro que o processo de democratização europeu possui um longo e complexo caminho pela frente, pois com o alargamento crescente vai ficando cada vez mais difícil transformar pessoas extremamente diferentes em uma cidadania homogênea, garantindo seus interesses.

85 Disponível em: http://europa.eu/constitution/download/summ_pt.pdf Acesso: 22/03/2007. 86

Idem.

87 Ambos os princípios serão posteriormente melhor explicitados no presente trabalho. 88 Disponível em: http://europa.eu/constitution/download/summ_pt.pdf Acesso: 22/03/2007.