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5 DO ESTUDO DE CASO

5.2 Relatório Anual de Atividades CdR – Ano 2000 144 :

De acordo com o Comitê, o relatório de impacto nesse ano 2000 ultrapassou a sua função puramente regulamentar na medida em que examinou não só o impacto dos seus trabalhos e sua influência política nas relações com as outras instituições e associações de coletividades territoriais, mas também analisou a dimensão especificamente local ou regional da sua abordagem. Ou seja, este relatório buscou também salientar a contribuição do Comitê das Regiões no processo legislativo europeu. Essa declaração é uma prova da necessidade que o Comitê sente de ampliar a sua participação no processo de integração europeu, especialmente ao que diz respeito à promoção dos interesses dos cidadãos que constituem os eleitores dos representantes locais e regionais.

Dentre os acontecimentos mais importantes que caracterizaram as atividades do CdR neste ano 2000, um merece destaque: as prioridades políticas debatidas com a Comissão e o Conselho Europeu. A fixação de um sistema de prioridades do Comitê possibilitou-lhe abrir um debate mais eficaz com as outras instituições. Assim, a Comissão na sua reunião plenária de fevereiro de 2000, representada pelo seu presidente Romano Prodi, anunciou os seus quatro principais objetivos estratégicos para os próximos cinco anos: promover as novas

formas de governação145; estabilizar o continente e reforçar a vos da Europa no mundo; trabalhar para um novo programa econômico e social; e, velar por uma melhor qualidade de vida para todos. Nesse mesmo momento, a Comissão sublinhou a importância das

coletividades locais e regionais, exprimindo o interesse pelo papel das regiões e coletividades locais no processo de formação e desenvolvimento europeu. Dessa maneira, o CdR, aderiu também aos objetivos definidos pela Comissão, conforme essa decisão na sua Resolução sobre as prioridades em 2000.

Na sua intervenção, Romano Prodi considerou que, no futuro, se exigiria o desenvolvimento do papel do Comitê e das regiões na União Européia, e por três razões essenciais: a tendência para o federalismo existente em todos os Estados da União, a abertura às instâncias regionais de grandes domínios de ação comum e, por último, a globalização ou mundialização, com as regiões a defenderem as tradições e a identidade locais. Com efeito, a reforma institucional deverá possibilitar a definição de um novo modo de governação da Europa, envolvendo uma descentralização radical e uma nova parceria entre os diferentes níveis de poder. A grande diversidade das regiões européias, não somente no que diz respeito à sua dimensão e população, mas sobretudo no que respeita aos poderes que detêm,

144 Documento: R/CdR 164/2001 pt.3 FR-IT/mfc/mb 145

No dicionário da língua portuguesa de Portugal, significa ato de governar, governo, administração. O que para nós significa governança. Como o documento utilizado foi consentido para nós na língua portuguesa, mas especificamente de Portugal, resolveu-se manter a sua originalidade.

pode constituir um obstáculo a uma participação generalizada das regiões numa rede de governação européia. Neste sentido, desejou que o Comitê dê o seu contributo para a governação, permitindo a participação de todos sem antagonismos. Neste quadro, o Comitê deve desempenhar um papel de mediador, procurando pelo diálogo um equilíbrio entre as regiões. Além disso, apresentando as grandes linhas do programa estratégico para os próximos cinco anos, Romano Prodi sublinhou que o objetivo fundamental consiste em criar uma Europa estável, economicamente forte e dotada de estruturas políticas, possuindo uma posição mais preponderante a nível mundial.146

No Conselho Europeu de Nice, de Dezembro de 2000, os Estados-Membros chegaram a um acordo sobre as mudanças institucionais necessárias para poder acolher novos países. É extremamente importante ressaltar que a questão do "déficit democrático" na União Européia, não foi abordada, embora seja muito real o problema da distância entre os representantes e os cidadãos. A pertinência de voltar a colocar o princípio da subsidiariedade no centro do processo reformador comunitário foi uma vez mais recordada pelo CdR e reconhecida na "declaração sobre o futuro da União" anexa às conclusões de Nice, que prevê que esta questão esteja no centro do debate preparatório da Conferência Intergovernamental de 2004.

Apesar de julgar o Tratado de Nice como sendo debilitado em alguns pontos, tais como a insuficiência na extensão do voto à maioria qualificada, o Comitê mostrou-se relativamente satisfeito em outras questões, tais como: a obrigação de os membros do CdR disporem de um mandato eleitoral a nível local e regional, o aumento do número dos membros do Comitê a fim de ter em conta o alargamento e o fato de que foi firmado um compromisso para que sejam definidas, na Conferência Intergovernamental de 2004, as competências dos diferentes níveis de governança, com o intuito de que o cidadão saiba exatamente quem é responsável por cada ponto no processo de decisão europeu.

Fora isso, o Conselho Europeu de Nice igualmente aprovou uma agenda social, tornando a Europa não apenas voltada para os negócios, mas também para as questões sociais. Foram abordados temas como igualdade de oportunidades entre homens e mulheres e a não discriminação. A pedido do CdR, a Comissão reconheceu o papel específico das autoridades locais e regionais a respeito desses temas.

Uma outra decisão histórica do Conselho de Nice foi a nova Carta dos Direitos Fundamentais da União Européia, que mesmo não havendo um consenso entre os quinze países acerca da sua natureza jurídica, juntamente com as instituições européias proclamaram a Carta. Apesar da não participação formal do Comitê, foi possível também, neste contexto,

146 Boletim UE 1/2-2000, Comitê das Regiões (1/2), 32ª Sessão Plenária. Disponível em: http://europa.eu/bulletin/pt/200001/p110031.htm Acesso em: 06/10/2006.

fazer reconhecer a dimensão local e regional na questão do respeito aos direitos, como está bem claro no próprio preâmbulo da Carta.

A presente Carta reafirma, no respeito pelas atribuições e competências da Comunidade e da União e na observância do princípio da subsidiariedade, os direitos que decorrem, nomeadamente, das tradições constitucionais e das obrigações internacionais comuns aos Estados-Membros, do Tratado da União Européia e dos Tratados comunitários, da Convenção européia para a proteção dos direitos do Homem e das liberdades fundamentais, das Cartas Sociais aprovadas pela Comunidade e pelo Conselho da Europa, bem como da jurisprudência do Tribunal de Justiça das Comunidades Européias e do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.147

Sobre os seus trabalhos mais específicos, no decorrer do ano 2000, foram tratados em média148 75 pareceres em plenária, sendo11 pareceres resultantes de consultas obrigatórias, 37 consultas facultativas, 27 pareceres de iniciativa, conforme sintetizado no gráfico e tabela abaixo.

Tipo de Consulta x nº pareceres emitidos 1

Facultativa Iniciativa Obrigatória Gráfico 5 Quantidade Percentual Facultativa 37 49,3% Iniciativa 27 36% Obrigatória 11 14,7% Total 75 100 Tabela 5 147

Trecho do Preâmbulo da Carta dos Direitos Fundamentais da União Européia.

148 Na apuração dos dados foram descartados os que não possuíam informações completas. Foram tidos como “missings”. A sua extração não prejudicou o teor do trabalho estatístico.

Percebe-se que, nesse ano, a manifestação voluntária do Comitê dentro da União foi bem maior que quando consultado obrigatoriamente pelas instituições. Significou um total de 36%, contra apenas 14,67% de consultas obrigatórias. Ou seja, existe uma verdadeira preocupação e interesse desse órgão em representar e garantir os interesses dos cidadãos na UE, uma vez que o seu pronunciamento voluntário excede significativamente à sua consulta obrigatória pelas instituições.

Dentre esses pareceres, 68,36% inscreveram-se diretamente nas prioridades políticas do Comitê das Regiões estabelecidas no início desse mandato e atualizadas no Outono de 1999: realização da Agenda 2000 (a Reforma dos Fundos Estruturais e Coesão Econômica Social no quadro dos Fundos Estruturais e Política Agrícola Comum), Alargamento, CIG, Emprego e Ambiente, e 31,64% desses pareceres inscreveram-se indiretamente nas prioridades políticas repartidos pelos seguintes domínios: política social, energia, transportes, política urbana, política audiovisual, juventude e cultura.

Um outro assunto que também recebeu prioridade nesse ano 2000 foi a questão de reformar as políticas estruturais e a política agrícola visando o alargamento. A prioridade dada a este ponto refere-se, por um lado, ao funcionamento do sistema de solidariedade, englobando a organização e distribuição dos fundos comunitários, e por outro, ao alargamento da União.

Dentro do âmbito da coesão econômica e social, o Comitê das Regiões deteve-se especialmente na necessidade de melhorar a qualidade das propostas legislativas, tendo em conta a responsabilidade das autoridades locais na sua posterior aplicação, a eficácia dos mecanismos de controle, a definição dos níveis das prestações e a difusão da informação. Foi dada atenção especial ao problema da participação nas iniciativas comunitárias dos setores marginais da sociedade e à coerência dos instrumentos. Esta é uma prova significativa da atuação do Comitê na ampliação dos mecanismos democráticos da União, onde envolve nas suas ações, especificamente, os interesses da sociedade civil, servindo como porta-voz dos cidadãos.

O Comitê preocupou-se bastante em preparar-se para o alargamento. Orientou-se para a elaboração das relações com os países candidatos e em especial com os organismos regionais e locais, mais do que para a fase normativa (que se desenvolve em estreita relação com as negociações conduzidas pela Comissão). Foram várias as suas atuações dentro desse âmbito, mas em especial podem ser citados três objetivos. O primeiro refere-se à preparação dos comitês mistos e, em geral, à cooperação estruturada com as autoridades regionais e locais dos países candidatos. Esta ação foi realizada por meio da participação de

representantes locais em visitas, da presença dos eleitos dos países candidatos em algumas reuniões das comissões do Comitê, e pelo pedido, dos Conselhos de Associação da Polônia e da República Checa, para a criação de comitês consultivos específicos. O segundo objetivo foi estreitar as relações específicas com os eleitos locais e regionais dos países que iniciaram as negociações após as decisões de Helsínquia, em Dezembro de 1999 (Romênia, Eslováquia, Letônia, Lituânia, Bulgária e Malta). Por sua vez, o terceiro objetivo foi caracterizado pela vontade de combater a marginalização social mediante o reforço da coesão social nestes países. Estas iniciativas foram acompanhadas de um intenso programa de visitas do presidente do Comitê aos países candidatos. Essa relevância atribuída ao alargamento pelo CdR é resultante da sua consciência de que deve-se levar em conta as estruturas regionais e locais dos países candidatos, sob pena de afastar a União das instâncias mais próximas dos cidadãos. No tocante às reformas institucionais, o Comitê das Regiões insistiu no aprofundamento do respeito do princípio da subsidiariedade. Esse órgão perseverou no caráter iniciativo da aplicação do princípio que deverá levar a uma cooperação mais estreita entre os diversos níveis de poder, e não apenas constituir uma limitação negativa para a ação das instituições. A relevância desse princípio, como já fora anteriormente debatido nessa presente pesquisa, reside no fato de se reconhecer na subsidiariedade um papel que ultrapassa a simples relação entre a União e os Estados, envolvendo todos os níveis de poder, até os mais próximos dos cidadãos.

Particular interesse suscitou no Comitê a reflexão sobre a questão da limitação das competências à luz do princípio de subsidiariedade. Substancialmente, o processo de construção da União não deve avançar com prejuízo das experiências federais ou de qualquer modo de descentralização que permitam maior proximidade das decisões relativamente aos cidadãos e que, em muitos casos, constam das próprias constituições nacionais. Também neste sentido, a declaração de Nice sobre o futuro da construção européia corresponde às exigências defendidas pelo Comitê. 149

Ao Comitê também foi possível intervir na definição das orientações para o emprego nos Estados-Membros. A participação foi especialmente promovida no tocante à preparação dos documentos por parte da Comissão. Em temas como a ação local para o emprego ou definição de iniciativas específicas locais para o emprego, a Comissão seguiu o ponto de vista do Comitê, abrindo caminho para "As orientações locais para o emprego", acordadas com os parceiros sociais e sobre a responsabilidade especial das autoridades locais. Neste contexto, as autoridades nacionais terão o desenvolver uma função de encorajamento e de apoio.

A eficácia da ação do Comitê, bem como o impacto dos seus pareceres, dependem diretamente de uma interação das instituições da União Européia. É, portanto, fundamental

149 Relatório de Impacto – 2000. Pg. 11

avaliar o desenvolvimento das suas relações com as outras instituições, para tirar as conseqüências no plano operacional e decidir sobre as medidas necessárias para melhorar e ampliar a contribuição do CdR para o processo da integração européia.

Esse ano 2000 foi palco de uma grande aproximação das atividades do Comitê das Regiões e do Parlamento Europeu, especialmente pela declaração conjunta dos seus presidentes de que “com a aproximação dos dois órgãos quem mais ganha são os cidadãos”. Foram propostas algumas ações de cooperação para desenvolvimento, como por exemplo, reuniões conjuntas entre as duas assembléias.

Em 21 e 22 de Setembro de 2000, pela primeira vez, as duas assembléias plenárias realizaram-se paralelamente em Bruxelas, precedidas por reuniões comuns dos grupos políticos. Por esta ocasião, Nicole FONTAINE, convidada a participar na reunião plenária do CR, sublinhou, na sua intervenção, a importância dos debates que interessam as duas assembléias, designadamente a carta dos direitos fundamentais e o quadro constitucional europeu, os quais constituíram a base de importantes contactos políticos entre os membros do Parlamento e os do Comitê. Exprimiu também o desejo de que o Parlamento utilizasse a faculdade que tem de consultar o Comitê das Regiões.

Fazendo alusão aos baixos níveis de participação nas eleições européias, FONTAINE recordou que o Comitê de Regiões, como nível de eleitos mais próximo do cidadão, tinha um papel essencial a desempenhar na difusão do sentimento de pertença do cidadão à União Européia. Neste mesmo contexto, o

presidente CHABERT acrescentou que "esta colaboração histórica do Parlamento Europeu e do Comitê das Regiões reforçará a democracia e estão lançadas as

pontes entre nós e os cidadãos".150(grifos da autora).

No decorrer do ano 2000, os encontros entre relatores das duas instituições intensificaram-se. Os grupos políticos de ambas comprometeram-se em cooperar entre si, de maneira constante, aprofundando o debate político. A difusão dos pareceres do CdR no Parlamento melhorou, mas de acordo com o Comitê, ainda é insuficiente. Para esse órgão, esse ano pode ser considerado como uma fase prévia de uma cooperação que pretende ser bastante produtiva entre o Comitê das Regiões e o Parlamento Europeu.

No tocante à sua relação com o Conselho, percebeu-se no Relatório que o Conselho

pôde melhorar a transmissão das consultas e respeitar melhor o calendário das reuniões do CR. No entanto é ainda necessário, por vezes, insistir para o Conselho de Ministros tomar a decisão de consultar o Comitê antecipadamente.

A relação do Comitê com a Comissão Européia acelerou bastante nesse ano, no sentido de estabelecer uma cooperação reforçada dando ao CdR uma função de proposta política mais eficaz. Para realização desse objetivo, um instrumento decisivo foi o Protocolo

de Cooperação entre ambos, buscando acentuar a natureza política do Comitê, previsto no ano 2000, mas que como será visto posteriormente, foi concretizado em 2001.

Na última assembléia plenária de 2000, o Comitê considerou que aquele ano era portador de inovações e mudanças. Certamente, o CR atuou muito para uma melhor integração no tecido das instituições européias e realizou um avanço considerável na cooperação, em particular, com a Comissão Européia, mas também com o Parlamento Europeu.

O Comitê das Regiões é um parceiro importante e fidedigno para a Comissão Européia, no seu desafio de reconquistar a confiança dos cidadãos. O presidente da Parlamento Europeu colocou o seu mandato sob o signo da aproximação com os cidadãos: o Comitê das Regiões é o complemento natural desta procura de maior proximidade. 151

Por fim, o Comitê das Regiões considera, nesse seu Relatório de Impacto Anual, que apesar de ainda não ter alcançado seus objetivos com sucesso, continua caminhando para reforçar o seu peso político. Esse pensamento está consubstanciado no fato de que o debate público acerca do futuro da Europa, lançado pela Comissão, deverá encontrar respaldo na participação dos cidadãos através dos seus representantes políticos mais diretos, o que torna essencial a atuação do CdR. Com o alargamento, será de extrema importância pensar não só nas questões econômicas, mas também nas interculturais. Dessa maneira, de acordo com o próprio Comitê das Regiões, o papel que exercerão as autoridades regionais e locais na Europa, levando-se em conta a sua importância no processo de unificação européia e na aproximação da ação comunitária relativamente ao cidadão, deverá ser analisado em conformidade com o princípio da subsidiariedade. A organização política do Comitê, nitidamente evidenciada nos debates e nas ações deste ano, constitui o seu reconhecimento como instituição da União e como garantia das competências para atuar além de uma simples função consultiva.