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Contribuições da agroecologia para a sustentabilidade e o buen vivir dos assentamentos rurais da Amazônia norte mato-grossense

2 CÍRCULO METODOLÓGICO

5. CÍRCULO DA DESCODIFICAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE E DO BUEN VIVIR DOS ASSENTAMENTOS RURAIS DA AMAZÔNIA NORTE MATO-GROSSENSE

5.4 Contribuições da agroecologia para a sustentabilidade e o buen vivir dos assentamentos rurais da Amazônia norte mato-grossense

A agroecologia surgiu como um enfoque novo ao desenvolvimento agrícola predominante, mas sensível às complexidades das agriculturas locais, que abarca propriedades da sustentabilidade (CASTILLO, 2002). A agroecologia fornece uma estrutura metodológica de trabalho para a compreensão mais profunda tanto da natureza dos agroecossistemas como dos princípios segundo os quais eles funcionam (ALTIERI, 2009). Sendo assim, durante todo o processo de desenvolvimento da pesquisa, procuramos observar, dialogar, responder e inferir sobre a seguinte pergunta: a agroecologia contribui para a sustentabilidade e o buen

vivir dos assentamentos rurais?

De acordo com o que foi dialogado nos encontros, observamos que os princípios da agroecologia estão mais presentes nos discursos e nas ações do PDS São Paulo que no Assentamento São Pedro. Isto ocorre porque durante o processo de ocupação, de organização do PDS, os sem terras acolheram esta modalidade que tem como pano de fundo a sustentabilidade. Outro fator que nos parece relevante é que o PDS São Paulo é menor em termos de área e de números de famílias. Isso por um lado contribui para as ações de formação e de produção agroecológicas. O Instituto Ouro Verde vem desenvolvendo trabalhos em parcerias com os agricultores familiares assentados sobre agroecologia: são trabalhos relacionados à formação, à organização de uma cooperativa em uma rede de sementes, e à recuperação de áreas degradadas através de sistemas agroflorestais do tipo “muvuca”.

Diversos princípios e técnicas agroecológicas foram mencionados pelos sujeitos como adubos verdes e compostagens em sistemas agroflorestais, sistema agrossilvopastoril, a rotação de culturas, o consórcio de culturas, casa de sementes, etc. Nesse sentido estão buscando uma agricultura de base ecológica, que respeite o meio ambiente e contribua para uma alimentação mais saudável e consequentemente mais saúde. Sendo assim, “a manutenção e recuperação da base de recursos naturais - constitui um aspecto central para atingirem-se patamares crescentes de sustentabilidade em qualquer agroecossistema” (CAPORAL e COSTABEBER, 2002, p. 76).

Neste contexto, a agroecologia como ciência, “pretende contribuir para o manejo e o desenho de agroecossistemas sustentáveis, em perspectiva de análise multidimensional - econômica, social, ambiental, cultural, política e ética” (CAPORAL e COSTABEBER, 2006,

p. 67). O PDS São Paulo, está numa fase de transição agroecológica, e tem contribuído para o resgate de saberes e conhecimentos dos agricultores familiares assentados e gerado novos conhecimentos a partir da construção de agroecossistemas sustentáveis nas parcelas; tem proporcionado o uso racional da reserva legal para fins artesanais.

Neste caso, tratamos transição como sendo “caracterizada pelos processos de ecologização como a passagem do modelo produtivista convencional ou de formas de agricultura tradicional para estilos de produção mais complexos sob o ponto de vista da conservação e manejo dos recursos naturais” (CAPORAL e COSTABEBER, 2000, p. 29). Para Gliessman (2009), existem três níveis fundamentais no processo de transição para agroecossistemas sustentáveis: redução do uso e consumo de insumos externos; substituição de insumos e práticas convencionais por práticas alternativas; e redesenho dos agroecossistemas, para que estes funcionem em base a um novo conjunto de processos ecológicos (GLIESSMAN, 2009).

Nesse sentido, sustentabilidade inclui a noção de preservação e conservação da base dos recursos naturais como condição essencial para a continuidade dos processos de reprodução socioeconômica e cultural da sociedade, em geral, e de produção agropecuária, em particular, numa perspectiva que considere tanto as atuais como as futuras gerações (CAPORAL e COSTABEBER, 2002, p. 76).

Os processos de transição não são estáticos, sempre incluem a ideia de processos ou dimensão dinâmica, e, por conseguinte a variável tempo, ou dimensão temporal (COSTABEBER, 1998).

A questão da ética também é crucial nas narrativas dos sujeitos deste trabalho no PDS São Paulo. A Agroecologia tem como um de seus princípios a questão da ética, tanto no sentido estrito, de uma nova relação com o outro, isto é, entre os seres humanos, como no sentido mais amplo da intervenção humana no meio ambiente (CAPORAL e COSTABEBER, 2006).

Para os sujeitos do PDS São Paulo, a ética se dá no zelo e no cumprimento das normas estabelecidas no PDA do assentamento e no cuidado com o meio ambiente. Na prática, a questão ética se manifesta através do sentido da responsabilidade, nas relações normativas, em um conjunto de obrigações que passam a ser socialmente sancionadas, adquirindo o status de normas ou valores (CAPORAL e COSTABEBER, 2006).

Assim, novas estratégias de ação, orientadas para a construção de contextos de sustentabilidade, devem garantir o incremento da biodiversidade e da diversidade cultural,

minimizando, ao mesmo tempo, as dependências às quais os etnoecossistemas estão submetidos (COSTABEBER, 2001). A Agroecologia somente pode ser entendida na sua plenitude quando relacionada diretamente ao conceito de sustentabilidade e justiça social (EMBRAPA, 2006). Por fim, a Agroecologia, como enfoque científico que promove a sustentabilidade, está assentada na busca e identificação do local e sua identidade para, a partir daí recriar a heterogeneidade do meio rural, através de diferentes formas de ação social coletiva de caráter participativo (COSTABEBER, 2001).

5.5 Considerações finais

A produção, a organização, a religiosidade, a preservação e a formação no Assentamento São Pedro; a história, a organização, a ética, a política, a religiosidade, a produção e a preservação, no PDS São Paulo, são os pilares básicos para a sustentabilidade das comunidades rurais nos assentamentos na Amazônia norte mato-grossense. Esses pilares interagem e complementam-se formando um círculo, capaz de sustentar os assentamentos.

Compreendemos que as narrativas e as percepções sobre o que é sustentabilidade e buen vivir dos assentamentos rurais diferem quanto à forma de ocupação e organização. Para os sujeitos do PDS São Paulo, que acamparam durante 10 anos e viveram um processo de luta pela terra, a história e a ética são pilares importantes para a sustentabilidade do PDS; diferente do Assentamento São Pedro, onde os sujeitos não tiveram o processo de luta pela terra.

Outro pilar que foi citado pelos sujeitos do PDS São Paulo e que não foi dito pelos sujeitos do assentamento São Pedro é a questão da política tanto partidária como relacionada a grupos que integram, como a organização, direção e administração do assentamento. Há um engajamento maior por parte dos agricultores familiares do PDS São Paulo do que no Assentamento São Pedro; uma maior participação e envolvimento político. Interessante é notar que apesar de o Assentamento São Pedro ter eleito três vereadores, a política não foi citada como um pilar da sustentabilidade.

A sustentabilidade deve ser concebida também, através de representações comunitárias, conselhos, entre outras, no sentido de que se considerem as dimensões social, cultural e econômica como integradoras das formas de exploração e manejo sustentável dos agroecossistemas (CAPORAL e COSTABEBER, 2004). Nesse sentido, os assentamentos

possuem experiências com a produção sustentável através da agroecologia que tem possibilitado avanço na construção da sustentabilidade.

Portanto, acreditamos que o entendimento do que é sustentabilidade é mais amplo e mais complexo no PDS São Paulo, onde o processo de luta pela terra, a mobilização e organização no acampamento, a história e a construção do PDA contribuem para a diferença de visão de sustentabilidade para cada assentamento.

Após a avaliação e análise da sustentabilidade e do buen vivir dos assentamentos rurais da Amazônia norte mato-grossense, esta pesquisa contribuiu para os sujeitos perceberem que a sustentabilidade está em movimento em seus assentamento. Esta percepção ficou clara através da participação e do envolvimento dos sujeitos na pesquisa.

Avaliar a sustentabilidade também foi importante para quantificar e simplificar as informações sobre os assentamentos. Possibilitou ainda o olhar, o resgatar da história, das memórias da luta pela terra. Um momento de reflexão, avaliação e de pensar e repensar a vida como um todo. De analisar e planejar ações que estão sendo desenvolvidas e que possam ser encaminhadas para contribuir com a sustentabilidade dos assentamentos.