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Contribuições da análise qualitativa: relatos de algumas entrevistas

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

7.4. Análise dos Resultados das Entrevistas

7.4.6. Contribuições da análise qualitativa: relatos de algumas entrevistas

Grupo contrarreferenciado para as Unidades do PMF (N=20):

Desse grupo, 2 pacientes tiveram a última consulta com médico particular. Destacamos os dois relatos para compreender os motivos para a procura do atendimento fora das unidades do PMF.

Uma paciente de 77 anos, encaminhada em 18/11/2005, com diagnóstico de HAS I, para o PMF do Cubango (PMF Jonathas Botelho), relatou dificuldade na marcação da 1ª consulta por “demora para marcar consulta”. Teve agendamento de uma nova consulta, mas não se lembra para quanto tempo depois. A paciente relata que não voltou mais ao PMF. Segue seu relato:

“[...] Ah, eu não fui mais lá não, porque inclusive eu fui uma vez lá, cansada, subi aquele morrareu, tinha marcado pra de manhã o médico. Isso já tem uns 3 ou 4 anos. Cheguei lá, o médico disse que não ia atender, pra voltar à tarde. Ah, não voltei mais não. Ah, não voltei mais”. “[...] Mandam tudo pro Posto de saúde, mas o Posto de Saúde, não vejo nada, não tem recurso. Então, a gente pra fazer um exame, pra procurar um médico, eles mandam pra fazer lá fora né, na Amaral Peixoto, mas demora muito, é uma dificuldade. Então, eu tive várias vezes lá e eu desisti porque era muito difícil e eu não conseguia. Fiquei com a vista com princípio de Glaucoma, tô tratando... Olha, tô pagando tudo, meus filhos tá pagando. Tá pagando

médico, tá pagando fisioterapia, porque é muito difícil, porque aquele negócio de espera, a gente não dá pra esperar, não é isso”?

“[...] Então eu tava me tratando no Posto do Cubango, aqui, ah esqueci o nome, em frente ao Dr. Memória. Eu sei que tudo manda pra lá, mas nem sempre a gente pode ser atendido, e sempre demora pra fazer exame, pra fazer tudo, tá a maior dificuldade, então eu desisti. Aí eu fui tratar no ASPERJ. [...] Eu desisti porque andei com muito problema nos ossos, de labirintite, tive muito problema mesmo, aí meu filho paga pra mim lá R$60,00 por mês, e eu passei a ir a médico lá. [...] Eu não vou dizer que os médicos que estão agora lá no Posto são ruim porque eu não tenho ido lá, mas no tempo que eu ia era o Dr. R., era um médico muito bom, muito bom. [...] Logo assim que começou o Posto era uma beleza, mas depois, a doença não espera não é? [...] O tempo de espera é muito, é muita espera, é muita espera. [...] Lá no ASPERJ meu filho paga R$60,00 por mês e tem direito a médico, não paga o médico e tem direito a fisioterapia também, não paga. [...] Pode ter 3 consultas por mês de médico fora a fisioterapia.” (E- 22).

No final quando perguntei se tinha sugestões para melhorar o atendimento no Posto, ela falou:

“[...] Se a gente depende do posto, a gente tem que ter mais assistência, por exemplo, se depende de um exame, se depende de um médico, tem que ter mais médico e os exames não podem demorar tanto também, não é? E demora muito”.

“[...] Eu acho que tem que melhorar não é só pra mim não, porque tem muita gente esperando, inclusive visita de médico que não vem, como tem essa minha vizinha esperando há 8 dias. [...] Se for depender disso, é por isso que eu digo, não é que a gente possa, mas é que a saúde da gente não pode esperar do jeito que tá acontecendo né?”

“[...] A senhora pode fazer em nome de todos porque tem muita gente necessitada que eu conheço e que também tá precisando.” (E-22).

Outra paciente encaminhada em 24/03/2006, para o PMF de Maria Paula, na marcação da 1ª consulta, não relatou dificuldade. Não teve agendamento de uma nova consulta, mas relatou não ter tido dificuldade para remarcar. Como não estava se sentindo bem com o remédio passado pelo médico do posto (Captopril), tentou marcar cardiologista, mas falou que geralmente leva mais de 1 ano para conseguir marcar. Assim, marcou com cardiologista particular.

Cabe destacar que nesses 2 casos, em que a última consulta foi diferente da unidade referenciada, a última consulta foi com médico particular, na Cardiologia.

Pelos relatos desses dois pacientes, observamos que em um caso houve dificuldade de remarcação de consulta na unidade do PMF, além de demora na realização de exames, o que

fez com que os filhos da paciente passassem a pagar o ASPERJ. E, então, a paciente marcou com cardiologista.

No outro caso, por não ter se sentido bem com o remédio passado no Posto de Saúde, a paciente resolveu marcar cardiologista. E, pela dificuldade de marcar o especialista na rede, a paciente marcou com médico particular.

Grupo contrarreferenciado para as Unidades Básicas de Saúde (N=44):

Para embasar a análise da continuidade do cuidado, vamos incluir alguns relatos significativos, do momento das entrevistas, dos casos em que a última consulta foi realizada em UBS diferente da UBS para onde foram contrarreferenciados. Cabe destacar o relato de uma paciente atendido inicialmente na UBS Vila Ipiranga e que passou a se tratar na Policlínica do Fonseca, mas teve sua última consulta com médico particular. Ela relatou, no momento da entrevista:

“Não vou mais ao Posto do Fonseca, porque tem que ir para a fila muito cedo. O remédio da pressão, às vezes eu tomo quando a pressão sobe; eu tenho aparelho de pressão em casa" (E-2).

Outro caso foi o de uma paciente atendida na UBS Vila Ipiranga e que teve a última consulta com cardiologista, na PESP:

“Na Policlínica do Fonseca, quando tinha cardiologista, tinha que voltar e

passar pela triagem para poder marcar para o cardiologista. Para clínico geral é difícil. Neste ano tentei marcar pro meu pai, chegamos às 6:40 hs., deu senha às 8 hs., mas não consegui. Em 2010 quando eu estava pegando risco cirúrgico pra cirurgia de catarata, infartei e fui internada no Hospital Estadual Azevedo Lima. Depois fui encaminhada para a PESP, porque a cardiologista da P. Fonseca saiu de lá. Em março/12, lá na PESP, como eu só consegui marcar pra Outubro/12, procurei cardiologista particular (Clube Saúde Fonseca). A gente paga R$ 25,00 por consulta” (E-3).

Uma paciente atendida na UBS (Engenhoca) e encaminhada para a Policlínica da Engenhoca, para Cardiologista relatou:

“Na Policlínica da Engenhoca para marcar cardiologista, é difícil. Tem um dia certo no mês para marcar pro mês todo. Faço ginástica do Gugu todo dia mais ou menos às 7 hs. É a minha maior alegria” (E-6).

O relato de outra paciente demonstra a dificuldade do acesso e a falta de integralidade no acompanhamento. A paciente foi encaminhada para a UBS Barreto, mas foi atendida na UBS Centro: "Difícil marcar na UBS do Barreto. Tinha carteira da UBS Centro, marquei

lá". Depois, da UBS Centro, foi encaminhada para a PESP (para tratar HAS) e para a PCAS

(para tratar DM). Apesar de fazer tratamento em outra Unidade de Saúde, pega remédio na que foi encaminhada (UBS Barreto).

Observamos no decorrer das entrevistas que alguns pacientes, que tiveram dificuldades de marcar consultas com especialistas na rede, procuraram clínicas com consultas a preços populares. Os relatos demonstraram que os preços dessas consultas variavam de R$ 25,00 a R$ 40,00.

Grupo contrarreferenciado para as Policlínicas (N=152):

Uma senhora de 74 anos, com diagnóstico de HAS I, encaminhada, em 23/02/2006, para o clínico na Policlínica Carlos Antônio da Silva, relatou que tentou marcar a primeira consulta, mas não conseguiu por causa da fila grande; não tentou marcar em outra unidade da rede de saúde de Niterói. Marcou para médico particular, cardiologista. Segue seu relato:

“Não consegui marcar porque tem que chegar muito cedo na fila mais ou menos às 6 horas e é difícil atravessar aquela rua nessa hora.Quando passo mal, vou na Emergência do CPN. Vou na consulta com cardiologista de 3 em 3 meses, pago R$ 80,00 a consulta”( E-27).

Quando perguntei sobre sugestões para solucionar esse problema, respondeu: “não

precisasse ir tão cedo para marcar a consulta e sair da consulta com nova consulta marcada”.

Um senhor de 72 anos, com diagnóstico de HAS II, encaminhado, em 10/02/2006, para a Policlínica do Fonseca, para o clínico e atendido nessa unidade, por cardiologista, falou:

"Este centro de atendimento é uma porcaria, ele é uma droga e passei a me tratar no SESI. Para marcar consulta tem que chegar às 4 hs. da manhã, numa ponta de uma favela para marcar pra daqui a 3 meses porque dificilmente se consegue. Abre às 7 hs. e quando chega às 7:15 hs. não tem mais. Às vezes chega cedo e não consegue pegar número O cardiologista desapareceu desde 2007-2008. Até 2007 ainda conseguia consulta com Dr. M. e ele marcava para 2 meses na dependência da necessidade. De 2007 pra cá não fui mais. Para clínico, até 2009, tinha Dr. P., mas ele entrou de

licença médica e saiu também. Tive um problema urológico e fui encaminhado para o Hospital Orêncio de Freitas. Eu estava com inflamação no testículo e encaminharam para o Posto (Urgente/urgentíssimo). Isso tem 3 anos, até hoje este P. Saúde (P. Fonseca) não marcou . Meu protocolo é 175 de 2005 e até hoje nem resposta. Todas as vezes que eu procurei, eu desisti de procurar por causa de fila grande”. "Número insuficiente de médicos para atender a demanda". (E-38)

Esse paciente relatou que já telefonou para o serviço de atendimento do SUS, nº 136, para reclamar do atendimento de Niterói, mas até agora não adiantou. Quando perguntei sobre sugestões para a Policlínica do Fonseca, ele afirmou que na recepção, os funcionários não eram cordiais; o número de médicos deveria aumentar; disse também que alguns médicos não tinham o menor interesse. Disse ainda:

“Na 1ª vez pode ser fila, mas a partir daí o próprio médico deveria marcar a sua consulta de acordo com a sua necessidade. O médico é que é a pessoa indicada para avaliar a necessidade da volta e não o atendente. Na P. Fonseca a maioria que procura é de idosos e fica complicado ir para a fila. Atualmente eu vou no SESI no cardiologista de 3 em 3 meses e pago R$ 30,00 a consulta”. (E-38)

Uma paciente de 64 anos, com diagnóstico de HAS II, encaminhada, em 29/10/2005, para a Policlínica do Largo da Batalha para o clínico e atendida nessa Policlínica por clínico, relatou:

“Tem 3 anos que pediram Ecodoppler de Carótidas e ainda não consegui fazer. Tinha conseguido cardiologista na Policlínica do Largo da Batalha. Quando o médico saiu, fui procurar na Policlínica de Itaipu, mas não fui atendida. Falaram que eu tenho que tratar no Largo da Batalha, só que aqui neste posto as filas são imensas. Tem que chegar mais ou menos às 5hs. da manhã. Há 6 anos estava na Bahia, eu estava subindo em uma duna no Carnaval e eu infartei. No dia 20/4/12 estava sentindo fraqueza e procurei clínico no Largo da Batalha e ele falou que eu tava com Bico de Papagaio. Fui no médico particular no Centrocárdio. O médico falou que ia fazer Teste de Esforço. Na semana seguinte, passei mal “estou sufocando", "estou morrendo". Fui para o HUAP e fiquei internada por 1 mês e pouco. Fiz Cateterismo e coloquei stent no dia 28/5/12 e em 5/6/12 coloquei novo stent” (E-41).

Uma paciente de 52 anos, com diagnóstico de DM tipo 2, encaminhada, em 19/08/2008, para a Policlínica Santa Rosa e atendida nessa unidade pelo clínico, deu a seguinte sugestão para melhorar o atendimento:

“Quando o paciente saísse deixava a consulta marcada. Seria mais simples. O certo era agendar. Quando você volta já está certa a consulta. Muita gente desiste. Você desanima quando não consegue” (E-193).

Uma senhora de 76 anos, com diagnóstico de HAS III, encaminhada, em 17/04/2009, para a Policlínica Carlos Antônio da Silva e atendida nessa unidade de saúde, disse:

“Dotora, às vezes os médicos pensam que a gente vai pro posto e não precisa, mas a gente vai porque tá doente. e é uma dificuldade danada para marcar consulta. Poderia agendar para as doenças crônicas e nos casos de doenças agudas, o paciente pegaria número para ser atendido” (E- 234).