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2. tiPoGraFia no ProJeto eDitoriaL

2.5 Contribuições específicas da revisão sistemática

A revisão sistemática sobre critérios de seleção tipográfica, descrita no apêndice A, resultou em 56 artigos. Após a leitura dos resumos constatou-se que apenas 5 eram efetivamente relevantes, os demais embora abordassem os temas “critérios de seleção” e “tipografia” não davam ênfase ou não esta- beleciam a relação necessária entre os mesmos. Foi acrescentada ainda a tese Ying Li, citada no artigo “Exploratory font selection using crowdsourced

attributes”.

O artigo considerado mais relevante foi o “Exploratory font selection using

crowdsourced attributes” (O’DONOVAN et al, 2014), que deu origem a tese “Learning Design: Aesthetic Models for Color, Layout, and Typography”,

apresentada por O’Donavan em 2015. Porém analisando a tese observou-se que o conteúdo relacionado a tipografia era o mesmo já descrito no artigo. Tanto no artigo quanto na tese os autores enfatizam a importância da tipo- grafia para o design e argumentam que a escolha de uma fonte é algo sutil e que os profissionais de design fazem cursos inteiros sobre tipografia para se preparar, mas para os novatos pode ser algo frustrante e obscuro. De acordo com O’Donovan et al (2014), os desafios para selecionar fontes consistem em:

• Escolher entre tantas opções disponíveis;

• Não existir um método óbvio para categorizar os objetivos do usuário. Listagens organizadas por categorias como serifa ou display não correspondem necessariamente a estes objetivos e os nomes das fontes raramente são significativos;

• As tarefas que o usuário deseja realizar ao buscar a fonte podem ser diferentes, por exemplo procurar uma fonte com o estilo de uma imagem particular, identificar fontes gratuitas semelhantes a uma fonte paga, ou ainda explorar um grande conjunto de fontes como o do Adobe TypeKit ou Google Web Fonts.

Os autores propuseram em seu artigo uma interface que permite a seleção de fontes de acordo com seus atributos, ou seja adjetivos que descrevem a fonte de acordo com sua aparência ou personalidade visual, como amigável, formal ou legível. O usuário pode selecionar vários atributos e o sistema cruza os dados mostrando fontes que atendem a estes atributos. Para a interface foram usados os 31 atributos de personalidade (dramático, deli- cado, elegante) definidos por Shaikh (2007) acrescidos de mais 6 atributos comumente usados por designers para descrever as fontes e que são rela- cionados a estilos tipográficos como cursivo, display, itálico, etc.

O artigo apontou ainda outros estudos relacionados. Sobre traços e perso- nalidade de fontes, citam a Lista de Atributos de Personalidade da Fonte (Shaikh, 2007), Li (2009) e Mackiewicz e Moeller (2004) que apresentavam estudos de pequena escala que exploravam a gama de valores da persona- lidade de dezenas de fontes usando uma escala de Likert.

A tese de Shaikh (2007) defende que os tipos possuem uma qualidade afetiva que provoca uma resposta emocional nos leitores, criando um signi- ficado que vai além do conteúdo textual. A legibilidade também é abordada na pesquisa, questionando aos participantes se percebiam as fontes como legíveis ou não.

A terceira análise feita na revisão foi a tese “Typeface personality traits and

their design characterístics”, de Ying Li (2009), também citada no artigo e

na tese de O’Donovan. Em sua pesquisa Li enfatiza a expressão visual na tipografia. Um dos tópicos de sua tese aborda os fatores que influenciam na seleção de fontes, como tamanho, legibilidade, peso e espaço entre carac- teres. Porém a autora apenas explica conceitualmente estes fatores, sem se aprofundar.

O diferencial do trabalho de Li (2009) está na pesquisa sobre personali- dade da fonte, realizada com 24 fontes tipográficas diferentes relacionan- do-as a 10 traços de personalidade e aplicando a escala Likert. A pesquisa contou com a participação de 75 pessoas, com idades entre 20 e 40 anos, sendo a maioria graduandos ou pós-graduandos em diferentes cursos na Universidade de Concordia, no Canadá.

As 24 fontes analisadas foram organizadas de forma a relacionar os traços de personalidade — diretas, suaves, alegres e assustadoras — com a anatomia tipográfica. A pesquisa buscou identificar, por exemplo, se as fontes alegres possuem sempre descentes e ascendentes mais pronunciados, se têm pesos semelhantes, entre outras características. Esta abordagem é muito interes- sante pois deixa de se referir as fontes individualmente e permite identificar traços comuns que remetam a certas emoções, deixando a escolha da fonte mais livre. Porém requer mais análise e conhecimento do designer para fazer a seleção.

No artigo Seeing Typeface Personality: Emotional Responses to Form as

Tone, Amare e Manning (2012) discutem como a escolha da fonte tipográfica

pode influenciar na informação devido a emoção que provoca no leitor, indo além da legibilidade. O artigo apresenta uma pesquisa realizada com 102 pessoas, buscando estabelecer uma relação entre as formas, as cores e as emoções provocadas pela fonte que pode ser aplicada com o propósito de seleção de fontes, como mostra a figura 14.

Figura 14: Relação entre formas, cor, tipografia e emoção.

COR

FORMA

padrão

contrastevariedade

contraste

agitada estimulada distraída livre

divertida relaxada calma organizada focada determinada interessada provocativa

Fonte: Amare e Manning (2012)

Os autores destacaram a comparação entre fontes serifadas e não serifadas observando que embora as duas tenham sido relacionadas a “organização” a fonte serifada tem uma inclinação maior para a “calma” enquanto a não

No artigo “The best font for the job”, Phinney e Colabucci (2010) comentam a importância da escolha tipográfica no contexto dos livros infantis. Analisando livros premiados pela Associação Americana do Serviço de Biblioteca para Crianças, os autores enfatizam a importância da relação entre o conteúdo e a tipografia escolhida, observando que neste contexto a tipografia deve

ir além da “taça-de-cristal”1. “A tipografia expressiva pode substituir outros

dispositivos tipográficos, artes, ou mesmo dispositivos literários, para desen- volver a história” (PHINNEY e COLABUCCI, 2010, tradução nossa).

2.6 Considerações sobre o capítulo

Compreender as funções e domínios da tipografia, segundo Arroyo (2005) e Stöckl (2005), foi importante para identificar sua relevância no projeto edito- rial. Também evidenciou que existe uma ligação entre a micro, a meso, a macro e a paratipografia e que todas estas interferem na seleção tipográ- fica. A revisão sobre termos fundamentais e anatomia tipográfica serviu para comparar as nomenclaturas citadas por diferentes autores, como Haslam (2007), Gruszynski (2008), Ali (2009), Coles (2012), Kane (2012), Rocha (2012), Lupton (2013) e Bringhurst (2015) e definir um glossário para a pesquisa. As contribuições sobre a selecão tipográfica oriundas de autores como Leeuwen (2006), Frutiger (2007), Jury (2007), Ali (2009), Beier (2009), Samara (2010), Frascara (2011), Fontoura e Fukushima (2012), Rocha (2012), Farias (2013), Pamental (2014), Zapaterra (2014), Bringhurst (2015), Lupton (2015), Smeijers (2015) e Unger (2016) foram fundamentais para estabelecer a base dos critérios de seleção. Da mesma forma, os fatores apontados por Henestrosa, Meseguer e Scaglione (2014) mostraram-se adequados para estabelecer uma categorização dos critérios, dividindo-os em fatores formais e funcionais, fatores estéticos, fatores técnicos e fatores legais e econômicos. Cabe observar que os fatores legais e econômicos foram pouco abordados entre os autores consultados, sendo citados apenas por Lupton (2013), Pamental (2014) e Bringhurst (2015).

A revisão sistemática acrescentou importantes considerações sobre os aspectos expressivos na escolha dos tipos. Estudos como o de Li (2009) e Amare e Manning (2012) apontaram para a possibilidade de relacionar as

1 A expressão the crystal globet — cálice de cristal — cunhada por Beatrice Warde no artigo publicado em 1932, significa que a tipografia deve ser transparente, sem interferir na percepção do conteúdo onde está aplicada.(GRUSZYNSKI, 2008)

formas do tipo e as emoções provocadas nas pessoas de maneira mais objetiva. De forma geral a revisão sistemática contribuiu para a discussão da importância da expressão tipográfica, frente a legibilidade, que foi mais abordada na revisão bibliográfica.

Elencados os principais fatores que interferem na seleção tipográfica, de acordo com a revisão bibliográfica e sistemática, percebeu-se a necessidade de compreender como estes fatores devem ser considerados no contexto de cada projeto. Como relacioná-los as características do projeto, identificar se existe uma hierarquia entre eles e como ela se dá, quais as implicações deste processo que visa a tomada de decisão para a escolha entre uma e outra fonte, considerando diferentes aspectos.

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