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Contributos para a compreensão da competência comunicativa das crianças

1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.6. Contributos para a compreensão da competência comunicativa das crianças

O ensino e a aprendizagem do Português configuram um processo complexo que compreende uma diversidade de agências, agentes e circunstâncias (cf. Castro, 1989:13).

Em contexto pedagógico, por norma não existem regras específicas que orientem aspetos tais como quando falar, a quantidade do que deve ser dito, a qualidade, a pertinência e o modo. Assim sendo, existem estudos que têm comprovado a existência de uma especialização comunicativa de professores e alunos (cf. Castro, 1989:23):

«A forma desta especialização pode ser definida, entre outros, pelos seguintes traços:

«1. O professor domina o discurso da aula em termos quantitativos.

«Relativamente aos outros sujeitos, considerando-se quer o tempo discursivo, quer o número de intervenções, o professor assegura uma percentagem significativa do discurso da aula, o que o distingue nitidamente dos outros sujeitos, podendo dizer-se que no discurso da aula o professor é o locutor por excelência, enquanto os alunos tendem a assumir a função de alocutários/ouvintes.

«2. Ao controlo quantitativo da interação por parte do professor corresponde também um controlo qualitativo» (Castro, 1989:23).

Ao observarmos o que nos rodeia nas aulas, deparamo-nos com o papel fulcral que o exercício da linguagem tem nas ações pedagógicas (cf. Castro, 1989:26).

Na sala de aula, fazer é, antes de tudo, dizer, pois tanto o discurso oral dos professores e dos alunos, como a leitura de textos são atividades que preenchem praticamente o tempo de uma aula (cf. Castro, 1989:27).

Reforçando a ideia anterior e tendo em conta que a linguagem é um meio mas também um fim, na aula de Português o professor «produz e reproduz os seus próprios meios de produção» (Faria, apud Castro, 1989:27)

Podemos, ainda, acrescentar que, na aula de Português, o fazer é também um dizer sobre o dizer. Dando valor a este ponto de vista, a aula de Português apresenta-se

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A informação a que recorri para a elaboração deste ponto foi trabalhada a partir da obra organizada por Fátima Sequeira, Rui Vieira de Castro e Maria de Lurdes de Sousa, O ensino-aprendizagem do português: teorias e práticas (cf. capítulo 5, infra).

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como «contexto especializado dentro do contexto pedagógico especializado» (Castro, 1989:27).

O que pode ser dito numa aula e a maneira como pode ser dito constituem fatores importantes a considerar ao nível do discurso pedagógico (cf. Castro, 1989:27). Contribuem, aliás, para o fomento das competências comunicativas7 dos alunos, tal como sugerido pelos textos programáticos da disciplina de Português (cf. Castro, 1989:27).

Em praticamente três décadas de existência, a Psicolinguística tem dado contributos essenciais para uma boa fundamentação científica do ensino/aprendizagem das línguas (cf. Sequeira, 1989:31).

Deste ponto de vista, psicolinguístico, «a leitura é um processo ativo, autodirigido por um leitor que extrai do texto um significado que foi previamente codificado por um emissor» (Sequeira, 1989:33).

A capacidade de perceção da criança é uma mais-valia para esta usar algumas estratégias de organização de diferentes tarefas tais como a diferenciação, a procura de relações, a categorização por características exteriores ao objeto, entre outras. À medida que a criança vai desenvolvendo esta capacidade, ela vai percebendo o que está a fazer e, consequentemente, refletir sobre como e porque faz as coisas, vai tomar decisões, solucionar problemas, consolidar conceitos, generalizar regras para aplicação em diferentes situações; concluindo, ela vai aprender a pensar (cf. Sequeira, 1989:36).

Cada indivíduo é portador de conceitos e maneiras de pensar que se encontram presentes em esquemas/estruturas cognitivos/as próprios/as, que funcionam em função da sua vivência do mundo e de acordo com a sua idade e cultura (cf. Sequeira, 1989:36). No interior deste ciclo de processamento, o sistema de leitura deve ser visto como um fenómeno desenvolvimentalista que exige algumas condições. Existem mudanças quantitativas e qualitativas, e existe ainda uma série de competências assentes na cognição e na linguagem que estão presentes no ato de ler (cf. Sequeira, 1989:37).

O símbolo gráfico é um dos elementos fundamentais no processo de leitura. A maneira como o leitor o vê e como interpreta os seus significados, que, no começo de uma aprendizagem da leitura, não têm referente e, por isso, se apresentam mais difíceis, são problemas que a criança necessita de resolver, precisando, para isso, de maturidade intelectual (cf. Sequeira, 1989:37).

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O conceito de competência comunicativa foi introduzido, no início da década de 70 do século XX, por Dell Hymes. Diz respeito a um conjunto heterogéneo de recursos e de saberes que permitem aos utentes de uma língua produzir e interpretar discursos contextualmente apropriados.

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Para que a criança tenha sucesso na aprendizagem e prática da leitura, é essencial que saiba que, na página impressa, o código gráfico deve ler-se da esquerda para a direita e desde o cimo da página (cf. Sequeira, 1989:38).

Ao iniciar a aprendizagem da leitura, a criança já se encontra linguisticamente preparada; isto devido ao seu domínio do sistema fonológico da sua língua, à capacidade de perceber e produzir frases que a gramática da sua língua possibilita, bem como à capacidade de extrair significado de informações dadas e de ser capaz de comunicar (cf. Sequeira, 1989:39).

Segundo Sequeira, Eleanor Gibson (1979) dá-nos uma análise pormenorizada do progresso da criança, tendo em conta vários estádios do processo de leitura (cf. Sequeira, 1989:41).

Deste modo, «depois de uma competência na linguagem falada, a criança avançará na leitura através da discriminação dos símbolos gráficos, da tradução das letras em sons e do uso de unidades de estrutura superiores» (Eleanor Gibson, apud Sequeira, 1989:41).

John Carroll (1977) presenteia-nos, de acordo com Sequeira, (1989:41-42) com uma outra análise da tarefa da leitura:

 «A leitura requer, da parte do leitor, um conhecimento da língua que ele vai ter.»  «A leitura requer a capacidade de entender que as palavras escritas são análogas

às palavras orais.»

 «A leitura requer a capacidade de separar as palavras faladas nos sons que as compõem e juntá-las de novo.»

 «A leitura requer a competência para reconhecer e discriminar letras e grafemas nas suas formas variadas (maiúsculas, minúsculas, impressas, cursivas, etc).»  «A leitura requer a capacidade de proceder, num texto, da esquerda para a direita

e de cima para baixo.»

 «A leitura requer competência para compreender, inferir, avaliar o texto que se decifra.»

É impossível passar de aprendiz de leitor a leitor de um dia para o outro. Aprender a ler é um longo caminho que se tem de percorrer e é necessário muito treino e dedicação. Quanto mais lemos, melhor lemos, pois enriquecemos o nosso domínio dos campos semânticos em que estão organizados os elementos que compõem o léxico da língua em causa (cf. Sousa, 1989:50).

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