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4 ANÁLISE DOS DADOS

4.4 ANÁLISE DOS RELATOS DOS PARTICIPANTES

4.4.1 Caráter da avaliação

4.4.1.2 Controle

Conforme Townley (2010), a avaliação de desempenho é considerada por alguns como fundamentada em mecanismos de aplicação disciplinar cada vez mais abrangentes, que configuram movimentos de relações de poder no espaço organizacional. Os gestores da área de gestão de pessoas, quando questionados sobre o sentimento de fiscalização ou punição (Pergunta 8) na avaliação de desempenho dos servidores TAE em estágio probatório trouxeram as seguintes conclusões.

Não é uma coisa assim, uma coisa abertamente dita, é uma coisa mais velada. [...] Várias vezes a gente vê aquela coisa de até punição. Alguma coisa que tenha acontecido dentro do setor entre o servidor e o avaliador e isso gerar um: “ah se você não agir dessa forma acontece isso”. Aquilo de poder né. Às vezes até nas brincadeiras, que eu acho de muito mau gosto, a gente vê que sempre existe algumas coisas assim. (E2)

O que a gente já vê no próprio processo de estágio probatório, o fato do servidor nunca se manifestar, porque ele toma ciência da avaliação e ele dificilmente se manifesta, mesmo a gente sabendo

que ele não tá concordando com aquilo ali, ele nunca se manifesta, então isso é um indício de que ele tem receio, de que ele tem medo. [...] Ele sabe que aquele processo, aquela avaliação, aquilo dali depende pra ele se tornar estável, não perder o seu emprego. [...] Então, por aí se vê que não é um processo tranquilo, e que as pessoas não encaram como isso, as pessoas tem receio, se sentem refém da chefia por causa disso, por causa do processo de estágio probatório. (E1)

Ela gera uma mudança de comportamento nos servidores. Então, assim, talvez até culturamente as pessoas tenham essa questão assim: ah, to sendo avaliado, então, a pessoa já fica assim um pouco mais ressabiado, um pouco mais ponderado. [...] Às vezes tem receio de pedir alguma coisa: “ah é que eu ainda to no estágio probatório”, fica assim receoso de pedir, qualquer coisa mesmo, mesmo se for direito do servidor. (E4)

O entendimento a partir das falas das gestoras é de que o próprio processo de avaliação no estágio probatório, por possuir relação com a aquisição de estabilidade ou possível exoneração já é fato suficiente para causar desconforto ou preocupação nos servidores. E, isso, pode vir a piorar caso haja desvios nas condutas das pessoas envolvidas neste processo, por utilizar o resultado da avaliação como “troca de favores”, como mecanismo de relação de poder. Nunes (2016), ao estudar sobre o assédio moral no ambiente da UFSC, constatou que existem determinadas práticas hostis e ameaças ao servidor em estágio probatório, sendo que alguns não aguentam a pressão durante esse período e acabam se desvinculando da Instituição. Segundo relatório do ADRH, a UFSC apresenta um elevado índice de exonerações durante o período de estágio probatório, uma média de 17,37% desde 2010, ou ainda, a cada 100TAE que entraram na UFSC, 17 saíram antes de terminar o período de estágio probatório (UFSC, 2016a). Porém, desconhece-se a existência de alguma ação ou estudo sobre a causa ou motivo pelos quais esses servidores saíram. Não podendo, assim, atribuir as práticas hostis do período de estágio probatório com esse elevado índice de exoneração. Porém, concorda-se com a visão de que em casos em que a avaliação se reduz a mero controle, no sentido de conformação à norma, ela torna-se um instrumento de poder (DIAS SOBRINHO, 2008). Os servidores que estão

em estágio probatório confirmam essa visão.

Eu tenho uma sensação muito de estar pisando em ovos. Tipo assim, tu tem que fazer tudo que a gente... ou se tu reclamar... E aí, não tem como tu se posicionar em algumas situações. Tu não se posiciona, tu faz, sorri e deu.[…] A pessoa não devia sentir medo né?! Medo de ser ela normalmente, de falar livremente... ela devia ser avaliada em coisas objetivas né, o que realmente todo servidor deveria fazer para ser um bom servidor. Ela não deveria sentir esse medo. Eu sinceramente sempre sinto, sempre fico com esse pé atrás né. (G1A)

A gente tá numa situação assim que a gente tem medo de exigir os nossos próprios direitos. […] Então, um desgaste emocional que influencia no teu trabalho, porque tu tá totalmente desgastado, tu trabalha ali faz 1 ano mas parece que tá ali faz 30 anos não consegue fazer mais nada. Sabe? (G1C) Neste sentido, Nunes (2016), em seu estudo no ambiente da UFSC, identificou que estando em estágio probatório, o trabalhador sente-se pressionado e até intimidado e não consegue se impor em relação às situações vivenciadas, uma vez que sua aprovação está condicionada à sua avaliação durante aquele período. Desta forma, se os funcionários percebem que serão punidos por discordar do resultado da avaliação ou ainda cometer algum erro no desempenho, a comunicação entre ele e seu chefe pode ficar abalada e também influenciar o processo avaliativo como um todo (ROBERTS, 2003). A percepção que a pessoa tem sobre o seu avaliador e a influência que isso ocasiona no processo avaliativo fica evidente nas falas abaixo de servidores que estão em estágio probatório.

Não é simplesmente fazer meu trabalho e alguém vai me avaliar e eu sei que vai tá de acordo com o que eu fiz. Que nem eles colocaram, que pode ter um avaliador que nunca te viu na frente, não simpatiza contigo, vai fazer a avaliação do jeito que a pessoa quer. (G2B)

Mas, é como se fosse uma caixa de pandora né? Se talvez você cair na graça de alguém talvez não te

avalie tão negativamente. É complicado né, é difícil, porque quem vai te avaliar é quem trabalha contigo, pode te proteger né, ou punir. (G1B) A gente tem que questionar mesmo... mas, claro, tudo a gente fica com aquele “medo” porque a gente tá em estágio probatório, a gente depende de uma pessoa que vai avaliar, pode ir com a tua cara ou não, não sei, tudo isso envolve né. (G1C) Neste seguimento, Brito et al. (2001) concluíram que gestores, muitas vezes não exercitam, de forma adequada e prioritária, o papel de planejadores e avaliadores a eles reservado pela norma da organização. Segundo os autores, tem-se, desta forma, uma arena política marcada por uma relação de poder no mínimo desequilibrada, em que os avaliados se sentem perseguidos ou injustiçados.

Por meio dos depoimentos dos servidores que estão em estágio probatório, tem-se o entendimento de que eles possuem a sensação de controle e punição caso não andem conforme as regras do superior imediato. E isso pode ser atribuído a falta de uma política de desenvolvimento a partir do processo avaliativo no estágio probatório dos TAE da UFSC.

Com o objetivo de desassociar ao máximo o significado do processo de avaliação no estágio probatório como um mecanismo de controle, fiscalização e até mesmo punição é preciso identificá-lo como um processo complexo para a gestão de pessoas, que envolve a orientação, acompanhamento, comunicação e avaliação para os recém- admitidos. Dois gestores da área de gestão de pessoas e um servidor com cargo de chefia concordam.

A gente tem que caminhar para um processo de maturidade institucional também, de entender a avaliação como algo que potencialize o desenvolvimento e que não puna ninguém. (E3) A partir do momento que os gestores tiverem um treinamento, o que é avaliar no profissional e o servidor também o que que é uma avaliação, para que ele também não ache que isso seja algo punitivo. (E2)

Também não sou partidário de uma perspectiva punitiva dessas avaliações, por isso mesmo que a

gente precisa ter tempo para uma dinâmica qualitativa melhor. [...] Acho que esse outro olhar é importante também. De dizer que chefia não é um cargo no qual você faz fiscalização e punição, mas é um cargo de liderança que você assume pra dar o tom pra aquela equipe que trabalha ali. (G3G) Assim sendo, reforça-se o pensamento de que área de gestão de pessoas das organizações tem a função de cuidar de ações humanas e não de um produto do acaso, do destino ou de qualquer outra forma de determinação absoluta (CHANLAT, 1994), e por meio da valorização, desenvolvimento das pessoas e sustentando posições humanistas, pode- se diminuir os efeitos negativos das barreiras instrumentais e praticar a avaliação de desempenho no estágio probatório como uma política de gestão de pessoas acolhedora, socializadora e com vistas ao desenvolvimento pessoal, profissional e institucional.