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2 CONTROLE E COMBATE À LEPRA NO CONTEXTO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE HIGIENIZAÇÃO E SAÚDE NO

1 Centralização política e ações de saúde no sertão piauiense.

2 CONTROLE E COMBATE À LEPRA NO CONTEXTO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE HIGIENIZAÇÃO E SAÚDE NO

PIAUÍ.

A finalidade desse capitulo é analisar o processo de institucionalização das políticas médicas e sanitárias no Piauí, e como se deu o controle e o combate à lepra no referido processo. Para realizar essa discutiu-se a orientação centralista que assumiu o projeto de governo varguista, destacando a burocratização das funções públicas como estratégia de ampliação da autoridade da União. Em seguida, tratou-se da participação de Leônidas Mello no governo ditatorial de Vargas, destacando-se a importância que assumiram as políticas públicas de saúde no Estado.Também, procurou-se compreender como se estabeleceu a integração entre as políticas combate a lepra no Piauí e as determinações nacionais em relação a essa doença, notadamente a partir Reforma Capanema (1937). Finalizando o capítulo foi apresentado o impacto da redemocratização política, iniciada em 1945, sobre as políticas de saúde no Piauí, e seus efeitos sobre o funcionamento da Colônia do Carpina.

2.1 Políticas de saúde no processo de burocratização do Estado brasileiro

O cenário político do pós-30 foi marcado por instabilidades resultantes de disputas entre diferentes segmentos da sociedade brasileira, pela conquista de posições na nova ordem em formação. A coalização heterogênea que levou ao movimento político de outubro, produziu expectativas conflitantes sobre a mudança de poder149. Porém, coloca Fonseca, que esses segmentos tinham em

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A esse respeito, ver SKIDMORE,Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo-1930-1964. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. O autor, no Capítulo I; A Era Vargas (1930-1945) produz uma caracterização do que foi o movimento de 30, definindo-o como revolução da elite. Demonstra e heterogeneidade das forças políticas que protagonizaram a Aliança Liberal e a sagacidade de Vargas ao lidar com os diferentes interesses nacionais, em proveito da instituição de um Estado amplo , forte e de um executivo que tinha seus poderes fortalecidos a cada momento. Cf. a análise do que foi a Revolução de 30 em: FAUSTO,Boris. A revolução de 1930: história e

comum o entendimento na “ [...] ênfase sobre o papel do Estado como árbitro dos conflitos entre capital e trabalho e [...], como representante dos interesses coletivos em contraposição aos interesses individuais150.”

O discurso da centralização que havia definido a atuação política de alguns segmentos sociais nos anos 20, gradativamente tornou-se forte apelo nas soluções apresentadas aos problemas nacionais. Um Estado capaz de romper com os vínculos familiares controladores da dinâmica social brasileira, foi colocado como condição primeira ao fortalecimento da nação e ao desenvolvimento do país, entendido esse controle como instrumento útil à consolidação do poder público151. Assim, o Estado brasileiro pós-30, apresentando-se como mediador dos interesses dos diferentes segmentos, caminhou a passos largos em direção a uma centralização política acentuada, reforçando os elementos de autoritarismo e exclusão próprios da sociedade brasileira, o que culminou com a instalação da ditadura do Estado Novo em 1937152.

Leal153 coloca que os revolucionários de 30 depararam-se, desde o início, com uma enorme tarefa: desmontar a máquina da República Velha e ainda, historiografia. São Paulo: Ed: Brasileinse,1989. Para esse autor, a Revolução de 1930 antes de se caracterizar como uma crise econômica, como pressupõe a visão dualista, foi uma crise na estrutura política do país. Resultou de necessidades geradas pela estrutura capitalista ao qual o Brasil estava integrado,e teve como finalidade afastar os principais obstáculos à superação dessa crise. Para esse autor, o movimento de 30 não significou a hegemonia de uma classe ou fração classe em face ao declínio de outra. Ao contrário, o governo que se instalou a partir de 30 representou um momento em que nenhum grupo social ou econômico conseguiu oferecer ao Estado as bases de sua legitimidade. Utilizando-se da análise realizada por Weffort, Francisco. Classes populares e políticas. Fac. de Filosofia, Ciências e Letras da USP, São Paulo, 1968, Boris Fausto afirma que “ Em tais condições, instala-se um compromisso entre as várias facções pelo qual ‘ aqueles que controlam as funções de governo já não representam de modo direto os grupos sociais que exercem sua hegemonia sobre alguns dos setores básicos da economia e da sociedade.

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FONSECA, Cristina M. Oliveira. op.cit, p. 34

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GOMES, Angela de Castro. A política brasileira em busca da modernidade: na fronteira entre o público e o privado. In: SCHWARCZ, Lilia Moritz (org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.1998.Vol.4.

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Sobre esse processo, ler o que coloca GOMES, Ângela M. de Castro em OLIVEIRA, Lúcia Lippi; VELLOSO, Mônica Pimenta em Estado Novo: ideologia e poder. Rio de Janeiro: Zahar Editores,19892. Cf. PANDOLFI,Dulce (org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro. Ed. FGV: 1999.

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LEAL, Nunes Victor. Coronelismo, enxada e voto. O município e o regime representativo no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

montar uma estrutura que pudesse favorecer à eficiência do aparelho administrativo, garantindo maior influência ao governo central nas diversas unidades federativas. Também era propósito desse projeto político, assegurar por essas e outras medidas, a execução do projeto nacional de desenvolvimento econômico e social burguês no país.

Para implementar a centralização política e inserir o Brasil na economia internacional, o novo projeto estimulou o fortalecimento da ideologia nacionalista, produziu ampla reforma administrativa criando órgãos públicos e, iniciou a formação de um quadro de funcionários selecionados a partir do critério da “impessoalidade”154, contando ainda, com acontecimentos políticos internacionais, a exemplo da segunda guerra mundial.155 No campo da diplomacia internacional esse acontecimento mundial produziu a assinatura de acordos de cooperação entre Brasil e os Estados aliados, os quais buscavam atender interesses na área de segurança sanitária, explorar reservas de matéria-prima e fortalecer objetivos políticos de ambos os países. Campos coloca que:

[...] os exércitos aliados precisavam de borracha, ferro e outras matérias primas brasileiras estratégicas; os soldados americanos enviados para as bases militares no Brasil necessitavam de proteção contra as chamadas doenças tropicais; e, ainda, os trabalhadores brasileiros envolvidos na produção de borracha e minerais estratégicos precisavam de prevenção e cuidados contra malária e outras doenças infecciosas. O Governo Vargas, então, aproveitou-se desta súbita demanda por matérias-primas para

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Burocracia é uma forma de organização que se baseia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance dos objetivos.Weber identifica três fatores principais que favorecem o desenvolvimento da moderna burocracia: O desenvolvimento de uma economia monetária- na burocracia, a moeda assume o lugar da remuneração em espécie para os funcionários, permitindo a centralização da autoridade e o fortalecimento da administração burocrática; O crescimento quantitativo e qualitativo das tarefas administrativas do Estado Moderno; A superioridade técnica – em termos de eficiência – do tipo burocrático de administração: serviu como uma força autônoma para impor sua prevalência. Sobre essa temática ler WEBER, Max. Economia e Sociedade.Brasília:Editora Universidade de Brasília,1999.

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OLIVEIRA, Lúcia Lippi; VELLOSO, Mônica Pimenta, op. cit. Nessa obra as autoras apresentam uma análise da importância da crise da ideologia liberal na manifestação de um ideal nacionalista mundial, bem como a influência das ideologias européias, a exemplo do fascismo e de teorias intelectuais como a do elitismo defendida por Gaetano Mosca e Pareto, na experiência política brasileira do pós-30.

aprofundar o seu programa de desenvolvimento econômico e fortalecimento do Estado nacional, [...]156.

Algumas estratégias governamentais assumiram visível importância no projeto de Estado varguista. Como já foi mencionado, o aparelhamento do Estado através da criação de agências, institutos, Ministérios e outros órgãos públicos, foi um mecanismo de grande eficácia na mediação dos conflitos sociais que passaram a ser controlados pelo Estado. A criação e trajetória do Ministério da Educação e Saúde Publica– MESP e do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio – MTIC, permitem observar a importância desses setores na organização e disciplina dos espaços, sujeitos e serviços necessários à implementação do projeto político e econômico que o país começava a viver.

Tais órgãos foram dirigidos por homens de origem familiar e política nos setores das oligarquias nacionais, mas que demonstravam sensibilidade aos elementos da administração moderna. A sagacidade de agentes públicos como os Ministros Gustavo Capanema, na direção do MESP, e de Lindolfo Collor, no comando do MTIC, demonstra um compromisso e uma identificação com um modelo de Estado e sociedade que se colocava para além do governo que representavam. Embora não se possa negar o caráter personalista assumido pelo governo brasileiro durante a Era Vargas, era ao projeto modernizante, mais que ao chefe do executivo, que prestavam seus serviços.

Basta analisar o perfil desses agentes políticos para que se compreenda a importância do momento na composição estrutural do Estado. Tomava forma, ainda que atravessada por vícios da velha política nacional, uma burocratização das instituições políticas e sociais que enfraquecia ou obrigava a reacomodações das formas de poder existentes. Fonseca coloca que os contendores dessa esfera política partilhavam um universo de questões comuns ao pensamento político da época, pois:

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CAMPOS, André Luiz Vieira de. Políticas Internacionais de Saúde na era Vargas: o serviço especial de Saúde Pública,1942-1960. Rio de Janeiro; Editora Fiocruz, 2006, p.35.

Esses temas tratavam do papel do Estado diante dos problemas sociais e enfatizavam a construção da nação como princípio norteador das políticas adotadas, sempre em meio a reiteradas críticas ao liberalismo. A Noção de interesse nacional, normalmente identificada pelos autores da época com o interesse geral da população, aparecia sempre em oposição ao interesse local, associado a propósitos individuais. A estreita relação entre poder local e proveitos particulares sustentavam-se em interpretações acerca do papel e das influências tradicionais da oligarquia brasileira sobre nosso desenvolvimento econômico, político e social157.

Na esfera de alcance daqueles Ministérios, foram implementadas políticas nacionais assistencialistas que visavam não só esvaziar o comando das autoridades locais, inviabilizar o poder de mobilização da sociedade civil e garantir uma maior penetração das forças políticas federais em territórios e espaços pouco atingidos por aquelas, como também construir outro padrão de relação entre Estado e população: a educação, o trabalho e a saúde foram os grandes protagonistas desse processo. Na realização de ações corporativas ou universais, o Estado foi conseguindo alcançar setores da população brasileira que antes estavam à margem de sua intervenção direta, contribuindo para uma alteração no quadro das relações de força que haviam sustentado a estrutura política nacional até aquele momento.

Nesse contexto, as políticas públicas de saúde tornaram-se mais presentes no cotidiano da população, notadamente dos segmentos mais pobres. Campanhas de vacinação, educação sanitária, assistência médica e hospitalar ganharam importância e foram inseridas, inclusive, no mundo do trabalho. Esse último constituiu-se no foco principal do processo modernizante. É do referido período a expansão da política de previdência social, que foi iniciada com as Caixas de Aposentadorias e Pensão (CAPs), na década de 20 e, posteriormente foram substituídas pelos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs)158.

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FONSECA, Cristina M. Oliveira. op.cit., p. 67.

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CARVALHO, José Murilo em Cidadania no Brasil: um longo caminho: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,2007. O autor, discutindo sobre os problemas que retardaram a experiência plena da cidadania pelos brasileiros, mostra, no Cap. II, que o recuo dos direitos políticos durante o governo Vargas veio acompanhado de uma ampliação dos direitos sociais, a exemplo, da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e da criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs).

Tais políticas não objetivavam alcançar homogeneamente a todos os brasileiros. Não faziam parte de uma discussão a respeito do status quo da população brasileira, razão pela qual tiveram natureza restrita e ensejaram, ao mesmo tempo, situações de inserção e de exclusão. Para melhor entendimento da questão, é necessário analisar as atividades desenvolvidas pelo MTIC e pelo MESP ou MES159, órgãos que implementaram a política previdenciária varguista, especialmente durante o Estado Novo.

O MTIC realizava prestação de serviço individualizada a trabalhadores que integravam o mercado formal, a exemplo da assistência médica, da regulamentação da jornada de trabalho, da adoção do salário mínimo. Mas, possuía alcance limitado, uma vez que excluía de suas ações as categorias de trabalhadores informais, rurais e domésticos. Apresentava-se como importante política na consolidação do projeto nacional, porém, tratava-se da produção de ações sociais reguladas e reguladoras, direcionadas apenas àqueles que integravam a estrutura econômica formal .

O Ministério da Educação e Saúde Pública, criado em novembro de 1930, entretanto, não implementou durante o governo provisório mudanças de peso no quadro da saúde pública da sociedade brasileira. Em relação ao controle e ao combate a endemias que tinham feito parte da agenda nacional de saúde na República Velha, manteve as orientações do Regimento de 1923. Esse órgão, em seus quatro primeiros anos de funcionamento, foi dirigido por Francisco Campos, Belisário Pena e Washington Pires respectivamente. Foram gestões marcadas por frequentes disputas de poder e, portanto, pouco produtivas no campo da políticas sociais. Hochman a esse respeito coloca que:

Inicialmente, a criação do Ministério não trouxe nenhuma alteração para a saúde pública, significando apenas a incorporação do já existente Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), criado em 1920. Posteriormente foi sofrendo modificações provisórias por meio de uma legislação fragmentada e que atendia somente a necessidades conjunturais. No final do ano de 1930, já haviam sido delineadas algumas diretrizes que orientariam a reforma administrativa

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O Ministério da Educação e Saúde Pública passou a ser denominado de MES na reforma de 1937.Lei 378 de 13 de janeiro de 1937.

implementada por Vargas: fortalecer a organização administrativa federal e introduzir medidas de racionalização administrativa160 .

O MESP, apenas no final da gestão de Washington Pires(1934), realizou as primeiras mudanças nas políticas de saúde herdadas da República Velha. Com a ocupação da pasta ministerial por Gustavo Capanema naquele mesmo ano, esse ministério iniciou o processo de ocupação de posições significativas no programa de centralização política e administrativa do Estado161.

Ao contrário do MTIC, o MESP voltava-se para o atendimento da população em geral, em serviços de educação, cultura e saúde. Castro Santos162 afirma que por não possuir o MESP a finalidade de servir aos interesses de categorias particulares, não se pode afirmar que as políticas de saúde desenvolvidas durante o governo Vargas resultem de pressões de setores populares, mas que seriam resultado de negociações políticas entre governo central e poderes locais, civis ou políticos.

Porém, é interessante observar que se não existia uma mobilização de setores populares por melhores condições de saúde, não se pode desconsiderar que começava a se constituir, naquele contexto, o reconhecimento social e político desses setores. O crescimento demográfico e o processo de urbanização trouxeram para a cena política elementos ‘ausentes’, ou pelo menos de pouca importância, nas sociedades de cultura rural. Portanto, foi com o objetivo de conquistar esse novo cidadão, que o MESP passou a atuar nos combates as endemias, no atendimento de crianças e adolescentes, na atenção à saúde das

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HOCHMAN, G. Reformas, instituições e políticas de saúde no Brasil (1930-1945). In : Educar. Curitiba,n.25, Editora UFPR, 2005,p.130.

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HOCHMAN, Gilberto em Reformas, instituições e políticas de saúde no Brasil (1930-1945) op. cit., ao realizar análise das mudanças institucionais e direcionamento encaminhado pelo Estado às políticas de saúde mostra o papel desempenhado pelo Ministério da Educação e Saúde, notadamente após a nomeação de Gustavo Capanema para a direção daquele ministério, na execução da política varguista.

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mulheres e sobre outros segmentos importantes na nova realidade social, que não podiam ser alcançados pelo MTIC163.

Embora o MESP desenvolvesse ações voltadas para setores mais amplos da sociedade, as mesmas ainda tiveram alcance restrito, especialmente quanto às áreas mais distantes dos centros econômicos e políticos do país. Castro Santos (1985) coloca que as políticas públicas de saúde durante o governos Vargas sofreram uma retração, em relação às desenvolvidas nos últimos anos da década de 20. O Estado varguista teria concentrado as ações de saúde em regiões de fronteiras e em locais onde a classe trabalhadora se encontrava melhor definida como categoria social.

A despeito dessa afirmativa, o que se observa em algumas regiões do país é um crescimento dos investimentos públicos nessa área, embora essa prática tenha sido realizada desvinculada de ações que tivessem, na sua essência e amplitude, objetivo de modificar os problemas motivadores daquelas políticas. É o que se evidencia nos testemunhos produzidos na área de saúde no Piauí.

2.2 Governo Leônidas Mello: os serviços de saúde pública no Piauí ( 1935-1945)

2.2.1 Cenário piauiense no pós - 30: ascensão política de Leônidas Mello

Na República Velha, o Piauí compunha uma das partes do território nacional pouco integrada ao desenvolvimento econômico e social do país. Em decorrência disso, apresentava baixo poder de negociação política, situando as representações estaduais, referentes ao campo das disputas nacionais, fora das melhores posições na conquista de políticas federais para esse Estado. O

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Usando categorias definidas por NORBERT, Elias e SCOTSON, Jonh L. em Os Estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro: Zahar, 1990, p. 07, pode-se dizer que as atenções do MESP, dirigiram-se principalmente para o grupo dos outsiders do país, ou seja, para uma parte daqueles que não se enquadravam na classificação do establishment, mas para as pessoas que formavam um conjunto difuso e heterogêneo e que “existem sempre no plural não constituindo, propriamente um grupo social”

descaso das autoridades federais para com o Piauí pode ser retratado em Neves, quando afirma que :

[...] políticos profissionais só se lembravam do Piauí para explorarem um prestígio forjado à custa álacres, telegramas de congratulações e outros elementos da velha técnica eleitoral. O povo era pobre, a terra inexplorada, e as almas ermas de esperança164

O Piauí possuía grande potencial para o desenvolvimento econômico, materializado na enorme quantidade de terra fértil inexplorada pela agricultura, no extrativismo vegetal e nos vastos pastos que poderiam ser racionalmente destinados à pecuária, atividades que era o forte de sua capacidade produtiva. Porém, os interesses políticos particularistas majoritários locais, associado ao descaso da esfera federal, deixavam esse vasto potencial desvinculado das necessidades dos setores populares, inviabilizando o crescimento socioeconômico da população geral desse território. É esse o quadro social e político do Piauí, encontrado pelas eleições de 30.

Nesse Estado, a escolha do Presidente da República nas eleições de 30 deu-se em clima de muita tensão. A Aliança Liberal foi constituída por uma dissidência do Partido Republicano Piauiense, surgida no decorrer da segunda década do século. Era composta por indivíduos vinculados ao esquema político que controlara o poder durante a República Velha, partícipes do acordo que tinha levado João de Deus Pires Leal - o Joca Pires, à vitória nas eleições para o governo do Estado.

A situação política era agravada pelo quadro social e econômico que se encontrava o Estado. A crise de 1929165 ampliara profundamente as dificuldades já enfrentadas pelo governo na realização de políticas sociais. A queda nas

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NEVES, Berílio. Leônidas Mello. In Almanaque da Parnaíba [s.n.] ,1944. apud NASCIMENTO, Francisco Alcides. A cidade sob o fogo: modernização e violência social em Teresina (1937-1945). Teresina, Fundação Monsenhor Chaves, 2002, p.46.

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Sobre a crise de 1929, ler HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914- 1991). São Paulo: Companhia das Letras,1995.

exportações de produtos da economia piauiense teve como consequência imediata, a redução da arrecadação, afetando, entre outros compromissos do governo, o pagamento do funcionalismo público, que chegou a ficar até três meses com seu salário em situação irregular e, ainda, a suspensão das obras públicas que absorviam o trabalho dos setores mais pobres da população.

Os aliancistas do Piauí traziam como emblemas, nomes conhecidos no cenário da política local: Hugo Napoleão do Rego, representante desse Estado na Câmara Federal; Senador Pires Rebelo; o ex-governador Mathias Olímpio de