• Nenhum resultado encontrado

Controlo da Flora Adventícia

No documento Conversão para viticultura biológica (páginas 91-94)

2.2 Cobertura Vegetal do Solo e Adubação Verde

2.2.4 Controlo da Flora Adventícia

O conceito de Planta Infestante está associado ao crescimento e desenvolvimento excessivo e indesejado de uma determinada planta ou de um conjunto de plantas. As infestantes podem ser classificadas pelo seu ciclo biológico como anuais, bianuais e perenes, sendo uma questão importante a considerar no planeamento do seu controlo (Torres, 2007). No que respeita a protecção da cultura da vinha, as infestantes são consideradas um problema na medida em que todos os anos é necessário agir para o seu combate (Rodrigues et al, 2010).

As infestantes têm sido combatidas ao longo de décadas através de frequentes mobilizações de solo e por métodos químicos. A investigação técnico-científica tem vindo a provar que as mobilizações de solo devem ser reduzidas e evitadas, sempre que possível (Rodrigues et al, 2010). Estas práticas tradicionais de controlo de infestantes expõem o solo à erosão, ao escorrimento superficial, à desagregação das suas partículas, levando a um aumento progressivo da perda de solo, afectando a sustentabilidade dos agro-sistemas, podendo inclusivamente afectar o sistema radicular das videiras. Em paralelo, o uso continuado de herbicidas leva à redução da biodiversidade e a um cenário de dominância das espontâneas mais resistentes à sua aplicação que, de modo geral, representam plantas com elevada capacidade invasora. A persistência destas substâncias herbicidas no solo pode levar ainda à contaminação dos aquíferos e águas superficiais (Rodrigues et al, 2010).

Em Agricultura Biológica não é permitido o uso de herbicidas de síntese e as mobilizações de solo devem ser reduzidas ao mínimo. Deste modo, para uma gestão adequada das infestantes no MPB, é importante conhecer e identificar a flora espontânea, perceber em que medida pode constituir um benefício ou prejuízo, em

74

função da sua localização na exploração (entrelinhas, bordaduras, etc.) e estabelecer um método de controlo adequado.

Os principais objectivos a considerar na gestão das infestantes são a conservação do solo, a gestão do teor em matéria orgânica, a biodiversidade, o microclima da vinha, a relação entre infestantes e hospedeiros de pragas e doenças, a relação entre infestantes e organismos auxiliares, assim como a produtividade da vinha e a regularidade da sua produção (Torres, 2007). A gestão de infestantes constitui uma poderosa ferramenta na gestão da vinha (Thomas e Schiedel, 2010) e pretende prever a conservação das suas vantagens e a limitação das desvantagens.

Vantagens

Uma análise da flora espontânea é essencial pois a flora inicialmente considerada infestante pode, na realidade, trazer benefícios e constituir uma boa cobertura natural do solo. A constituição de um coberto vegetal do solo permite a estruturação e descompactação do solo, a sua protecção contra a erosão, o estímulo da actividade biológica e facilita a transitabilidade dos equipamentos. A flora espontânea pode representar uma fonte de nutrientes e uma fonte de auxiliares da vinha, tendo um papel importante no reservatório genético para a biodiversidade e estabelecendo múltiplas relações com organismos vivos e com o solo (Torres, 2007). Finalmente, uma cobertura de solo constituída por flora espontânea, não implica medidas de implantação nem riscos de adaptação ou adequabilidade.

Desvantagens

Embora a flora espontânea faça parte dos ecossistemas agrícolas, a sua presença pode constituir um problema para o desenvolvimento da cultura da vinha. As infestantes podem-se tornar um prejuízo se competirem pela água e nutrientes com a vinha, se dificultarem a mecanização, interferindo com as operações vitícolas e se constituírem hospedeiros alternativos às pragas da vinha. Além disto, o crescimento de infestantes pode criar um microclima desfavorável ao crescimento saudável da vinha, levando a um aumento de doenças e riscos de geada.

Duval (2003) aconselha uma luta contra infestantes, prévia à implantação da vinha, durante duas estações, efectuando-se uma pequena mobilização do solo para secar alguns raizames de infestantes, seguida de adubações verdes.

75  Métodos de Controlo

Como estratégias de controlo de infestantes podem ser adoptadas medidas de erradicação, prevenção, combate e gestão (Quadro 2.12).

Quadro 2.12. Estratégias de controlo de infestantes (Adaptado de Zimdahl 1993 cit. por Torres, 2007)

ESTRATÉGIAS DE CONTROLO DE INFESTANTES DESCRIÇÃO

Erradicação Eliminar definitivamente uma espécie específica

Prevenção Impedir as primeiras contaminações

Combate Limitar a infestação

Gestão Integrar métodos de controlo

O controlo das infestantes permite limitar a competição com a vinha em momentos- chave de maior necessidade de água e nutrientes do seu ciclo biológico. As práticas de controlo envolvem essencialmente o controlo mecânico e a gestão da cobertura vegetal do solo. Por controlo mecânico entende-se o corte mecânico das infestantes e a monda mecânica do solo. O corte mecânico corresponde apenas à acção de corte da cobertura vegetal do solo. A monda mecânica, além de controlar o crescimento das infestantes, tem ainda uma acção de arejamento das camadas mais superficiais do solo, agindo na descompactação do solo e na sua estruturação. Contudo, a monda mecânica deve ser efectuada o mínimo possível e através de métodos pouco invasivos, assegurando a protecção do solo. As infestantes podem ser por outro lado controladas através de culturas de cobertura ou adubações verdes que, progressivamente, combatem ou até mesmo eliminam as infestantes indesejadas.

O controlo de infestantes no sistema vitícola é particularmente importante nas linhas, entrelinhas e bordaduras das parcelas de vinha. Para o controlo da vegetação herbácea na linha são aconselhados dois métodos: mobilização superficial de solo ou cobertura do solo com vegetação morta, tipo mulching. Para o controlo da vegetação nas entrelinhas e bordaduras são aconselhados o método mecânico e a cobertura vegetal do solo com

76

adubo verde. A preferência deverá ser dada às técnicas de cobertura vegetal e corte mecânico, em detrimento da mobilização mecânica do solo.

No documento Conversão para viticultura biológica (páginas 91-94)