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Pragas da Cultura

No documento Conversão para viticultura biológica (páginas 50-59)

1.3 Caracterização da cultura

1.3.4 Pragas da Cultura

Traça-da-uva – Lobesia botrana (Denn. & Schiff.)

A traça-da-uva é representada em Portugal pela Lobesia botrana (Figura 1.13A), também conhecida por Eudémis (Rodrigues, 2012a). Esta espécie é mais abundante nos países mediterrânicos e constitui um maior risco económico para o viticultor português. Segundo Carlos (2007), a traça-da-uva é considerada a principal praga das vinhas da Região Demarcada do Douro. A Eupoecilia ambiguella, sendo mais abundante nos países da Europa Central, não representa um risco significativo para Portugal. Por este motivo e por possuírem um ciclo de vida muito semelhante, a descrição que se segue diz respeito à espécie Lobesia botrana (Rodrigues, 2012a).

A C

Figura 1.13. A. Eudémis, Lobesia botrana (Cristina Carlos, ADVID), B. Ataque de traça nos bagos (Cristina Carlos, ADVID)

A Eudémis trata-se de um Lepidóptero capaz de produzir várias gerações. Em climas meridionais como o de Portugal completa normalmente 3 gerações (Figura 1.14), ocasionando-se uma 4ª geração em verões quentes e prolongados. A traça-da-uva hiberna sob a forma de crisálida no ritidoma (IFV, 2010a). Os estragos da 1ª geração para a vinha não constituem um impacto significativo, uma vez que esta geração é antófaga (alimenta- se das inflorescências) e a vinha possuir nessa fase vegetativa uma boa capacidade de recuperação (Rodrigues, 2012a). A monda efectuada por estas lagartas pode ser considerada benéfica, impedindo a expulsão de bagos (estado de fecho de cacho) ou a podridão cinzenta, que se instalada quando os bagos rebentam (estado de maturação) (Carlos, 2007). Contudo, a 1ª geração possui um elevado potencial biótico, o que é

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determinante para o nível populacional das gerações seguintes. A 2ª e 3ª geração deste insecto, ao alimentarem-se do bago (carpófagas) (Figura 1.13B) nas fases de bago de chumbo, ervilha e pintor, podem gerar perdas significativas, sobretudo em regiões com tendência para ataques de podridão cinzenta e podridão acética (Rodrigues, 2012a). A 2ª geração efectua posturas nos bagos verdes e pode originar estragos particularmente quando ocorre precipitação, permitindo a instalação de podridão cinzenta (Carlos, 2007). A 3ª geração efectua posturas nos cachos em maturação e a sua nocividade é elevada, pelas condições climáticas serem mais favoráveis ao desenvolvimento da podridão cinzenta. Esta geração é considerada a mais prejudicial (Carlos, 2007).

Este Lepidóptero metamorfiza numa sucessão de 4 estádios de desenvolvimento (ovo, larva, pupa e adulto) ao longo do ciclo vegetativo da videira, ocupando botões florais, bagos, folhas e ritidoma das cepas (Rodrigues, 2012a). A 1ª geração provoca estragos no estado de Alimpa, a 2ª geração no estado de bago de ervilha/pintor e a 3ª geração no estado de maturação (Carlos, 2007).

As condições óptimas para o desenvolvimento da Traça-da-uva são encontradas em Verões quentes e solheiros, situando-se as temperaturas ideais à volta dos 22ºC e a humidade relativa entre 40 a 70%.

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Figura 1.14. Ciclo Biológico da Traça-da-uva (Adaptado de Rodrigues, 2012a)

Cigarrinha-verde – Empoasca vitis Goethe, Jacobiasca lybica Bergevin & Zanon A cigarrinha verde ou Cicadela (Figura 1.15) trata-se de um Cicadelídeo frequentemente observado no ecossistema da vinha, por se tratar de um hospedeiro privilegiado durante o período estival. Quer a Empoasca vitis, mais encontrada a Norte e Centro do país, quer a

Jacobiasca lybica, mais frequente a Sul do território, alimentam-se principalmente de

vinhas (ampelófagas), embora sejam bastante polífagas (Rodrigues, 2012a).

As cigarrinhas-verdes completam geralmente duas gerações, podendo alcançar uma terceira em países mediterrânicos (Rodrigues, 2012a). Estes cicadelídeos hibernam em plantas hospedeiras de folha persistente, migrando para a vinha no início da Primavera (DRAPC, 2008). As fêmeas migram primeiro para plantas de transição, como roseiras e silvas, e em seguida para a vinha (IFV, 2010b). Nesse momento são efectuadas as posturas no interior das nervuras ou no pecíolo das folhas. No final de Maio eclodem as primeiras larvas da G1, que passam por 5 estádios. Em meados de Julho aparecem as larvas e ninfas da G2 e em Agosto os adultos. No final do Verão os adultos abandonam a vinha, migrando

G1. Geração Antófaga

Emergência de Adultos (G3) 1º voo e acasalamento Posturas Ovos (botões florais) Incubação

Emergência de Lagartas Perfuração de botões florais Construção de ninho/casulo Estados larvares

Abandono de inflorescências Fase de Crisálide (folhas) Emergência de Adultos (G1)

G2. Geração Carpófaga

2º voo e acasalamento (G1) Posturas Ovos (bagos verdes) Incubação

Emergência de Lagartas Perfuração de bagos Estados larvares Abandono dos cachos Fase de Crisálide (folhas) Emergência de Adultos (G2)

G3. Geração Carpófaga

3º voo e acasalamento (G2) Posturas Ovos (bagos) Incubação

Emergência de Lagartas Perfuração de bagos Estados larvares Abandono dos cachos Fase de Crisálide (folhas) Diapausa (ritidoma)

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para o local de hibernação. As cigarrinhas hibernam sobre a forma de adulto, preferindo para refúgio géneros florestais como Taxus, Juniperus, Abies, Picea, Cedrus, Pinus e

Quercus. (Rodrigues, 2012a).

A B

Figura 1.15. A. Ninfa de Cigarrinha-verde Empoasca vitis. B. Adulto de Cigarrinha-verde

Empoasca vitis. B. (DRAPC, 2008)

Enquanto picadoras-sugadoras as cigarrinhas-verdes afectam a planta através da sua picada nas nervuras centrais e secundárias da folha, provocando descoloração e necrose das mesmas. Como consequência última do seu ataque, podem ocasionar redução da actividade fotossintética, mau atempamento dos sarmentos, enfraquecimento das cepas e situações de mau amadurecimento das uvas. As gerações estivais são as mais nocivas para a vinha (Rodrigues, 2012a).

Cigarrinha-Dourada – Scaphoideus titanus Ball – e a Flavescência Dourada

A Cigarrinha-Dourada ou cigarrinha-branca é um Cicadelídeo com origem na América do Norte. Este cicadelídeo é exclusivamente ampelófago e constitui o vector de transmissão para a doença da Flavescência Dourada (FD) (Rodrigues, 2012a). A FD é originada por um fitoplasma (MLO, Mycoplasma-Like Organism) parasita vegetal que altera o funcionamento das plantas (Lobo Xavier, 2008). Este fitoplasma, alojado nos vasos condutores de seiva, impede a migração de nutrientes e afecta a acumulação de reservas no lenho (Cichosz, 2002). A cigarrinha dourada foi referenciada pela primeira vez em

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Portugal na Região dos Vinhos Verdes e Douro, em 2001, e a FD no ano de 2007 (Rodrigues, 2012a).

A larva da cigarrinha-dourada distingue-se da cigarrinha-verde por duas pontuações negras de cada lado do abdómen, desenvolvendo apenas uma geração anual e todo o seu ciclo sobre a planta de videira (Cichosz, 2002). É sobre a forma de ovo que hiberna, sob o ritidoma das videiras, tendo uma eclosão faseada que inicia em Maio. As larvas passam por 5 instares, vivendo e alimentando-se na página inferior das folhas. Os adultos (Figura 1.16), com elevada mobilidade, surgem em Junho e atingem o seu máximo no mês de Agosto (Rodrigues, 2012a).

Figura 1.16. Adulto de cigarrinha-dourada Scaphoideus titanus Ball (Chambre d’Agriculture de Gironde)

A Flavescência Dourada pode ser transmitida através de material vegetativo contaminado ou através da cigarrinha-dourada. A cigarrinha-dourada, enquanto picadora-sugadora, adquire o fitoplasma da FD ao alimentar-se de seiva de uma videira doente. O fitoplasma alcança o intestino, reproduzindo-se e atingindo a hemolinfa e as glândulas salivares. Entre 30-35 dias da ingestão do fitoplasma, a cigarrinha começa transmitir a doença. A elevada mobilidade dos adultos originam epidemias de FD (Rodrigues, 2012a). A videira pode evidenciar os sintomas até 5 anos após a infecção (Garrido, 2008). A sua distribuição é agregativa, manifestando-se em focos de diferentes intensidades (Rodrigues, 2012a). Como consequência do ataque da FD, as folhas da videira endurecem, enrolam, mudam de coloração vermelha, amarela e dourada, existe uma ausência de atempamento, um atraso na rebentação e uma quebra qualitativa e quantitativa na produção, podem haver morte total ou parcial das videiras (Rodrigues, 2012a). Os sintomas podem atingir uma parte ou a totalidade da cepa, dependendo da casta, do vigor da videira e do grau de infecção (Garrido, 2008).

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As exigências climáticas para o desenvolvimento deste cicadelídeo são um verão quente e prolongado e um inverno bastante frio (Garrido, 2008).

A Flavescência Dourada é classificada como doença de quarentena segundo a directiva comunitária n.º 2000/29/CE e o Decreto-Lei n.º 154/2005, sendo uma das doenças mais temidas da videira, pelos grandes danos que causa nas regiões vitícolas (Lobo Xavier, 2008). A Portaria n.º 976/2008 regulamenta a obrigatoriedade de tratamento de forma a conter a epidemia (Rodrigues, 2012a).

Aranhiço-vermelho – Panonychus ulmi (Koch)

O aranhiço-vermelho (Figura 1.17) é um Ácaro da Família Tetranychidae. Embora seja considerado uma praga secundária em Portugal, pode desenvolver ataques graves nas vinhas que se encontrem em desequilíbrio biológico (Costa, 2006). No entanto, este Ácaro tem vindo a assumir uma importância cada vez mais relevante, em particular a norte do país. O seu carácter reprodutivo forte, a disponibilidade de alimento favorecida pela monocultura e ainda os tratamentos fitossanitários intensivos, têm sido fortes potenciadores da destruição dos seus predadores naturais, os Ácaros Fitoseídeos e consequentemente responsáveis pela sua forte expansão (Rodrigues, 2012a). Segundo Neves (2000), o principal prejuízo desta praga encontra-se na redução da acumulação de açúcares e no debilitamento da cepa.

A B C

Figura 1.17. A. Ovos de Inverno de Panonychus ulmi (Costa, 2006). B. Bronzeamento das folhas em consequência de um ataque de aranhiço-vermelho (Costa, 2006). C. Fêmea de aranhiço-vermelho (INRA Montpellier)

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Durante o seu ciclo de vida, o aranhiço-vermelho passa por cinco estádios de desenvolvimento (ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto) apresentando várias gerações anuais, desde seis na Região Norte a dez na Região Sul (Rodrigues, 2012a). Este Ácaro hiberna sob a forma de ovo nos gomos, na base dos sarmentos e no tronco (Neves, 2000). O seu ciclo inicia com a eclosão dos ovos de Inverno no começo da Primavera, podendo prolongar-se até princípios de Junho consoante a região, ou seja entre a fase de “abrolhamento” e “duas folhas livres”. A fase de eclosão geralmente prolonga-se quando as temperaturas são baixas. As posturas dos adultos de ovos de Inverno originam a primeira geração anual. Após a eclosão de G1, ocorre a migração para a folhagem jovem que constitui o seu aimento. As posturas dos ovos de Verão são feitas na página inferior das folhas, ao longo das nervuras principais e secundárias. A eclosão dos ovos de Verão leva a um rápido aumento dos níveis populacionais do fitófago, podendo, atingir proporções prejudiciais para a cultura. As posturas de Inverno são feitas próximo dos gomos de ramos do ano ou no ritidoma da madeira mais velha. Estas posturas são desencadeadas pela quebra da temperatura e do fotoperíodo. A temperatura é o maior regulador das eclosões e da duração das incubações, situando-se as temperaturas ideais para o desenvolvimento do Aranhiço-vermelho entre 25-30ºC, associadas a tempo seco (Rodrigues, 2012a). O seu desenvolvimento é parado em condições de temperaturas abaixo de 8ºC ou acima de 35ºC, assim como humidades relativas abaixo de 60% (Costa, 2006). Tendo como hospedeiros preferenciais, espécies de fruteiras como macieiras, pereiras, pessegueiro e até algumas hortícolas como o feijoeiro, o tomateiro e o tomateiro, esta espécie encontra-se cada vez mais sincronizada com o ciclo da vinha, tendo como principal efeito o bronzeamento das folhas (Rodrigues, 2012a).

Aranhiço-amarelo – Tetranychus urticae Koch

Esta praga reflecte a sua expressão principalmente nos vinhedos mais localizados a sul do país, e também no Douro Superior, tendo vindo a expandir-se em particular pelas aplicações de pesticidas de largo espectro de acção, a que são particularmente sensíveis os Ácaros Fitoseídeos, os seus principais predadores (Rodrigues, 2012a).

Enquanto Ácaro (Figura 1.18), tal como o aranhiço-vermelho passa por 5 fases de desenvolvimento (ovo, larva, protoninfa, deutoninfa e adulto) e vive em enormes colónias no interior de densas teias. A principal diferença reside no facto deste fitófago passar o

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inverno sob a forma de fêmea adulta fecundada nas ervas do solo e no ritidoma das videiras. As teias densas formadas pelo aranhiço-amarelo criam um micro clima favorável ao seu desenvolvimento protegem o fitófago proteger contra predadores naturais, impedem a instalação de colónias de outras espécies, para além de dificultar a penetração de acaricidas e reter a humidade da transpiração da videira, permitindo a sua sobrevivência da praga em climas áridos (Rodrigues, 2012a).

Com um ciclo de vida e hábitos alimentares muito semelhantes aos do Aranhiço- Vermelho, destaca-se pela sua superior fertilidade e capacidade reprodutiva, bem como pelo facto de não passar todo o seu ciclo de vida na videira. No início de Março ocorre a primeira migração, do local de hibernação para a vegetação herbácea adventícia. A segunda migração ocorre quando a vegetação adventícia seca naturalmente, dando lugar à deslocação para a videira. A migração final realiza-se entre Setembro e Novembro, com o regresso das fêmeas de volta à condição hibernante. Os principais factores que levam à hibernação são a quebra da qualidade do alimento e a redução do fotoperíodo para valores abaixo das 14 horas. Com um ciclo de vida muito curto, este Ácaro passa por seis a doze gerações, consoante o clima e a região (Rodrigues, 2012a).

A B C

Figura 1.18. A. Colónia de aranhiço-amarelo (Coutin R., OPIE). B. Adultos de aranhiço- amarelo mostrando as duas manchas escuras na parte dorsal (Cotton D., INRA Montpellier). C. Folha com sintomas de ataque de aranhiço-amarelo (Coutin R., OPIE)

As condições favoráveis ao seu desenvolvimento são temperaturas elevadas (óptimo entre 30-35ºC) e humidades relativas baixas (30-35%). Solos quentes e expostos a Sul

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favorecem o desenvolvimento desta praga, sendo as castas com folhas glabras ou pouco pubescentes as mais atacadas. Outra condição que pode levar ao desenvolvimento desta praga é a ausência de predadores naturais (Costa, 2006).

A sua característica de picador-sugador, causa normalmente danos produtivos relacionados com a diminuição da actividade fotossintética e aumento da transpiração, prejudicando questões como o amadurecimento e o atempamento das videiras, podendo gerar o amarelecimento e queda precoce das folhas.

Os seus hospedeiros preferidos preferenciais assemelham-se aos do Aranhiço-Vermelho e estão descritos no Quadro 1.6 (Rodrigues, 2012a).

Quadro 1.6. Hospedeiros preferenciais do Aranhiço-Amarelo (Rodrigues, 2012a)

TIPO DE VEGETAÇÃO

ESPÉCIES

NOME COMUM NOME CIENTÍFICO

Flora Adventícia Corriola Trevo Convolvulus arvenses L. Trifolium sp. Fruteiras Macieira Pereira Citrinos Pessegueiro

Malus domestica Borkh Pyrus communis L. Citrus sp.

Prunus persica L. Batsch

Hortícolas Feijoeiro Tomateiro Pepino Phaseolus vulgaris L. Lycopersicum esculentum L. Cucumis pepo L. Ornamentais Violeta Roseira Cravo Saintpaulia sp. Rosa sp. Dianthus caryophyllus L.

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