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A Convenção de Nova Iorque sobre a Prestação de Alimentos no Estrangeiro (CNY), também denominada de Convenção da ONU, foi celebrada em 20 de julho de 1956, sendo a primeira convenção com o objetivo de cooperação internacional na seara das obrigações alimentícias, englobando, assim, normas voltadas à solução de conflitos alimentares, “agilizando e uniformizando mecanismos, que trouxe facilidades aos processos para a fixação e cobrança de alimentos, nos casos em que as partes (demandante e demandado, sujeitos da relação jurídica alimentar) residam em países diferentes.”124

A Convenção foi promulgada através do Decreto n.º 56.826, de 1965. Em seu preâmbulo, a CNY apresentou como justificativa a dependência que algumas pessoas possuem, por serem hipossuficientes em vários sentidos, inclusive para o seu próprio sustento, de pessoas residentes em outro país, bem como levantou as dificuldades legais e práticas que as ações alimentícias têm quando da execução ou cumprimento de decisões relativas a alimentos no exterior. Assim, os Estados-Contratantes assinaram o referido instrumento com o objetivo de “prover os meios que permitam resolver estes problemas e vencer estas dificuldades”.

Segundo dados da HCCH – Hague Conference on Private Law125 – são os seguintes os

Estados-Membros da CNY: Alemanha, Argélia, Argentina, Austrália, Áustria, Barbados,

124 BRASIL. Ministério Público Federal. Alimentos Internacionais Convenção de Nova Iorque. Disponível em:

<http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/sci/dados-da-atuacao/alimentos-internacionais-convencao-de-nova- iorque-1> Acesso em: 23 abr. 2019.

.125 HAGUE CONFERENCE ON PRIVATE INTERNATIONAL LAW – HCCH. States Members of the Hague

Belarus, Bélgica, Bósnia & Herzegovina, Brasil, Burquina Faso, Cabo Verde, Cazaquistão, Chile, China (Taiwan), Chipre, Colômbia, Croácia, Dinamarca, Equador, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Filipinas, Finlândia, França, Grécia, Guatemala, Haiti, Holanda, Hungria, Irlanda, Israel, Itália, Libéria, Luxemburgo, Macedônia, Marrocos, México, Moldávia, Mônaco, Montenegro, Níger, Noruega, Nova Zelândia, Paquistão, Polônia, Portugal, Quirguistão, Reino Unido, República Centro-Africana, República Tcheca, Romênia, Santa Sé, Sérvia, Seychelles, Sri Lanka, Suécia, Suíça, Suriname, Tunísia, Turquia, Ucrânia e Uruguai.

O objeto principal da CNY está exposto em seu primeiro artigo, qual seja: facilitar que uma pessoa residente em um determinado Estado-Contratante (demandante), dependente de outra pessoa para prover seu sustento que esteja em outro Estado-Contratante (demandado), obtenha alimentos desta, utilizando as instituições intermediárias e as autoridades remetentes de cada Estado para este fim. Além disso, o citado artigo ainda declara que os meios jurídicos previstos na convenção não excluirão aqueles previstos no ordenamento jurídico interno de cada país ou em âmbito internacional, mas, ao contrário, completarão estes – princípio da complementaridade.126

Ainda nesse sentido, a presente convenção, em seu artigo II, prevê dois órgãos que funcionarão como autoridade central: a autoridade remetente, a qual corresponde aquela que irá realizar o pedido alimentar, e a instituição intermediária, que irá recebê-los. No nosso país, segundo o Decreto n.º 56.826/1965 e o art. 26 da Lei de Alimentos (Lei n.º 5.478/1968), a Procuradoria-Geral da República (PGR) é a responsável por exercer as duas funções supra de cooperação jurídica na área alimentar quando fundamentada na CNY. Gustavo Holanda Dias127

ainda complementa que nos termos do Regimento Interno do Ministério Público Federal, as atribuições relativas à cooperação internacional são de competência da ASCJI – Assessoria de

the Recovery Abroad of Maintenance. Disponível em: <https://assets.hcch.net/docs/13420bc8-91c3-461f-87f2- e0e3c052ea3c.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2019.

126 ARTIGO I

Objeto de Convenção

1. A presente Convenção tem como objeto facilitar a uma pessoa, doravante designada como demandante, que se encontra no território de uma das Partes Contratantes, a obtenção de alimentos aos quais pretende ter direito por parte de outra pessoa, doravante designada como demandado, que se encontra sob jurisdição de outra Parte Contratante. Os organismos utilizados para este fim serão doravante designados como Autoridades Remetentes e Instituições Intermediárias.

127 DIAS, Gustavo Holanda. Dos alimentos no plano internacional: Convenções de Nova Iorque e

Interamericana sobre prestação de alimentos no estrangeiro. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 95, dez

2011. Disponível em:

<http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10891>. Acesso em: 1 mai. 2019.

Cooperação Jurídica Internacional, órgão ligado ao Gabinete do Procurador-Geral da República.

Dessa forma, podem pleitear alimentos, por meio deste instrumento internacional, aqueles que ainda não completaram 18 (dezoito) anos, bem como quem completada essa idade continue como credor de alimentos. Ademais, a presente CNY pode ser aplicada no âmbito das relações matrimoniais – cônjuges e ex-cônjuges, caso os Estados não limitem a aplicação da convenção apenas às obrigações alimentares que envolvam interesses de menores de idade128.

Portanto, o acima exposto são os aspectos gerais da CNY, o qual prevê, ainda, os mecanismos do auxílio direto e das cartas rogatórias (artigos V e VII, respectivamente) se estiverem previstos internamente na lei de cada país. Existindo essa previsão, o Poder Judiciário brasileiro deverá proceder com a tradução dos documentos para a língua oficial do país de destino e enviará à autoridade remetente (PGR) para que esta, observando os requisitos expressos na CNY, formalize a entrega dos documentos à instituição intermediária do outro Estado Parte que, por seu turno, remeterá ao judiciário local129.

4.2 CONVENÇÃO INTERAMERICANA SOBRE OBRIGAÇÃO ALIMENTAR (1989)