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Análise sobre a (im)possibilidade de execução da prisão civil, determinada pelo Poder Judiciário brasileiro, ao devedor de alimentos residente no exterior.

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CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

FILIPE MARINHO OLIVEIRA BORGES

ANÁLISE SOBRE A (IM)POSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO DA PRISÃO CIVIL, DETERMINADA PELO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO, AO DEVEDOR DE

ALIMENTOS RESIDENTE NO EXTERIOR

NATAL/ RN 2019

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FILIPE MARINHO OLIVEIRA BORGES

ANÁLISE SOBRE A (IM)POSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO DA PRISÃO CIVIL, DETERMINADA PELO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO, AO DEVEDOR DE

ALIMENTOS RESIDENTE NO EXTERIOR

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito, sob a orientação do Professor Doutor Marco Bruno Miranda Clementino, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Direito, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Orientador: Prof. Dr. Marco Bruno Miranda Clementino

NATAL/ RN 2019

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA

Borges, Filipe Marinho Oliveira.

Análise sobre a (im)possibilidade de execução da prisão civil, determinada pelo Poder Judiciário brasileiro, ao devedor de alimentos residente no exterior / Filipe Marinho Oliveira Borges. - 2019.

72f.: il.

Monografia (Graduação em Direito) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Departamento de Direito Privado. Natal, RN, 2019.

Orientador: Prof. Dr. Marco Bruno Miranda Clementino.

1. Direito de família - Monografia. 2. Pensão alimentar - Monografia. 3. Prisão civil - Monografia. 4. Cooperação jurídica internacional - Monografia. I. Clementino, Marco Bruno Miranda. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

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DISCENTE: Filipe Marinho Oliveira Borges

ORIENTADOR: Prof. Dr. Marco Bruno Miranda Clementino

TÍTULO: ANÁLISE SOBRE A (IM)POSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO DA PRISÃO CIVIL, DETERMINADA PELO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO, AO DEVEDOR DE ALIMENTOS RESIDENTE NO EXTERIOR

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito, sob a orientação do Professor Doutor Marco Bruno Miranda Clementino, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Direito, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal/RN, 21 de junho de 2019.

COMISSÃO EXAMINADORA

_____________________________________________________ Prof. Dr. MARCO BRUNO MIRANDA CLEMENTINO

Presidente

_____________________________________________________ Profa. Dra. ANA BEATRIZ FERREIRA REBELLO PRESGRAVE

1º Membro

_____________________________________________________ Prof. Msc. DIOGO PIGNATARO DE OLIVEIRA

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Primeiramente, agradeço a Deus, por iluminar os meus caminhos e por ter me proporcionado saúde, determinação, coragem e força em todos os passos da caminhada em busca desse objetivo.

Agradeço também aos meus pais, Maria de Fátima Marinho Oliveira Borges e Eugenio Pacelli Borges, e à minha irmã, Fernanda Marinho Oliveira Borges, por terem me dado toda a base de vida com seu amor, dedicação, conselhos e orientações, formando a pessoa que sou hoje em dia.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte e ao corpo docente do curso de direito, por terem colaborado no meu amadurecimento intelectual, especialmente ao meu orientador, Dr. Marco Bruno Miranda Clementino, por todo o seu incentivo, sua ajuda e paciência para o desenvolvimento desse trabalho.

À Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte e a todos que convivi durante os dois anos de estágio na instituição, especialmente à Dra. Luciana Vaz de Carvalho Ribeiro, com quem presto meus sinceros agradecimentos por todos os ensinamentos e pelo desenvolvimento jurídico que me foi oportunizado.

Por fim, agradeço a todos os amigos que estiveram presentes nessa jornada e que, de alguma forma, contribuíram para o meu crescimento, cada um com seu jeito, com sua forma ímpar de ser, mas que foram agregando valores e momentos na minha vida.

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“Ohana means family. Family means nobody gets left behind or forgotten.” (“Ohana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer.”)

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Esse trabalho possui como problemática analisar se é possível que uma decisão judicial brasileira, que determinou a prisão civil, alcance o devedor de alimentos residente em país estrangeiro. Para isso, foi realizada uma pesquisa na legislação nacional acerca dos institutos da prisão civil e dos alimentos, abordando seus conceitos e características, bem como os procedimentos previstos na execução alimentar. Adiante, verificou-se quais as convenções internacionais sobre alimentos que o Brasil é Estado Parte, observando o que prevê cada convenção acerca da prisão civil e dos seus procedimentos sobre execução de decisão estrangeira. Além disso, foi feito um estudo sobre os mecanismos civis de cooperação jurídica internacional em matéria civil e da ordem pública no Direito Internacional Privado. Ao final, observou-se as legislações internas de alguns países com os quais o Estado brasileiro mantém relações internacionais, com o intuito de verificar se existe a previsão da medida em exame em seu direito interno. Desse modo, para alcançar os objetivos pretendidos na monografia, foi utilizado o método lógico-dedutivo e da abordagem qualitativa. Ademais, foi realizada uma pesquisa bibliográfica em doutrinas, jurisprudência, artigos e dissertações, tanto em meio impresso como também por meio eletrônico. Concluiu-se, portanto, que é possível a execução do meio coercitivo da prisão civil, determinada pelo Poder Judiciário brasileiro, ao devedor de alimentos residente no exterior, desde que observadas as disposições constantes nas convenções internacionais sobre o tema, ou por meio da reciprocidade, respeitando-se a lei interna e a compatibilidade com a ordem pública do Estado requerido.

Palavras-chave: Alimentos. Prisão Civil. Cooperação Jurídica Internacional. Convenções Internacionais.

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This study has as problem to analyze if it is possible that a brazilian judicial decision, which determined the civil imprisonment, reaches the alimony debtor resident in a foreign country. For this, a research was done in the national legislation on institutes of the civil imprisonment and the alimony, examining its concepts and characteristics, as well as the procedures predicted in the execution of maintenance. Later, it was verified which international conventions on maintenance that Brazil is a State Party, observing what each convention predicts about the civil imprisonment and its procedures on execution of foreign decision. In addition, a study was carried out on civilian mechanisms for legal assistance and public order in private international law. In the end, it was observed the internal legislation of some countries which the brazilian State maintains international relations, in order to verify if there is a prevision of the institute under review in its domestic law. Thus, to achieve the objectives sought in this monograph, the logical-deductive method and the qualitative approach were used. In addition, a bibliographical research was carried out in doctrines, jurisprudence, articles and dissertations, both in print and electronically. It was concluded that it is possible to execute the civil imprisonment, determined by the brazilian justice, to the alimony debtor resident abroad, provided that the rules of the international conventions on the subject are observed, or through reciprocity, respecting the internal law and the compatibility with the public order of the requested State.

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1 INTRODUÇÃO ... 10

2 ALIMENTOS E PRISÃO CIVIL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO12 2.1 ALIMENTOS: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS ... 12

2.2 ALIMENTOS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ... 19

2.3 A PRISÃO CIVIL COMO MEDIDA COERCITIVA ... 25

3 A COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL EM MATÉRIA CIVIL ... 31

3.1 A COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL ... 31

3.2 MECANISMOS TRADICIONAIS DE COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL ATIVA NA ESFERA CÍVEL ... 36

3.3 A ORDEM PÚBLICA NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO ... 42

4 AS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE ALIMENTOS QUE O BRASIL FAZ PARTE ... 45

4.1 CONVENÇÃO DE NOVA IORQUE SOBRE A PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS NO ESTRANGEIRO – CNY (1956) ... 46

4.2 CONVENÇÃO INTERAMERICANA SOBRE OBRIGAÇÃO ALIMENTAR (1989) 48 4.3 CONVENÇÃO DE HAIA SOBRE A COBRANÇA INTERNACIONAL DE ALIMENTOS PARA CRIANÇAS E OUTROS MEMBROS DA FAMÍLIA (2007) ... 50

5 ANÁLISE SOBRE A (IM)POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA PRISÃO CIVIL, DETERMINADA PELO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO, AO DEVEDOR DE ALIMENTOS RESIDENTE NO EXTERIOR ... 54

5.1 A EXECUÇÃO DE DECISÃO NO EXTERIOR NAS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS SOBRE ALIMENTOS QUE O BRASIL FAZ PARTE ... 54

5.2 POSSÍVEIS MECANISMOS DE COOPERAÇÃO JURÍDICA INTERNACIONAL PARA PROCEDER COM O PEDIDO DE EXECUÇÃO DA DECISÃO QUE DETERMINOU A PRISÃO CIVIL ... 58

5.3 A PREVISÃO DA PRISÃO CIVIL EM OUTROS ORDENAMENTOS JURÍDICOS E POSSIBILIDADE DA PRISÃO CIVIL NO EXTERIOR PELA JURISPRUDÊNCIA BRASILEIRA ... 60

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 64

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1 INTRODUÇÃO

O estudo possui como problemática a questão da possibilidade, ou não, de aplicação da medida coercitiva da prisão civil, como excepcionalidade, determinada pelo Poder Judiciário brasileiro, ao devedor de alimentos residente no exterior.

A motivação em destacar esse tema foi devido a afinidade nas disciplinas de Direito de Família e de Direito Internacional descobertas durante a graduação. Além disso, realizou estágio na área cível da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte, onde as demandas sobre prestação alimentícia eram frequentes. Dessa forma, despertou a curiosidade em saber como se daria a questão da execução alimentar em âmbito internacional, com destaque para estudar como a medida executória determinada pelo judiciário brasileiro poderia alcançar o alimentante residente em outro país.

A obrigação de prestar alimentos encontra-se bem regulamentada no ordenamento jurídico nacional, podendo ser encontrados dispositivos que abordam o assunto na própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no Código Civil, no Código de Processo Civil, no Estatuto da Criança e do Adolescente, na Lei de Alimentos, entre outras leis pátrias.

Entretanto, quando uma das partes da relação jurídica, o alimentante (devedor/executado), se encontra residindo fora do Brasil, alguns obstáculos para executar a decisão proferida pelo juízo brasileiro em processo de execução alimentar vêm à tona, principalmente aquelas de natureza procedimental. Nesse sentido, a efetividade da execução de alimentos que tem destino no exterior encontra diversos entraves, necessitando, assim, observar as convenções internacionais sobre o tema, as diretrizes da cooperação jurídica internacional em matéria civil, os princípios do direito internacional privado e a legislação interna do país requerido.

Nesse sentido, o trabalho tem relevância temática no âmbito prático, uma vez que traz à baila um tema deveras atual no âmbito do estudo jurídico, no contexto do mundo globalizado em que vivemos, onde se nota a crescente demanda ao judiciário em matéria de prestação de alimentos internacionais, conforme dados do DRCI/SNJ/MJ.1

1 BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Estatísticas. Disponível em:

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Portanto, as indagações acerca do assunto são crescentes no mundo jurídico contemporâneo. É imperioso mencionar, ainda, o cenário da relação entre alimentante e alimentando quando estes residem em países distintos, de modo a verificar como se dá o procedimento de execução alimentar em âmbito internacional, sob a luz das Convenções Internacionais, com ênfase na aplicação da prisão civil.

Desse modo, com o intuito de alcançar os objetivos geral e específicos propostos nessa pesquisa, será utilizado do método lógico-dedutivo e da abordagem qualitativa. Nesse sentido, será realizada uma pesquisa com vistas a interpretar o tema na legislação pátria, bem como nas convenções internacionais sobre alimentos e legislação estrangeira. Outrossim, far-se-á uso da pesquisa bibliográfica em doutrinas, jurisprudência, artigos e dissertações, tanto em meio impresso como também por meio eletrônico.

Assim, a pesquisa se propõe a analisar os institutos da prestação alimentar e da prisão civil na ordem jurídica pátria, conceituando-os e abordando suas principais características. Fará também uma investigação nas convenções internacionais sobre alimentos que o Brasil faz parte, quais sejam, a Convenção de Nova Iorque Sobre a Prestação de Alimentos no Estrangeiro (1956), a Convenção Interamericana Sobre Obrigação Alimentar (1989) e a Convenção de Haia Sobre a Cobrança Internacional de Alimentos para Crianças e Outros Membros da Família (2007), e nos seus procedimentos para execução de decisão estrangeira.

Ademais, realizará uma leitura dos mecanismos civis de cooperação jurídica internacional, sobretudo aqueles relacionados à matéria civil, e da ordem pública no Direito Internacional Privado. Além disso, buscará nas legislações internas de alguns países, com os quais o Brasil mais mantém relações internacionais no âmbito cível, a existência de previsão legal da medida coercitiva em estudo. Por derradeiro, apresentará as conclusões acerca do trabalho, concluindo se é possível a execução da medida coercitiva da prisão civil determinada pelo juízo pátrio ao devedor de alimentos que reside em outro Estado.

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2 ALIMENTOS E PRISÃO CIVIL NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO Preliminarmente, faz-se necessário analisar o que é o instituto jurídico dos alimentos e da prisão civil para depois adentrar especificamente sobre o que o mundo do direito trata acerca do tema. Assim, serão abordados sua natureza jurídica, bem como suas principais características. Vale lembrar que o dever de prestar alimentos não se restringe somente ao direito de família, pois pode resultar de diversas origens, como os testamentários, os decorrentes de contrato entre as partes, e os originários da prática de um ato ilícito. Entretanto, como o presente estudo visa abordar os aspectos derivados do direito de família, a este será dado o aprofundamento necessário para a compreensão do trabalho.

2.1 ALIMENTOS: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

A denominação “alimentos” pode ser entendida em sentido lato ou em sentido estrito, segundo De Plácido e Silva2. No primeiro aspecto do termo, sua compreensão abrange além do

aspecto nutricional, envolvendo também educação, saúde, moradia, etc. Por outro lado, a segunda leitura do termo traz um conceito bem mais restrito, correspondendo somente a nutrição do indivíduo, o alimento propriamente dito.

Desse modo, na terminologia jurídica, alimentos é compreendido em sentido lato, comportando não apenas o aspecto nutricional, mas também diversos outros, tais como: habitação, transporte, vestuário, lazer, saúde, educação, cultura e instrução. Engloba, dessa forma, o que é imprescindível à vida da pessoa humana.

Nessa linha de pensamento, Paulo Lôbo3 aduz que, no direito de família, a palavra

alimentos possui o significado de valores, bens ou serviços destinados à satisfação das necessidades do indivíduo, seja em razão de parentesco, relação matrimonial/união estável ou de amparo ao idoso, quando ele não tem condições de prover o seu próprio sustento. Rolf Madaleno4 ainda informa que o instituto jurídico dos alimentos tem o objetivo de satisfazer as

indigências materiais de subsistência, vestuário, habitação e assistência na enfermidade. Além disso, devem as prestações atenderem à condição social do alimentando e a capacidade econômica do alimentante.

A jurisprudência brasileira também define alimentos no sentido amplo, compreendendo não somente a alimentação em sentido estrito, mas também o lazer, educação, vestuário,

2 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 27 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007. 3 LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

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serviços médico-hospitalares, entre outros necessários à vida digna do ser humano, conforme decisão do TJ/RS, por exemplo, no ano de 1988, em Agravo de Instrumento nº 588027276.5

Assim, compreende-se que de um lado da relação haverá um credor, também chamado de alimentando, e um devedor, o alimentante. Portanto, o alimentante corresponde a parte que possui a obrigação de fornecer alimentos ao alimentando, parte que não tem condições de prover sua própria subsistência, seja por ser menor de idade, seja por ser idoso, carente, enfermo, ou, ainda, em decorrência da relação de casamento ou união estável.

Desse modo, alimentos, como expressão plurívoca, corresponde a prestações periódicas necessárias à manutenção do credor devidas pelo devedor por meio de um vínculo obrigacional decorrente, na maioria dos casos, da relação familiar entre eles. A obrigação alimentar, portanto, é definida por De Plácido e Silva6 como sendo aquela decorrente de norma legal, imposta a

certas pessoas, com o objetivo de que estas forneçam a parentes, esposos/companheiros, os recursos necessários à sua própria mantença.

O citado instituto possui a natureza jurídica baseada na solidariedade familiar, no poder familiar e no dever de mútua assistência, dependendo da origem da relação socioafetiva. A natureza mista dessa obrigação é a mais aceita entre os doutrinadores, conforme leciona Maria Helena Diniz, sendo essa obrigação de cunho patrimonial e também de finalidade pessoal. O conteúdo patrimonial se refere ao poder do alimentando de usar, fruir e dispor das prestações alimentares que lhe são dadas pelo alimentante, enquanto que a finalidade pessoal diz respeito ao direito personalíssimo do credor de pleitear os alimentos7.

Dessa forma, consoante dispõem as normas pátrias sobre o assunto, os parentes, cônjuges e companheiros podem pleitear alimentos uns aos outros, podendo valer-se, inclusive,

5 EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. SIGNIFICADO DA PALAVRA ALIMENTOS. VERBAS RELACIONADAS

COM HABITACAO E OUTRAS AFINS. DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO. O VOCABULO ALIMENTOS, NA TERMINOLOGIA JURIDICA, TEM SIGNIFICADO PROPRIO, SENTIDO MAIS AMPLO DO QUE O DA LINGUAGEM COMUM, "ABRANGENDO NAO SO O FORNECIMENTO DE ALIMENTACAO PROPRIAMENTE DITO, COMO TAMBEM DE HABITACAO, VESTUARIO, DIVERSOES E TRATAMENTO MEDICO ('ALIMENTA CIVILIA' E 'ALIMENTA NATURALIA')" (ARTS-403, DO C. CIVIL; 734 E 852, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CPC; E 17 DA LEI N-5478/68). EXEQUIBILIDADE MEDIANTE DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO, AINDA QUE O DEVEDOR SEJA MAGISTRADO. AGRAVO IMPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 588027276, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Vanir Perin, Julgado em 14/09/1988) (grifos acrescidos)

6 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 27 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007.

7 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, v. 5: Direito de Família. 29 ed. São Paulo: Saraiva,

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do Poder Judiciário para buscar esse direito, sob pena, entre outras medidas, de expropriação de bens ou prisão civil do devedor.

Essa obrigação pode ter sua fonte – causa jurídica - decorrente da lei, da vontade ou de um ato ilícito. No primeiro caso, tem origem diretamente da Constituição Federal, da legislação civil e das leis especiais (de alimentos, do divórcio, ECA, Estatuto do Idoso e outras). A própria legislação define quem pode pleitear alimentos e quem terá a obrigação de adimplir com esse dever alimentar. A segunda fonte deriva da autonomia da vontade das partes, através de um ato voluntário, podendo estar materializada em um contrato (ato inter vivos) ou em um testamento (ato causa mortis). Por fim, a obrigação alimentar pode estar associada a um ato ilícito praticado, devendo o agente prestar alimentos à vítima, ou para a sua família, muitas vezes formalizados em um acordo extrajudicial ou por meio de uma decisão do judiciário.8

Outra parte importante do estudo sobre alimentos é a sua classificação. A doutrina costuma dividir os alimentos em naturais (ou necessários), e civis, também chamados de côngruos. Os naturais são aqueles suficientemente prestados pelo alimentante para dar uma vida digna ao alimentando, envolvendo a própria alimentação, educação, moradia, lazer, entre outros. Já os civis se referem à qualidade de vida do alimentando, que deve ser mantida segundo o padrão médio de quem os presta.9

Quanto ao momento em que serão prestados, é clássica a divisão entre alimentos pretéritos, atuais e futuros. É importante diferencia-los para saber o momento inicial em que os alimentos são devidos. Desse modo, os alimentos pretéritos são aqueles definidos pela doutrina pátria como sendo os anteriores ao ajuizamento da demanda judicial. Os atuais, por sua vez, correspondem aos alimentos que vencem no decorrer da ação, uma vez fixados provisoriamente pelo juízo. Por fim, os alimentos futuros se referem aos vencidos após a sentença judicial que determinou a obrigação alimentar. Ainda sobre essa classificação, Paulo Nader10 explica que

os alimentos pretéritos não foram admitidos no ordenamento jurídico brasileiro, uma vez que o referido instituto visa garantir a sobrevivência daquele que necessita. Portanto, o adimplemento ‘a posteriori’ não alcançaria tal finalidade.

Fechando as espécies, imperioso ressaltar sobre a finalidade dos alimentos, que podem ser provisórios ou definitivos. Os provisórios se referem aqueles definidos pelo juiz no início

8 CAHALI, Yussef Said. Dos alimentos. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.

9 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, v. 6: Direito de Família. 9 ed. São Paulo, Saraiva,

2012.

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do processo de alimentos, por meio de despacho inicial, quando houver prova pré-constituída e requerimento de antecipação de tutela feito na peça inicial pelo requerente. Por seu turno, os alimentos definitivos são aqueles determinados pelo magistrado em sede de sentença, na ação de alimentos, ou, ainda, através de um acordo entre as partes, embora possam ser objetos de revisão.11 Além desses, o antigo CPC estabelecia ainda os alimentos provisionais, o qual

correspondia aos alimentos concedidos em sede cautelar, preparatória ou incidental, dependendo também de prova pré-constituída, bem como a comprovação dos requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, porém hoje a doutrina o coloca entre os provisórios.

O direito a alimentos possui algumas características específicas que serão brevemente analisadas nesse ponto do estudo. Segundo Flávio Tartuce12, essa obrigação tem características

únicas que o diferencia dos outros direitos do nosso ordenamento jurídico.

Primeiramente, mister se faz destacar que as normas sobre alimentos são de interesse público, sendo suas características as seguintes: direito personalíssimo, imprescritível, impenhorável, solidário/divisível, recíproco, próximo, alternativo, periódico, anterior, atual, inalienável, irrepetível, irrenunciável e transmissível13. Clóvis Beviláqua disserta que o

interesse público provém do interesse de toda a sociedade, apesar de ser um instituto que envolve uma “relação familial”, o que justificam as normas de ordem pública sobre alimentos.14

O caráter personalíssimo desse direito diz respeito à proibição de cessão ou compensação por parte de quem os recebe. Portanto, é um direito que visa proteger a vida e a integridade física do alimentando. Nesse sentido, fala-se também na inalienabilidade do direito alimentar em virtude de não poder ser objeto de transação, embora Maria Berenice Dias veja uma exceção ao comentar que os alimentos pretéritos podem ser transacionados15. Vale lembrar

que constitui também um direito imprescritível, podendo ser pleiteado em juízo a qualquer tempo. Ocorre que, após a fixação do quantum da prestação alimentar, e havendo inadimplemento por parte do alimentante, é que existirá o prazo prescricional de dois anos para cobra-los na justiça, conforme disposição do art. 206, §2º, do Código Civil16.

11 GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit.

12 TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 5: Direito de Família. 9 ed. São Paulo: Editora Método, 2014.

13 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 11 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

2016.

14 BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Ed. histórica, 7ª tir. Rio de Janeiro: Editora

Rio, 1984.

15 Ibidem.

16 Art. 206. Prescreve: (...) §2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em

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É um direito impenhorável, derivado do caráter intuitu personae do instituto, pois a pensão alimentar possui o condão de garantir a dignidade do credor, sendo essa quantia suficiente para dar àquele que os recebe o indispensável para suprir suas necessidades básicas. Com esse posicionamento, Rolf Madaleno17 leciona que não há como pretender que as

prestações alimentícias sejam objeto de penhora, visto que estas estão ligadas ao crédito alimentar e à existência do alimentando. Assim, a lei não poderia admitir que a pensão alimentar fosse objeto de penhora, haja vista que se trata de matéria de ordem pública, pois, se fosse permitida a penhora da pensão alimentícia, o alimentando não iria ter condições de prover sua própria subsistência, o que iria acarretar em uma onerosidade maior para o Estado.

Sobre a solidariedade, este é um tema que tem divergência doutrinária, pois para alguns doutrinadores (Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald18 e Arnaldo Rizzardo19, por exemplo) o

dever alimentar não é solidário, mas sim divisível, pois a solidariedade não se presume e encontra exceção apenas no estatuto do idoso. É, portanto, subsidiário. Para eles, caso exista mais de um obrigado, deve-se respeitar as condições financeiras de cada um, observando-se o trinômio da necessidade-possibilidade-razoabilidade de cada alimentante, sendo uma obrigação divisível. Por outro lado, Maria Berenice Dias20 e Flávio Tartuce21 enxergam a divisibilidade,

mas também veem a solidariedade do instituto, uma vez que o estatuto do idoso afirma que a obrigação alimentar é solidária, entendendo esses doutrinadores que o caráter solidário também seria extensivo à crianças e adolescentes, bem como para outros segmentos da sociedade que merece especial atenção do Estado, respeitando-se o princípio da isonomia. Entretanto, o entendimento majoritário é o da divisibilidade unicamente.

A reciprocidade está prevista no código civil (art. 1.696), estabelecendo que o direito à prestação alimentar é recíproco entre pais e filhos e extensivo a todos os ascendentes. É imperioso ressaltar que se incluem na reciprocidade os cônjuges e companheiros. Assim, é possível que parentes, cônjuges e companheiros exijam alimentos uns dos outros, caso não possuam condições de prover a própria subsistência. Ainda no mesmo diploma civil, o código prevê que aquele que necessita solicitar alimentos deve requerer, primeiramente, ao parente mais próximo.

17 MADALENO, Rolf. Op. Cit.

18 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Famílias, v. 6. 7 ed. São Paulo:

Atlas, 2015.

19 RIZZARDO, Arnaldo. Direito de Família. 27 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2006. 20 DIAS, Maria Berenice. Op. Cit.

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Ademais, os alimentos podem ser adimplidos pecuniariamente, ou in natura. É a característica da alternatividade da obrigação, devendo esta ser realizada durante um certo período de tempo (periodicidade) enquanto o alimentando dele necessitar e dentro dos limites jurídicos estabelecidos. Normalmente a periodicidade é mensal, mas nada impede que o juiz ou um acordo entre as partes estipule um outro prazo temporal.

Quanto à anterioridade, sabe-se que os alimentos devem ser fornecidos ao credor de forma antecipada para que este possa ter meios de viver uma vida digna durante certo lapso temporal, uma vez que o referido instituto é de trato sucessivo, devendo, portanto, serem pagos/dados no início do período. Nesse ponto, destaca-se que se trata de uma obrigação que deve observar a atualidade da obrigação, fixando um percentual sobre os vencimentos e vantagens do devedor, geralmente, ou em cima do salário mínimo vigente no país, estando sujeitos a eventuais correções e a índices de atualização monetária22, tal qual o IGP-M, por

exemplo.23

O direito alimentar é ainda irrepetível, ou seja, na ocasião da oferta dos alimentos não poderá existir devolução/restituição. Essa característica atinge, inclusive, os alimentos provisórios. Pontes de Miranda24 assim discorreu: “os alimentos recebidos não se restituem,

ainda que o alimentário venha a decair da ação na mesma instância, ou em grau de recurso (...).”. Flávio Tartuce25 traz, como exemplo, uma hipótese que pode acontecer na ação

investigação de paternidade c/c alimentos. Segundo o autor, se fixados os alimentos provisionais na citada ação e, ao final, restar comprovado que o demandado não é de fato o genitor da criança, os valores pagos após a fixação dos alimentos provisionais não deverão ser devolvidos. Rolf Madaleno26 conclui que, ainda que arbitrados os alimentos provisórios, a

irrepetibilidade será mantida até eventual modificação judicial no segundo grau de juízo, não cabendo a devolução dos valores durante a ação alimentar. Caso a segunda instância reduza o montante fixado, será devido apenas as diferenças não liquidadas, não os que já foram pagos.

No entanto, continuando na característica da impenhorabilidade da prestação alimentar, Yussef Said Cahali27 aduz que o ordenamento jurídico brasileiro prevê duas exceções a essa

22 Art. 1.710. As prestações alimentícias, de qualquer natureza, serão atualizadas segundo índice oficial

regularmente estabelecido.

23 DIAS, Maria Berenice. Op. Cit.

24 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado - Tomo IX - Direito de Família: Direito Parental.

Direito Protetivo. 1 ed. Campinas: Bookseller, 2000.

25 TARTUCE, Flávio. Op. Cit. 26 MADALENO, Rolf. Op. Cit. 27 CAHALI, Yussef Said. Op. Cit.

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regra, quais sejam: “a penhorabilidade dos bens adquiridos com os alimentos e a penhorabilidade de parte dos alimentos, desde que prestados alimentos civis, ao fundamento de que na totalidade do valor pago há uma parte que não é necessária à sobrevivência.”

O instituto é também irrenunciável, conforme dispõe o art. 1.70728 do Código Civil,

prevendo o não exercício, mas jamais a renúncia. Entretanto, a irrenunciabilidade estabelecida no aludido artigo se refere, segundo a doutrina, àqueles que representam seus descendentes – notadamente os menores de idade e aqueles relativamente incapazes -, podendo, portanto, ser admitida entre cônjuges e companheiros, não se aceitando para aquele que recusou os alimentos pedido a posteriori sobre essa causa29. Maria Helena Diniz30, nesse sentido, pontua o seguinte:

“Pode-se renunciar o exercício e não o direito; assim, o necessitado pode deixar de pedir alimentos, mas não renunciar a esse direito”.

Por fim, temos a característica da transmissibilidade, o qual se encontra previsto no art. 1.700 do Código Civil31. Portanto, a obrigação alimentar pode ser transmitida aos herdeiros do

devedor. No entanto, a polêmica surge quanto aos limites dessa transmissão. Paulo Nader32

considera que a melhor interpretação para esse dispositivo seria de se transmitir apenas as prestações vencidas até a morte daquele que estava obrigado a prestar alimentos. Já o IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família), citado por Paulo Nader33, argumenta que a redação

para esse artigo deveria limitar a transmissão ao quinhão dos frutos de cada herdeiro, e ainda somente para a relação entre cônjuges e companheiros. Por outro lado, Sílvio de Salvo Venosa34

defende que a transmissão aos herdeiros ocorre relativamente ao espólio, não cabendo aos herdeiros concorrer com os próprios bens para alimentar o credor do de cujus.

Sobre isso, na IV Jornada de Direito Civil fora realizado o Enunciado 343, discorrendo que “a transmissibilidade da obrigação alimentar é limitada às forças da herança.”. Além disso, o entendimento do STJ35 é de que o espólio continua obrigado a prestar alimentos ao credor do

falecido enquanto tramitar o processo de inventário.

28 Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém, lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo

crédito insuscetível de cessão, compensação ou penhora.

29 DIAS, Maria Berenice. Op. Cit. 30 DINIZ, Maria Helena. Op. Cit.

31 Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art. 1.694. 32 NADER, Paulo. Op. Cit

33 Ibidem

34 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil, v. 6: Direito de Família. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2004.

35 Direito civil e processual civil. Execução. Alimentos. Transmissibilidade. Espólio. - Transmite-se, aos herdeiros

do alimentante, a obrigação de prestar alimentos, nos termos do art. 1.700 do CC/02. - O espólio tem a obrigação de continuar prestando alimentos àquele a quem o falecido devia. Isso porque o alimentado e herdeiro não pode

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2.2 ALIMENTOS NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabelece em seu primeiro artigo os fundamentos da República, estando entre eles o da dignidade da pessoa humana. Adiante, em seu artigo terceiro, afirma que um dos objetivos da República é o de construir uma sociedade livre, justa e solidária. Desse modo, Maria Helena Diniz36 enuncia que “o fundamento

da obrigação alimentar é o princípio da preservação da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III) e o da solidariedade social e familiar (CF, art. 3º)” que liga o alimentante ao alimentando em razão de vínculos familiares, conjugais ou de convivência.

Posteriormente, em seu art. 226, a Carta Maior assegura que a família terá proteção especial do Estado, bem como, em seu art. 227, dispõe que o Estado, conjuntamente com a família e a sociedade, têm o dever de assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, entre outros, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Além disso, a CRFB reconhece que os filhos, independentemente da origem, terão os mesmos direitos e qualificações, sendo proibida qualquer discriminação quanto à filiação (art. 227, § 6º). Por fim, ainda na esfera constitucional, se observa o caráter solidário entre pais e filhos quando a Carta Magna aduz que os pais devem assistir os filhos menores de idade, bem como educa-los e cria-los, e estes, quando maiores de idade, devem ajudar e amparar os seus pais na velhice, enfermidade ou em situação de carência.

Assim, temos no texto constitucional que o Estado deve assegurar aos brasileiros uma vida digna, garantindo a todos o direito à vida, à alimentação, à liberdade, à moradia, à saúde, à educação, ao lazer, etc., observando o princípio da dignidade da pessoa humana, exposto como um dos fundamentos da República. Além disso, a CRFB estabelece como objetivo o de construir uma sociedade justa e solidária. Esse princípio – o da solidariedade – pode ser observado no dever que os filhos e pais possuem de mútua assistência. Nessa esteira, vê-se que aliado ao Estado, os pais e a sociedade devem assistir e proteger as crianças, adolescentes e jovens, sendo adotada no Brasil a doutrina da proteção integral da criança e do adolescente.

ficar à mercê do encerramento do inventário, considerada a morosidade inerente a tal procedimento e o caráter de necessidade intrínseco aos alimentos. Recurso especial provido.

(STJ - REsp: 1010963 MG 2007/0284784-0, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 26/06/2008, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: --> DJe 05/08/2008)

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Continuando no princípio da solidariedade e no dever de mútua assistência entre pais e filhos expostos na Lei Maior, somado ao princípio da dignidade da pessoa humana, e sendo alimentos – em sentido lato – um direito social do indivíduo, é percebe-se que a família, interpretada em sentido amplo, deve suprir as necessidades básicas um do outro na ocasião de hipossuficiência física ou financeira de uma das partes, situações estas que geralmente podem ocorrer, por exemplo, quando o filho é menor de idade e quando os pais são idosos, enfermos e/ou carentes, ou seja, quando o indivíduo não possui capacidade de prover a própria subsistência. Nesse sentido, Maria Berenice Dias37 leciona que os parentes, cônjuges e

companheiros devem prover o sustento uns dos outros, contribuindo junto ao Estado e da sociedade.

Ainda sobre o dever da família pós-88, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald38 afirmam

que a família cumpre atualmente um papel funcionalizado, o qual serve como ambiente para a promoção da dignidade e como alicerce para o alcance da felicidade. Desse modo, percebe-se que a lex fundamentalis dá especial proteção ao indivíduo, garantindo uma vida justa e digna, transferindo à família o encargo de prover seus membros baseados na solidariedade, cooperação e dever de mútua assistência.

No Código Civil, os alimentos são tratados especificamente na parte relacionada ao direito de família, e os procedimentos específicos para a demanda alimentar em juízo são encontrados no Código de Processo Civil.

O atual Código Civil prevê que compete aos pais o “pleno exercício do poder familiar”, independentemente da situação conjugal em que se encontrem, consistindo quanto aos filhos, além de outros deveres, “representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento.”. Essa é a redação dada pelo art. 1.634, caput, e seu inciso VII39.

Além de outros atos da vida civil, quando a demanda alimentar é proposta em juízo em favor dos filhos menores de idade, esta deverá estar acompanhada da representação ou da assistência do genitor que detém a guarda da criança ou do adolescente, ou, ainda, do tutor.

37 DIAS, Maria Berenice. Op. Cit.

38 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Op. Cit.

39 Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder

familiar, que consiste em, quanto aos filhos: (...) VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;

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O aludido artigo realça também que o poder familiar é exercido por ambos os genitores, de maneira igualitária, deixando de lado o pátrio poder que era estabelecido no Código Civil de 1916. Sobre esse ponto, aduz Caio Mário da Silva Pereira40 que o Código Civil anterior atribuía

a função de chefe da família ao marido. No atual, todavia, o poder familiar é exercido por ambos os genitores, os quais deverão, harmonicamente, partilhar os deveres de guarda, educação, orientação e assistência aos filhos.

O mesmo código aborda sobre os alimentos nos arts. 1.694 e ss. O primeiro artigo dedicado ao tema enfatiza o princípio da solidariedade e da mútua assistência já abordado em linhas anteriores quando aduz que podem os parentes, cônjuges e companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem, compatíveis com sua condição social e que atendam, ainda, as suas necessidades educacionais. Esse dispositivo, entretanto, deve ser analisado no sentido amplo, abrangendo não somente a educação, mas também todos os meios necessários para que o alimentando tenha uma vida com dignidade: saúde, moradia, vestuário, lazer, entre outros.

Adiante, o parágrafo primeiro do art. 1.694, combinado com o art. 1.69541, demonstram

que a fixação dos alimentos deve observar o trinômio da necessidade-possibilidade-proporcionalidade42. Assim, para que o objetivo do instituto seja eficaz, necessário se faz que

o alimentante possua condições de arcar com o valor fixado, bem como que este valor seja suficiente para a subsistência do alimentando, atendendo suas necessidades vitais básicas. Além disso, o princípio da proporcionalidade deve ser invocado na fixação do quantum, verificando a real necessidade do alimentando e a real possibilidade do alimentante, de modo a não existir um desequilíbrio econômico-financeiro na relação jurídica. E assim é o entendimento de Carlos Roberto Gonçalves43 ao afirmar que “não deve ao juiz, pois, fixar pensões de valor exagerado,

nem por demais reduzido, devendo estima-lo com prudente arbítrio, sopesando os dois vetores a serem analisados, necessidade e possibilidade, na busca do equilíbrio entre eles.”.

40 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, v. 5: Direito de Família. 25 ed. Rio de Janeiro:

Editora Forense, 2017.

41 Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem

para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. §1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada. (...).

Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.

42 DIAS, Maria Berenice. Op. Cit.

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Os arts. 1.696 a 1.698 devem ser interpretados conjuntamente, pois neles estão consubstanciados quem tem o dever de prestar alimentos. Percebe-se nos referidos dispositivos que os alimentos são recíprocos entre pais e filhos, sendo extensivo a todos os ascendentes e, quando houver falta de um obrigado, o dever deverá recair no ascendente de grau mais próximo. Ademais, na hipótese de falta de ascendentes, a responsabilidade passará aos descendentes, em ordem de sucessão, e na ausência de descendentes passará aos irmãos. Por fim, o art. 1.698 prevê a situação daquele alimentante que não possui condições de suportar o encargo alimentar totalmente. Nesse caso, prevê o comando normativo que os de grau imediato serão chamados para concorrer. Porém, se forem vários obrigados, estes concorrerão proporcionalmente aos seus próprios recursos e, caso seja intentada ação contra uma delas, poderão as demais serem chamadas para integrar a lide.

Vale ressaltar que a fixação dos alimentos podem ser objeto de revisão futura pelo magistrado, caso ocorra mudança superveniente na situação financeira das partes, causando um desequilíbrio econômico-financeiro que comprometa o trinômio necessidade-possibilidade-proporcionalidade, podendo, dessa forma, os alimentos serem majorados, reduzidos ou exonerados.44

Além dos filhos, os alimentos serão devidos quando tiverem origem de um casamento ou de uma união estável, devendo os cônjuges/companheiros prestar alimentos ao outro cônjuge/companheiro desprovido de recursos, em decorrência do dever de mútua assistência, devendo o juiz fixar de acordo com as necessidades e possibilidades de cada parte.

A extinção da obrigação alimentar decorre dos seguintes fatos: i) morte do alimentando; ii) radical mudança no trinômio necessidade-possibilidade-proporcionalidade que fundamente a exoneração alimentar; iii) maioridade45, sendo necessária ação de exoneração de alimentos

(ver Súmula 358 do STJ46); iv) casamento, união estável ou concubinato do alimentando; e v)

procedimento indigno do alimentando ao alimentante47.

Por sua vez, o CPC aborda os aspectos procedimentais acerca do direito alimentar. Primeiramente, importante citar que a LINDB – Lei de Introdução às Normas do Direito

44 Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem

os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.

45 Não será motivo de exoneração quando o alimentando atingir a maioridade e for universitário.

46 Súmula 358 STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão

judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.

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Brasileiro – traz em seu art. 1248 que compete ao juiz brasileiro julgar as ações nas matérias em

que o réu tenha domicílio no país ou que no Brasil tenha de ser cumprida a obrigação. O Código de Processo Civil trouxe redação semelhante no seu art. 21 acrescentando uma hipótese a mais, qual seja, quando o fundamento da ação seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.

Nesse sentido, o art. 22, I, a e b49, do CPC estabelece que as ações de alimentos quando

o alimentando (credor) tiver domicílio ou residência no Brasil, ou quando o réu da demanda mantiver vínculos com o Brasil, como posse/propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos, serão julgados perante a autoridade judiciária brasileira. Ainda, o art. 23, III50, determina que também compete ao juízo pátrio, com exclusão de qualquer

outra, as matérias relativas à partilha de bens situados no Brasil, mesmo que o titular seja de outra nacionalidade ou tenha domicílio fora do território nacional, nas matérias que envolvam divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável.

Sobre os artigos abordados, Fredie Didier51 comenta que o art. 22 trata de competência

internacional concorrente ou cumulativa, ou seja, são causas que podem ser julgadas no exterior, como também pelo juiz nacional, podendo a sentença estrangeira ser homologada pelo STJ e ter efeitos no Brasil, enquanto que as hipóteses do art. 23 são de competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira, sendo, portanto, as sentenças que forem proferidas no estrangeiro, nesses casos, tornadas sem efeito no território brasileiro.

Quanto ao foro, o art. 53, I, a, b e c52, do CPC, determina que o foro competente pra

julgar as ações relativas a divórcio, separação, anulação de casamento, bem como aquelas de reconhecimento ou dissolução de união estável, será a do domicílio do guardião do filho incapaz, ou, na ausência deste, a do último domicílio do casal, ou, ainda, no domicílio do réu, caso nenhuma das partes residam no último domicílio. Adiante, estabelece o art. 53, II53, do

48 Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de

ser cumprida a obrigação.

49 Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: I - de alimentos, quando:

a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;

50 Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: (...) III - em divórcio,

separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional.

51 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil, v.1: Introdução ao Direito Processual Civil, Parte

Geral e Processo de Conhecimento.19 ed. Salvador: Jus Podivm, 2017.

52 Art. 53. É competente o foro: I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento

ou dissolução de união estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal.

53 Art. 53. É competente o foro: (...) II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem

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mesmo diploma normativo, que o foro competente para as ações alimentícias será a do domicílio ou residência do alimentando, mesmo quando esta for cumulada com ação de investigação de paternidade ou, ainda, nas ações de revisão alimentar54.

O código processual civil ainda vai determinar algumas regras específicas para o cumprimento de sentença sobre a obrigação de prestar alimentos (capítulo IV), bem como da execução alimentar (capítulo VI). Sobre o cumprimento de sentença, arts. 528 e ss. do CPC, importante destacar o caput do art. 52855, o qual estabelece o dever do juiz, a requerimento da

parte exequente, de intimar a parte executada pessoalmente para, no prazo de 3 (três) dias, pagar o débito, provar que já realizou o pagamento ou justificar a impossibilidade de fazê-lo.

No mesmo dispositivo, seus parágrafos estabelecem que caso a parte executada não realize o pagamento do débito vindicado, não comprove que efetuou o pagamento, ou que não tenha apresentado justificativa, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial (§1º)56.

Além do protesto, o juiz poderá decretar a prisão civil do executado pelo prazo de 1(um) a 3 (três) meses (§3º)57, em regime fechado e separado dos presos comuns (§4º)58.

Ressalte-se que o “cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das prestações vencidas e vincendas” (§5º)59. Cabe observar, no entanto, o disposto no §7º60, o qual

aduz, em consonância com a Súmula 309 do STJ61, que o débito que autoriza a prisão civil do

devedor serão somente aquelas que compreendem até as 3 (três) prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso processual. Ou seja, apenas as prestações alimentares recentes é que poderão ser objeto do citado instituto. As prestações

54 Súmula 01 do STJ: O foro do domicilio ou da residência do alimentando é o competente para a ação de

investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos.

55 Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão

interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

56 Art. 528. (...) §1º Caso o executado, no prazo referido no caput, não efetue o pagamento, não prove que o efetuou

ou não apresente justificativa da impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 517.

57 Art. 528. (...) §3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o juiz, além de mandar

protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1o, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses.

58 Art. 528. (...) §4º A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar separado dos presos comuns. 59 Art. 528. (...) §5º O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento das prestações vencidas e

vincendas.

60 Art. 528. (...) §7º O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três)

prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no curso do processo.

61 Súmula 309 do STJ: O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três

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pretéritas, contudo, poderão ser objeto de outras medidas coercitivas, como a expropriação de bens, por exemplo.

O art. 53262, por sua vez, traz uma ligação com o direito penal (art. 244 do Código

Penal63) quando for verificada a conduta procrastinatória do executado, devendo o juiz

responsável pelo caso dar ciência ao Ministério Público dos indícios da prática do crime de abandono material.

Quanto à execução alimentar, arts. 911 e ss., fundadas somente em títulos executivos extrajudiciais, as regras serão as mesmas, no que couber, para os procedimentos previstos nos arts. 528, §2º a 7º do CPC, devendo o juiz citar, e não intimar, “o executado para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento das parcelas anteriores ao início da execução e das que se vencerem no seu curso, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de fazê-lo.”

Outras legislações especiais do nosso ordenamento jurídico abordam o assunto alimentos em seus dispositivos, especialmente a própria Lei de Alimentos (Lei nº 5.478/1968), a Lei do Divórcio (Lei nº 6.515/1977), o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), o Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) e a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006).

2.3 A PRISÃO CIVIL COMO MEDIDA COERCITIVA

O instituto jurídico da prisão, no ordenamento jurídico brasileiro, constitui uma técnica coercitiva correspondente à restrição de liberdade do indivíduo que cometeu alguma infração, isto é, um crime ou contravenção penal, ou que se encontra em débito alimentar com o qual é obrigado. Fernando Capez64 identifica que há a previsão das seguintes espécies de prisões,

embora algumas não foram recepcionadas pela ordem constitucional vigente, a exemplo da prisão administrativa e da prisão para averiguação: i) prisão penal; ii) prisão processual; iii)

62 Art. 532. Verificada a conduta procrastinatória do executado, o juiz deverá, se for o caso, dar ciência ao

Ministério Público dos indícios da prática do crime de abandono material.

63 Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos

ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada.

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prisão civil; iv) prisão administrativa; v) prisão disciplinar e; vi) prisão para averiguação. Para esse estudo, o enfoque será dado à prisão civil.

A palavra prisão é de origem latina (prehensio) e significa, segundo o Vocabulário Jurídico de De Plácido e Silva65, o ato de prender ou de agarrar uma coisa/pessoa, e discorre

mais a frente sobre o termo na área jurídica, compreendendo o ato pelo qual se priva um indivíduo fica privado da sua liberdade de ir e vir, recolhida em um lugar seguro ou fechado, de onde não poderá sair.

Na mesma obra, o autor definiu o que seria a prisão civil, conceituando-a como sendo o oposto da prisão penal - a qual deriva de uma condenação por alguma infração cometida pelo indivíduo – discorrendo que aquela é decretada com fim sancionatório decorrente da falta de cumprimento de um dever do indivíduo, fundada em norma ou regra jurídica civil.66 É, portanto,

um meio coercitivo de fazer com que a pessoa faltosa com o seu dever cumpra com o que estaria obrigada a realizar. Sobre essa natureza coercitiva do instituto tela, Paulo Lôbo67 ensina que a

prisão civil possui o condão de fazer com que a obrigação seja cumprida, não possuindo o objetivo penal nem de execução pessoal, mas apenas como meio de coerção.

Desse modo, a prisão civil não possui natureza penal, nem muito menos corresponde a um ato de execução pessoal. Constitui, portanto, mero meio coercitivo, de medida excepcional, para que a obrigação alimentar, por exemplo, seja efetiva, ou seja, é uma medida que tem o fim de forçar o devedor – alimentante – a cumprir com o dever que lhe é imposto – ser adimplente com sua obrigação alimentar. Sustenta Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves68 que a medida

coercitiva tem a finalidade de assegurar a dignidade e a integridade daquele que necessita dos alimentos – o alimentando - com base no princípio da solidariedade.

Com esse mesmo raciocínio, Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini69 esclarecem

que o citado instituto não corresponde a uma pena e nem mesmo a um meio executório propriamente dito, uma vez que seria uma medida coercitiva “de feitio excepcional” para compelir o devedor a adimplir com a obrigação alimentar. Desse modo, o risco de ser preso

65 SILVA, De Plácido e. Op. Cit. 66 SILVA, De Plácido e. Op. Cit. 67 LÔBO, Paulo. Op. Cit.

68 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Op. Cit.

69 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de Processo Civil, vol. 2: execução.

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faria com que o executado adimplisse integralmente, ou parcialmente, a dívida, com o intuito de afastar a prisão.

A previsão constitucional do instituto se encontra no art. 5º, LXVII, da CRFB/8870, o

qual aduz que não existirá prisão civil por dívida em nosso ordenamento jurídico, com exceção do depositário infiel e do devedor voluntário e inescusável de obrigação alimentar.

Ocorre que através do Pacto de São José da Costa Rica (1969) – Convenção Americana sobre Direitos Humanos -, que o Brasil é Estado signatário (Decreto n.º 678, de 1992), ficou acordado (art. 7º, item 7, da Convenção)71 que ninguém deverá ser detido por dívida, salvo nos

casos de inadimplemento de obrigação alimentar, situação em que o Poder Judiciário deverá expedir o mandado de prisão civil nos casos previstos em lei interna.

Como consequência, entrou em vigor a Emenda Constitucional n.º 45/2004, por meio da qual, entre outras disposições, acrescentou o parágrafo 3º ao art. 5º da Constituição Federal, que declara que “os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.”.

Inaugurou-se, portanto, um sistema triplo de hierarquia dos tratados internacionais. Ocorre que, por meio do RE 466.343 SP72, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a

existência de três hierarquias que os tratados internacionais podem ocupar em nosso ordenamento jurídico dependendo do processo de aprovação: i) os tratados internacionais relativos a direitos humanos, aprovados em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por 3/5 dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais, na forma do art. 5º, §3º, da CRFB/88; ii) os tratados internacionais relativos a direitos humanos que não foram aprovados na forma anterior, mas sim pelo procedimento ordinário, na forma do

70 Art. 5º: (...) LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário

e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

71 ARTIGO 7 (...) 7. Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não limita os mandados de autoridade

judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.

72 PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel. Alienação fiduciária. Decretação da medida coercitiva.

Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência da previsão constitucional e das normas subalternas. Interpretação do art. 5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art. 7º, § 7, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). Recurso improvido. Julgamento conjunto do RE nº 349.703 e dos HCs nº 87.585 e nº 92.566. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. (STF - RE: 466343 SP, Relator: Min. CEZAR PELUSO, Data de Julgamento: 03/12/2008, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-104 DIVULG 04-06-2009 PUBLIC 05-06-2009 EMENT VOL-02363-06 PP-01106 RDECTRAB v. 17, n. 186, 2010, p. 29-165)

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art. 47, da CRFB/88, terão status supralegal e; iii) os tratados internacionais que não tratam sobre direitos humanos terão força de lei ordinária.

Entretanto, a discussão não cessou, uma vez que o Pacto de São José da Costa Rica é anterior à EC n.º 45/2004. Desse modo, a questão foi submetida ao Pleno do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2008, por meio do qual o Min. Relator Marco Aurélio, através do HC n.º 87.585/TO, aduziu que “a subscrição pelo Brasil do Pacto de São José da Costa Rica, limitando a prisão civil por dívida ao descumprimento inescusável de prestação alimentícia, implicou a derrogação das normas estritamente legais referentes à prisão do depositário infiel.”. Posteriormente, em 2009 foi editada a Súmula Vinculante 25, do STF, e, no ano de 2010, a Súmula 419 do STJ, ambas enunciando que é ilegal a prisão civil do depositário infiel.73

Portanto, o posicionamento atual é de que a única forma de prisão civil permitida no ordenamento jurídico pátrio é a do devedor de alimentos. Dessa forma, caso o alimentante esteja inadimplente com a sua obrigação, poderá ser proposto o cumprimento de sentença sob o rito dos arts. 528 e ss. do CPC, cabendo sua aplicação tanto aos alimentos definitivos ou provisórios (art. 531, do CPC), ou a execução de alimentos na forma dos arts. 911 e ss. do CPC, já comentados anteriormente.

No entanto, a medida coercitiva em tela deve ser aplicada em último caso, como excepcionalidade, não devendo ser a regra. Como exposto na Constituição (art. 5º, LXVII) e nas Súmulas supramencionadas, só terá cabimento a prisão civil ao devedor voluntário e inescusável da obrigação alimentícia correspondentes até as três últimas prestações anteriores ao ajuizamento da medida executória. Portanto, o atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça74 acerca da excepcionalidade da referida medida, em julgamento do Habeas Corpus –

que não foi divulgado o número do processo por tramitar em segredo de justiça - é de que esta exige a demonstração de urgência, a qual só é justificável em três ocasiões, segundo o Min. Relator Marco Aurélio Bellizze: i) quando for indispensável à consecução do pagamento da

73 Súmula Vinculante 25- STF: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de

depósito.

Súmula 419 - STJ: Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel.

74STJ NOTÍCIAS. Prisão por dívida alimentar exige demonstração da urgência na prestação dos alimentos.

Disponível em:

<http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/Comunica%C3%A7%C3%A3o/noticias/Not%C3%ADcias/Pris% C3%A3o-por-d%C3%ADvida-alimentar-exige-demonstra%C3%A7%C3%A3o-da-urg%C3%AAncia-na-presta%C3%A7%C3%A3o-dos-alimentos.> Acesso em: 30 mai. 2019.

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dívida; ii) garantir, pela via coercitiva, a sobrevida do alimentando e; iii) quando a prisão civil representar a medida de maior efetividade com a mínima restrição aos direitos do devedor.

Sobre o caso, Danielle de Oliveira Souza75 ressaltou que a citada decisão determina que

a prisão civil, para ser concedida, precisa demonstrar urgência, aliando os requisitos acima expostos ao critério da dívida referente às três últimas parcelas anteriores ao ajuizamento da ação.

Ademais, como já informado, caso o magistrado observe conduta procrastinatória por parte do executado, deverá dar ciência ao Ministério Público para a apuração dos indícios da prática do crime de abandono material, previsto no art. 244, do Código Penal, entre os crimes contra a assistência familiar. Outrossim, conforme expõe Maria Berenice Dias76, se a credora

dos alimentos for mulher com o qual o alimentante, que esteja mantendo conduta procrastinatória, manteve vínculo familiar ou de convivência, incidirá o art. 7º, IV, da Lei Maria da Penha (Lei n.º 11.340, de 2006).77

Voltando à questão da prisão civil, sobre a questão humanitária da referida medida, Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald78 são firmes ao declarar que constitui medida odiosa.

Entretanto, informa que os dados não escondem que a prisão civil do devedor é eficiente e cumpre com a sua finalidade, qual seja: coagir o alimentante a cumprir com sua obrigação alimentar.

Frise-se que o Estado brasileiro ainda é Estado Parte do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos79, de 1966, adotado na XXI Sessão da Assembleia-Geral das Nações

Unidas, o qual aduz em seu artigo 11 que “ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual.”. Entretanto, há a exceção prevista no Pacto de São José da Costa Rica já comentado alhures.

75 SOUZA, Danielle de Oliveira. Obrigação alimentar: a prisão civil e a nova visão do Superior Tribunal de

Justiça. Conteúdo Jurídico, Brasília/DF: 06 dez. 2018. Disponível em:

<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.591518&seo=1>. Acesso em: 31 mai. 2019.

76 DIAS, Maria Berenice. Op. Cit

77 Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: (...)

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

78 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Op. Cit. 79 Promulgado através do Decreto n.º 592, de 1992.

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Assim, percebe-se a importância de estudar o referido instituto nas obrigações alimentares que envolvam partes residindo em territórios nacionais distintos, verificando a possibilidade, ou não, da aplicação da medida em exame, determinada pelo poder judiciário brasileiro, ao devedor de alimentos residente no exterior, sob a luz do ordenamento jurídico pátrio, das convenções internacionais sobre alimentos que o Brasil faz parte, bem como da análise das medidas de cooperação jurídica internacional.

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