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assinada em Montevidéu, no Uruguai, em 15 de junho de 1989, estabelecendo como objeto (artigo 1) a determinação do direito aplicável à obrigação alimentar, a competência e a cooperação processual internacional quando o alimentando tiver seu domicílio ou residência habitual num Estado Parte e o alimentante tiver seu domicílio ou residência habitual, bens ou renda em outro Estado Parte. No Brasil foi promulgada através do Decreto nº 2.428, de 1997.

Esse instrumento foi direcionado aos menores de idade, bem como aos cônjuges e ex- cônjuges. Entretanto, os Estados signatários poderão limitar o presente documento para as obrigações alimentares que envolver apenas interesse de menores de idade, como também poderão declarar que o presente texto aplicar-se-á a obrigações alimentares em favor de outros credores (art. 3). Assim, atualmente os Estados signatários são: Argentina, Belize, Bolívia, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, México, Panamá, Paraguai, Peru e

128 BRASIL. Ministério Público Federal. Secretaria de Cooperação Internacional. Convenção de Nova York

sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro: O que é e como funciona. 2 ed. Revista e atualizada. Brasília: MPF, 2016.

Uruguai.130 No nosso país, a referida Convenção foi promulgada através do Decreto n.º 2.428,

de 1997.

O artigo 2 estabeleceu que os benefícios previstos no presente documento atingirão os credores menores de idade, que são aqueles que não completaram 18 (dezoito) anos, e também aqueles que, mesmo atingindo a maioridade, continuem credores da prestação alimentar, aplicando-se a legislação da ordem jurídica que for mais favorável ao alimentando, quais sejam: i) o do ordenamento jurídico do Estado de domicílio ou residência habitual do credor ou; ii) do ordenamento jurídico do Estado de domicílio ou residência habitual do devedor (artigo 6).

Ademais, o texto desse instrumento aduz em seu artigo 4 que “toda pessoa tem direito a receber alimentos sem distinção de nacionalidade, raça, sexo, religião, filiação, origem, situação migratória ou qualquer outro tipo de discriminação.”. Para Gustavo Holanda Dias131,

a referida norma tem caráter de jus cogens, criando obrigação internacional de efeito erga omnes.

Adiante, estabelece o artigo 10 que na fixação do montante da prestação alimentar, em consonância com a doutrina e a legislação brasileira, devem ser observados os critérios da proporcionalidade entre a necessidade do alimentando e a capacidade financeira do alimentante, de modo a assegurar um equilíbrio nessa relação processual.

As regras de competência estão expostas nos artigos 8 e 9, os quais explicitam que o juiz ou autoridade do Estado de domicílio ou residência habitual do credor, ou o do devedor ou, ainda, do Estado com o qual o devedor mantiver vínculos pessoais, tais como posse de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos, serão os competentes para conhecer das ações de alimentos. Sua parte final traz ainda uma exceção, qual seja, a de que será competente a autoridade judiciária ou administrativa de outros Estados, desde que o requerido tenha comparecido sem fazer nenhuma objeção à competência. Ademais, determina que para as causas relativas à majoração da prestação alimentícia a competência será de qualquer uma das autoridades acima listadas, mas que para causas de exoneração alimentar ou redução da prestação alimentícia, apenas as autoridades que fixaram a pensão alimentar é que serão as competentes.

130 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS. Department of International Law. Signatories and

Ratifications - B-54: Inter-american convention on support obligations. Disponível em: <http://www.oas.org/juridico/english/sigs/b-54.html> Acesso em: 29 abr. 2019

Outro ponto interessante da presente Convenção é a previsão (art. 11) de que as sentenças provenientes de país estrangeiro que tenham como objeto a obrigação alimentar terão eficácia extraterritorial nos Estados-Partes desde que haja o preenchimento dos seguintes requisitos, com destaque para o ítem g: a) que o juiz ou autoridade que proferiu a sentença tenha tido competência na esfera internacional, de conformidade com os artigos 8 e 9 desta Convenção, para conhecer do assunto e julgá-lo; b) que a sentença e os documentos anexos, que forem necessários de acordo com esta Convenção, estejam devidamente traduzidos para o idioma oficial do Estado onde devam surtir efeito; c) que a sentença e os documentos anexos sejam apresentados devidamente legalizados, de acordo com a lei do Estado onde devam surtir efeito, quando for necessário; d) que a sentença e os documentos anexos sejam revestidos das formalidades externas necessárias para serem considerados autênticos no Estado de onde provenham; e) que o demandado tenha sido notificado ou citado na devida forma legal, de maneira substancialmente equivalente àquela admitida pela lei do Estado onde a sentença deva surtir efeito; f) que se tenha assegurado a defesa das partes; g) que as sentenças tenham caráter executório no Estado em que forem proferidas. Quando existir apelação da sentença, esta não terá efeito suspensivo.

A Convenção Interamericana é complementada pelo Protocolo de Las Leñas132 e tem

como autoridade central o Ministério da Justiça, através da DRCI - Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional, da Secretaria Nacional de Justiça (SNJ). 4.3 CONVENÇÃO DE HAIA SOBRE A COBRANÇA INTERNACIONAL DE ALIMENTOS PARA CRIANÇAS E OUTROS MEMBROS DA FAMÍLIA (2007)

A Convenção de Haia foi assinada na cidade de mesmo nome, nos Países Baixos, no dia 23 de novembro de 2007, e é a mais recente no assunto. Foi promulgada no nosso ordenamento jurídico através do Decreto n.º 9.176, de 2017, que, além dessa Convenção, promulgou também o Protocolo sobre a Lei Aplicável às Obrigações de Prestar Alimentos. O referido Protocolo possui o condão de complementar a Convenção de Haia no que concerne a uniformização de regras internacionais sobre qual lei será aplicada nos pedidos alimentares.

São Estados-Partes do presente instrumento: Albânia, Alemanha, Áustria, Bélgica, Bielorussia, Bósnia e Herzegovina, Brasil, Bulgária, Cazaquistão, Chipre, Croácia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda (Países Baixos), Honduras, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta,

Montenegro, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, República Tcheca, Romênia, Suécia, Turquia e Ucrânia.133

Segundo Vilmar Antônio da Silva134, esta Convenção substitui, entre os Estados

contratantes, a Convenção de Nova Iorque sobre Prestação de Alimentos nos Estrangeiro (CNY), de 1956, devendo aqueles passarem a adotar a Convenção de Haia quando o litígio sobre alimentos envolvê-los. Entretanto, a CNY ainda será aplicada nos seguintes casos: (i) os casos em tramitação até 19 de outubro de 2017; (ii) os Estados que não aderiram à Convenção de Haia; e (iii) os Estados que opuseram ressalvas à aplicação da Convenção de Haia para a cobrança de alimentos entre ex-cônjuges.

Em seu preâmbulo, o documento faz menção que a presente Convenção tem o intuito de melhorar a cooperação entre os Estados quanto à cobrança alimentar, notadamente em benefício dos filhos e de outros membros da família; de dispor de procedimentos mais eficientes, equitativos e que tragam melhores resultados; de basear-se nos melhores elementos de outras Convenções de Haia e da Convenção de Nova Iorque de 1956; e de criar um sistema flexível a partir das tecnologias existentes.

Relembrou, ainda no preâmbulo, os artigos 3º e 27º da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças (1989) trazendo as seguintes disposições, in litteris:

- em todas as decisões relativas a crianças, o interesse superior da criança deve constituir a principal consideração,

- a criança tem direito a um nível de vida adequado, de forma a permitir o seu desenvolvimento físico, mental, espiritual, moral e social,

- cabe aos pais e às pessoas que têm a criança a seu cargo a principal responsabilidade de assegurar, dentro das suas possibilidades e disponibilidades económicas, as condições de vida necessárias ao desenvolvimento da criança, e

- os Estados Partes deverão tomar todas as medidas adequadas, incluindo a celebração de acordos internacionais, tendentes a assegurar a cobrança da pensão alimentar devida à criança, de seus pais ou de outras pessoas que tenham a criança a seu cargo, nomeadamente quando estas pessoas vivem num Estado diferente do da criança.

Desse modo, percebe-se a preocupação desse intrumento para com a criança, definindo, ainda, em seu artigo 1º o objeto da Convenção, qual seja: assegurar uma efetiva cobrança

133 HAGUE CONFERENCE ON PRIVATE INTERNATIONAL LAW – HCCH. Status Table - 38: Convention

of 23 November 2007 on the International Recovery of Child Support and Other Forms of Family Maintenance. Disponível em: <https://www.hcch.net/en/instruments/conventions/status-table/?cid=131> Acesso em 5 mai. 2019.

134 SILVA., Vilmar Antônio da. Prestação de alimentos no e do estrangeiro: um estudo à luz do Direito

Internacional. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XXI, n. 172, maio 2018. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=20453>. Acesso em: 2 mai 2019.

internacional de alimentos em benefício dos filhos e de outros membros da família, estabelecendo um sistema completo de cooperação entre as autoridades dos Estados Contratantes, permitindo a apresentação de pedidos para a obtenção de decisões em matérias que envolvem questões alimentícias, garantindo o reconhecimento e a execução de decisões em matéria alimentar e exigindo medidas eficazes para a rápida execução das decisões.135

Adiante, em seu artigo 3º, trouxe as definições de credor, devedor, apoio judiciário, acordo escrito, acordo sobre alimentos e de pessoa vulnerável136. Além disso, o referido

documento prevê, assim como a CNY, uma autoridade central (art. 4º), trazendo as suas atribuições gerais (art. 5º), atribuições específicas (art. 6º), pedidos de medidas específicas de uma autoridade central a outra autoridade central (art. 7º), bem como suas despesas (art. 8º).

No Brasil, assim como na Convenção Interamericana abordada em linhas anterirores, o Ministério da Justiça, através da DRCI - Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional, da Secretaria Nacional de Justiça (SNJ), foi o designado para atuar como autoridade central nos pedidos referentes às questões alimentícias por meio da Convenção de Haia.

Ademais, a Convenção estabelece os pedidos que estão disponíveis por meio do instrumento (art. 10), bem como solicitar medidas específicas (art. 7º - já citado anteriormente) que deverão passar pela autoridade central. Por outro lado, existe também a possibilidade de realizar solicitações diretas (art. 37). Nesse caso, o alimentando pode fazer uma solicitação

135 Artigo 1º - Objeto

A presente Convenção tem por objeto assegurar a eficácia da cobrança internacional de alimentos para crianças e outros membros da família, principalmente ao:

a) estabelecer um sistema abrangente de cooperação entre as autoridades dos Estados Contratantes; b) possibilitar a apresentação de pedidos para a obtenção de decisões em matéria de alimentos; c) garantir o reconhecimento e a execução de decisões em matéria de alimentos; e

d) requerer medidas eficazes para a rápida execução de decisões em matéria de alimentos.

136Artigo 3. ° Definições:

Para efeitos da presente Convenção, entende-se por:

a) «Credor», uma pessoa singular à qual são devidos ou se alega serem devidos alimentos; b) «Devedor», uma pessoa singular que deve ou à qual são reclamados alimentos;

c) «Apoio judiciário», o apoio necessário para permitir que os requerentes conheçam e façam valer os seus direitos e garantir que os seus pedidos sejam tratados de modo completo e eficaz no Estado requerido. As formas desse apoio podem incluir, se necessário, aconselhamento jurídico, assistência tendo em vista submeter um caso a uma autoridade, representação jurídica e isenção de custas processuais;

d) «Acordo escrito», um acordo registado em qualquer suporte cujo conteúdo seja acessível a posteriores consultas; e) «Acordo sobre alimentos», um acordo escrito sobre o paga- mento de uma prestação de alimentos: i) que tenha sido redigido ou registado oficialmente como um ato autêntico por uma autoridade competente, ou ii) que tenha sido autenticado, concluído, registrado ou depositado junto de uma autoridade competente, e que possa ser objeto de revisão e alteração por uma autoridade competente;

f) «Pessoa vulnerável», uma pessoa que, devido a deficiência ou insuficiência das capacidades pessoais, não está em condições de assegurar a sua subsistência.

direta a uma autoridade competente para que seja aplicada a lei nacional de um Estado Contratante para uma questão no âmbito de aplicação da Convenção137.

Por fim, o art. 34 aborda sobre as medidas de execução de decisão, estabelecendo que os Estados Contratantes devem prever medidas eficazes em seus ordenamentos jurídicos para dar execução às decisões abrangidas pela Convenção, dentre as quais podem incluir: i) Retenção de salário; ii) Penhora de contas bancárias e de outras fontes de rendimentos; iii) Penhora de prestações de segurança social; iv) Penhora de bens ou venda forçada; v) Retenção do reembolso de impostos; vi) Retenção ou penhora de pensões de reforma; vii) Informação às instituições de crédito; viii) Recusa, suspensão ou revogação de várias licenças (por exemplo, cartas de condução); ix) Recurso à mediação, conciliação ou outros procedimentos análogos para favorecer a execução voluntária. Percebe-se nas medidas de execução acima elencadas que todas fazem referência à questões patrimoniais do alimentante, não havendo previsão da prisão civil ou outra forma de restrição física do devedor.

137 BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Secretaria Nacional de Justiça. Departamento de

Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional. Cooperação em Pauta. Disponível em: <https://www.justica.gov.br/sua-protecao/lavagem-de-dinheiro/institucional-2/publicacoes/cooperacao-em- pauta/cooperacao-em-pauta-n33> Acesso em: 15 mai. 2019.

5 ANÁLISE SOBRE A (IM)POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA PRISÃO CIVIL, DETERMINADA PELO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO, AO DEVEDOR DE ALIMENTOS RESIDENTE NO EXTERIOR

5.1 A EXECUÇÃO DE DECISÃO NO EXTERIOR NAS CONVENÇÕES