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A Convenção n 107 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Populações Indígenas e Tribais em

INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO E REGULAMENTAÇÃO Considerando-se que este estudo versa sobre o tema povos

1.3 INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS DOS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS

1.3.2 A Convenção n 107 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre Populações Indígenas e Tribais em

Países Independentes de 1957

Após uma década da Conferência do México, de 1940, as recomendações indígenas das Conferências americanas do trabalho adquiriram o estatuto de direito internacional, com a adoção da XL Conferência Internacional do Trabalho, órgão legislativo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a Convenção n. 107 e a Recomendação n. 104, primeiros aportes jurídicos na ordem internacional em matéria de povos indígenas. O princípio básico da Convenção está visível em seu título, “a integração e proteção das populações indígenas, tribais e semitribais em países independentes”.24

política republicana de integração nacional. Nos anos de 1950, o indigenismo brasileiro passará a interagir com outras tradições indigenistas em ação no continente americano, quando o indigenismo é adotado como ideologia por agências do Sistema Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos. Embora distinto do mexicano, o indigenismo brasileiro nasceu com a mesma grave e insolúvel contradição interna: postula o relativismo cultural, ao mesmo tempo em que ambiciona a meta de ‘incluir índios’ na sociedade nacional. Temos aqui, como no caso mexicano analisado por Héctor Díaz-Polanco (1991), um discurso ideológico relativista encobrindo uma prática integracionista. Separam-se os ‘aspectos positivos’ das culturas indígenas daqueles que devem permanecer, ou porque são ‘contrários’ ao bom andar do processo de ‘integração nacional’ e do ‘progresso’, ou porque são ‘inúteis’ à necessária adaptação individual e coletiva dos indígenas na economia de mercado” (VERDUM, 2009, p. 99).

24 Os principais focos da Convenção 107 eram a proteção e a integração das populações indígenas. Conforme menciona Wagner (2015, p. 6). “Nesse sentido, logo em suas considerações iniciais deixa claro seu objetivo de contribuir para a integração gradual das populações indígenas na respectiva sociedade nacional, como forma de melhorar suas condições de vida e trabalho. Essa pretensão integracionista aparece ao longo de toda a Convenção e refletia o entendimento vigente naquele momento histórico, de

No artigo 1º, parágrafo 2º, a Convenção 107 referencia que o termo semitribal engloba os grupos de pessoas que, em um determinado tempo, vão perder suas características tribais, mas que ainda não estão integrados na sociedade, deixando latente a visão integracionista desse documento.

A respeito dessa visão integracionista contida na Convenção n. 107, ressalta-se que a ideologia integracionista ou indigenista teve início nos anos 1940 e perdurou até os anos de 1970. Essa ideologia refletiu nesta Convenção sob dois enfoques: o culturalista ou indigenista e o estruturalista. Quanto a esses dois enfoques, pontua-se o esclarecimento de Ikawa (2010, p. 517). No enfoque culturalista havia hierarquias entre culturas. A cultura indígena era considerada inferior, sendo necessário alocar à cultura dominante, devendo integrar-se à cultura nacional. Essa visão se materializou com a divulgação de diversos materiais de homogeneização cultural, como cartilhas, cursos de formação de professores, utilização da língua nacional e outros.

No que diz respeito ao enfoque estruturalista, esse se referia às questões indígenas como problemas socioeconômicos e desconsiderava a questão cultural. A integração deveria acontecer “pela via econômica, pela implementação de obras de infra-estrutura, pela assistência técnica produtiva, por projetos assistenciais” (IKAWA, 2010, p. 518). Embora com direções diferentes, ambos os enfoques visavam à transformação das comunidades indígenas, com um modelo mais adequado para a ideia de nação e desenvolvimento.

Na década de cinquenta, as condições de trabalho dos povos

indígenas era reflexo do desrespeito aos seus direitos fundamentais, entre os quais à sua identidade, língua, cultura e organização social. Como forma de combater a situação que se apresentava, o sistema da Organização das Nações Unidas, governos, organizações de empregadores e de trabalhadores e a OIT criaram alguns mecanismos para coibir ações que se alastravam no contexto mundial, entre eles, foi

a criação da Convenção n. 107 sobre Populações Indígenas e Tribais.

que os povos indígenas eram atrasados em relação aos demais membros da comunidade nacional e deveriam, a medida que fossem aprendendo sobre a sociedade envolvente, integrar-se a ela, e abandonar seu modo de viver indígena, primitivo. A ideia então vigorante era de que essa integração era necessária para o progresso dessa população, que, então, sairia do atraso e da ignorância, e passaria a progredir. Essa compreensão acerca dos povos indígenas e tribais se manteve durante a década de 1950 até meados da década de 1970”.

A Convenção n. 107, da Organização Internacional do Trabalho25

sobre Populações Indígenas e Tribais em Países Independentes, tem por base o Programa Indigenista Andino ou a Missão Andina, dirigido pela Organização Internacional do Trabalho26nos anos cinquenta. Esse

programa trouxe à tona os problemas enfrentados por indígenas no mundo do trabalho (trabalho forçado, abuso nos sistemas de contratação e outros), questões que advinham da desapropriação territorial indígena.

25 A Organização Internacional do Trabalho foi criada em 1919, logo após a 1ª Guerra Mundial, com base na premissa que a paz mundial somente pode ser alcançada por meio da justiça social. A condição dos povos indígenas sempre foi motivo de preocupação dessa organização internacional. Situações de discriminação e exploração de trabalhadores indígenas e tribais impulsionaram a adoção de convenções e recomendações pela OIT. Exemplo disso, inicialmente, é a Convenção n. 29 sobre Abolição do Trabalho Forçado, aprovada em 1930, sendo que no plano internacional passou a vigorar em 1932, é considerada uma das convenções fundamentais da OIT. Referente aos preceitos, constituição e convenções da OIT frisa-se que “[...] tornam-se o modelo da regulação das relações de trabalho e do estabelecimento dos direitos sociais, fixando-se na base da construção do Estado do Bem-Estar Social. É, efetivamente, a partir da criação dessa Organização, que os Estados adotam, mais sistematicamente, normas e medidas de proteção ao trabalhados, tanto no nível constitucional (a partir de então, de caráter social). quanto no infraconstitucional. Os direitos ao trabalho; a salário justo e equitativo; ao descanso (intra e interjornada; semanal e anual).; à liberdade sindical; à negociação coletiva e à greve, além dos relativos à seguridade social, são contemplados nos ordenamentos nacionais. Em princípio, encontra-se completo o quadro dos direitos laborais como mínimo indispensável à salvaguarda da dignidade do trabalhador, conquanto não garantidamente respeitados” (CECATO, 2007, p. 355).

26Ainda sobre a Organização Internacional do Trabalho destaca-se: “Em

relación a la Organización Internacional del Trabajo (OIT) creada em 1919 como institución autónoma para promover programas orientados a lograr el pleno empleo y mejorarel nível de vida de los trabajadores, ella se ocupa fundamentalmente de los derechos económicos y sociales: derecho al trabajo; derecho al goce de condiciones de trabajo equitativas y satisfactorias; derecho a fundar sindicatos y afiliarse al sindicato de suelección; derecho a la seguridade social, y derecho a um nível de vida adecuado. Y además (como fuésubrayado) la Carta de la OIT contemplará también derechos civiles e individuales al reconocer, por ejemplo: la libertad de expresión; de asociación y de reunión pacífica. Estos objetivos serán perseguidos por la OIT de 1919 a 1945, y serán retomados y ampliados a partir de 1944 [...] (QUINTANA, 1999, p. 48).

Esse documento internacional incluiu um programa em que se evidencia os resquícios da doutrina da tutela das instituições, das pessoas, dos bens e trabalho das populações indígenas. O reconhecimento das culturas e formas de organizações social e política dos grupos indígenas, abrangendo a questão das terras que tradicionalmente ocupam, constituiu na época em importante precedente internacional, que serviu de base para o reconhecimento posterior de direitos dos povos indígenas. Conforme afirma Royo (2007, p. 95), a Convenção n. 107 caiu em descrédito no final dos anos setenta, em virtude de sua forte carga assimilacionista:

A Convenção n. 107 teve sem embargo uma curta história em termos reais. A utopia desenvolvimentista da organização de tomar a Convenção como plataforma para a solução prática do problema indígena, em nível internacional resultou em uma série de iniciativas- desta vez dirigida aos países africanos do Oriente Médio, de pouco impacto, - logo mais o Plano Andino desapareceria aos poucos sem deixar rastros.

Esta Convenção incorpora muitos direitos que extrapolam a questão laboral, como os direitos a terra e ao direito consuetudinário. Seu ponto principal é o reconhecimento de direitos aos indígenas. A Convenção n. 107 da OIT iniciou sua vigência na época da Guerra Fria, em um contexto interno de movimentos sociais, rebeliões indígenas e campesinas por terra. Alguns países realizaram reformas agrárias, reconhecimento de grupos indígenas, direitos sociais, sindicalização, adoção de formas cooperativas de trabalho, reconhecimento parcial da cultura, idiomas e costumes indígenas. Na época, o objetivo do Estado era promover o desenvolvimento e a modernização conforme modelo decidido por ele (Estado). “Embora o Convênio se preocupe pelo reconhecimento de direitos aos indígenas, ainda pressupõe certa minoria indígena e faz descansar no Estado o papel decisório sobre as políticas a serem aplicadas aos indígenas“ (FAJARDO, 2009, p. 19).

A Convenção n. 107 fez com que tais reformas propiciassem o término do sistema oligárquico e de formas de servidão indígena associada a tal sistema, em que pese a perspectiva assimilacionista da relação entre os indígenas e o Estado.

1.3.3 A Convenção n. 169 da Organização Internacional do