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Em 1711, os irmãos terceiros franciscanos de Olinda, iniciam a construção de sua Capela, um espaço perpendicular em relação à Nave da ordem primeira, nessa lateral, do lado do antigo Evangelho. As duas naves interligam-se através de um grande arco, graciosamente esculpido, com folhas de acanto e rocailles, quase todo sem o douramento, de período Joanino. Bazin, ao se referir de maneira geral, às Capelas terciárias, nos conventos dos franciscanos, informa:

A igreja da Ordem Terceira, quando se construía uma perto do convento, geralmente era uma grande Capela fora da obra, perpendicular à nave central do lado do Evangelho, e que abria para esta através de uma grande arcada. Essa disposição perpendicular é bem antiga. Era assim no Rio, na igreja conventual de 1616, a situação da capela dos Terceiros inaugurada em 1622 como mostra a planta holandesa do Rio, no Reys Boeck van Het Riscke Brasilien, publicado em Amsterdã, em 1624. A origem pode ter sido a capela dos Terceiros do Rio de Janeiro, mas a consagração do modelo foi no Nordeste. Somente em Pernambuco poderemos relacionar os seguintes conventos onde tal solução foi adotada: convento de Santo Antônio, de Igaraçú; convento de Santo Antônio, do Recife e esse de Olinda. Na Paraíba temos o de João Pessoa. Em Alagoas, Penedo, o convento de Nossa Senhora GRV$QMRVWHPDPHVPDIRUPDGHGLVSRUDFDSHODGRV7HUFHLURV´62

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³$LJUHMDGD2UGHP7HUFHLUDTXDQGRVHFRQVWUXLXXPDSHUWRGR&RQYHQWRJHUDOPHQWHHUDXPDJUDQGH&DSHOD fora da obra, perpendicular a nave central do lado do Evangelho, e que se abria para esta através de uma grande arcada. Essa disposição perpendicular é bem antiga. Era assim no Rio, na igreja conventual de 1616, a situação da Capela dos Terceiros inaugurada em 1622 como mostra a planta holandesa do Rio, no Reys Boeck van Het Ricke Brasilien, publicado eP$PVWHUGmHP´Bazin, op. Cit. 1º Volume. P. 144,

101 A capela teria sido projetada, com certeza, sendo inteiramente revestida de madeira entalhada conforme àquela Capela Dourada dos irmãos Terceiros franciscanos do Recife, da 1ª fase do Barroco. Menezes observou que ³Não foi a obra concluída e hoje se tem apenas o

revestimento da parede que envolve o arco da capela-mor´63 Segundo Bazin, ³é a parte

superior deste revestimento de talha dos mais antigos no estilo Nacional Português, onde se

destacam os medalhões com bustos´64 Os dois retábulos das capelas colaterais são

posteriores aos da capela-mor. Muitas vezes, em todo o Brasil, ocorre de se encontrar, em um mesmo interior da nave, dois ou mais revestimentos em talha, de momentos ou fases diferentes.

Na Capela Dourada do Recife, a talha que a recobre inteiramente, mesmo sendo executada em fases distintas, embora próximas é do gosto Nacional Português. Sabe-se que:

O altar principal da Ordem Terceira de Olinda pertence, em termos da talha, DR SHUtRGR GH H[HFXomR GRV WUrV DOWDUHV GD 2UGHP 3ULPHLUD´65

Por outro ODGR³QHVVDFDSHODGH6mR5RTXHGRV7HUFHLURV)UDQFLVFDQos de Olinda, o que é admirável é o seu forro, em artezoados além do excelente traçado, onde se harmonizam octógonos e losangos. No centro do teto se destaca outra forma polilobada, onde se encontra uma pintura de Nossa Senhora da Conceição. Cada um dos caixotões contêm, pintados, santos de devoção franciscanas. Houve por parte do artista, que executou o forro, o cuidado de dispor os santos pintados de tal sorte que a simetria fosse respeitada com relação às figuras representadas e os fundos, quer neutros ou com paisagens. Os santos escolhidos para figurar no forro foram os da devoção franciscana, presentes em outras casas da mesma Ordem. As pinturas são de excelentes feituras e, tudo leva a crer, de um mesmo artista. Compare-se tal conjunto pictórico com aquele da Ordem Terceira dos franciscanos do Recife, ou, ainda, com o da igreja de Nossa Senhora da Misericórdia, de Olinda e, essencialmente, com o da igreja do Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da mesma cidade. É infelizmente difícil precisar os artistas que trabalharam nessas diversas igrejas, onde se encontram pinturas enquadradas em um mesmo período de tempo do século XVIII. Por outro lado, nem todas as pinturas se encontram restauradas o que implica em

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MOTA MENEZES, José Luiz, op cit. .

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BAZIN, Germain, op cit.

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102 dificuldades para uma comparação de estilos e técnicas. É interessante destacar, entretanto, que as pinturas da Capela de São Roque são, na verdade, das melhores desses conjuntos citados.66

Naquele interior:

A Capela-mor da igreja dos Terceiros tem também, uma série, disposta na abóbada de berço, de tábuas pintadas e emolduradas, em aplicação conforme reticulado semelhante ao dos caixotões artezoados.67 Ainda se sabe que os irmãos Terceiros, em data que não podemos precisar, constroem, paralelamente à igreja da Ordem Primeira, uma Casa da Oração, hoje oculta pela construção de um Consistório que avança em direção à galilé.68

O claustro, do final do século XVII, datado assim segundo as perfilaturas das arcadas e colunas, recebeu um revestimento azulejar, em painéis figurados entre os anos 1734-45. Uma observação mais apurada permite entender que os franciscanos ampliaram antiga quadra FRQYHQWXDOFRPQRYREORFRHPGLUHomRDR6XOYROWDGRSDUDR5HFLIH7DOFRQVWUXomR³assenta

em aterros e muros de arrimo para conformá-la à declividade da ladeira. Parece-nos

edificação da segunda metade do século XVIII´69 Pereira da Costa, nos seus anais, nos

informa que de Maranguape se transportava, em 1757, pedras para uma obra no antigo convento.

O Convento dos franciscanos, de Olinda, edificado desde aquele século XVI, se constitui, em um considerável magnífico exemplar da escola franciscana do Nordeste, inserindo-se suavemente no ambiente paisagístico, criando uma perfeita harmonia no tempo dos homens, na bela paisagem do outeiro de Olinda.

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MOTA MENEZES, José Luiz, op cit.

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MOTA MENEZES, José Luiz op cit.

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MOTA MENEZES, José Luiz,op cit.

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103 3.5 Convento Franciscano de Santo Antônio do Recife e Ordem Terceira de São Francisco da Penitência

Aspectos Históricos e Azulejaria

O Convento de Santo Antônio do Recife foi incendiado em 1606 e, pelas dimensões apresentadas deveria ser muito menor que o Convento Franciscano de Olinda. Em momento antes da sua construção foi edificada uma casa com oratório, em função dos poucos moradores que viviam em Antônio Vaz. Não seria muito afirmar-se que em volta desse convento o bairro de Santo Antônio cresceu e expandiu-se (desde o século XVII).

Na igreja do convento, em sua entrada, na capela de N. S. da Saúde, encontram-se cinco (5) painéis de azulejos portugueses do século XVIII, representando os 5 mártires de Marrocos, os 7 mártires em Ceuta, os mártires do Japão, o silêncio e os mártires em Genebra. Verifica-se que em tais painéis de azulejos muitas peças se encontram em processo de descolamento e deteriorados pelo tempo. O teto, é notável, em caixotões, curvos com temática religiosa, característico do nacional português. O Convento, foi várias vezes retratado em pintura, desenho e gravura por Frans Post, pintor da comitiva de Nassau, quando do período do governo holandês no Nordeste. Naquela época, fez-se construir em seu redor uma fortificação de terra batida conhecida como Forte Ernesto, que se destinava, além da defesa do local, para alojamento dos militares. Após a retirada dos holandeses, em 1654, com destruição do forte e a retomada do convento pelos frades franciscanos, estes proporcionaram ao edifício considerável ampliação. Daquele convento antigo, restam no atual algumas paredes e a capela-mor com teto abobadado, sendo esta iluminada por um lanternim.

Sobre a edificação se sabe que: os dois conventos ± o de Olinda e o do Recife ± guardam certos aspectos comuns decorrentes de um mesmo momento de obras. Ambos com capelas-mores em abóbadas ± uma em berço e a outra em meia-esfera ± paredes em alvenaria de pedra calcária e, posteriormente, com o uso do arenito.

Em relação à distribuição espacial dos cômodos em seu interior, ambos guardam, certamente, estreitas semelhanças, talvez resultante da obediência à Regra e, por outro lado, ainda como fruto do viver franciscano uma característica fundamental da Ordem Mendicante. Frei

104 Francisco dos Santos, arquiteto da Ordem, teria sido o autor do risco dos conventos de Olinda, Ipojuca, João Pessoa e do Recife.

A respeito da instituição da Ordem Terceira de São Francisco do Recife, Pereira da Costa assim informa:

reunidos na igreja do convento, no dia 12 de junho de 1695, os 38 irmãos terceiros existentes nas duas povoações, foi solenemente instalada ordem que tomou para seu titular as Chagas do Patriarca S. Francisco, recebendo o hábito 242 irmãos ± 177 homens e 65 mulheres70

.

Em terreno escolhido junto à igreja do convento, teve lugar, em 13 de maio daquele ano, a solenidade de assentamento da pedra fundamental da capela em presença do senhor Governador Caetano de Melo e Castro e inúmeras pessoas de bem da capitania. E o capitão Antônio Fernandes de Matos, experiente e hábil construtor daquela época e membro da ordem, foi incumbido de executar as obras da capela.

No ano seguinte, em 1697, os serviços já estavam bastante adiantados, e em 1721 toda a obra estava concluída, inclusive com os douramentos. Em 1773, foi construído um cemitério privativo para acolher os irmãos da ordem em terreno espaçoso junto a igreja, sendo utilizado até o ano de 1852, quando os sepultamentos passaram a ser realizados em cemitério público da cidade.

No início do século XIX, resolveu a ordem construir uma nova igreja, com dimensões superiores à antiga, no local da capela dos noviços. Em 1804 teve início as obras de assentamento de toda a cantaria da fachada, e somente em 1828, têm-se as conclusões da obra e a benção solene da nova igreja, em 16 de setembro.

A partir do ano de 1708 e por todo o século XVIII, a capela da irmandade começou a receber uma série de imagens (em madeira) vindas de Lisboa, para composição do seu repertório decorativo. Duas imagens, dentre tantas outras, merecem registro: a de S. Luis, rei da França (o rei Luis IX) e a de Santa Bárbara, ambas esculpidas pelo habilidoso artista Manoel da Silva

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105 Amorim entre 1836 e 1867, respectivamente. A sua talha, que recebeu todas as paredes em estilo nacional português ± é o estilo da primeira fase do barroco ± se mostra exuberante em formas florais e douramentos, destacando-se os belos e salientes púlpitos, com a sua notável bacia entalhada.

O claustro é igualmente harmonioso, cuja quadra é composta de sua arcaria extrema sob colunas toscanas e repletas de azulejos, aplicados no correr das suas paredes. O irmão terceiro Joseph Rodrigues de Santo Antônio teria mandado assentar, às suas custas, os referidos painéis dos passos da paixão pelos anos de 1760. Estes passos, que eram em número de 14, segundo as estações da via-sacra já desapareceram, restando apenas um que vem desafiando o tempo e a ação predatória do homem.