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PAINEL DE AZULEJOS PADRÃO MUDÉJAR CORDA SECA E ARESTA.

CORDA SECA E ARESTA. PROVENIENTE DA SÉ VELHA DE COIMBRA, SEC XVI.

FONTE: Museu Nacional do Azulejo. (2005)

Quando as duas culturas se encontram, a cristã medieval e a mulçumana, fazem da Andaluzia um lugar de intercâmbios, ritos e criações artísticas. Justamente, a arte mudéjar vai resultar dessa mistura e reações desenvolvendo-se, com a chegada ao poder da dinastia dos Almoadas ± em meados do século XII ± que inicia na Andaluzia um período de grandes construções e de produção intelectual. Os artífices mouros vão produzir e utilizar a cerâmica esmaltada como revestimento de pisos e, em seguida, de paredes, aliando a produção arquitetônica à decoração da cerâmica.

É do final do século XIII que surgem os primeiros azulejos sob a técnica dos alicatados, que consiste em usar o alicate para o corte de placas de barro monocromáticas. Em Alhambra de Granada, este mosaico cerâmico é aplicado em suas primeiras construções. A partir de Granada, é utilizado em larga escala e com fino tratamento na Andaluzia e no Levante, sempre decorados com motivos da arte árabe ± geométricos, laçaria, estrelas, cruzes, arabescos ou motivos florais.

Séculos depois (século XV), sobre a influência de Granada, esses mosaicos cerâmicos alicatados produzidos por artífices mouros, vão aparecer no Reino de Marrocos, em sua arquitetura secular.

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FOTOS 56, 57,58 E 59: AZULEJOS ALICATADOS APARTIR DO SÉC. XV

FONTE: www.territorioscuola.com/wikipedia/pt.wikiped... FONTE: goisvive.blogspot.com/2007/03/razes-do-azulej...

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CAPÍTULO III ± INTRODUÇÃO DA AZULEJARIA EM PERNAMBUCO E NO BRASIL

O estado de Pernambuco, desde o primeiro século da colonização do Brasil, é um lugar onde se encontram as mais antigas manifestações artísticas lusitanas e, ao mesmo tempo, foi um centro de irradiação dessa arte colonial para outros locais do Brasil. Conforme Santos Simões, ³Pernambuco guarda avançada de um império, em potência, vulnerável pela sua situação

desprotegida, escala de viagens para o Sul ou para o Oriente´ 38.

Nesse modo de ver, aquelas manifestações artísticas traziam em seu bojo o espírito e as tradições portuguesas que os primeiros jesuítas, franciscanos, carmelitas ou beneditinos implantaram entre a nossa gente. Em meio a colégios, conventos ou mosteiros, aqui circularam as especiarias artísticas mais requintadas daquele reino de Portugal. No que se refere aos azulejos, Pernambuco construiu testemunhos expressivos nessas igrejas, conventos e edifícios civis, comprovando e despertando até nossos dias, raízes de uma arte lusitana e, assim, o interesse em preservá-la.

3.1 Aspectos históricos

O desafio de se estudar a azulejaria portuguesa trazida às terras brasileiras, este imenso manancial disperso entre o litoral e o interior do país, certamente traz consigo enormes dificuldades não somente pelo vasto programa, mas também, pela ausência de referências locais. Somente em 1948, o professor Reynaldo dos Santos publicou na Revista da Academia de Belas Artes de Portugal sua conferência realizada no Palácio da Independência, em Lisboa, LQWLWXODGD ³$ $UWH /XVR-Brasileira do VpFXOR ;9,,,´ dados sobre o repertório azulejar presente nos inúmeros edifícios brasileiros39.

38

SIMÕES, J. M. dos Santos. Azulejaria Portuguesa no Brasil (1500 ± 1822), Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1965, p. 213.

39

In Belas Artes, Revista e Boletim da Academia Nacional de Belas-$UWHV ³A ARTE LUSO-BRASILEIRA DO SÉCULO XVIII´5Hynaldo dos Santos, segunda série nº 1, Lisboa, 1948.p de 3 a 17.

77 A miscigenação cultural entre Portugal e Brasil também ocorreu, além da ocupação efetiva dos territórios litorâneos e ribeirinhos, quando são expostas, através dos lusitanos, as reais necessidades espirituais dos colonos, com a construção dos primeiros colégios, mosteiros e FRQYHQWRVYHUGDGHLUDV³agências de catequese artística, servindo de moldura e de exemplo à

sua missão evangelizadora e educadora´40. (Simões, 1965, p.13)

Sem dúvida todas as manifestações possíveis de se obter na colônia foram realizadas muitas vezes em proporções que eram estranhas aos lusitanos. Contudo, quando acontecia de existir, no Brasil alguma dificuldade de mão-de-obra especializada ou de matérias primas ou, ainda, de processos técnicos que exigiam maiores conhecimentos, era na Metrópole onde se buscavam as soluções. Assim foram com os azulejos que, no Brasil, se tornaram imprescindíveis na decoração dos edifícios portugueses durante os séculos XVII e XVIII.

Em Portugal, no século XVII, adotava-se nos revestimentos azulejares um padrão decorativo, que se caracterizava pela repetição de temas ornamentais, à maneira da tapeçaria adaptando- os a qualquer edificação. No século seguinte, este padrão em tapeçaria foi gradativamente sendo substituído por revestimentos figurados (painéis), adequando-os ou os consignando à exatidão nos locais onde seriam empregados.

IMAGEM 04: TAPETE EM ESTILO ÍTALO FLAMENGO, Museu Municipal de Almada

FONTE: http://metoscano.blogspot.com

Com o passar dos anos o azulejo tornou-se, um elemento importante e inteiramente integrado ao patrimônio cultural português no Brasil. Na verdade, desde o século XV que os azulejos

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SIMÕES, J. M. dos Santos. Azulejaria Portuguesa no Brasil (1500 ± 1822). Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1965, p. 13

78 refletem certo fascínio no Sul da Península Ibérica sendo, portanto, introduzidos naquelas regiões através das correntes migratórias de artífices que varriam as costas mediterrânicas da Espanha. No início do século XVI, o azulejo é quase exclusivamente sevilhano, e encontra largo caminho nos novos ambientes de estilo mudejar. Assim, as igrejas manuelinas e, depois, as da época de Dom João III revestem-se de azulejos produzidos em Triana (Espanha), consolidando, a farta decoração azulejar em todo Portugal, ganhando um sentido de monumentalidade e de integração arquitetônica. Mesmo que as técnicas mais antigas ± as das cerâmicas de Andaluzia, a corda seca e aresta ± continuassem a ser utilizadas, novas formas e motivos (fitomórficos) iriam surgindo, substituindo aquelas antigas (geométricas).

João Miguel dos Santos Simões nos mostra que por volta de 1560 já estavam estabelecidos em Lisboa ceramistas flamengos, que produziam louças em fornos de Veneza, na técnica de Maiólica. Mais tarde no final de século XVI, com revestimento em numerosos edifícios lusitanos, qual a notável Capela de S. Roque, em Lisboa (1582), ou a Igreja do Espírito Santo, em Évora a partir de (1576), ou ainda o Palácio Ducal de Vila Viçosa (1602), estava definitivamente consolidado o gosto pelo uso do azulejo.