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Revestimentos azulejares do período do barroco ± painéis figurados

CAPÍTULO I. REVISÃO HISTÓRICA E BIBLIOGRÁFICA

1.6 Revestimentos azulejares do período do barroco ± painéis figurados

1.6.1 Painéis figurativos historiados ± cenas religiosas

A azulejaria do século XVII de acabamento policromado será substituída, nos finais do século XVII e início do XVIII, pela monocromia em azul e fundo branco. Tal mudança resulta em um modismo de época que se atribui à influência da louça chinesa do último período da ³'LQDVWLD 0LQJ´ ± onde dominam azuis sobre fundo branco. Tal moda é intitulada pelos SHVTXLVDGRUHVFRPRD³IDVHD]XOGRVD]XOHMRV´

A azulejaria portuguesa figurada no Brasil se impõe com mais intensidade no período do Barroco a partir da Época dos Mestres ± 1700-25 e das Oficinas Anônimas ± 1725-55. O emprego dos painéis figurados, à maneira de um silhar, com cenas contínuas ou separadas por molduras decorativas em grande escala, atendia a fase de ampliação das construções

52 religiosas. Os modelos para tais molduras seguiram os das talhas que envolviam painéis pintados nos forros e os dos retábulos sobre os arcazes das sacristias. Estas molduras também se aproximam das composições arquiteturais, com pilastras, arquitraves e embasamentos. Os ritmos da decoração determinam os limites dos temas figurados, que se recortam, destacando- se nos conjuntos um a um. Anjinhos, volutas, cartelas centrais com emblemática ou legendas se distribuem com profusão e as cenas representadas são obtidas da iconografia convencional. &HQDViH[HPSORGDTXHODVJUDYDGDVSRUDUWLVWDVFRPR³'HUPDQp´± tratando histórias da vida dos santos ± hagiografia ± e reproduzindo quadros de pintores do Renascimento qual um Raphael.

Os painéis, confeccionados em Portugal, eram numerados na parte posterior de cada peça, de maneira cartesiana. No Brasil, o assentador seguia a decodificação encontrada no tardoz26. São desta tipologia os conjuntos encontrados no altar-mor, nave, sacristia, claustro, entre outros, das edificações religiosas e civis de Pernambuco pesquisadas.

Conventos Franciscanos, Igrejas, Museus e Capelas do século XVIII.

)272³)$6($=8/'26$=8/(-26´6e&8/2;9,, CONVENTO DE SANTO ANTÔNIO DO RECIFE.

FONTE: IPHAN (2006)

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Tardoz ± Parte posterior não vidrada de um azulejo onde podem existir indicações para a sua colocação, data de sua restauração ou reconstituição.

53 1.6.2- Painéis figurativos historiados ± Cenas Profanas

A temática profana é toda a figuração historiada que não é religiosa. Inclui cenas de caça, fidalgos, navios, pescadores, cenas de artilharia, tocadores de instrumentos musicais, crianças, entre outros. No Convento Franciscano de Olinda, as figuras centrais em azulejos ± profanas em silhar, estão localizadas em painéis únicos, em cada uma das paredes. São emolduradas por barra de dois azulejos ± com folhas contorcidas em monocromia de azul sobre fundo branco.

FOTO 20: CENA PROFANA ± FIIDALGO ± CONVENTO DE SÃO FRANCISCO DE OLINDA, SEC XVIII

FONTE: Autora

As cenas de representação dos painéis, que acusam o ano de 1720, são caracterizadas por um casal de fidalgos, uma dama com duas crianças bem vestidas, gente do povo, um nobre senhor de bengala e chapéu, pescadores, fidalgo a cavalo, fundos de paisagem, tocador de flauta, pato e caçadores que revelam em desenhos e perspectivas a habilidade do pintor. Santos Simões atribui a este mesmo azulejador ± o silhar da sacristia do Convento de São Francisco de Salvador 1718-2027.

Em Olinda, no Museu de Arte Sacra encontramos os painéis de azulejos na entrada da Portaria, são barrocos figurados profanos em azul sobre fundo branco. No seu enquadramento verificamos anjos e pilastras nas laterais e ao centro as cenas de pesca e jardim com jogos

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SIMÕES, J. M. dos Santos. Azulejaria Portuguesa no Brasil (1500-1822) Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, 1965. p. 237.

54 G¶iJXD HP SURIXQGLGade com as paisagens que datam 1725-40. São de azulejadores de /LVERDGRSHUtRGRGDJUDQGHSURGXomRGDV³2ILFLQDV$Q{QLPDV´ ± '-RmR9RX³%DUURFR -RDQLQR´

FOTO 21 ± CENA PROFANA MITOLÓGICA, ATRIBUIDA. A GABRIEL DEL BARCO, SÉC. XVII

FONTE: Museu Nacional do Azulejo, Lisboa (2005)

Em Recife, a azulejaria da Ordem III de São Francisco ± Capela Dourada ± é revestida em silhar de altura entre 7 e 8 azulejos, limitados por cercadura (moldura de 1 azulejo) e cantos de máscaras na nave, apresentando monocromia em azul de cobalto sobre fundo branco ± são datados entre 1703-4 e nos revela cenas profanas de caça.

1RODGRGRHYDQJHOKRDFHQDpUHSUHVHQWDGDSRUXPD³DPD]RQDFRPHVFXGHLUR´± este motivo é repetido várias vezes e de acordo com Simões (1965; p.250):

...provém de gravura holandesa. Este mesmo tema, inspirado em gravura comum, pode ver-se, por exemplo, no Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa (J. M. dos Santos Simões, Carreaux Céramiques Hollandais au Portugal et em Espagne, La Haye 1959, pl. XVIC), no Palácio Centeno ao Campo de Santa, no claustro do antigo convento de S. Vicente de Fora, também em Lisboa, etc.28

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SIMÕES, J. M. dos Santos. Azulejaria Portuguesa no Brasil (1500-1822) Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, 1965. p. 250.

55 Alguns desses painéis profanos foram assentados com subtração de fileiras (azulejos) no sentido vertical e da lateral de cercadura. É possível que tenha existido uma adaptação para os espaços dos revestimentos parietais. Na mesma capela, no altar-mor, identificamos uma raridade ± um único painel assinado29 ± dentre todos os edifícios pesquisados. Trata-se da

representação da cena de caça com macacos, de leitura confusa, causada pela subtração de uma ou mais fileiras (azulejos) e um pavão. O autor, pintor Antonio Pereira ± que assinou Anto pra fec ± como também outros azulejos do Solar de Saldanha na Bahia ± no início do século XVIII.

FOTO 22 ± CENA PROFANA DE CAÇA, AUTOR ANTONIO PEREIRA, SÉC. XVIII, ORDEM TERCEIRA DE SÃO FRANSCISCO-CAPELA DOURADA RECIFE-PE

FONTE: Autora