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FONTE: IPHAN, 2006

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112 Além destes grupos principais, notamos a presença de alguns azulejos isolados ou mesmo repetidos, pertencentes a outras variedades. Assim, representados apenas por 1 azulejo e fixei:

9$62 )/25,'2 FDQWR GR WLSR ³IORr-de-OLV´ (VWH exemplar é considerado raro porque ocorre com menos freqüência na azulejaria deste tipo.

Já o FDQWRGRWLSR³DUDQKLoR´Com detalhes na parte central contida num losango é também modelo pouco freqüente, porem muito conhecido dos colecionadores. Igual a este azulejo é outro que se encontra atualmente no Museu do Estado, no Recife, adquirido num lote de vários outros azulejos, na maioria portugueses. Conjuntamente a este mesmo modelo existem 6 azulejos que formam uma cruz que se encontra no Convento dos Franciscanos de Ipojuca ³&RQYHQWRGH6DQWR$QW{QLR´jHQWUDGDGRFODXVWUR

CENA CORTES­ ³FDEHoD-de-ERL´ e R D]XOHMR WDOYH] PDLV SUHFLRVR GH WRGD D coleção e correspondente a uma série ou família pouco vulgar.

PAISAGENS MARÍTIMAS contamos 4 azulejos com este motivo de cantos do tipo ³DUDQKLoR´FRUUHVSRQGHQGRDPodelos familiares e mais vulgares.

Tem-se na verdade, além do seu caráter diversificado, conforme Simões, que os considera de grande valor estético ou raridade arqueológica, são estes azulejos os mais expressivos testemunhos artísticos dos holandeses em Pernambuco.

Relíquias de um passado com mais de trezentos anos, os azulejos holandeses do Convento de Santo Antônio, merecem ser conservados entre as inestimáveis peças do patrimônio histórico e artístico do Brasil. Pesquisas realizadas na bibliografia já referida, que além de inúmeros operários com grandes habilidades manuais, veio também uma considerável quantidade de materiais de construção (desde os primeiros anos de ocupação) ³não só por iniciativa da

Companhia das Índias Ocidentais, como por diligência de particulares ± trouxeram consigo tijolos, pranchas de madeiras, cal e outros materiais, com que levantaram sua casa ou sua loja de negócios´. 77

77

GONSALVES DE MELO, José Antônio, Azulejos Holandeses no Convento de Santo Antônio do Recife, Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1984, pp. 9 e 10.

113 Além desses materiais, foram embarcadas, trazidas da Holanda, grande número de casas pré- fabricadas por volta de 1638 e, através de referência portuguesa, que em 1637 o conde Nassau teria recebido uma carruagem para seu uso na sua Mauritstadt (a Cidade Maurícia).

Entre 1635 a 1640 foram intensas as vindas da Holanda para Pernambuco de muitos artesãos com ofício de marceneiros que aqui permaneceram após a rendição em 1654, como João %HODUPLQH ³)UDQFH] 0DUFHQHLUR´ H /DPEHO /DPEHUTXH ³0DU[LQHLUR´ HVWH UHVLGHQWH HP Olinda, por volta de 1664. Interessante UHYHODUFRQIRUPHDLQGD-RVp$QW{QLR³na mesma arte

há recordar o mobiliário verdadeiramente principesco, feito de marfim com motivos

ornamentais de flora tropical que existia no Friburgo do Conde Nassau´78. Artistas

vidraceiros também vieram para o Recife, como Pieter Coninxloo ± na época bastante conhecido, nascido em Amsterdam em 1604, era fabricante e gravador de vidro; Anthony de Later, encontrado no Recife entre 1643 e 1645; Jacob Panwelsen, em 1644 e Paulus Auwanrts, em 1650.

Não causaria, portanto nenhuma surpresa a considerável importação de azulejos holandeses para decoração de edifícios civis, aliás, fato incomum na Holanda e tão rotineiro em Portugal. Revela o profesVRU -RVp $QW{QLR *RQVDOYHV TXH GH WRGDV DV FRQVWUXo}HV KRODQGHVDV ³a que

possivelmente teria azulejos seria Vrijburg, pelo próprio sentido artístico de que o conde deu

PRVWUDVVREHMDVQDVYiULDVREUDVHPSUHHQGLGDVSRUHOHDTXLQD(XURSD´79. Entretanto, pela

grande quantidade de azulejos que chegou a Pernambuco é possível a existência de alguns decorando inúmeras casas de ricos comerciantes burgueses. Ainda o professor José Antônio, nos esclarece :

O fato de uns azulejos terem sidos arrancados de algures e assentados no Convento ± alguns com as arestas quebradas e vários partidos em 2 e 3 pedaços, mas cuidadosamente recompostos ± parecem indicar um propósito definido, o de preservar um conjunto de valor sobretudo histórico, pelo que não é demais supor que se encontrassem na própria residência do governador do Brasil holandês80.

78

Idem, p.11

79

GONSALVES DE MELO, José Antônio, Azulejos Holandeses no Convento de Santo Antônio do Recife, Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1984, p. 12

80

114 O Convento de Santo Antônio do Recife foi erguido entre 1606 e 1613, sob o traço ± como se expressava sabiamente o doutor Ayrton Carvalho ± do mestre pedreiro Manoel Gonçalves Olinda, FRQIRUPH PRGHOR GDTXHOD ³(VFROD )UDQFLVFDQD SDUD R 1RUGHVWH´ $OJXQV SRXFRV desenhos da época holandesa de 1630 a 1645 retratavam uma igreja com frontão triangular desprovida de torre e nártex81, com uma das laterais dividindo com o edifício do Convento. Em relação a planta baixa, conforme frei Bonifácio Mueller (Convento de Santo Antônio do Recife, 1606-  ³mostra a quadra do claustro, as demais dependências, além da

igreja´82. Nesse período, o Convento aquartelou por vários anos as tropas holandesas, cujo

seu contorno era fortificado com paliçadas ± sistema de defesa muito utilizado naquela época do Brasil Colônia ± pelos três lados (Norte, Sul e Oeste), restando o lado Leste em aberto. Conta-QRVRSURIHVVRU-RVp$QW{QLR*RQVDOYHVTXH³no Convento foram feitas diversas obras

de conservação, inclusive um poço, e que a igreja serviu por algumas vezes de templo

anglicano, onde pregava o reverendo Samuel Bachiler´83. Duas datas aparecem, uma na

fachada esculpida sobre os arcos da galilé (1770), e a outra no átrio, no peito do leão de fox (1773), do lado Norte, depois das obras de restauro promovidas pelo Departamento de Patrimônio Histórico Artístico Nacional DPHAN, em 1955.

2 FURQLVWD IUDQFLVFDQR )UHL $QW{QLR GH 6DQWD 0DULD -DERDWmR ID] UHIHUrQFLDV ³quanto aos

azulejos que formavam uma barra na sacristia, que não se conservaram, e outros que

existiam em diversas partes do Convento, inclusive na nave da igreja´84. Em relação aos

D]XOHMRV GR &RQYHQWR QRV UHYHOD -RVp $QW{QLR *RQVDOYHV ³na ordem terceira de São

Francisco do mesmo Convento de Santo Antônio do Recife, consta o registro de um

pagamento de $ 16 feito no ano compromissal de 1730-31´85 ao mestre Manoel da Silva, de

25 dias que trabalhou em assentar o azulejo.

Em referência aos azulejos portugueses de padrão policromo, é necessário salientar que verificamos os exemplares nesse monumento existentes desde os de padrão camélia até as notáveis peças deslocadas em rocaille e estilo indo-português na galeria superior do claustro.

81

Pórtico com arcos ou saguão de entrada em uma basílica cristã primitiva.

82

Ibidem, p.13

83

GONSALVES DE MELO, José Antônio, Azulejos Holandeses no Convento de Santo Antônio do Recife, Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1984, p. 14.

84

Idem, p.14

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115 3.6 Convento de Santo Antonio em Ipojuca.

No início do século XVII, fundaram os franciscanos, em Ipojuca, Pernambuco um convento sob a invocação de Santo Antonio, segundo orientação no risco (projeto) da escola tradicional franciscana do Nordeste do Brasil86.

O aspecto arquitetônico do convento de Ipojuca se assemelhava ao do primeiro convento dos franciscanos do Recife, fundado na Ilha de Antônio Vaz, em 1606. Tal semelhança se deve a terem sido ambos projetados pelo mesmo mestre-pedreiro Manoel Gonçalves Olinda.

A pedra fundamental do Convento de Santo Antonio de Ipojuca foi assentada em 06 de janeiro de 1608. A 1ª etapa da construção teve a duração de dois anos, onde se concluiu as duas alas da quadra conventual e a igreja. A decoração azulejar que possuíra era disposta em painéis no claustro ± HPPDLVGHXPSDGUmR³WDSHWH´SROLFURPDGRGDWiYHOGRVpFXOR;9,,H VREUH HVVH UHYHVWLPHQWR DILUPRX 6DQWRV 6LP}HV ³... que são impossíveis de serem

reconstituídos, pois foram removidos em 1964 para o Convento Franciscano do Recife, a fim

de serem incorporados nas obras da abóbada da capela-mor´ 87.

Identificamos, quando da nossa visita ao edifício, em certos lugares do monumento, alguns D]XOHMRV GH SDGUmR WLSR ³FDPpOLD´ FHUFDGXUDV H RXWURV YHVWtJLRV TXH RXWURUD SHUWHQFHUDP D uma repetição de tapete azulejar de 4x4. Ainda dois painéis de 09 (nove) azulejos aparecem com peças aplicadas avulsas em um painel em policromia de meados do século XVII, de difícil identificação pela ausência de peças azulejares.

Verificamos também numerosos azulejos destes modelos que foram aproveitados no revestimento externo da cúpula da torre sineira e mais outros da mesma época, recolhidos a um pequeno espaço, misturado a fragmentos de painéis azuis (monocromáticos) do século XVIII. Ao lado de uma das portas de acesso ao claustro, encontram-se 7 (sete) azulejos holandeses aplicados, do tipo de vasos floridos e cantos de flor-de-lis (padrão de Delft) em forma de cruz no centro de um painel de 5x3 azulejos, cujo entorno desta (cruz) aparecem

86

WILLEKE, Frei Venâncio, O. F. M. O Convento de Santo Antônio de Ipojuca, In Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nº. 13, Rio de Janeiro, 1956, p. 355.

87

SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa no Brasil (1500 ± 1822), Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1965, p. 223.

116 azulejos brancos de mesma composição e tonalidade. Existe entre esses azulejos e aqueles do Convento de Santo Antonio do Recife, uma forte ligação por serem ambos do mesmo tipo88.

3.7 Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres ± Jaboatão dos Guararapes

A Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, foi construída em 1656, pelo Mestre-de-campo General Francisco Barreto de Menezes, em local onde se deu a vitória das armas portuguesas contra o invasor holandês.

A atual igreja foi resultado de uma ampliação ocorrida na segunda metade do século XVIII, atualmente pertencente à Ordem dos Beneditinos. Sua fachada seiscentista foi, certamente, modificada, vez que a atual é uma composição do final do século XVIII, em cujo frontispício encontra-se a data de 1782. Simões argumenta que a provável capela de 1656 tivesse sido contemplada com algum ornamento azulejar:

Mas o certo é que a azulejaria que atualmente se admira não pode ser DQWHULRUD´$LQGD6LP}HVUHYHODTXH³WRGDDD]XOHMDULDGDLJUHMDpGR tipo de padrões a dois tons de azul e deve datar da época compreendida entre 1680-DFXVDQGRDYLUDJHPSDUDRVpFXOR;9,,,´89

.

(FRPSOHWRX³HVWHVD]XOHMRVSHUPLWLUDPFRPR YHUHPRVDSRVVLELOLGDGH de um acerto cronológico da imponente construção já que correspondem tipologicamente aos modelos que se fabricavam e a aplicavam em Portugal entre 1680 e 1690 90.

Em seu interior, as paredes laterais da nave estão revestidas de azulejos com uma composição GLYLGLGDHPGXDVSDUWHVFRPWLSRORJLDSDGUmRWDSHWHGHFRPSRVLomRILWRPyUILFDHP³FDPpOLD´ de 4x4/4 e outra (em padrão de 6x6/8) com duas tonalidades de azul, conforme já referimos.

Outros azulejos encontrados na parte superior do arco cruzeiro, e nas paredes laterais da capela-mor, são de outro tipo de padrão azul de (2x2/1) em ferroneries e folhas de acanto,

talvez de uma época anterior aos da nave, possivelmente aqueles não referidos pelo Simões,

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SIMÕES, J. M. dos Santos. MELLO, José Antônio Gonsalves de. Azulejos Holandeses no Convento de Santo Antônio do Recife, Recife, 1959, p. 41.

89

SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa no Brasil (1500 ± 1822), Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1965, p. 224.

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117 da primitiva capela. Este mesmo autor relata sobre os azulejos desta igreja e DILUPD ³o

notabilíssimo conjunto azulejar do interior da Igreja dos Montes Guararapes é o mais vasto e

importante repositório de azulejos de padrão azul de que tenho conhecimento´91.

FOTO 83: COMPOSICAO FITOMORFICA PARTE SUPERIOR DO ARCO CRUZERO DA IGREJA NOSSA SENHORA DOS