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PAINEL REPRESENTANDO A PREGAÇÃO DE SÃO JOÃO BATISTA, IGREJA DO MESMO NOME,

1720

FONTE: Azulejos em Lisboa, 2002

Cria em sua própria oficina, no melhor momento de suas atividades ± entre 1690 a 1720 ± uma escola de pintura de azulejaria que vai trilhar pela perfeição de suas obras. Um dos seus famosos discípulos é Policarpo de Oliveira Bernardes, seu filho, que trabalha com o sentido

85 da perspectiva e do volume. Policarpo pinta as suas colunas, por exemplo, preenchidas de anjos, grinaldas e ramos de flores e cachos de frutas que parecem ser esculpidos na cerâmica, enaltecendo o volume e o relevo, criando o ilusionismo pictórico. Seu melhor período situa-se entre 1720 e 1740.

A partir de 1750 (sob o reinado de Dom João V), têm-se a época dos grandes conjuntos azulejares em azul e branco, onde as composições representam cenas bíblicas e da vida cotidiana, fábulas, entre outros, cercadas de molduras onduladas. Um belo conjunto encontra- se no Convento de São Francisco em Salvador. E o rei, as ordens religiosas, os colecionadores e os mais afortunados particulares querem, agora, revestir as suas residências, hospitais, igrejas, conventos e palácios, com os belos conjuntos figurativos de azulejos. Uma observação relevante nos mostra a evolução do barroco para ao rococó nas constantes transformações das molduras, onde estas se tornam mais retas.

Em 1755, no dia de todos os santos, Lisboa foi sacudida por um grandioso terremoto. A cidade baixa ficou praticamente destruída e os incêndios seguiram-se por dias, aniquilando aquelas belas igrejas barrocas carregadas de ouro e de azulejos. Para a reconstrução da cidade o Marques de Pombal, então ministro do rei Dom José I, organiza um grandioso plano arquitetônico, onde o azulejo, pela sua influência será um elemento indispensável na ornamentação.

3.3 O Azulejo do Período Colonial no Brasil

O azulejo colonial foi utilizado em dois aspectos: o primeiro como elemento (instrumento de comunicação (bíblica/religiosa) e o segundo como elemento estético (informação). Nos dias de hoje, podemos afirmar que aquele papel que o azulejo desempenhava, nos séculos passados, lamentavelmente, desapareceu. Aos poucos foi engolido pelas máquinas e pelos métodos modernos de comunicação, que transformaram o nosso cotidiano.

Entre duas sociedades distintas uma metrópole e outra colônia ± de um lado a Coroa, com seus representantes, nobres cortesãos e os membros da igreja; do outro lado, os senhores de engenho e escravos, brancos, negros e mestiços, cidadãos colonizados ± unidos pelo Atlântico e pelo desejo de liberdade, desenha-se as raízes da nossa nacionalidade, entremeando-se, pelo longo período colonial, em inúmeros fatos históricos. Para os lusitanos, o azulejo significava,

86 QHVVHWHPSRKLVWyULFRXPVtPEROR QDFLRQDOHSDUDRV³FRORQRV´XPD PDQLIHVWDomRDUWtVWLFD transferida com sabor de novidade, ocupando, até hoje, um lugar destacado em nosso patrimônio cultural. Além disso, funcionou (o azulejo), naquela época, como instrumento de integração/interação entre os mosteiros, os colégios, os conventos e as igrejas, dentro de uma dualidade comunicativa com a cultura erudita e a popular. Socialmente, era a aristocracia ± de Portugal e do Brasil ± que o patrocinava através da igreja e seus superiores; diante da Coroa com seus representantes, a nobreza cortesã, os senhores brancos proprietários de terras, os militares superiores, os grandes comerciantes, outros. Nesse contexto, o azulejo colonial era QD YHUGDGH ³o seu veículo de comunicação e sua forma de expressão visual mais

apropriada´VHJXQGR2OLPSLR3LQKHLUR42.

De uma maneira geral, o azulejo colonial pode ser caracterizado pelos seus elementos de composição e de textura (elementos decorativos). Sobre o corpo cerâmico é resultado da qualidade das argilas (de sua composição entre os barros gordos e as sílicas), elemento inorgânico trabalhado a IULR H FKDPDGR GH ³EDUUR SOiVWLFR´ 2 D]XOHMR DSUHVHQWD IRUPD quadrada (de 13, 14 e 15 cm) e, quando utilizado como frisos, peças retangulares, com uma espessura variável em torno de 19 mm, que vai afinando conforme o passar dos séculos, chegando até aos azulejos de hoje, bem delgados. Considerado um tipo de faiança, como uma pasta corada e porosa, tem revestimento em vidrado branco opaco em uma das faces, obtido da aplicação sobre o biscoito de chumbo e de óxido de estanho. Sobre essa base conseguida poder-se-ia aplicar novas cores, quando do segundo cozimento.

O azulejo colonial deve ser visto como um elemento criador e/ou unificador de ambientes notadamente diante dos seus motivos pictóricos, integrando a arquitetura com uma exposição perceptiva, através de uma mensagem visual a numerosos fruidores.

Durante a primeira metade do século XVII, o Brasil vai receber os seus primeiros exemplares, inicialmente policrômicos. Mais tarde, no final dos seiscentos chegam os azulejos monocromáticos, o azul de cobalto com fundo branco, conservando-se assim por todo o século XVIII, enriquecendo, sobremaneira, os interiores das igrejas barrocas de todas as Ordens. Santos Simões enfatiza, como muita propriedade o caráter de monumentalidade do azulejo, ao mesmo tempo em que se torna um elemento construtivo e impulsionador da

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PINHEIRO, Olímpio. Arte Sacra Colonial%DUURFR0HPyULD9LYD³O azulejo Colonial Luso-Brasileiro: XPDOHLWXUDSOXUDO´(GLWRUD8QHVS6mR3DXORS

87 LGHQWLGDGH GR %UDVLO FRO{QLD ³é monumental, sobretudo, pelo gigantismo que assumem

subindo pelas paredes intensamente até a sanca do teto, ou mesmo cobrindo o céu das cúpulas e abóbadas´ 43.

O azulejo colonial é encontrado no nordeste, na faixa litorânea, especialmente na Bahia e em Pernambuco, no século XVII, quando chegaram as primeiras encomendas para revestir as paredes dos templos. Logo depois, espalhou-se por outras regiões, por todo o século XVIII, chegando ao Rio de Janeiro, a Paraíba, as Alagoas, Maranhão, Sergipe, entre outros, atingindo Minas Gerais e São Paulo ± com menor intensidade ± até estender-se em profusão , em pleno século XIX, nas fachadas dos casarões maranhenses.

Os azulejos do período colonial, dos séculos XVII e XVIII, apresentam características bem distintas conforme sua tipologia e textura (elementos decorativos). Os azulejos do século XVII são representados, predominantemente, pelos tapetes cerâmicos policromáticos e, posteriormente, no decorrer do século, passaram a ser confeccionados em azul de cobalto com fundo branco, quando foram amplamente aplicados nas paredes dos conventos do Nordeste. Já os do século XVIII, são eminentemente de temática figurativa, em azul e branco, retratando cenas bíblicas, mitológicas ou de clássicos.

Esses azulejos do século XVII são herdeiros dos azulejos relevados sevilhanos ± daqueles de corda seca ± recebendo, com o passar dos anos, melhor apuração quanto à criação e confecção em relação aos tapetes cerâmicos. Os azulejos sevilhanos são uma evolução do mosaico alicatado hispano-árabe. Portanto, os azulejos desse século, tipo tapetes padronizados, foram utilizados como elementos decorativos parietais.

Os azulejos daquela época (século XVII), quando eram aplicados em paredes extensas e com boa altura, apresentavam-se em padrões de módulos bem maiores daqueles de 2 x 2 e, às vezes, 6 x 6, adaptáveis conforme a distância de percepção. Como os padrões foram produzidos em série ± através de formas matrizes ± surgiu, portanto, o processo ³HVWDQGDUGL]DomR´ TXH FRQVLVWLD HP XP PpWRGR GH SURGXomR GHVHQYROYLGR GXUDQWH D Revolução Industrial- que consiste na padronização.

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SIMÕES, J. M. dos Santos. Azulejaria Portuguesa no Brasil (1500 ± 1822), Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1965, p. 47.

88 Durante o período colonial, eram muito comuns duas práticas religiosas, observadas ainda hoje: a do contemplativo (que consiste na oração e/ou contemplação pessoal) e a da liturgia (culto público oficializado/instituído pela igreja ± mensagens verbais) ambas revestidas de forte apelo emocional, inseridas em uma ambiência com decoração de painéis em azulejos parietais.

Observa-se, nesse contexto, conforme nos referimos anteriormente, uma manifestação significativa do ponto de vista visual, chegando mesmo (o azulejo) a relacionar-se com a obra de pintura ou estampas de gravuras internas, com temas bíblicos ou hagiológicos ou, ainda, com uma temática clássica greco-romana, a exemplo do painel (ou painéis) situado no claustro do Convento de São Francisco, em Salvador, com mensagens verbais tanto em português como em latim, escritas em algumas áreas desses painéis.

FOTOS 69 E 70: TRECHOS DE DISCURSOS ENTRE OS FIGURANTES DOS PAINEIS (TEMATICA CLASSICA GRECO -ROMANA)