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5 A NACIONALIZAÇÃO DO GINÁSIO TEUTO-BRASILEIRO

5.3 A CAMPANHA DE NACIONALIZAÇÃO NO GINÁSIO TEUTO-BRASILEIRO

5.3.2 Corpus docente e administrativo

Uma das primeiras mudanças significativas pela qual a escola passou foi a modificação do corpo docente e administrativo. Após a contratação de um diretor brasileiro nato, também houve uma renovação dos professores. Sendo grande parte dos antigos professores de origem alemã, a professora Herkenrath se aposentou e Huhn, Wieke, Winkler, Stengel, Lindner e Neufeldt voltaram para a Alemanha. As professoras brasileiras D.E. Lemmertz, Beuster, D. Irene Petrik também deixaram a escola. Restaram do quadro anterior apenas 7, os professores Nicklas, o Hans Schimitt, Karl Black, Kramer, Wilma Funcke, Hedi Schlatter e Sperb (TELLES, 1947).

A lacuna deixada no corpo docente foi preenchida com a contratação dos professores Helma Herrmann, Gertrud Doorman, Elinor Fortes, Nely Sefton, Thusnelda Reichel, Jucy Saraiva, Erwino Diefenthäler e Johannes Nagel. A escola também precisou acrescentar no seu quadro os professores de nacionalização Luiz Compagnoni, Hilda Menna Barreto e Suely Schröder. É interessante observar que, apesar das mudanças, o professor Hans Schimitt, que lecionava a língua alemã, permaneceu, o que

demonstra a insistência da escola de continuar cultivando a língua de origem mesmo em tempos de “abrasileiramento”.

Além disso, uma forma encontrada pela escola para seguir as exigências governamentais sem modificar totalmente o corpo docente foi a divisão do corpo docente em duas categorias: professor dirigente, professor ordinário e auxiliar de ensino. Na categoria “professor dirigente”, os critérios estabelecidos pelo governo central seriam seguidos da melhor forma possível; na categoria “professor ordinário” seriam alocados os profissionais que não se enquadravam no perfil desejado.

No dia 7 de outubro o diretor Álvaro Difini enviou uma correspondência para o inspetor federal Arthur Porto Pires colocando-o a par da nova forma de organização:

A direção do Ginásio, desejosa de dar a cada disciplina, nas diversas séries, uma orientação única, sábia e sabia, resolveu criar a categoria de professores dirigentes, professores de comprovada competência que, além de lecionarem a respectiva disciplina nas últimas séries, desempenham ainda as funções de orientadores de ensino, prestando sua assistência aos professores da mesma disciplina nas demais séries.

Espera a direção do Ginásio que desta ação harmônica entre professores dirigentes, professores ordinários e auxiliares de ensino, resulte, como direta conseqüência, uma notável contribuição ao levantamento padrão de ensino deste educandário. (ÁLVARO DIFINI, 1939).

O corpo docente passou a ser organizado da seguinte forma:

Disciplina Professor dirigente Auxiliar de ensino Professor Ordinário

Português Godofredo Fay de

Macedo

Wilma Funcke -

Línguas Vivas

Estrangeiras

Friedrich Nicklas Hans Schmitt -

Latim Bruno Frederico

Klein

- -

Matemática Luiz Leseigneur de

Faria Nicola Verlangieri História da Civilização e do Brasil

Francisco Carrion Wilma Funke -

Siegmann Bruno Frederico Klein

História Natural e Ciências

Natal Paiva Ervino Jacob

Diefenthaeler

-

Física Luiz Pilla Ervino Jacob

Diefenthaeler

-

Quimica Álvaro Difini Ervino Jacob

Diefenthaeler

-

Desenho Luiz Leseigneur de

Faria

Carlos Henrique Siegmann

-

Educação Física Dirceu Gay da

Cunha

Karl Black -

Música Leo Schneder Hans Nagel

Quadro 1: Nova organização do corpo docente em 1939

Fonte: Elaborado pela autora a partir da Correspondência Oficial M.S.E. 1937-1947

Apesar de não ser mencionado na correspondência, essa era uma tática (CERTEAU, 1998) encontrada para manter professores estrangeiros na instituição na categoria de auxiliar de ensino, desviando-se assim das imposições governamentais. Havia, ao final do informativo, a seguinte nota:

“A título de informação, convém adiantar que, de todo o corpo docente, apenas os professores de línguas vivas estrangeiras, um dos professores de Música e o auxiliar técnico de Educação Física não são brasileiros natos” (DIREÇÃO DO GINÁSIO FARROUPILHA, 1939). Para fins de burla da nova legislação, fica evidente que o termo “corpo docente” passa a se referir apenas aos professores dirigentes.

Apesar do êxito inicial e de todos os esforços da escola, ficava cada vez mais difícil manter professores de origem estrangeira. Em 1941 foi decretado pelo governo central a documentação necessária para o exercício remunerado do magistério em estabelecimentos particulares de ensino, que diferenciava a documentação necessária para brasileiros e estrangeiros. Os brasileiros deveriam apresentar os seguintes documentos:

a)certificado de habilitação para o exercício do magistério, expedido pelo Ministério da Educação e Saúde, ou pela competente autoridade estadual ou municipal;

b)carteira de identidade; c) folha corrida;

d) atestado de que não sofre doença contagiosa, passado por autoridade sanitária competente.

Já dos estrangeiros era exigido, além dos documentos elencados acima, a carteira de identidade de estrangeiro e um atestado de bons antecedentes, passado por autoridade policial competente (DECRETO LEI N. 1.847 DE 7 DE DEZEMBRO DE 1939).

O Estado dificultava, portanto, cada vez mais a presença de professores estrangeiros na instituição, que eram como um entrave ao projeto nacionalista. Mas a escola continuou insistente, chegando a tentar colocar o professor Hans Schmitt para ocupar o cargo de auxiliar de ensino da disciplina de Geografia. Em 1942, a Divisão de Ensino Secundário esclareceu que tal função não podia ser exercida por professores estrangeiros:

[....] quanto à possibilidade do sr. HAMSCHIMIDT, de nacionalidade alemã, lecionar geografia, como auxiliar de ensino, informo-vos que ao estrangeiro é vedado lecionar Português, História ou Geografia, mesmo como auxiliar. (DIVISÃO DE ENSINO SECUNDÁRIO, 1943).

Mesmo não podendo atuar nessas disciplinas, os professores Hans Nagel e Hans Schimitt matricularam-se na Faculdade de Filosofia, procurando regularizar sua situação funcional, já que eram formados em universidades estrangeiras (TELLES, 1974, p. 139).

A vigilância governamental não se deteve somente ao corpo docente administrativo, para aderir à nacionalização também era necessário dar ênfase a língua e História Nacional e participar de festividades cívicas, principalmente as promovidas pela Liga de Defesa Nacional72.