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5 A NACIONALIZAÇÃO DO GINÁSIO TEUTO-BRASILEIRO

5.1 DESCRIÇÃO DAS FONTES

O corpus documental central compreende dois tomos de correspondência que foram encontrados no arquivo inativo do Colégio Farroupilha e que atualmente encontram-se salvaguardados no Memorial da escola: Correspondência Oficial M.S.E. 1937-1947 e Ginásio Farroupilha – Correspondências 1938-1947. Conforme é possível ver na figura 1, os dois conjuntos estão encadernados em couro marrom, páginas amareladas e envelhecidas pelo tempo, reúnem correspondências que foram trocadas entre autoridades estaduais, federais e o colégio, assim como cartas internas trocadas dentro do ambiente escolar. O primeiro conjunto contém principalmente correspondências trocadas entre a escola e o Ministério da Educação e Saúde67 e suas subdivisões, como o Departamento Nacional de Saúde e o Departamento Nacional de Educação, ligado, por sua vez, à Divisão de Ensino Secundário e à Divisão da Educação Extraescolar. As correspondências eram direcionas ao diretor da escola ou aos seus inspetores federais, responsáveis por respondê-las. Já o segundo conjunto contém correspondências oficiais do Ministério da Educação e Saúde e Ministério da Guerra,

67 O Ministério de Educação e Saúde tinha uma série de funções relacionadas às políticas

nacionalizadoras como a criação de escolas em zonas habitadas predominantemente por grupos estrangeiros; a subvenção das escolas primárias coloniais; o favorecimento às escolas primárias e secundárias fundadas por brasileiros; orientação, preparo e recrutamento de professores para os núcleos coloniais; incentivo à criação de organizações patrióticas destinadas à educação física; fornecimento de obras de interesse nacional às bibliotecas; divulgação de festividades cívicas; vigilância do ensino da língua, história e geografia do país (BASTOS, 2005, p. 39).

intercaladas com correspondências internas, trocadas entre o diretor, o conselho escolar, os professores e os pais de alunos.

Figura 1: Correspondência Oficial M.S.E. 1937-1947 e Ginásio Farroupilha – Correspondências 1938- 1947

Fonte: Memorial do Colégio Farroupilha

No processo de discriminação das fontes, é necessário caracterizar a natureza do material encontrado nesses volumes. Pensando com Nunes (2005), podemos afirmar que os arquivos são construídos por um tríplice poder:

O poder do doador, do organizador dos acervos e do usuário que os manipula. O doador pré-seleciona e estipula certas exigências à instituição receptora do acervo doado. O organizador estabelece as regras de recepção, preservação, restauração, classificação dos conteúdos e acesso à documentação sob sua guarda. O usuário utiliza seu poder em conexão direta com a instituição de saber à qual ele “pertence” e na qual se inclui ( ou não) em determinados grupos, defendendo certas teorias e metodologias, seguindo ou rompendo certas tradições acadêmicas. (NUNES, 2005, p. 29)

Esses livros de correspondência trazem a vantagem de terem sido encontrados no arquivo inativo da instituição, diferentemente da documentação exposta no memorial, estavam inicialmente em um espaço de invisibilidade. Assim, foram principalmente manipulados pelo usuário e só posteriormente analisados e salvaguardados no memorial.

Além disso, também analisaremos alguns relatórios de inspeção, correspondências do conselho escolar e os periódicos escolares Das Band e Relatório Mensal.

O livro Conselho Escolar 1940-1947, foi encadernado de forma semelhante aos conjuntos de correspondências oficiais e contém atas e cartas trocadas entre o conselho escolar, o corpo docente, os funcionários da escola e os pais dos alunos. Iremos nos deter somente em algumas correspondências relacionadas diretamente à política de nacionalização do ensino e ao conflito da Segunda Guerra Mundial, mas sublinhamos o potencial historiográfico dessas fontes para o estudo de múltiplos aspectos da vivência escolar no período.

Os relatórios de inspeção68 analisados compreendem o período de 1937 a 1942, contendo os registros preliminares enviados ao Ministério da Educação e Saúde, o relatório completo de inspeção enviado em 1941 e um segundo volume do relatório com o anexo da documentação solicitada (ERMEL, 2015, p. 97). Analisaremos somente alguns trechos relativos ao ensino da língua alemã e o esforço da instituição em demonstrar que não possuía ligações com o nazismo.

Os periódicos escolares compreendem duas versões, o Das Band, lançado em 1929, que abrangia principalmente textos publicados em língua alemã, redigidos por alunos e professores da escola e o Relatório Mensal, sua versão nacionalizada.

De acordo com Bastos (p. 38- 39), a campanha de nacionalização estadonovista contou com a participação de diversos órgãos: “Ministério de Educação e Saúde, Ministério da Guerra, Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Ministério das Relações Exteriores, Conselho de Imigração e Colonização e Conselho de Segurança Nacional”. A partir da análise desse corpus documental podemos pensar no papel exercido pelo Ministério de Educação e Saúde e Ministério da Guerra durante esse contexto e como as práticas políticas exercidas pelo mesmo se diluíam no contexto de uma dada realidade social.

As trocas de correspondências entre as instâncias governamentais e a escola podem ser compreendidas como uma interação entre o grupo dominante e uma determinada esfera da sociedade. Através das manifestações de adesão, enfrentamento e resistência do Ginásio Teuto-Brasileiro Farroupilha tentaremos compreender a recepção das determinações nacionalizadoras a partir de sua emergência gradual. Comparando as interações entre o governo e a escola com os periódicos escolares, na documentação do

conselho escolar e nos relatórios de inspeção também podemos imergir na cultura escolar. Assim, podemos pensar como as normas definidas no governo eram apropriadas ou não através das práticas escolares.

Através da análise das fontes salvaguardadas por uma instituição específica podemos compreender melhor o processo da política de nacionalização do ensino não só nessa, mas também em outras instituições, devido às correspondências com exigências e censuras que eram enviadas para todos os estabelecimentos de ensino, tanto a nível estadual como federal. Partindo do pressuposto de que a política de nacionalização do ensino pode ser um problema tanto do campo educacional quanto do campo político, utilizaremos os pressupostos teórico metodológicos da História Cultural do Político, História Conceitual do Político e História da Educação.

5.2 O GINÁSIO TEUTO-BRASILEIRO FARROUPILHA E O ADVENTO DO