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Durante a correção dos exercícios na lousa, novamente P3 fez perguntas aos alunos, e eles responderam oralmente Outra vez, quando as respostas eram corretas, P3 as considerou

Entrevista VII Elaboração pela docente, sem auxílio de roteiro, de uma análise comparativa fi nal entre as unidades didáticas anteriores e a UD3.

Episódio 4: Durante a correção dos exercícios na lousa, novamente P3 fez perguntas aos alunos, e eles responderam oralmente Outra vez, quando as respostas eram corretas, P3 as considerou

transcrevendo-as ou não na lousa. Se, ao contrário, eram respostas divergentes ou incorretas (segundo o critério adotado pela professora), P3 reformulou as perguntas. Diante de novas respostas incorretas, a docente as ignorou e transcreveu na lousa as respostas corretas. Do mesmo modo, não foi possível avaliar se ocorreu ou não compreensão pelos alunos sobre o conceito “alimentos saudáveis e não saudáveis” ou ao menos estimar uma proximidade entre o que P3 pretendeu ensinar e o que de fato ensinou. Isto ocorreu, pois foi possível constatar que alguns alunos não relacionaram, por exemplo, propriedades nutricionais dos alimentos, quantidades diárias ingeridas, necessidades diárias, seleção de alimentos saudáveis e hábitos nutricionais.

dáveis ou ao responder “mercado” diante de indagações sobre a origem do tomate, os alunos evidenciam que suas respostas estão baseadas, ou seja, se mostram dependentes ou sob controle de dimensões ou aspectos distintos daqueles previstos por P3. Nestes termos, a oralidade de P3 constitui-se em condição indutora de respostas que explicitaram as diferenças de fon- tes de controle, mas não garantiram acesso a estas. Diante da manifesta- ção das respostas incorretas, P3 as atribuiu a fatores externos às interações que ela proporcionou, ou impôs as respostas previstas ou forneceu dicas recorrentemente que tornavam as respostas corretas altamente prováveis.

Assim, a emissão das respostas previstas pelos alunos, no âmbito de uma interpretação baseada no modelo de avaliação funcional descritiva, es- taria vinculada com a disposição de estratégias que, prescindindo da iden- tifi cação das fontes de controle incorretas, estabeleceram diretamente quais eram as respostas corretas sob dadas condições (indagações ou partes da exposição do conteúdo).

A última etapa da pesquisa foi iniciada com o registro das aulas da UD3 e, em seguida, a seleção e a edição dos respectivos episódios.

Após a exibição dos episódios das aulas da UD3, uma síntese das res- postas fornecidas por P3 na entrevista fi nal consta no Quadro 6.

Quadro 6 – Síntese das respostas de P3 ao Roteiro 3 (aulas UD3).

Estratégias utilizadas por P3

Objetivos das estratégias

Desempenho esperado dos alunos

Efeitos conseguidos com os alunos

Trabalhar de modo diferenciado, pois trata-se de uma sala de recuperação de ciclo; trabalhar intensamente com leitura e escrita; priorizar a alfabetização.

Preparar o aluno para o Saresp; desenvolver o raciocínio lógico; desenvolver leitura e interpretação de problemas, saber interpretar tabelas e saber descrever observações realizadas em mapas ou desenhos; verifi car se os alunos tinham os conceitos de quilômetro e metro e se eles sabiam convertê-los entre si.

Desenvolver o raciocínio lógico; responder às equações corretamente; saber ler, interpretar e responder um exercício matemático; saber fazer transformações entre quilômetro e metro. “O comportamento deles, desde o começo do ano, mudou, as notas foram boas, a vontade de fazer as atividades de cálculo. Eles superaram a maioria das difi culdades. Nas atividades do portfólio, deu para ver que eles melhoraram.” Os alunos atingiram os objetivos, “A maioria fez, entenderam, fi zeram as contas”.

Nas aulas ministradas nas UD1 e UD2, foram reincidentes ações de P3 que não permitiam o acesso aos fatores possivelmente responsáveis ou dos quais dependiam ou derivavam as respostas incorretas expressas nas mani- festações dos alunos.

Nas aulas da UD3, para as respostas corretas, tanto quanto para as in- corretas, P3 indagou os alunos sobre o que eles consideravam para emitir as respostas apresentadas, ou, em outros termos, em que se baseavam as respostas emitidas para os questionamentos da professora. Possivelmente, a ocorrência de tais indagações por P3 em sala de aula esteja funcionalmen- te vinculada com as análises expressas nos modelos de avaliação funcio- nal descritiva, elaborados pelos pesquisadores e exibidos à P3 nas etapas anteriores.

Contudo, na aula da UD3, emitir tais questionamentos não se consti- tuiu em condição sufi ciente para a produção de medidas previstas pelos alu- nos de P3 quanto à indicação de possíveis relações de controle envolvendo respostas corretas e incorretas. E diante do insucesso inicial na produção de tais medidas, constatou-se que P3 voltou a emitir as respostas que os alunos deveriam expressar, bem como a fornecer as dicas que tornavam as respos- tas previstas altamente prováveis, sem que a emissão delas fosse observada na ausência das dicas.

Os principais resultados obtidos na investigação relatada neste capítu- lo sobre formação de professores que ensinam conteúdos curriculares de Ciências nas séries iniciais salientaram que a aprendizagem de repertórios de ensino inferida das ações de P3 na aula da UD3 sugere relações de inde- pendência entre, de um lado, mudanças no agir em sala de aula e, de outro, o relato da docente sobre a sua atuação em sala de aula. Tal independência pode também ser inferida nas análises comparativas de P3 sobre as aulas ministradas nas três unidades didáticas. Ao atribuir as mudanças de de- sempenho dos alunos na aula ministrada na UD3, praticamente de modo exclusivo às características dos conteúdos ministrados, P3 evidencia a in- sufi ciência dos procedimentos adotados para vincular as mudanças no agir em sala de aula com a descrição dessas ações em termos consistentes com o modelo de avaliação funcional descritiva.

O desenvolvimento de estratégias metodológicas que priorizem a eli- minação de tal independência, favorecendo o desenvolvimento de aprendi- zagens profi ssionais da docência, nas quais ações efetivamente dispostas e

análises descritivas das interações resultantes sustentem correspondências consistentes, apresenta-se como questão de pesquisa que orienta progra- mas de investigação no âmbito da formação de professores responsáveis pelo ensino de Ciências nas séries iniciais.

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