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Fonte: Correntes alternativas de ganho (EHRENBERG e SMITH, 2000, p.323).

Neste contexto Ehrenberg e Smith apresentam um modelo matemático no qual determina a escolha em termos de investimento no ensino superior, a saber:

Onde:

= diferenças anuais nos ganhos entre os formandos em colégios secundários e em universidades no período 1;

= diferenças anuais nos ganhos entre os formandos em colégios secundários e em universidades no período 2;

r = taxa de juros ou taxa de desconto; T = período de tempo;

C = custos totais em educação universitária

)

1

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(1) A Ganhos Cessantes 0 18 Mensalidades Livros B 22 Idade do Trabalhador Ganhos (Dólares) Benefícios brutos 1

β

2

β

35

Interpretando a equação (1) sob o ponto de vista das variáveis: a. Taxa de desconto (r); b. Tempo (T); e c. Custo (C), pode-se afirmar que:

a. Taxa de desconto ou taxa de juros (r)

O investimento em educação universitária implica num importante retorno. Entenda- se retorno “a taxa interna de retorno ou um valor presente que deverá ser no mínimo igual ou superior ao custo do ensino superior”. (MORETTI, 2000, p.46). Quando a pessoa deseja auferir um rendimento imediato percebe uma taxa de desconto “r” muito elevada ficando o valor presente dos benefícios associados à universidade menor. Ehrenberg e Smith supõem que as pessoas orientadas para o presente freqüentem menos a universidade do que as pessoas orientadas para futuro, com a ressalva de que é muito difícil prever esta afirmação. Observa-se que as taxas de descontos utilizadas pelo indivíduo na decisão de investir raramente estão disponíveis porque tais decisões não são tomadas tão formalmente como expressa a equação (1). A formulação matemática desenvolvida pelos autores sugere que as pessoas orientadas para o futuro têm alta propensão em investir no ensino superior.

b. Tempo (T)

Outro quesito relevante diz respeito à idade, geralmente é nas idades mais baixas que se concentram os investimentos em educação universitária. O “T” é maior para as pessoas jovens e menor para as pessoas velhas. Os jovens têm um maior valor presente de benefícios totais porque têm uma vida de trabalho remanescente mais longa pela frente. A tendência será investir no ensino superior cedo na vida, de forma a maximizar o período de obtenção dos benefícios daí resultantes.

c. Custo16 (C)

O indivíduo que decide cursar uma faculdade o faz levando em conta os aspectos pecuniários associados à sua escolha – custos diretos e de oportunidade, e benefícios monetários. Os principais custos financeiros são ganhos cessantes e os custos diretos correspondem a mensalidades, livros e taxas. O custo de oportunidade diz respeito à impossibilidade do estudante poder trabalhar durante o período que está na universidade, impossibilidade de auferir rendimento. Ehrenberg e Smith ainda evidenciam os custos psicológicos, estudar e ser examinado muitas vezes consiste num trabalho enfadonho. O custo psicológico enfatiza que os alunos que se destacaram (bons alunos – notas boas) na escola na têm mais facilidade de aprender, ou seja, a capacidade de absorver a matéria é mais rápida do que aqueles que se saíram mal na escola. Assim, os custos psicológicos são menores para aqueles que obtiveram uma significativa base educacional na época de escola. Deduza custos psicológicos elevados para os alunos com conhecimento prévio (escolar) precário.

Belfield (2000) afirmar que a função demanda por educação pode ser útil para diversos propósitos, dentre eles poderá ser útil para explicar o fenômeno da evasão escolar, que poderá ser compreendida como uma denominação particular da demanda. (WALTENBERG apud BELFIELD, 2000, p. 71). A abordagem econômica do sistema educativo ficaria incompleta se apenas fosse apresentada à função demanda de educação universitária. Apesar ter sido pouca explorada, a oferta de educação passou a ser também objeto de estudo da teoria econômica. Os economistas admitem que apesar das suas peculiaridades, a educação consiste em um bem econômico e, por assim dizer, um bem escasso. Admite ser um bem escasso por causa da sua produção depender da renúncia feita pelo indivíduo em termos de recursos.

A função de produção educacional é o nome dado por economistas à relação existente entre uma série de "insumos" ao processo educacional e o seu "produto". Desde a publicação do Relatório Coleman17 sobre a qualidade das escolas públicas e privadas nos

Estados Unidos, desenvolveu-se uma literatura considerável sobre o tema, tanto em

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O custo constitui uma categoria de gasto e corresponde a soma dos valores de bens e serviços consumidos e aplicados na produção de outros bens e serviços. Os custos podem ser diretos e indiretos. Os custos diretos estão associados a um só produto enquanto o custo indireto está associado a diversos produtos ou serviços. Também são classificados em fixos (independe da firma ou instituição está produzindo ou não os bens e serviços), e variáveis (são valores consumidos ou aplicados que variam de acordo com a quantidade produzida).

economia como na área da educação. A forma geral da função de produção educacional é dada pela equação (2):

O desempenho do aluno (y) depende praticamente de cinco vários fatores agrupados: a característica pessoal do aluno (raça e gênero) indicada pela variável (c); uma medida do nível sócio-econômico do aluno (m), como por exemplo, a renda; as características dos colegas na escola (g); as características dos professores (p) – experiência do professor, salário, escolaridade; e demais características escolares (s). De acordo com Belfield os estudos empíricos consideram que o objetivo das escolas e do sistema educacional seria alcançar o nível agregado mais alto dos resultados escolares dos alunos. Desta maneira estariam definidas as variáveis dependentes (o produto do sistema) e explicativas (recursos) da equação da oferta de educação.

Nota-se que as discussões acerca da relação existente entre insumos monetários e produto do sistema educativo segue a pleno vapor e ainda não se chegou a um consenso entre os estudiosos sobre o assunto. Apesar das evidências empíricas, ainda se cogita que o desempenho escolar de cada aluno está muito mais relacionado com a sua origem sócio- econômica do que com os recursos injetados na produção da educação. Como pode ser verificado, as abordagens psicossocial e econômica percorrem uma linha de pensamento distinto, mas chega-se ao ponto comum de que a utilidade do aluno consiste na integração das duas visões. Quando a pessoa opta por cursar uma universidade está visando dois objetivos: a maximização do valor presente do retorno pecuniário dos anos que dispensou na faculdade, e a integração social de maneira a amenizar as diferenças sociais e melhorar substancialmente a competência técnica e especializada da sua mão-de-obra.

Mediante a retrospectiva apresentada neste tópico, é importante elucidar que os desafios encontrados pelos pesquisadores em desenvolver os estudos sobre a teoria do capital humano ainda é bastante significativa. De um lado, encontra-se o enfoque das “relações humanas”, que na realidade uniu a psicologia e a sociologia, que seria o embrião de uma série de experiências em torno do comportamento social na qual o presente capítulo 17

Relatório Coleman foi publicado em 1966. Um grupo de pesquisadores norte americano foi designado para desenvolver uma

pesquisa denominada Equality of Educational Opportunity Research durante o ano de 1965. A proposta foi coletar dados abrangentes para conhecer as desigualdades de oportunidades educacionais da população norte-americana.

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(2) 38

denominou de abordagem psicossocial. Referida abordagem mostra que a decisão do indivíduo optar pela entrada na universidade deve-se a complexidade da vida social e do mundo globalizado do trabalho. Conforme foi explanado, a motivação em cursar uma faculdade não pode ser avaliada apenas a partir de informações individuais, e o entendimento do seu comportamento têm que ter como base os grupos sociais com os quais o indivíduo se relacionava no ambiente familiar e social.

Do outro lado, a abordagem econômica evidencia o custo benefício da decisão em fazer um curso superior. Entretanto, quando se começou a examinar a revisão de literatura sobre a abordagem econômica verificou-se que a produção de estudos envolvendo a questão do elemento humano na produção cresceu e se diversificou a partir da perspectiva da abordagem psicossocial. E nesse ínterim se observou a emergência em apresentar a abordagem econômica quando evidencia a importância do capital humano com a idéia de que capital humano seja sinônimo de conhecimento técnico, estando diretamente relacionado com a educação que, por sua vez, assume o caráter de investimento e função estratégica na definição dos princípios axiais18 da estrutura da sociedade do mundo

globalizado.

Como forma de apresentar as duas abordagens, foi elaborado o QUADRO 2.2, a saber: QUADRO 2.2 (a) – destaca as idéias principais das abordagens psicossocial e econômica e o QUADRO 2.2 (b) - evidencia as principais teorias desenvolvidas para cada uma das mencionadas abordagens. Assim, enquanto o capital humano reside nos indivíduos destacando a questão da qualidade da educação, também depende do capital social que pode ser utilizado como um fator de crescimento macroeconômico.

18 Princípio axial – principio verdadeiro por si mesmo.

QUADRO 2.2

(a) - IDÉIAS PRINCIPAIS DAS ABORDAGENS PSICOSSOCIAL E ECONÔMICA

ABORDAGEM PSICOSSOCIAL ABORDAGEM ECONÔMICA

1. Parte do pressuposto que cada pessoa tem dois seres distintos: o individual – formado pelo estado mental do indivíduo, e o social – socialização do indivíduo com o meio em que vive.

2. A educação é considerada um bem social - processo de socialização que integra o indivíduo no contexto social e varia segundo o tempo e o meio.

3. A educação é caracterizada como um meio no qual o indivíduo integrar-se socialmente e assimila novos conceitos, hábitos, costumes, entre outros.

4. A decisão de o aluno optar em fazer um curso superior deve-se a complexidade da vida social e do mundo globalizado do trabalho.

5. Compreende o abandono de curso como um suicídio, ou seja, o indivíduo não se integra com o ambiente universitário – sistema acadêmico e o sistema social. 6. Outro motivo no contexto do abandono está na

questão psicológica: despreparo do aluno – histórico precedente do aluno na fase da educação básica muito deficitária; desemprego no país, entre outros. 7. A base familiar influencia no fato de proporcionar

capacidade financeira assegurando o compromisso do estudante universitário terminar o seu curso.

1. Parte do pressuposto que o crescimento e

desenvolvimento de uma nação seja alicerçada no capital humano – significa pessoas estudadas e especializadas

2. A educação é considerada um bem econômico e, por assim dizer, um bem escasso - por causa da sua produção depender da renúncia feita pelo indivíduo em termos de rendimentos.

3. A educação é caracterizada como um investimento baseado na maximização da utilidade individual, isto é, propiciam em médio e longo prazo uma maior oportunidade e rendimento no mercado de trabalho. 4. A decisão de o aluno optar em fazer um curso

superior dependerá de uma avaliação na relação custo benefício.

5. Compreende o abandono de curso por dificuldade em custear a universidade. E para aqueles que estudam em universidades públicas ainda incorrem de outros custos – despesas com livros, transporte, alimentação, moradia.

6. Outro motivo no contexto do abandono decorre da questão psicológica – custos psicológicos elevados para os alunos com conhecimento prévio (escolar) precário.

7. A base familiar influencia no fato de proporcionar capacidade financeira em pagar o curso e concluí-lo.

(b) - PRINCIPAIS TEORIAS DAS ABORDAGENS PSICOSSOCIAL E ECONÔMICA

ABORDAGEM PSICOSSOCIAL ABORDAGEM ECONÔMICA

1. Teoria do suicídio de Durkheim - o indivíduo que não se integra socialmente terá uma maior tendência para o suicídio.

2. Modelo conceitual do atrito do estudante universitário segundo Spady – a tendência suicida aumenta nos povos que não foram integrados social e normativamente em seu sistema social existente. 3. Modelo da análise do trajeto de Tinto – a saída

intencional do aluno é ocasionada pela falta de integração entre dois sistemas: o sistema acadêmico e o sistema social.

4. Teoria da Participação de Astin – quanto mais envolvido o aluno estiver com o ambiente universitário mais elevada será a probabilidade da retenção do discente na universidade.

5. Teoria de Van Gennep – utiliza a expressão ritos de passagem que compreendem três fases: separação, transição e incorporação. E Tinto adaptou para o estudo da evasão universitária: separação – desassociação da escola secundária para a universidade; transição – passagem das velhas normas e padrões para novas normas e padrões; e, incorporação – a meta pessoal do aluno e os compromissos estão no mesmo nível de satisfação.

1. Jacob Mincer introduziu o conceito "capital humano" na economia do trabalho e formalizou a questão da desigualdade da renda pessoal.

2. Schultz foi quem formalizou a Teoria do Capital Humano. Ele enfatiza as contribuições do fator humano na produção e nos processos de crescimento/desenvolvimento econômico e no retorno do investimento em educação.

3. Gary Becker – valeu-se da Teoria do Capital Humano para justificar as diferenças de salários como sendo de responsabilidade dos próprios trabalhadores e evidenciou que a educação, isto é, o investimento na autoformação aumenta a produtividade e os rendimentos futuros.

Fonte: Dados trabalhados pela autora desta dissertação.

A apresentação das abordagens psicossocial e econômica justificam-se pelos seguintes motivos:

• A abordagem psicossocial trata o conceito de capital social que inclui as relações sociais (sociológica) e os aspectos psicológicos;

• A abordagem econômica introduziu o conceito de capital humano.

Assim verificamos que enquanto o capital humano reside nos indivíduos destacando a questão da qualidade da educação, também depende do capital social que pode ser utilizado como um fator de crescimento macroeconômico. Enfim, a contextualização sobre a literatura da evasão está dia a dia sendo incrementada com novos estudos científicos como é o caso desta dissertação.

CAPÍTULO 3

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