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QUADRO 2.1 – UMA REVISÃO DA LITERATURA ECONÔMICA Autor Abordagem econômica – Teoria do Capital Humano

Adam Smith (1723-1790)

Escola Clássica

O Filósofo-economista afirma que quanto mais dispendiosa for a formação da pessoa, maior seriam os seus ganhos econômicos. Smith lança a idéia que a educação é uma forma de investimento que traz benefícios privados que consiste no germe das teorias da demanda por educação. Dentre todas as riquezas de um povo, sua cultura e educação são indubitavelmente fatores determinantes para seu desenvolvimento econômico e participação social. Defende o fato da educação ser uma medida suficiente para afastar a classe inferior da completa ignorância.

“Mesmo que o Estado não viesse a tirar qualquer vantagem da instrução das camadas inferiores do povo, deveria mesmo assim, interessar-se por que não fossem completamente ignorantes”. (SMITH, 1980, p.425).

John Stuart Mill (1806-1873)

Escola Clássica

Filósofo e economista inglês, um dos pensadores liberais mais influentes do século XIX é defensor da não interferência do governo nas decisões dos cidadãos, isto é, defende a liberdade de escolha do indivíduo. Todas as classes da comunidade, até as mais baixas, deveriam usufruir da educação (aprendizado) e isto modificaria significativamente os hábitos e cultura da população. Através da educação observa-se o aperfeiçoamento intelectual e mudança positiva nos hábitos da população. Um exemplo seria o controle da natalidade. Pensador reconhece a importância da educação e o dever do Estado em mantê-la: "A educação, portanto, é uma

dessas coisas que é admissível, em princípio ao governo ter que proporcionar ao povo" (MILL, 1983, p. 404).

Alfred Marshall (1842-1924) Escola Neoclássica

Economista britânico, um dos expoentes da escola neoclássica, desenvolveu o conceito de Utilidade Marginal. Autor da obra de sistematização Princípios de Economia. Baseado no contexto da economia abordou o investimento em educação como um fator importante do ponto de vista macroeconômico: “o mais valioso de todos os capitais é o que se investe em seres

humanos” (MARSHALL, 1982b, p.190).

Milton Friedman (1912)

Escola de Chicago - Neoliberalismo

Economista norte-americano, autor da obra Capitalismo e Liberdade. Nesta obra destaca a função do governo na educação. Entende que um mínimo de educação geral aos cidadãos contribui de forma razoável para a aceitação de valores que considera indispensáveis para a estabilidade de uma sociedade. Ele propôs um esquema simples e de enorme repercussão social no qual tirava do Estado a responsabilidade da educação. Defende a idéia de que o dinheiro mal aplicado nos estabelecimentos público de ensino deveria ser convertidos em "vouchers" ou cupons para cada aluno, de tal forma que, com esses recursos os pais conseguiriam pagar a mensalidade de uma escola privada. Os pais escolheriam o melhor colégio para seus filhos e, também, passariam a interferir mais no processo educacional, exigindo melhores cursos e qualificação dos professores, pois poderiam facilmente mudar seus filhos de colégio.

Jacob Mincer

(1922) Mincer introduziu o conceito "capital humano" na economia do trabalho e buscou explicar os diferenciais de salário decorrente do nível de escolaridade (antes de G.S. Becker e T.W. Schultz). Buscando a relação entre investimento em capital humano e a produtividade, Mincer extraía uma conclusão de que a dispersão dos rendimentos entre as diferentes ocupações deve estar relacionada positivamente ao volume do investimento em capital humano feito nelas.

Theodore Wilhain Schultz (1902 – 1998)

Teoria do Desenvolvimento Econômico e Crescimento

Economista americano, professor da Universidade de Chicago (1943-1972), Prêmio Nobel de Economia em 1979. Schultz foi quem formalizou em 1962 a Teoria do Capital Humano que, por sua vez, gerou expressivo impacto no Terceiro Mundo. Para Schultz, o esforço de a pessoa investir em si mesma propicia uma ampliação no raio de escolha de melhor oportunidade de emprego a fim de obter o seu bem-estar. Ele salienta que além das melhorias nos ordenados e nas ocupações, os benefícios incluem a cultura e outros ganhos não monetários, sendo os custos normalmente dependentes do valor obtido mediante o tempo gasto nesse investimento, a taxa de desconto intertemporal.

Gary Stanley Becker (1930)

Escola de Chicago – Neoliberalismo

Em 1992, ganhou o Prêmio Nobel em Economia. Juntamente com Schultz, desenvolveu o conceito de Capital Humano. Becker, utiliza amplamente a ferramenta da Microeconomia Neoclássica, para avaliar o comportamento dos indivíduos. Becker valeu-se da teoria do capital humano para explicar que a educação corresponde a um investimento que o indivíduo faz para si mesmo. Quanto mais o indivíduo investir na auto formação, isto é, na constituição do seu capital pessoal maior valor de mercado terá. "Nem países ricos nem países pobres. A diferença,

doravante, estará entre povos educados e povos ainda não educados." Gary Becker, prêmio Nobel de Economia.

Fonte: Dados trabalhados pela autora desta dissertação.

Schultz e Mincer atentam para a relação de causa e efeito, eles partem da premissa que a educação formal proporciona uma elevação na produtividade do trabalhador e na sua rentabilidade (salário). Estes estudiosos enfatizaram também a seguinte questão:

“O nível educacional dos pais exerce influência positiva sobre o rendimento dos filhos, ou seja, o rendimento esperado dos filhos é acrescido em pelo menos 11% e 3%, respectivamente, pelo nível educacional do pai e da mãe”.(CHICAGO, 1993).

Gary Becker realizou um estudo ainda mais sério no que se refere à teoria do capital humano. O autor destaca a impossibilidade de se desvincular da pessoa a sua habilidade, conhecimento, destreza e outros aspectos que determinam os seus estoque de capital humano, mas isto não implica que as pessoas sejam consideradas bens de capital. Para Becker, a pessoa utiliza o tempo em diferentes etapas da vida: produzir bens e serviços fora do mercado; produzir capital humano, investindo em educação; e retribuir a produção, momento em que está aplicando o seu conhecimento no mercado de trabalho. Se por um lado, Schultz trata a educação como função de produção no intuito de resolver os problemas de estimação das fontes de crescimento econômico, de outro lado, Becker defende a importância do investimento em capital humano sob o ponto de vista individual. A atenção comum evidenciada pelos dois autores diz respeito à questão do investimento no ensino superior, assunto de grande relevância para este trabalho.

Becker enfatiza a dificuldade de se fazer o cálculo preciso dos retornos privados e sociais. Um exemplo mencionado pelo autor é dos alunos que estudam em universidades públicas. Eles não pagam mensalidades, mas nem por isso são isentos de outros custos, tais como: despesas com livros, transporte, alimentação, moradia, entre outros. Outro ponto de grande destaque está no momento do aluno universitário decidir por um curso superior. Aqui estão implícitos muitos fatores, a saber: atitude em relação à vida universitária e ao estudo; tipo de atividade que o aluno já desenvolve quanto este já está no mercado de trabalho; os custos do investimento no ensino superior que envolve custo monetário e custo psíquico. Para Becker, quanto mais o indivíduo investir na autoformação, na constituição do seu capital pessoal, tanto mais valor de mercado teria. Ele salienta que também que os indivíduos são desigualmente dotados do saber, ou seja, para alguns a formação exige muito mais esforço que para outros. Ainda expressando o pensamento de Becker, a educação deve ser colocada no alto das prioridades de uma economia emergente. Conforme entrevista apresentada na revista Exame (1997), Becker afirma que já é tempo do Brasil emergir, isto é, no momento em que começar a promover melhor educação estará caminhando para uma economia emergente.

“Numa economia emergente, é necessário haver um sistema educacional decente, que não seja restrito às elites, mas disseminado para toda a população, de forma a criar uma base bastante forte e ampla. Existem duas razões para a imensa atenção que a educação vem despertando em todo o mundo. São substanciais as evidências de que os países que investiram volume considerável de recursos para educar suas populações obtiveram maior desenvolvimento econômico. Em segundo lugar, a difusão da educação é uma maneira de aumentar a igualdade de oportunidades, sobretudo entre as camadas mais pobres da população e famílias da classe média baixa. Do ponto de vista do crescimento econômico, que o Brasil deseja alcançar de forma sustentada, a educação será uma ferramenta muito útil”. (EXAME, 1997).

Outro ponto importante junto ao pensamento de Becker diz respeito ao capital humano como um fator estratégico do crescimento de qualquer economia. Ele admite que o capital humano é formado pela educação (componente mais importante) e o treinamento no local do trabalho. A instrução e o treinamento são investimentos os mais importantes no capital humano. Becker afirma que em uma economia moderna, o fator mais relevante é o capital humano. Apesar do maquinário ser necessário, sem uma forte base de capital humano, usado de maneira eficaz, nenhuma economia será capaz de crescer. Assim, as evidências mostram que os países que mais crescem são aqueles que promovem o capital humano de forma mais eficaz. Voltando-se para o caso do Brasil, Becker retrata que a atitude do Brasil em estar dando ênfase para a reformulação do ensino fundamental é muito positiva. O autor afirma que para uma economia emergente, o grande desafio seria dar aos alunos habilidades básicas13 em termos de saber escrever razoavelmente bem, ter certo

conhecimento de matemática e computação.

No que se refere às experiências bem sucedidas no exterior, o autor sinaliza alguns exemplos de países que não são ricos e que passam uma lição positiva para os países em estágios de desenvolvimento econômico. Para o autor os países em estágio de desenvolvimento ainda continuam adotando um sistema educacional errado14, apesar de

possuir boas escolas. Segundo Becker, os Sul-coreanos possuem um bom sistema de ensino elementar e secundário, além de existir uma grande ênfase na educação entre as famílias. Pelo o nível de renda deste país, a prioridade observada junto ao ensino é muito superior às dos outros países. O mesmo ocorre nos países asiáticos tais como: Taiwan e

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Habilidades básicas – entendidas como o domínio funcional da leitura, escrita e cálculo, no contexto do cotidiano pessoal e profissional, além de outros aspectos cognitivos e relacionais – como raciocínio, capacidade de abstração – necessária tanto para trabalhar como para viver na sociedade moderna. (OLIVEIRA, 2004).

14Um exemplo mencionado por Becker é Cuba. “Há quem diga que a educação em Cuba é boa, mas boa em que sentido? A economia é organizada de maneira tão desastrada que é difícil dizer. O que se sabe é que seu desempenho econômico é péssimo. Não adiante ter boas escolas num sistema errado”.(EXAME, 1997).

Hong Kong. Na América Latina, Becker afirma que o Chile está se saindo muito bem nesta área. Por fim, Becker alerta que se o Brasil não conseguir reformar de maneira eficiente o seu sistema educacional terá de enfrentar problemas futuros.

“Um fracasso na educação irá comprometer a taxa de crescimento do país e poderá afetar as tensões sociais devido às desigualdades substanciais no Brasil. Existem riscos com os quais qualquer país tem de se confrontar por não obter um bom desempenho de seu sistema educacional. Quão sérios serão, não posso dizer”.(EXAME, 1997)

Ehrenberg e Smith (2000) apresentam uma análise da demanda por educação universitária enfatizando a importância relativa do investimento15 em capital humano.

Conforme os autores, os retornos esperados sobre o investimento em capital humano geram, a médio e longo prazo, maiores ganhos, maior satisfação no emprego durante o período de vida da pessoa e uma maior apreciação no ambiente das atividades fora do mercado. Ehrenberg e Smith afirmam que existem duas opções para obtenção de ganhos (salário) durante a vida de uma pessoa. A primeira opção é da pessoa (segundo grau) optar por trabalhar. Conforme está exposto no GRÁFICO 2 – Fluxo A, a pessoa opta pelo emprego possuindo apenas o nível médio ou profissionalizante, recebendo durante toda a vida um ganho cessante, isto é, um salário que não irá elevar muito.

A segunda opção consiste no indivíduo ingressar em um curso universitário. Durante os quatro anos de estudo, a pessoa tem uma renda negativa, porém quando termina a faculdade o salário torna-se superior ao da pessoa com o segundo grau. (Gráfico 2 – Fluxo B). Como pode ser observada no fluxo B, a decisão de fazer uma faculdade compromete a pessoa a gastar determinado montante de recursos antes de receber os benefícios, ou seja, investimento no momento presente a fim de obter um benefício futuro. De acordo com as curvas explanadas no gráfico acima, nota-se que o Fluxo A pressupõe inicialmente ganhos cessantes implicando uma média estável de rendimentos. O Fluxo B expressa rendimentos decrescentes, quando na medida em que cada ano vai passando o aluno gera maior acréscimo de conhecimento quando se espera no término do curso (bacharel) um rendimento positivo e superior ao trabalhador caracterizado no fluxo A.

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Para Ehrenberg e Smith os gastos de investimentos são divididos em três categorias, a saber: “1. As despesas à vista ou diretas incluem mensalidades escolares e livros (educação), as despesas de mudança (migração) e de gasolina (busca de emprego); 2.Os ganhos cedidos constituem outra fonte de custo porque, durante o período de investimento, normalmente é impossível trabalhar, pelo menos em tempo integral; 3. As perdas psicológicas são um terceiro tipo de custo incorrido porque a educação é difícil e freqüentemente enfadonha, porque a busca de emprego é tediosa e irritante e porque a migração significa abandonar os velhos amigos.” (EHRENBERG E SMITH, 2000, p.320)

GRÁFICO 2

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