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2 SABERES NECESSÁRIOS À PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

2.1 CAMINHOS METODOLÓGICOS SUGERIDOS

2.1.1 Cotidiano

O ensino de geografia, nos dias atuais, possui teorias e práticas que o professor precisa conhecer e saber utilizá-las em seu ofício. Como mediador do processo de ensino, é importante que o professor saiba que a aprendizagem dos alunos está vinculada aos saberes que transitam entre os conteúdos da disciplina, bem como daquele conjunto de informações que circulam cotidianamente no meio social, ou seja, os conhecimentos que fazem parte do senso comum.

Ao referenciar essa discussão no ensino de geografia, focamos mais diretamente o interior da sala de aula, mais especificamente na atuação direta do professor com a aprendizagem do aluno. A esse respeito, consideramos que a aprendizagem se tornará mais efetiva se houver a contextualização dos conteúdos da referida disciplina com o cotidiano do aluno. Conforme Cavalcanti (2013), para se alcançarem os objetivos no ensino de geografia, é importante que a abordagem dos conteúdos esteja vinculado ao cotidiano, em que a forma rígida de ensino, através de informações prontas e acabadas do professor para o aluno, não acabe prevalecendo, mas permita a construção de um conhecimento contextualizado com a realidade.

Baseando-se nessa visão, aprender geografia torna-se mais atrativo e prazeroso, além de proporcionar aos educandos as oportunidades para o seu desenvolvimento, que inclui valores e atitudes em ação e reflexão. Ressaltanto o que afirma Cavalcanti (2012, p. 126), “[...] trata-se de envolver os alunos em temas de seu interesse mais imediato, voltados para suas práticas sociais [...]”. Considerando essa reflexão, podemos afirmar que a aprendizagem é significativa quando a abordagem curricular (nesse caso, os conteúdos de geografia) está articulada às informações que circulam livremente no cotidiano dos alunos.

Essas discussões sobre o ensino de geografia partem da tradição de um ensino mecanicista, dissociado das práticas interacionais do cotidiano. Pelo exposto, é preciso afirmar que “[...] há toda uma cultura escolar de transmissão de conteúdos descontextualizados e sem abertura para relações entre disciplinas e o mundo cotidiano” (COMPIANI, 2002, p. 180). Em contraponto a essa visão de ensino, é preciso repensar na reestruturação das disciplinas nas útimas décadas. Tomando como referência o ensino de geografia neste trabalho, podemos destacar as alterações das teorias e práticas, tendo em vista que a educação é um processo em permanente construção; feita de avanços e recuos e qualquer renovação da referida disciplina, deve-se considerar seu caráter dinâmico.

É necessário que o professor desenvolva, no âmbito do ensino de geografia, os recursos didático-metodológicos, que despertem no aluno o interesse pelo tema, pela conversa, pela busca de resolução, consequentemente pela própria disciplina. Considerando essa realidade, é preciso que a referida disciplina mantenha distância do caráter teórico, mnemônico, sem significado e alheio ao cotidiano do aluno. Pelo exposto, Guimarães (1995, p. 40) afirma que: “[...] se, em uma aula, o educador se detiver apenas no conteúdo pelo conteúdo, não o relacionando à realidade, estará descontextualizando esse conhecimento, afastando-o da realidade concreta, tirando seu significado e alienando-o”.

Considerando que o lugar onde o indivíduo ou a sociedade se encontram acaba constituindo relações singulares, entre as quais, podem-se elencar as vivências, as experiências6, as percepções e as memórias. São, portanto, elementos importantes na constituição do saber geográfico. Conforme Cavalcanti (1998), a construção do conceito de lugar pelos alunos tem encontrado na Geografia Humanística7 uma grande contribuição, sendo uma dimensão fundamental no permanente processo de conhecimento.

Pelo exposto, sabemos que os vínculos do aluno com o seu lugar estão relacionados à qualidade e a intensidade das experiências, com os sentimentos e as imagens que se produzem no cotidiano. Diante disso, podemos afirmar que as experiências vivenciadas em contato com a realidade do aluno são necessárias para romper com o distanciamento existente dos conteúdos no ensino de geografia, permitindo uma aprendizagem significativa. Nessa reflexão, Tuan (1983) afirma que a realidade concreta de um lugar só é alcançada, se as

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A “[...] experiência é um termo que abrange as diferentes maneiras através das quais uma pessoa conhece e constrói a realidade [...] implica a capacidade de aprender a partir da própria vivência. Experenciar é aprender; significa atuar sobre o dado e criar a partir dele [...] uma criação de sentimento e pensamento” (TUAN, 1983, p. 9 - 10).

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A Geografia Humanística procura um entendimento do mundo humano através do estudo das relações das pessoas com a natureza, do seu comportamento geográfico bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do lugar (TUAN, 1985, p.145).

nossas experiências com ele forem intensas e contínuas, ainda assim, devem-se suscitar os cinco sentidos: audição, olfato, visão, tato, paladar, como pontos fundamentais, que propiciam uma mente ativa e reflexiva.

Conforme já explicitado, o professor de geografia, como mediador do conhecimento, pode construir com os alunos o próprio conceito de lugar. É a identidade dos indivíduos com o lugar, que possibilita a compreensão do mundo vivido no ensino de geografia. Segundo Cavalcanti (1998), durante o processo na construção de conhecimento, o discente já tem formado a sua própria base subjetiva do conceito de lugar, além de permitir a identificação e compreensão da geografia de cada um, leva-os a uma reflexão básica sobre a espacialidade das práticas cotidianas.

Nessa discussão, o significado do termo lugar é organizado como um conceito estático, se o mundo fosse visto como um processo, em permanente transformação, esse mesmo conceito seria impossível (TUAN, 1983). Diante disso, podemos afirmar que cada lugar tem seus objetos e símbolos e nele se coadunam as experiências e as vivências das pessoas que encontram-se fazendo parte.

A própria vivência que têm os indivíduos com o seu lugar e o seu entorno, com a sua vizinhança, a sua comunidade, faz com que as experiências sejam adquiridas. Conforme Cavalcanti (2008), a moradia constitui o ponto de referência mais próximo que o aluno tem do seu cotidiano, o seu lugar que lhe é mais familiar, ponto de convergência e privacidade, é o seu próprio abrigo. Nessa perspectiva, podemos afirmar que apesar de uma sala de aula congregar alunos com diferentes percepções sobre o lugar, a sua moradia constitui num ponto de pouso, em que há um laço forte de identidade.

Durante a aula, o professor de geografia pode partir da própria realidade em que os alunos vivem, considerando os diferentes lugares da cidade ou do meio rural e as mais diversas concepções que os alunos têm sobre os mesmos. Segundo Cavalcanti (2013), é possível que a abordagem sobre a cidade exerça um papel de grande relevância para o ensino num momento em que o aluno vivencia a sua cidadania com fortes características do urbano, sem desvencilhar-se das diferentes carcaterísticas do mundo rural.

Ao se enfatizar o cotidiano do aluno, é importante considerar as características naturais que fazem parte da sua vivência, mesmo da mais imediata. No ensino de geografia, o professor pode abordar sobre o perfil do solo, os diferentes tipos de rochas, formas diversas de relevo, os cursos dos rios e sua periodicidade; embora todas essas informações sejam importantes, é necessário que o aluno entenda as influências que terão esses conhecimentos para a sua vida prática (MORAIS, 2013). Nesse sentido, as características físico-naturais estão

mais presentes no cotidiano de um aluno que vive num espaço rural do que um aluno que se encontra na cidade. A apropriação desse conhecimento deve estar imbricada no processo de ensino e aprendizagem, em que o professor deve abordar os conteúdos de geografia relacionando-os a esses aspectos, identificando a realidade de vida dos alunos e fazendo as intervenções necessárias.

A partir dessa exposição, é preciso afirmar que o lugar é onde efetivamente vivem os indivíduos, onde o passado e o presente se revelam no espaço e na memória, onde as relações de harmonia ou conflito são comuns, onde as pessoas se divertem e reivindicam as melhorias necessárias ao exercício da cidadania. Em relação a isso, configura-se a compreensão de que o professor, como mediador do processo de ensino-aprendizagem, deve ter conhecimento sobre a realidade socioespacial em que vive o aluno, que enfrente o desafio de buscar o interesse do mesmo para aulas de geografia, mas sabendo que as inter-relações com o cotidiano são um saber necessário para o exercício de ensino.