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2 SABERES NECESSÁRIOS À PROMOÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

2.1 CAMINHOS METODOLÓGICOS SUGERIDOS

2.1.4 Relação local/ global

A realidade do mundo atual é marcada pelo intenso processso de globalização que, por sua vez, está relacionada às inovações no campo tecnológico das informações, comunicações e transportes. Esse fenômeno é possível, na medida em que as redes e os fluxos trouxeram uma maior conexão entre as diferentes partes do mundo, aproximando os lugares, encurtando as distâncias, estabelecendo o encontro dos povos e suas peculiaridades culturais, políticas e econômicas. Nesse contexto, houve trasnformações no modo de vida das pessoas, na medida em que as inovações tecnológicas se expandiram pelo mundo e o acesso a elas foi se efetivando.

Nessa discussão, ressalta-se que a invenção do computador é revolucionária e, no momento atual, é considerada uma ferramenta indispensável pelo grau de importância que lhe foi atribuído. Em conformidade com essas reflexões, o avanço tecnológico permitiu uma maior integração entre os países, em que as fronteiras foram esvanecendo, contribuindo para uma maior ligação e interdependência entre os mesmos. Segundo Santos (2006), o mundo atual é marcado pela técnica da informação e comunicação, que são imprescindíveis à

interdependência entre os diferentes espaços. Essa realidade vai permitir a convergência do momento e a ideia de encolhimento9 do planeta, acelerando ainda mais o processo histórico.

Percebemos que as tecnologias já são amplamente conhecidas e fazem parte do cotidiano de muitas pessoas, elas são favoráveis à comunicação a longas distâncias e a difusão de informações permitem que as empresas aumentem suas vendas pela internet, possibilitam ao consumidor maior comodidade no ato de realizar suas compras e oferecem condições aos estudantes de realizarem seus cursos on line.

Nas últimas décadas, houve uma expansão dos espaços da globalização. Ela pode alcançar a qualquer parte do planeta, logo sua função é homogeneizadora. Nessa reflexão, Cavalcanti (2012, p.48) afirma que “[...] no mundo contemporâneo, há uma complexificação do espaço, que se tornou global. O espaço vivenciado hoje é fluído, formado por redes com limites indefinidos e/ou dinâmicos, e ultrapassa o lugar de convívio imediato”.

Conforme Santos (2008, p. 314):

Essa é uma realidade tensa, um dinamismo que se está recriando a cada momento, uma relação permanentemente instável, e onde globalização e localização, globalização e fragmentação são termos de uma dialética que se refaz com frequência.

Pelo exposto, podemos afirmar que os fatores sociais, políticos e econômicos de um lugar podem ser um entrave ao desenvolvimento capitalista, como também, ao processo de globalização. De acordo com Haesbaert; Limonad (2007), a homogeneização causada pelo processo de globalização poderia dissolver as culturas e identidades locais. Porém, essa realidade não se concretizou, o que se percebeu foi uma globalização seletiva a determinados espaços, muitas vezes tendo por obrigação a se adaptarem às realidades locais.

Nesse momento em que a globalização é predominante, considera-se de grande importância a compreensão sobre o lugar. Segundo Callai (2003, p. 64):

Num mundo em que tudo está globalizado e que a informação ultrapassa todo tipo de fronteiras, encaminhando a que tudo se subordine a mesma lógica, homogeneizando a tudo e a todos, torna-se fundamental resgatar a construção da identidade e do pertencimento dos sujeitos. Nessa perspectiva nada mais adequado do que estudar o lugar que se vive.

9 Foram necessários três anos para Magellan desse a volta ao mundo por mar (1519-22). Eram necessários ainda

80 dias para que um intrépido viajante do século XIX, utilizando estradas, trem e navegação a vapor, desse a volta ao mundo. No final do século XX, o avião a jato circunda-o em 24 horas. E, principalmente, tudo está instantaneamente presente, de um ponto do planeta ao outro, pela televisão, pelo telefone, pelo fax, pela internet (MORIN, 2011, p. 58).

Com base no exposto, é conferida a ideia de pertencimento de um lugar e a identidade que nele se constrói ao longo do tempo, contrapondo-se ao processo de globalização, que se apresenta bastante complexo e dinâmico. Em relação a isso, sabe-se que é no lugar mais próximo e conhecido do aluno, que há uma estreita relação com os seus pensamentos e sentimentos, fazendo parte as experiências, as vivências e as memórias que se constroem. No entanto, é preciso afirmar que a realidade espacial em que vive o aluno, nem sempre dispõe de uma adequada infraestrutura, faltam moradias, empregos, áreas de lazer, além de atendimentos básicos à população, como saúde e educação, entre outros.

Em conformidade com essas reflexões, Cavalcanti (2012, p. 48) ressalta que:

No mundo contemporâneo, há uma complexificação do espaço, que se tornou global. O espaço vivenciado hoje é fluído, formado por uma rede de limites indefinidos e/ou dinâmicos e ultrapassa o lugar de convívio imediato. É, também, um espaço extremamente segregado e segregador, onde cresce a cada dia o número de excluídos, de violentados, de desempregados, de sem- terra, de sem teto.

De acordo com Santos (2005, p. 170) “[...] a ordem global busca impor, a todos os lugares, uma única racionalidade. E os lugares respondem ao mundo segundo os diversos modos de sua própria racionalidade”. No âmbito da globalização, cada lugar tem suas próprias características, por isso é único para dar sentido à existência do indivíduo. Para Santos (2008, p. 339) “[...] cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global e de uma razão local, convivendo dialeticamente”. Diante disso, é importante que leve sempre em consideração a reciprocidade que deve existir entre as escalas local e global, ou seja, na maneira como essas duas realidades interagem.

No que diz respeito a essa abordagem, os Parâmetros Curriculares Nacionais de geografia defendem que:

A entrada num tema pode ser feita tanto de uma forma como de outra. O importante é que não se perca essa relação dialética na explicação, mesmo porque, na realidade atual os meios de comunicação colocam a informação de forma instantânea e simultânea. Portanto, apresentam o mundo onde a dicotomia do local e global cada vez menos é percebida (BRASIL, 2001, p. 31).

Pelo exposto, sabemos que ao abordar os lugares vividos, familiares na sua relação dialética com o não familiar, com o estranho à vivência, com os processos globais, pode ser um arranjo de conhecimentos fundamentais ao ensino de geografia e propiciar, nessa

perspectiva, o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. De acordo com Compiani (2002, p. 180), é “[...] preciso demonstar que é uma boa abordagem partir do local para o geral, uma vez que a localidade encerra questões da globalidade e, a partir destas, pode-se construir um vaivém entre o local e global, particular e geral, singular e histórico”.

Na visão de Massey (2000, p. 184) desvela-se “[...] um sentido de lugar que é extrovertido”, ou seja, o lugar deixa de ser áreas isoladas do planeta e passa a ser analisado a partir de sua relação com outros lugares. Nessa reflexão, é importante que o lugar seja compreendido a partir das suas ligações com um mundo mais amplo e de forma positiva se estabeleça a integração do local e o global. Ao referir-se a essa posição, Souza (2013, p.120, grifo do autor) afirma:

É certo que é preciso avançar para além de Tuan e outros „geógrafos humanísticos‟, da década de 1970, mas Massey, a despeito de sofisticação de sua análise, não chega a esgotar a tarefa de colaborar para que se produzam „anticorpos‟ capazes de nos defender de uma „simpatia exagerada‟ para com os lugares.

Nessa discusão, cada local apresenta suas especificidades, com características que conferem a esses espaços uma singularidade, mas o sentido desse lugar só é construído por meio da ligação que tem com outros lugares. Conforme Massey (2000, p. 184), existe a necessidade de “[...] consciência global do lugar”. Nessa visão, sabe-se que cada lugar encerra em si mesmo suas próprias peculiaridades, mas a globalização permitiu que o lugar sofresse influência de outros lugares. Segundo Santos (2008, p. 314) “[...] cada lugar é, a sua maneira, o mundo”.

De acordo com Cavalcanti (2012), no âmbito do ensino da geografia, é preciso ter o lugar como escala de análise de referência para compreender escalas mais amplas, ou seja, deve-se ir do local ao global e deste ao local, caminha-se no sentido de dar significado aos conteúdos geográficos para o próprio aluno, pois é no lugar que manisfesta-se elementos da realidade mais ampla, que é global. Nessa perspectiva, Santos (2008, p. 321-322) afirma:

A localidade se opõe à globalização, mas também se confunde com ela. O Mundo, todavia, é nosso estranho. Entretanto se, pela sua essência, ele pode esconder-se, não pode fazê-lo pela sua existência, que se dá nos lugares. No lugar, nosso Próximo, se superpõem, dialeticamente, o eixo das sucessões, que transmite os tempos externos das escalas superiores e o eixo dos tempos internos, que é o eixo das coexistências, onde tudo se funde, enlaçando, definitivamente, as nações e as realidades de espaço e de tempo.

Diante disso, podemos dizer que encontrar no local as manifestações que se articulam com o global é mais do que entendê-lo. É na verdade a admissão de que fazemos parte do mundo e de que nele podemos realizar ações. Conforme Hissa; Corgosinho (2006, p.8) “[...] o mundo está um pouco no interior de cada lugar”. Nesse caso, podemos afirmar que estudar o local não é ignorar o global.

De acordo com Carlos (2009, p. 22) o lugar é um “[...] ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local enquanto especificidade concreta, enquanto momento”. Assim, o lugar é visto como uma parcela do espaço, onde se dá a construção social; além disso, este possui a dimensão concreta do real onde se encontra a totalidade e as particularidades.

Na atualidade, a compreensão sobre o lugar perpassa para além das suas fronteiras, tendo em vista a grande articulação entre o local e o mundial. De acordo com Carlos (2009, p.15) “[...] a globalização materializa-se concretamente no lugar, aqui se lê/percebe/ entende o mundo moderno em suas múltiplas dimensões, numa perspectiva mais ampla, o que significa dizer que no lugar se vive, se realiza o cotidiano e é aí que ganha expressão o mundial”. Conforme Santos (2008, p. 314), “[...] para apreender esssa nova realidade do lugar, não basta adotar um tratamento localista, já que o mundo se encontra em toda parte”.

2.2 TEMAS GERADORES: PROPOSTAS CURRICULARES PARA UM ENSINO DE