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COTIDIANO, CULTURA E TRABALHO: OS BRASILEIROS E A VIDA NA GUINA FRANCESA

3 CARACTERIZAÇÃO DO MOVIMENTO MIGRATÓRIO PARA A GUIANA FRANCESA

3.3 COTIDIANO, CULTURA E TRABALHO: OS BRASILEIROS E A VIDA NA GUINA FRANCESA

Uma das decisões mais difíceis que uma pessoa pode tomar na vida, talvez seja o ato de deixar seu país, seus familiares e se tornar um imigrante. Geralmente, isso não ocorre do dia para a noite. Temos que analisar este ato, para não incorrermos em erros, numa perspectiva contextual. Uma série de fatores contribui

para essa decisão, que geralmente e simbolicamente é anunciada na primeira pessoa do singular: “eu vou embora”. Entretanto, tudo leva a crer que a palavra final está com as estruturas socioeconômicas que cercam esse indivíduo, e pior, de forma compulsória. De maneira bem objetiva, Osvaldo Rodrigues da Silva, garimpeiro, 34 anos, relata porque “resolveu” tentar a sorte no Departamento Ultra- marino Francês:

No Brasil não tinha nada pra mim [...] Sou analfabeto de “pai e mãe” e tava há muito tempo sem emprego. A primeira decisão que tomei foi tirar toda a minha documentação no Brasil; não para entrar legalmente na Guiana, mas para conseguir, no futuro, um emprego legalizado no lado francês, e assim não ser visto como marginal, caso fosse preso pela polícia francesa. Se eu não estivesse trabalhando em Caiena hoje em dia, sinceramente não sei o que estava fazendo no Brasil. Talvez até roubando (risos). Não morro de amores por esta cidade [Caiena], e não gosto muito do jeito desses “pretos” [...] No entanto, atualmente não tenho estrutura financeira para voltar para Macapá. Poderia até “passar bem” lá, um ano, e depois? Lutei bastante para estar aqui, e só retorno com dinheiro no bolso para montar o meu próprio negócio. Já fui expulso uma vez e já gastei muito dinheiro para voltar, principalmente pagando “patrões de fachada” […] Atualmente, não tenho problema em renovar minha carta de sejour. Ainda não consegui uma de 10 anos, mas meu atual patrão está se virando para que eu consiga este documento. O fato de não saber francês complica um pouco mais minha situação. Aqui, pelo menos, meus filhos têm escola, plano de saúde e farmácia. Gosto muito do Brasil, mas parece que o Brasil não gosta de mim... Pretendo guardar um dinheiro e daqui há uns 3 anos comprar uma caçamba em Macapá. Não sei se esse plano vai dar certo [...] Só Deus sabe [...] (Osvaldo Silva, 2006).

Outro relato que merece destaque, ainda nesta perspectiva, foi colhido no dia 16 de maio de 2006, na cidade de Oiapoque. Identificado no porto deste município como alguém que estava prestes a atravessar para o outro lado, Raimundo dos Santos, maranhense, resolveu falar um pouco de sua aventura e de seus motivos para morar no Guiana Francesa. Mesmo tendo dificuldades na dicção (não completava todas as frases) nos informou:

Tenho 35 anos e estou desempregado há 5. No Maranhão vivia de bicos, de diárias [...] Meu último emprego foi numa fazenda, perto de Imperatriz. No início deste ano, um compadre meu, de férias, que trabalha na Guiana, perguntou se eu não gostaria de tentar trabalho lá [...] Disse que sim, na hora. É justamente essa pessoa que estou esperando. Deixei mulher e 4 filhos na minha cidade. A minha maior preocupação são eles. No Brasil não tem emprego pra ninguém, principalmente pra quem não tem estudo como eu. Estou triste e alegre. Vamos ver o que vai acontecer.

Estes dois relatos, na verdade, sintetizam uma série de argumentos imediatos utilizados por centenas de imigrantes brasileiros que se dirigem à Guiana. Em termos de regularidade, o principal motivo utilizado para a saída da região Norte do Brasil é a falta de empregos, principalmente para os trabalhadores de baixa escolaridade. Muitos desses trabalhadores, já na faixa etária de 30 a 45 anos, percebem o risco de chegarem a velhice totalmente desamparados, por isso resolvem trabalhar pesado “enquanto possuem saúde”. Ter “passado” pela Guiana Francesa, para algumas pessoas, que resolveram voltar ao Brasil, pode até ser sinônimo de orgulho, uma espécie de purgatório para quem deseja vencer na vida. Pelo menos é o que dá a entender certos comentários:

Já morei, de forma clandestina em Caiena, por um período de 1 ano. A convite de uma irmã, legalizada, passei a pior temporada de minha vida. Morria de medo de ser pego pela polícia francesa, até mesmo quando ia numa mercearia ao “china” fazer compra. Não consegui me acostumar com o ritmo de vida da cidade, sabe? Ás vezes tinha dinheiro no bolso, mas me encontrava deprimido, triste. Fiz de tudo lá: jardineiro, vendedor de plantas e pintor. Tinha semana que eu fazia 300 euros. Mesmo assim não deu pra continuar. Hoje tenho meu próprio negócio em Macapá, casa própria e carro. Meus parentes me ajudaram e conseguir me estruturar financeiramente aqui mesmo. Valeu a experiência de conhecer outra cultura, outro modo de vida. Apesar da violência e dos problemas do nosso país, aqui a gente não é humilhado. Até quem já tem mais de 15 anos lá, como minha irmã, quer voltar. Não tem brasileiro feliz em Caiena, o que existe, são brasileiros que precisam trabalhar para não morrer de fome (Pedro Vilhena, 47 anos, morador do Bairro do Muca- Macapá AP) - agosto de 2006).

A primeira lição que um imigrante ilegal deve aprender ao chegar a Caiena é assumir sua invisibilidade, sua inexistência, seu anonimato. Com anos de experiência no assunto, os policiais franceses facilmente identificam imigrantes e os grupos étnicos aos quais pertencem apenas pelo seu vestuário. Por isso, os mais experientes orientam os novatos a não usarem camisas de clubes brasileiros e da seleção; bermudas e sandálias, e outras estilos mais “bizarros” que chamem a atenção dos policiais. A discrição deve ser levada a sério, neste momento inicial, com o risco de serem abordados pela polícia de migração. Em uma série de entrevistas realizadas no bairro do Cabassou e em outras villages onde há a presença de brasileiros, ouvimos vários relatos de trabalhadores sobre como foram os primeiros dias na cidade, que geralmente ocorre na condição de clandestinos.

cheguei pela mata, com fome. Morei literalmente de baixo de árvores. A pessoa que me aguardava já tinha retornado para o Maranhão, e aí fique numa situação difícil. Aos poucos fui fazendo amizade e esses novos colegas me prometeram arranjar emprego através de seus patrões. Atualmente, faço bicos para esse pessoal brasileiro, praticamente em troca de comida. Tenho medo de sair sozinho, pois acho que vão desconfiar do meu jeito e me mandarem de volta para o Brasil. Na verdade é como se eu ainda não tivesse ainda em Caiena, sei lá [...] tou e não tou (Benedito dos Santos, 35 anos, maranhense).

até hoje morro de medo de sair de casa e ir ao mercado, ou mesmo a um china. Felizmente nunca fui parada pela polícia francesa. Mas todas às vezes que vejo um policial, fico gelada, achando que ele vai solicitar meus documentos. São quase 4 anos vivendo nesta situação. Cada ano que passa, a situação dos clandestinos piora. Eu sinceramente não sei o que vai acontecer comigo (Célia Costa, 33 anos, apesar de um dos seus filhos ser cadastrado no programa social).

A migração internacional de trabalhadores pressupõe a vivência na vida social e cultural, além claro da inserção no mundo do trabalho. Nessa viagem, dilemas de várias ordens colocam-se aos trabalhadores. A busca do Eldorado desconhecido significa a ausência física do trabalhador, durante alguns anos, do espaço conhecido dos familiares, amigos e outros entes queridos, e o enfrentamento dos desafios de uma sociedade culturalmente diferente e para muitos desconhecida (KAWAMURA, 2003). Como inserir-se numa sociedade geograficamente tão perto, mas culturalmente diferente? Quais as expectativas de aquisição de conhecimento pelo trabalhador migrante através da vivência no cotidiano cultural francês, ou melhor, guianense?

Vale a pena lembrar que no mercado de trabalho internacional, a mudança do trabalhador de um país a outro não ocorre de forma mecânica e objetiva, restrita apenas ao mundo do trabalho, mas de inserção na vida social local, mesmo que seja por pouco tempo. Como o motivo principal da migração parece ser o trabalho, o mundo do trabalho passa a ser um local privilegiado de análises do modo de vida dos brasileiros longe de casa.

Desde que chega a Caiena, a maior parte da vida dos imigrantes brasileiros é dedicada ao trabalho. Geralmente estes trabalhadores saem cedo de seus alojamentos (geralmente pequenos quartos alugados em casa de amigos ou parentes) e retornam somente ao anoitecer. Apesar das facilidades, poucos

brasileiros compram carros em Caiena e geralmente utilizam bicicletas como transporte em seu dia-a-dia. Curiosamente, esta decisão de não comprar carros pode ser explicada por alguns motivos: um deles são as rígidas leis de trânsito no Departamento Francês. Diferentemente do Brasil, o alto valor das multas e as rígidas sanções penais francesas, acabam dissuadindo a maioria dos brasileiros a dirigir em Caiena (PESQUISA DE CAMPO, 2006). Esse comentário ilustra bem a situação:

Aqui em Caiena só não tem carro quem não quer [...] Os planos chegam a 70 / 80 meses. Basta mostrar um contra-cheque. Podia comprar um carro aqui, mas depois de pensar bem, vou comprar um carro em Macapá e botar na praça, para meu cunhado rodar. Meu medo também de dirigir em Caiena é a polícia francesa. Se pegarem alguém dirigindo embriagado, o cara vai para prisão. Em Macapá, por exemplo, basta soltar “algum” pro guarda e tá tudo resolvido (Getúlio Costa, paraense, 38 anos, legalizado).

Mas além do trabalho, que toma a maior parte do tempo, os brasileiros também participam de outras atividades culturais e sociais. O raro tempo livre que dispõem, por exemplo, quase sempre é preenchido por atividades domésticas, privadas. As compras geralmente são feitas em estabelecimentos comerciais no próprio bairro ou distrito. Pelas entrevistas e observações feitas em campo, existem duas coisas que os brasileiros adoram fazer em Caiena quando estão de folga: telefonar para o Brasil, para dar e receber notícias e fazer pequenas compras em pequenos estabelecimentos comerciais. Aliás, estes pontos de vendas oferecem, praticamente em cada esquina, uma diversidade muito grande de produtos e mercadorias, dispensando assim compras em supermercados de grande porte, como faz a classe média no Brasil. Nos dias de feira e principalmente nos finais de semana, um programa que os trabalhadores brasileiros também gostam de fazer, visitar os amigos é ir ao mercado central de Caiena (Figuras 20, 21 e 22). Ponto de referência para os muitos grupos étnicos que vivem na cidade e para os consumidores locais, neste local tem quase tudo o que se procura. A farinha de mandioca e alguns temperos da culinária brasileira e nortista são campeões de venda. Na área interna do mercado, existe até um box que vende apenas iguarias amazônicas: tapioquinha, cuscuz, mingau de tapioca, açaí, tacacá etc. (PESQUISA DE CAMPO, 2006)

Figuras 20, 21 e 22: Área externa do mercado central de Caiena. Box localizado dentro do mercado de Caiena, cuja placa na frente anuncia a especialidade da casa. Ao lado, D. Iaiá e sua ajudante brasileira fazem pose e demonstram descontração no local de

trabalho

Fonte: Pinto (2006)

É importante registrar que alguns espaços comerciais que recebem a denominação de “brasileiros” não necessariamente contam com a presença somente de nossos compatriotas. Alguns restaurantes têm uma clientela essencialmente franco-guianense. No entanto, certos locais, como a Barraca da Tia Iaiá, acabam se tornando referência de nossa identidade. São justamente nesses redutos que boa parte dos brasileiros residentes em Caiena tem a oportunidade de extravasar seus comportamentos, trocar informações e comentar as novidades. O tema preferido é o Brasil e as conversas geralmente são diversificadas. Futebol, possibilidade de empregos, retorno ao Brasil, clandestinidade geralmente constam na agenda diária dos bate-papos (PESQUISA DE CAMPO, 2006).

Tomando como referência o ano de 1964, podemos dizer que após 40 anos de migração para a Guiana Francesa, os brasileiros que se dirigem a Caiena ainda não encontraram uma infra-estrutura facilitadora de sua permanência nesta cidade. A maioria dos “brésiliens” mora em áreas periféricas e em casas improvisadas, sem planejamento. Além disso, é provável que exista um certo mal-estar entre imigrantes novos e estabelecidos. Baseado em estudo antropológicos de Chérubini (1985), Arouck (2002) sugere que exista entre esses dois grupos uma “dialética da competição individual”. Segundo este pesquisador, a lógica é a seguinte: os brasileiros que já moram há muito tempo em Caiena (10, 15, 20 anos) por estarem estruturados tentam diferenciar-se daqueles que consideram detratores da imagem brasileira na Guiana Francesa, e que representam um obstáculo à sua ascensão social e sua integração na sociedade guianesa-francesa (AROUCK, 2002). Por coincidência ou não, ouvimos em uma entrevista que atualmente já existe até gangue de brasileiros na Guiana Francesa, onde jovens brasileiros estariam matando e roubando. Quem faz o comentário termina enfatizando que esses fatos são prejudiciais para a imagem dos brasileiros honestos na cidade. Para Arouck (2003, p. 136):

Esses dois grupos parecem evitar maiores contatos, freqüentando locais diferentes em suas atividades de lazer ou entretenimento. O grupo mais bem sucedido parece realizar um processo de integração à sociedade crioula de forma mais estável, mesmo abrindo mão de alguns componentes de sua cultura, como hábitos alimentares, entre outros. Disso decorre uma crioulização evidente que se manifesta na escolarização dos filhos, nas relações interétnicas mais ampliadas, na aprendizagem da língua créole e patois com o abandono relativo da língua portuguesa.

Apesar de estes comentários terem ocorrido num contexto específico, (AROUCK, 2002), em nenhum momento nesta pesquisa conseguimos comprovar estes fatos, ou seja, esse processo de creoulização por parte de grupos de imigrantes estabelecidos na Guiana Francesa. Em relação à língua créole, análises mais recentes apontam que o próprio sistema educacional francês está patrocinando o seu esquecimento. Afastados oficialmente das escolas, os dialetos falados pela população nativa da Guiana atualmente são repassados quase que exclusivamente no âmbito familiar.

As pesquisas deste antropólogo francês apontam ainda para um processo de isolamento da população brasileira na Guiana Francesa. Há pelo menos dois a três

anos, em razão da degradação do clima social, ocasionado pela migração maciça na Guiana, os brasileiros não podem verdadeiramente participar do carnaval de Caiena. Não se encontra também times de futebol no sentido brasileiro do termo. Essa restrição importante de suas regras de organização social duplica-se ou é ampliada pelo controle severo de seu universo espacial por intermédio de guetização crescente de sua comunidade (CHÉRUBINI apud AROUCK, 1985).

Sobre essa idéia de guetização da população brasileira no Departamento Ultra-Marino Francês, temos que concordar com ela e até ampliá-la, principalmente nos dias atuais. Bairros inteiros passaram a identificar a população brasileira na cidade. Cabassou, no Distrito de Montjoly e Matinha (Figuras 22 e 23), perto da área comercial de Caiena, são locais que têm uma população predominantemente de brasileiros. Os finais de semana, nestes locais, costumam ser alegres e um clima de “Brasil” entre as famílias pode ser percebido pela animação: feijoada, churrasco, (Figura 25) cerveja, músicas brasileiras, fazem parte, quase que de forma oficial, desses momentos de reafirmação cultural. Geralmente, a maioria dos trabalhadores que residem nestes bairros possuem vínculos empregatícios com empresas francesas ou trabalham em atividades informais. Devido ao tempo de permanência (5, 10 anos) no território guianense, encontram-se mais estabilizados financeiramente e geralmente são legalizados. Comprar um terreno ou mesmo uma casa na cidade de Caiena pode ser considerado um símbolo de status. De maneira geral, esses bairros servem como ponto de referência para os imigrantes recém- chegados, sem documentação.

Figuras 23 e 24: Casas localizadas na Matinha, outro bairro de Caiena, onde reside boa parte da população brasileira

Figura 25: Churrasco de final de semana

Fonte: Pinto (2006)

Uma das questões mais delicadas que os trabalhadores brasileiros residentes em Caiena têm que enfrentar refere-se à questão habitacional. Monopolizado praticamente pelo Estado Francês, a oferta de moradias em conjuntos e prédios residenciais é bastante inferior à demanda existente no mercado imobiliário local. Apesar dos grandes investimentos no setor nos últimos 5 anos, a fila para aquisição de um imóvel, subsidiado pelo Estado, é muito grande. A preferência geralmente é para funcionários públicos franceses que prestam serviço no Departamento Ultramarino Francês e também para a própria população nativa. A intenção do Estado Francês, que muitas vezes esbarra em recursos financeiros, seria acabar com áreas mal planejadas que com o passar do tempo se transformaram em verdadeiras “favelas dentro de Caiena”. Após visitas de assistentes sociais, e ao constatarem que algumas famílias estão vivendo em situação subumanas, dentro de moradias improvisadas, acabam sendo escolhidas para morar nestes novos locais. Muitos brasileiros estabelecidos e legalizados estão cadastrados para aquisição de apartamentos que se espalham em toda a cidade de Caiena (PESQUISA DE CAMPO, 2006).

Figura 26: No bairro de Cabassou, a maioria das casas dos brasileiros tem essas características

Fonte: Pinto (2006)

A situação instável dos trabalhadores brasileiros temporários na Guiana Francesa e sua inserção nos estratos inferiores da hierarquia do trabalho e, em conseqüência, da sociedade guianense, constituem fatores que favorecem a discriminação social em relação a ele, a qual se expressa também na busca de moradia. O exemplo extremo dessa situação pode ser observado em relação aos brasileiros “sem papel” sediados em Caiena e suas dificuldades em comprar ou mesmo alugar moradias (Figura 26); pois o simples fato de se identificarem como brasileiros já consiste em obstáculo considerável para abrir qualquer processo de negociação; principalmente devido à divulgação, através da mídia, do exercício de atividades consideradas ilegais, serviços escusos e atos de violência a eles relacionados. Também os trabalhadores de outros países próximos como haitianos, surinameses, esbarram na discriminação quando buscam moradia (e trabalho), pela alta freqüência da presença clandestina no país. Bem diversa é a situação dos chineses, já que os mesmos migram com o desejo de trabalhar, como comerciantes, conseguem alocar-se com facilidade em moradias previamente alugadas, para logo em seguida serem compradas definitivamente.

Na verdade, a questão habitacional é um dos maiores problemas enfrentados pela sociedade guianense. Apenas poucas famílias privilegiadas (núcleos familiares metropolitanos) moram bem em Caiena (Figura 27). A própria população nativa possui habitações precárias e mal planejadas. Geralmente as casas são cobertas de

zinco e utilizam como matéria-prima principal madeira. Telhas e tijolos de cerâmica são objetos raros na Guiana Francesa, principalmente pelo alto custo de produção e exportação, que no caso seria do estado do Amapá. É importante destacar que este problema não se vincula à incapacidade de pagamento da moradia pela população, nativa ou imigrante, pois as mesmas até possuem capacidade financeira para custear essas despesas. Este problema está mais relacionado com o mercado imobiliário local, onde há um descompasso gritante entre oferta e demanda.

Figura 27: Prédio residencial na cidade de Caiena, destinado principalmente a funcionários públicos franceses e cidadãos locais

Fonte: Pinto (2006)