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4 DIREITO DE GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO

4.6 Críticas aos projetos

Não poderia haver cenário mais oportuno que o atual para a aprovação de lei que regule o direito de greve dos servidores públicos. Atravessamos um período em que quase todos os dias eclodem novos movimentos paredistas, seja de controladores de tráfego aéreo, de médicos da rede pública de atendimento ou de policiais civis. A aprovação dos projetos ora relatados torna-se não só oportuna, mas essencial. Todavia, devem ser feitas algumas observações quanto ao conteúdo das proposições.

Em primeiro lugar, em todos os projetos, a greve foi reduzida à cessação de serviços. Dever-se-ia assegurar outras formas de manifestação, conforme já apresentado, que causem menos transtornos à população e que não prejudicassem de todo a continuidade dos serviços públicos.

Os mecanismos previstos para a negociação coletiva, em grande parte das proposições, encontram-se incompletos. Esses dispositivos deveriam incentivar a criação de comissões integradas por representantes da sociedade, que serviriam de intermediárias entre os grevistas e os órgãos paralisados, já que a composição do litígio evitaria a deflagração da greve.

Quanto à previsão da mediação e arbitragem, deve-se ressaltar que apesar de tentar evitar o movimento paredista e ser uma alternativa para aliviar a enorme quantidade de questões que chegam ao Judiciário, a Administração Pública reluta em utilizá-la uma vez que não se mostram apropriadas em face do princípio constitucional da legalidade.

Além disso, os projetos não se manifestaram no caso de reivindicações relativas a remuneração. Como já observamos, essa é uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo legislador para regulamentar o direito de greve no serviço público, visto que o reajuste salarial dos servidores públicos está condicionado a diversos fatores, dentre eles a edição de lei. Dessa forma, deveria ter havido uma maior preocupação legislativa nesse aspecto.

No que tange às emendas apresentadas ao projeto, a Emenda nº 1 andou bem, a nosso ver, ao incluir dentre as atividades que devem ser consideradas essenciais aquelas diretamente ligadas à segurança nacional. A Emenda nº 2 deixou de considerar que, de acordo com o Supremo Tribunal Federal, a Justiça do Trabalho não é competente para julgar dissídios pertinentes aos servidores estatutários. A Emenda nº 3 torna-se dispensável perante o artigo 927 do Código Civil (Lei 10.406/2002) 53, que prevê que aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

CONCLUSÃO

Diante do que foi exposto, no presente trabalho, pode-se constatar, primeiramente, que a greve, ao longo da História da Humanidade, se fez presente desde a Idade Antiga, onde estudos e documentos comprovam a sua existência no Egito, na Babilônia e em Roma. No decorrer dos anos, a sua forma de manifestação modificou-se, sendo inserida nos ordenamentos jurídicos. Atualmente, é reconhecida como um direito social fundamental nas principais democracias do mundo, constituindo-se como instrumento a serviço dos trabalhadores, tendo como objetivo, principalmente, reagir pacífica e ordenadamente contra situações afrontem a sua integridade física ou a sua condição financeira.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 asseverou que a greve constitui um direito fundamental dos trabalhadores, em seu artigo 9º. Seguindo a orientação do §1º, do artigo supramencionado, a Lei 7.783 de 1989 definiu os serviços e atividades essenciais, além de fixar disposições sobre o exercício do direito grevista.

Quanto aos servidores públicos, o artigo 37, inciso VII, da Constituição Federal, assevera que caberá a lei específica estabelecer os termos e limites para o exercício dos movimentos paredistas destes trabalhadores. Entretanto, tal lei regulamentadora não foi elaborada até agora.

Muitos consideram, dessa forma, que o conteúdo do dispositivo constitucional que se refere a greve no serviço público seria de eficácia contida, sendo inteiramente aplicável até que lei posterior venha a fixar-lhe limites e estabelecer termos para o seu exercício. De acordo com tal entendimento, seguido inclusive pelo STF, a prática da greve no setor público teria como limitações naturais, enquanto não editada a lei específica, as garantias e princípios constitucionais, as normas de ordem pública e disposições administrativas, além da aplicação da Lei 7.783/89 (Lei de Greve), no que for cabível. Levando-se em conta tudo que foi

afirmado, viu-se que são muitos autores a manifestar incondicional apoio a tal corrente, por entenderem que esse

posicionamento está alinhado aos atuais e legítimos anseios da população e dos trabalhadores, já que temos observado quase todos os dias paralisações em setores públicos.

Contudo, conforme foi demonstrado, a auto-aplicabilidade do dispositivo é bastante contestada, devido a uma série de dificuldades técnicas e, inclusive, principiológicas. Observou-se, dentre outros fatores, que muitos apontam, de forma até paradoxal, o fato de que apesar de a Carta Magna acenar favoravelmente para a greve no serviço público, a aptidão para a execução dos efeitos constitucionalmente desejados só será conferida através de legislação infraconstitucional. Além disso, não consideram a hipótese de aplicação subsidiária da Lei de Greve (Lei nº 7.783/89), porque o artigo 16 do próprio regramento assim o proíbe. Dessa forma, enquanto não houver a lei regulamentadora, para essa corrente, não será legítimo o movimento paredista de servidores.

Por outro lado, a ausência de regulamentação, no que se refere ao artigo 37, inciso VII, da Constituição Federal, só tem trazido malefícios aos servidores públicos e à população em geral, principal interessada na prestação dos serviços. Resta, assim, um estado de insegurança jurídica, tanto para os servidores quanto para o Estado. Dessa maneira, uma adequada regulamentação possibilitaria aos servidores grevistas saberem quais os seus direitos e de quais formas poderiam se manifestar. Da mesma forma, a Administração Pública e a população teriam mecanismos de defesa contra possíveis arbitrariedades que poderiam ser praticadas pelos servidores.

Portanto, ante o exposto, necessita-se urgentemente de uma norma jurídica que dê contornos ao direito de greve pelos servidores públicos e que supere todas as limitações impostas pelo regramento jurídico ao exercício de tal direito. Da mesma forma, enquanto perdurar a inércia legislativa, a nosso ver, a solução adotada pelo Supremo Tribunal Federal de considerar o dispositivo constitucional como de eficácia contida e de aplicação imediata, ordenando a utilização da Lei nº 7.783/89, de forma subsidiária, foi a melhor possível, visto que não se poderia privar os servidores públicos de um instituto que foi alçado à categoria de direito social fundamental pela Carta Magna.

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