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Negociação coletiva no setor público

2 GREVE E INICIATIVA PRIVADA

2.4 Negociação coletiva no setor público

Conforme já observado, o artigo 37, inciso VII da Constituição Federal de 1988 garantiu o direito de greve aos servidores públicos, de uma forma geral. No entanto, o §3º do artigo 39 não reconheceu o direito de os servidores públicos firmarem acordos ou convenções coletivos. In verbis:

Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes.

(...)

§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir.

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

(...)

XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;

Dessa forma, proibiu-se tacitamente a negociação coletiva. Tal proibição, entretanto, não vale para os servidores das empresas públicas e sociedades de economia mista. Nas palavras de Rinaldo Guedes Rapassi, “se a demonstração de insucesso em negociação coletiva tendente ao acordo ou convenção coletiva figura como condição da ação (CR/88, art. 114, §§1º e 2º), o dissídio coletivo igualmente não foi facultado ao servidor público latu sensu”.15

15 RAPASSI, Rinaldo Guedes. Direito de Greve de Servidores Públicos. 1ª- edição. São Paulo: LTr, 2.005, pág.

Tal entendimento pode ser motivado pelo fato de que cabe somente à Administração Pública dirigir as relações de trabalho para com os seus funcionários públicos, fixando as condições de exercício e não podendo discuti-las.

Além do mais, como normalmente os trabalhadores reivindicam questões salariais, a Constituição resolveu impedir a negociação coletiva, porque a concessão de qualquer vantagem pecuniária ou de aumento salarial só pode ser estabelecida através de autorização específica na lei de diretrizes orçamentária, prévia dotação orçamentária e não pode exceder os limites fixados pela Lei de Responsabilidade Fiscal.16

Primeiramente, o Supremo Tribunal Federal, em julgamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade17, entendeu que não cabia a negociação coletiva aos servidores públicos civis, revogando-se as alíneas “d” e “e” do artigo 240 da Lei 8.112 de 1990. Em momento posterior, o Tribunal Excelsior aprovou a Súmula nº 679: “A fixação de vencimentos dos servidores públicos não pode ser objeto de convenção coletiva”.

Vale destacar que, a Orientação Jurisprudencial n. 05 da Seção de Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho, conforme o entendimento mais restritivo do STF, estabelece que:

DISSIDIO COLETIVO CONTRA PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA. Aos servidores públicos não foi assegurado o direito ao reconhecimento de acordos e convenções coletivas de trabalho, pelo que, por conseguinte, também não se lhes é facultada a via do dissídio coletivo, à falta de previsão legal.

De acordo com o regramento jurídico nacional, constata-se a inviabilidade da negociação coletiva de servidores públicos, no que se refere a sua remuneração. Todavia, não há como se negar a existência de dissídios coletivos de natureza jurídica, no sentido de se interpretar cláusulas ou normas de índole coletiva, levando-se em conta os princípios básicos da Administração Pública.

16 Tais requisitos decorrem da literatura dos artigos 37, caput, incisos X, XI, XII, XIII; 39, §1º; 61, §1º, inciso II,

alínea a; 169, §1º, incisos I e II, todos da Constituição Federal de 1988 e artigos 18 e 19 da Lei Complementar nº 101/2001.

17 ADIn – 492, Relator Ministro Carlos Velloso, Órgão Julgador: Plenário, DJ: 12/11/1992, DJU de 12/03/1993,

Em face do que foi exposto, duas correntes doutrinárias manifestam-se de forma diversa acerca do tema. Alguns doutrinadores sustentam a total impossibilidade jurídica da negociação coletiva no setor público, tendo em vista os princípios e regras precípuas da Administração Pública, em especial, o princípio da legalidade.

A orientação jurisprudencial do Pretório Excelso18 está no sentido de que aos servidores públicos não se aplicam os acordos e as convenções coletivas de trabalho, posto que em sede de Direito Administrativo vigora o princípio da legalidade, não podendo prevalecer o convencionado sobre o legislado, conforme ocorre no Direito Privado, em especial no Direito do Trabalho.

A segunda corrente afirma que há possibilidade de negociação coletiva dentro de certos limites. Para esses doutrinadores, a negociação coletiva no setor público seria possível, já que a omissão do artigo 39 em relação ao inciso XXVI do artigo 7º, ambos da Constituição Federal, não deveria ser tão relevante ao ponto de impedir gozo desse direito pelos servidores públicos. Se assim fosse, seria uma incoerência paradoxal a admissão da sindicalização do servidor público e do direito de greve, sem o reconhecimento do direito à negociação coletiva.

O Supremo Tribunal Federal, em decisões recentes19, firmou entendimento no sentido de conceder efetividade ao artigo 37, inciso VII da Constituição Federal, aplicando-se a Lei 7.783/1989, subsidiariamente, até que seja produzida lei regulamentadora da greve no serviço público.

18 Neste sentido preleciona o STF: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 272, § 2º, DA

LEI COMPLEMENTAR N. 4 DO ESTADO DO MATO GROSSO. SERVIDORES PÚBLICOS. ACORDOS E CONVENÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO. VIOLAÇÃO DO ART. 61, § 1º, II, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. A celebração de convenções e acordos coletivos de trabalho consubstancia direito reservado exclusivamente aos trabalhadores da iniciativa privada. A negociação coletiva demanda a existência de partes formalmente detentoras de ampla autonomia negocial, o que não se realiza no plano da relação estatutária. 2. A Administração Pública é vinculada pelo princípio da legalidade. A atribuição de vantagens aos servidores somente pode ser concedida a partir de projeto de lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo, consoante dispõe o art. 61, § 1º, inciso II, alíneas "a" e "c", da Constituição, desde que supervenientemente aprovado pelo Poder Legislativo. Precedentes. Pedido julgado procedente para declarar inconstitucional o § 2º, do artigo 272, da Lei Complementar n. 4, de 15 de outubro de 1990, do Estado do Mato Grosso”. (ADIN No.: 554/MT, Relator: Min. Eros Grau, julgamento: 15/02/2.006. Fonte: DJ 05.05.2.006, pág. 17).

19 MI 670, MI 708 E MI 712 julgados no dia 25 de outubro de 2007. Disponíveis em:

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