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4 DIREITO DE GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO

4.3 Posicionamento da jurisprudência

Já foi dito que, inicialmente, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal era no sentido de que o direito de greve do servidor público estava ainda a depender de lei, antes complementar, agora específica, nos termos do artigo 37, inciso VII, da Constituição Federal de 1988.

Tal entendimento foi manifestado, em primeiro lugar, no julgamento de Mandado de Injunção impetrado pela Confederação dos Servidores Públicos do Brasil, quando o STF reconheceu que a omissão do Poder Legislativo na edição da lei complementar referida pelo artigo 37, inciso VII, da CF, realmente tornava inviável o exercício do direito constitucional de greve. Isto se dava porque o mencionado dispositivo constitucional seria de eficácia limitada, necessitando de lei infraconstitucional para regular o exercício da greve pelos servidores públicos. A ementa do mencionado julgado foi do seguinte teor:

MANDADO DE INJUNÇÃO COLETIVO- DIREITO DE GREVE DO SERVIDOR

PÚBLICO CIVIL – EVOLUÇÃO DESSE DIREITO NO

CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO – MODELOS NORMATIVOS NO DIREITO COMPARADO- PRERROGATIVA JURÍDICA ASSEGURADA PELA CONSTITUIÇÃO (ART. 37, VII) – IMPOSSIBILIDADE DE SEU EXERCÍCIO ANTES DA EDIÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR – OMISSÃO LEGISLATIVA – HIPÓTESE DE SUA CONFIGURAÇÃO – RECONHECIMENTO DO ESTADO

45 SÜSSEKIND, Arnaldo. Curso de Direito do Trabalho. 2ª- edição. Rio de Janeiro: Renovar, 2.004, pág. 613

DE MORA DO CONGRESSO NACIONAL – IMPETRAÇÃO POR ENTIDADE DE CLASSE – ADMISSIBILIDADE – WRIT CONCEDIDO.

Direito de greve no serviço público: O preceito constitucional que reconheceu o direito de greve ao servidor público civil constitui norma de eficácia meramente limitada, desprovida, em conseqüência, de auto-aplicabilidade, razão pela qual, para atuar plenamente, depende de edição de lei complementar exigida pelo próprio texto da Constituição. A mera outorga constitucional do direito de greve ao servidor público civil não basta – ante a ausência de auto-aplicabilidade da norma constante do art. 37, VII, da Constituição – para justificar o seu imediato exercício.

O exercício do direito público subjetivo de greve outorgado aos servidores civis só se revelará possível depois da edição de lei complementar reclamada pela Carta Política. A lei complementar referida – que vai definir os termos e os limites do direito de greve no serviço público – constitui requisito de aplicabilidade e de operatividade da norma inscrita no artigo 37, inciso VII, do texto constitucional (MI 20-4/DF, Relator Ministro Celso de Mello, Órgão Julgador: Plenário, DJ: 19/05/1994, DJU de 22/11/1996, p. 45.690).

No âmbito do Superior Tribunal de Justiça, o entendimento majoritário, mesmo antes da Emenda Constitucional n. 19/98, era o de que o direito de greve do servidor público estatutário poderia ser exercido amplamente enquanto não fosse regulamentado o inciso VII do art. 37 da Constituição. É o que se infere a seguir:

“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. PROFESSORES ESTADUAIS. GREVE. PARALISAÇÃO. DESCONTO DE VENCIMENTOS. O direito de greve assegurado na Carta Magna aos servidores públicos, embora pendente de regulamentação (art. 37, VII), pode ser exercido, o que não importa na paralisação dos serviços sem o conseqüente desconto da remuneração relativa aos dias de falta ao trabalho, a mingua de norma infraconstitucional definidora do assunto. Recurso desprovido” (STJ ROMS 2873/SC, Ac. 6ª T. (1993/0009945-0), DJ 19-08-1996, p. 28499; Relator Min. VICENTE LEAL, julg. 24-06-1996).

“DIREITO DE GREVE. SERVIDOR PUBLICO. POSSIBILIDADE DO EXERCICIO, INDEPENDENTEMENTE DA REGULAMENTAÇÃO PREVISTA NO ART. 37, VII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. No caso dos autos, não se pode discutir a questão do desconto nos vencimentos, porque não ha certeza de que as faltas procedam tão-somente da greve. Fatos complexos que escapam ao exercício do ‘mandamus’. Embargos declaratórios com finalidade de prequestionamento. Descabida a multa. Recurso parcialmente provido” (STJ ROMS 2673/SC, Ac. 6ª T. (1993/0007484-9), DJ 22-11-1993, p. 24975, Rel. Min. José Cândido de Carvalho Filho, julg. 19-10-1993).

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal reapreciou a questão no julgamento dos mandados de injunções nº. 670, 708 e 712, impetrados com o objetivo de dar efetividade à norma inscrita no artigo 37, inciso VII, da Constituição Federal. Neles, os postulantes requereram que fosse concedida autorização aos seus filiados para que se utilizem da Lei Federal nº. 7.783, de 28 de Junho de 1989, que rege o direito de greve no setor privado, até o advento da norma regulamentadora. Atendendo aos anseios de grande parte da população, o STF modificou o seu antigo entendimento e estabeleceu que o dispositivo constitucional que estabelece a greve dos servidores públicos é de eficácia contida, tendo aplicabilidade imediata.

Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu do mandado de injunção e propôs a

solução para a omissão legislativa com a aplicação da Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989, no que couber, vencidos, em parte, o Senhor Ministro Maurício Corrêa (Relator), que conhecia apenas para certificar a mora do Congresso Nacional, e os Senhores Ministros Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, que limitavam a decisão à categoria representada pelo sindicato e estabeleciam condições específicas para o exercício das paralisações. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Lavrará o acórdão o Senhor Ministro Gilmar Mendes. Não votaram os Senhores Ministros Menezes Direito e Eros Grau por sucederem, respectivamente, aos Senhores Ministros Sepúlveda Pertence e Maurício Corrêa, que proferiram voto anteriomente. Ausente, justificadamente, a Senhora Ministra Cármen Lúcia, com voto proferido em assentada anterior. (MI 670/ES, Relator Ministro Mauricio Correa, Órgão Julgador: Plenário, DJ: 25/10/2007).

Decisão: O Tribunal, por maioria, nos termos do voto do Relator, conheceu do

mandado de injunção e propôs a solução para a omissão legislativa com a aplicação da Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989, no que couber, vencidos, parcialmente, os Senhores Ministros Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, que limitavam a decisão à categoria representada pelo sindicato e estabeleciam condições específicas para o exercício das paralisações. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Ausente, justificadamente, a Senhora Ministra Cármen Lúcia, com voto proferido em assentada anterior. (MI 708/DF, Relator Ministro Gilmar Mendes, Órgão Julgador: Plenário, DJ: 25/10/2007).

Decisão: O Tribunal, por maioria, nos termos do voto do Relator, conheceu do

mandado de injunção e propôs a solução para a omissão legislativa com a aplicação da Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989, no que couber, vencidos, parcialmente, os Senhores Ministros Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Marco Aurélio, que limitavam a decisão à categoria representada pelo sindicato e estabeleciam condições específicas para o exercício das paralisações. Votou a Presidente, Ministra Ellen Gracie. Não votou o Senhor Ministro Menezes Direito por suceder ao Senhor Ministro Sepúlveda Pertence, que proferiu voto anteriormente. Ausente, justificadamente, a Senhora Ministra Cármen Lúcia, com voto proferido em assentada anterior. (MI 712/PA, Relator Ministro Eros Grau, Órgão Julgador: Plenário, DJ: 25/10/2007).

O ministro Eros Grau, relator do Mandado de Injunção nº. 712, em seu voto47, entendeu que o Supremo deve, no exercício de função normativa, não legislativa, formular, supletivamente, a norma regulamentadora de que carece o artigo 37, inciso VII da Constituição, a fim de assegurar a continuidade da prestação do serviço público, conferindo eficácia ao dispositivo constitucional.

Para isso, em seu voto, ele conheceu do Mandado de Injunção, e defendeu a utilização da lei que rege o direito de greve dos trabalhadores em geral, com determinados acréscimos, bem como com algumas reduções de seu texto, de modo a atender às peculiaridades da greve nos serviços públicos.

47 Voto do Ministro Eros Grau no Mandado de Injunção nº 712-8. Disponível em:

De acordo com o voto do Ministro-relator do Mandado de Injunção n.º 712, deve ser aplicado aos servidores públicos um “conjunto normativo” (esta é a denominação empregada), formado pelos artigos 1º ao 9º, 14, 15 e 17 da Lei nº. 7.783, de 20. 6.89. Além disso, os artigos 3º caput e seu parágrafo único; artigo 4º; o parágrafo único do artigo 7º; o artigo 9º caput e seu parágrafo único e o artigo 14º, foram introduzidas alterações necessárias para adequar a Lei de Greve da iniciativa privada às particularidades do serviço público, dentre as quais:

Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação parcial do trabalho.

Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 72 (setenta

e duas) horas, da paralisação.

Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu estatuto, assembléia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação parcial da prestação de serviços.

Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.

Parágrafo único. É vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência da hipótese

do art.14.

Art. 9º Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá em atividade equipes de empregados com o propósito de assegurar a regular continuidade da

prestação do serviço público.

Parágrafo único. É assegurado ao empregador, enquanto perdurar a greve, o direito de contratar diretamente os serviços necessários a que se refere este artigo.

Art. 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na presente Lei, em especial o comprometimento da regular continuidade na

prestação do serviço público, bem como a manutenção da paralisação após a

celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho.

Parágrafo único. Na vigência de acordo, convenção ou sentença normativa não constitui abuso do exercício do direito de greve a paralisação que:

I - tenha por objetivo exigir o cumprimento de cláusula ou condição;

II - seja motivada pela superveniência de fatos novo ou acontecimento imprevisto que modifique substancialmente a relação de trabalho. (grifos nossos)

O STF deu um grande passo ao declarar a omissão legislativa quanto ao dever constitucional em editar lei que regulamente o exercício do direito de greve no setor público e propor a aplicação ao setor, no que couber, da Lei nº 7.783/89. Entretanto, a solução ideal para resolver o problema da greve dos servidores públicos, de uma vez por todas, seria a promulgação da lei específica a que se refere o artigo 37, inciso VII, da Carta da República.

O Pretório Excelso também devolveu aplicabilidade ao instituto do mandado de injunção, que, segundo entendimento esposado por Flávia Piovesan envolve a suplantação de

lacunas pelo Poder Judiciário: “No mandado de injunção, repita-se, incumbe ao Poder Judiciário atender ao comando constitucional e implementar o direito no caso concreto, através do preenchimento de lacuna, que decorre da falta de norma regulamentadora”. 48

4.4

Competência para a regulamentação do direito de greve dos servidores

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