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4. A CONFIGURAÇÃO DO NARCOTRÁFICO NA REGIÃO AMAZÔNICA:

5.8 Críticas ao Plano Colômbia

A primeira das críticas ao Plano Colômbia é quanto à escassez de informações disponibilizadas pelo governo colombiano sobre os programas levados a cabo no Plano e dos objetivos concretos pretendidos246. Algumas fontes dos governos colombiano e estadunidense, por exemplo, apostavam na redução de 50% dos cultivos ilícitos, outras em sua erradicação completa até 2005 247.

A segunda crítica é quanto aos resultados alcançados: Os dados disponíveis atestam o desempenho pífio do Plano Colômbia. As estimativas indicam sucessivas diminuições no cultivo de coca na Colômbia, durante os primeiros anos de implementação do Plano (2000-04) (cf. Tabela 6). Comparando, contudo, as Tabelas 6 e 7 (p. 113) percebe-se que o potencial de produção de cocaína não depende apenas do tamanho da área plantada, já que inovações nas lavouras de coca significam maior produtividade por hectare cultivado.

TABELA 6 – Colômbia, cultivo de coca (em hectares) 1990 – 2005

Fonte: World Drug Report 2006, p. 241 (UNODC, 2006).

246

INESC Plano Colômbia – Perspectivas do Parlamento Brasileiro. Brasília: INESC, 2002, pp. 37-8 expõe assim esse problema:

“Na realidade, grande parte da polêmica em torno do Plano Colômbia resulta de sua má divulgação, deliberada ou não. Primeiramente foi apresentado como política doméstica de restabelecimento da ordem interna e da coesão nacional; depois foi dito que o objetivo era combater a produção de narcóticos; em seguida, transformou-se em investida contra guerrilheiros; e por fim caracterizou-se como plano de

pacificação envolvendo interesses internacionais. Além disso, o Plano foi apresentado distintamente para as nações em geral. Dentro dos Estados Unidos, a impressão que se tinha era que seu objetivo seria servir como meio de combate direto ao narcotráfico. Já na Europa foi apresentado como política de direitos humanos e inversão social. Essas inconsistências levaram o continente europeu e o Japão a retirarem seu apoio ao Plano. Os dados apresentados sobre o montante de recursos destinados a cada finalidade também são contraditórios”.

247

TABELA 7 – Colômbia, potencial de produção de cocaína (toneladas) 1990 – 2005

Fonte: World Drug Report 2006, p. 244 (UNODC, 2006).

Como resultado, a queda do potencial de produção de cocaína acompanhou em menor ritmo as diminuições da área de cultivo. Ademais, a reversão da tendência de queda dos dois indicadores no ano de 2005 foi mais significativa no tocante ao potencial de produção na Colômbia, que alcançou um dos pontos mais altos da história em 2005.

Mais relevantes são os dados da Tabela 8 (p. 114). Nela demonstra-se que o potencial de produção de cocaína na Região Andina não diminuiu sensivelmente em nenhum momento nos últimos quinze anos, tendo apenas oscilado. Avaliando as três Tabelas em conjunto, percebe-se que as áreas cultivadas tendem apenas a mudar de região ou de país quando o combate em uma localidade se intensifica. A implementação do Plano Colômbia resultou em parte na transferência das plantações de coca para a Bolívia e o Peru.

Os números apresentados são eloqüentes. Mesmo com os vultuosos gastos (por exemplo, US$ 4 bilhões investidos pelos estadunidenses entre 2000 e 2005, por volta de US$ 5 bilhões aplicados pelo governo colombiano entre 2000 e 2002, sem contar os gastos dos outros países) os resultados da guerra às drogas nas Américas na década anterior à implementação do Plano Colômbia e ao longo de sua vigência decepcionam. A principal evidência é o potencial praticamente constante de produção de cocaína nos países amazônicos entre 1990 e 2005.

TABELA 8 – Potencial global de produção de cocaína (em toneladas) 1990 – 2005

Fonte: World Drug Report 2006, p. 83 (UNODC, 2006).

Uma terceira crítica feita à estratégia estadunidense de financiar os embates militares na Colômbia encontra-se em Danner 248. Segundo o autor, o financiamento ao Plano Colômbia consolidou como problema de política externa o que a sociedade estadunidense deveria considerar problema de política interna – qual seja, o gosto da população pelo consumo de psicoativos proibidos, sua disposição de consumi-los apesar das sanções impostas e o grande número de usuários no país.

Danner explica a lógica por trás da estratégia de repressão à oferta de psicoativos ilícitos presente no Plano Colômbia. A repressão ao narcotráfico na Colômbia levaria à contenção da oferta de cocaína para os Estados Unidos. Isso geraria aumento no valor do psicoativo no mercado interno e menor disposição da população em comprar o produto. O resultado seria diminuição progressiva do fluxo de dinheiro recebido pelos narcotraficantes colombianos e conseqüente enfraquecimento das redes criminosas249.

Danner previu o insucesso dessa estratégia com respaldo em esforços semelhantes ao Plano Colômbia levados a cabo na Bolívia e no Peru na década de 1990. Essas experiências resultaram na diminuição da coca produzida nos dois países, mas não em redução da cocaína produzida na Região Andina em conjunto, já que os cultivos foram transferidos para a Colômbia (cf. Tabela 8). Ademais, não houve aumento do preço de

248

DANNER, M.“Clinton e a Colômbia: o privilégio da insensatez”. Política Externa. Vol. 9, n° 3, 2000, pp. 42-6.

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rua da cocaína nos Estados Unidos como era previsto. Pelo contrário, a partir da década de 1990 a tendência do preço da cocaína naquele país têm sido de queda (cf. Tabela 9). Desde o ano 2001 os valores têm se mantido abaixo daqueles registrados na década de 1990. Por fim, as organizações narcotraficantes atuantes na Região Amazônica tampouco se enfraqueceram tendo sido essencial para sua sobrevivência as adaptações para o formato em redes.

TABELA 9 – Preços de rua da cocaína nos Estados Unidos 1990-2005 (em dólares)

Fonte: World Drug Report 2006, p. 368 (UNODC, 2006).

Por que, apesar dos subseqüentes fracassos das guerras às drogas, e particularmente da política de repressão ao narcotráfico, a estratégia de Washington não é alterada? Para Danner a necessidade de bons resultados nas urnas impede que os políticos estadunidenses defendam e proponham alternativas significativas à guerra às drogas. Segundo o autor, o eleitor médio estadunidense considera a transferência do investimento em repressão para programas de tratamento ou prevenção ao consumo de psicoativos posição dúbia e fraca. Como o autor afirma, nos Estados Unidos “ser duro contra as drogas” rende votos.