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Crenças salientes exploradas na pesquisa de campo

6. METODOLOGIA DA PESQUISA DE CAMPO NA CIDADE DO RECIFE

6.1. APLICAÇÃO DA TEORIA DO COMPORTAMENTO PLANEJADO NO ESTUDO

6.1.1. Crenças salientes exploradas na pesquisa de campo

De acordo com Moutinho e Roazzi (2010) sugere-se que, num primeiro momento para predizer algum comportamento, sejam eliciadas as crenças salientes dos indivíduos alvo da pesquisa. Dentre o amplo número de crenças que o indivíduo possui, uma quantidade restrita destaca-se como base de informações para cada objeto. Para eliciá-las, recomenda-se que sejam realizadas questões do tipo “Quais são as vantagens e as desvantagens relacionadas ao uso frequente da bicicleta?”. De acordo com os autores, as primeiras 5 a 9 crenças emitidas são consideradas as crenças salientes. No caso de serem consideradas as crenças de um amplo número de participantes, pode ser indicado utilizar as crenças que forem mais frequentemente emitidas.

Ajzen (2005) considera que normalmente o número de crenças salientes é relativamente pequeno, talvez oito ou nove. Uma vez que as crenças salientes tenham sido identificadas, um questionário padrão da Teoria do Comportamento Planejado pode ser elaborado, incluindo medidas de crença, atitude, norma subjetiva, percepção de controle comportamental, intenção e comportamento (AJZEN, 2002b).

Como já mencionado no tópico 4.3 do capítulo 4 desta tese, as crenças salientes podem ser levantadas por meio de questões dissertativas ou, de acordo com Ajzen (2005), podem ser formadas como resultado de observação direta, de processo de inferência ou pela aceitação de informações provenientes de outras fontes como amigos, televisão, jornais, livros

etc. Algumas crenças podem persistir com o passar do tempo; outras podem enfraquecer ou desaparecer. Além disso, novas crenças podem ser formadas.

Entre as crenças comportamentais salientes abordadas no questionário da pesquisa de campo na cidade do Recife estão as 6 crenças provenientes da aceitação de informações do levantamento das variáveis que influenciam no uso da bicicleta no Brasil e exterior (apresentadas no capítulo 4), e outras crenças já observadas em pesquisas aplicadas na cidade do Recife, como na pesquisa de Silveira (2010) e na da Aliança Estratégica Holon e Valença & Associados (2013). As crenças incluídas diante do destaque observado em pesquisas do Recife são: „custo para se ter e/ou usar a bicicleta‟, „volume do tráfego motorizado‟, „(in) segurança pública‟ e „medo de andar de bicicleta‟.

Depois de determinadas às crenças comportamentais salientes, foi elaborado um modelo baseado no original da TCP com novos constructos (de norma descritiva e sociodemográfico), o qual servirá de apoio para pesquisas que pretendem trabalhar as intenções de uso frequente da bicicleta. Neste modelo adaptado o constructo NORMA SUBJETIVA da Teoria do Comportamento Planejado foi desconsiderado, pois entre as variáveis frequentemente emitidas na revisão bibliográfica, não houve as que se enquadraram neste tipo de constructo (ver Figura 6.1).

Os novos constructos como preditores na intenção de uso da bicicleta foram: o referente à variável „comportamento no trânsito entre motoristas e ciclistas‟, constructo de NORMA DESCRITIVA, a qual foi bem mencionada e caracterizada como sendo crença comportamental saliente, e três variáveis relativas a características SOCIODEMOGRÁFICAS, que foram analisadas na parte do questionário referente ao perfil do entrevistado. Essas variáveis de perfil serão testadas sobre a intenção de uso frequente da bicicleta devido à relevância delas em pesquisas que trabalham o uso da bicicleta no Recife e diante do levantamento bibliográfico apresentado nos capítulos 2 e 4, são elas: „renda domiciliar‟, „faixa etária‟ e „gênero‟.

Figura 6.1: Modelo adaptado da Teoria do Comportamento Planejado utilizado na pesquisa de campo na cidade do Recife.

Na figura 6.1, a parte tracejada que liga o constructo controle percebido diretamente ao comportamento de uso frequente da bicicleta é, como já citado no capítulo 2, que quando os indivíduos sentem que possuem grande controle sobre o comportamento e as intenções comportamentais isoladamente, são capazes de prever o comportamento.

Relembrando as variáveis relacionadas a este novo modelo adaptado da TCP, são elas: de ATITUDE – (1) andar de bicicleta é bom para a saúde, (2) (in) segurança do trânsito, (3) (in) segurança pública, (4) custo para se ter e/ou usar a bicicleta e (5) medo de andar de bicicleta; de NORMA DESCRITIVA – (1) Comportamento no trânsito entre motoristas e ciclistas, de CONTROLE COMPORTAMENTAL PERCEBIDO – (1) condições meteorológicas, (2) infraestrutura cicloviária, (3) tempo de deslocamento com o uso da bicicleta e (4) volume do tráfego motorizado e SOCIODEMOGRÁFICAS – (1) gênero, (2) faixa etária e (3) renda domiciliar.

Vale salientar que mesmo desconsiderando o constructo NORMA SUBJETIVA como preditor da intenção de uso frequente da bicicleta, esta nova proposta não compromete o método aplicado nesta pesquisa, pois de acordo com a TCP pode-se ter como preditor de qualquer intenção comportamental apenas as atitudes, ou atitudes e controle podem ser suficientes, e, ainda, em outros casos, os três determinantes seriam relevantes (que seriam atitude, norma subjetiva e controle percebido) (FLEISCHFRESSER, 2005). No entanto, na aplicação do questionário da pesquisa de campo, houve disponibilidade de resposta aberta para citação de novas variáveis que influenciam no uso da bicicleta para ir ao trabalho e/ou escola, podendo, inclusive, aparecer variáveis que se enquadram com as normas subjetivas ou relacionadas a novos constructos que poderão ser adicionados ao modelo em outras ocasiões de pesquisa.

Observa-se que no modelo criado, o comportamento a ser analisado é referente ao uso frequente da bicicleta (para ir ao trabalho e/ou escola) e não ao uso deste modo apenas para lazer e/ou esporte. No entanto, as variáveis que foram consideradas para determinação das crenças salientes vêm de pesquisas que não consideraram apenas este uso frequente, mas todas as formas de uso deste modo. Frisa-se que foram consideradas as influências das variáveis no uso da bicicleta, independente da frequência deste uso. Mesmo assim, observa-se que as 13 crenças selecionadas para o modelo são claramente variáveis que podem influenciar no intuito de uso da bicicleta para ir ao trabalho e/ou escola.