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3 O Planeamento na Economia do Mar

3.1 Economia do Mar

3.1.3 Economia e Política Marítima Europeia

3.1.3.2 O Crescimento Azul para a UE (2020)

O crescimento da economia azul, baseada em princípios de sustentabilidade, deverá ser suportado no conhecimento dos recursos e das suas dinâmicas, garantido um bom estado ambiental e uma adequada compatibilização entre a preservação do meio marinho e as atividades marítimas. Os objetivos da estratégia “Europa 2020” podem ser concretizados atuando em múltiplas dimensões. Neste contexto, os oceanos e os mares oferecem uma oportunidade e um desafio.

Neste enquadramento, considera-se fundamental dispor de informação de suporte, abrangendo diversas áreas como a topografia, a geologia, os habitas, ou as atividades humanas desenvolvidas no mar. Para esse efeito, a DG MARE disponibilizou para consulta pública o Livro Verde “Conhecimento do Meio Marinho 2020 – da cartografia dos fundos marinhos à previsão oceanográfica”. O período de participação pública terminou a 15 de Dezembro de 2012 e esteve aberto aos contributos dos cidadãos e das organizações, através do preenchimento de um questionário, na página eletrónica da DG MARE.

A Comissão Europeia apoia a formação e desenvolvimento de clusters marítimos, reconhecidos como potentes motores do desenvolvimento sustentável e condutores da inovação. Os clusters fornecem um ambiente de negócios fértil para as empresas, especialmente para as pequenas e médias empresas (PME), possibilitam a colaboração com instituições de pesquisa, fornecedores, clientes e concorrentes, localizados potencialmente, mas não só, na mesma área geográfica.

Figura 39: Colaboração internacional (baseado no European Cluster Development

Opportunities, Bill Greenhalgh, 2010)

As grandes áreas de crescimento azul da União Europeia, normalmente abordadas são:

Monitorização e vigilância marítima;

Alimentação, nutrição, saúde e serviços de ecossistemas; Energia e materiais brutos;

Lazer, trabalhar e viver; Proteção costeira

Transportes marítimos e construção naval.

No domínio do crescimento azul para a UE, no que diz respeito à política marítima integrada, verifica-se atualmente um grande dinamismo, com a fixação de metas de curto e longo prazo, em especial as que estão propostas para 2020. Nesse sentido, as principais diretivas assentam nos seguintes aspetos:

Reforçar a contribuição dos setores marítimos para a Europa;

Definir as melhores condições para o crescimento dos setores marítimos; Maximizar a utilização sustentável das atividades no mar;

Apoiar a mobilidade de emprego e carreiras profissionais entre todos os setores; Fazer a ponte entre os fornecedores de conhecimentos e os utilizadores finais; Reforçar os benefícios territoriais da política marítima;

Proteger os ecossistemas marinhos como um fator de crescimento económico; Organizar a comunidade marítima europeia.

Como possíveis constrangimentos, à implementação desses objetivos, são apontados algumas dificuldades, em especial as seguintes:

Falta de análise abrangente a fatores de crescimento e a futuras opções políticas;

Necessidade de uma melhor compreensão do impacto causado pelas novas tecnologias, dos fatores externos e das grandes tendências;

Baixo desenvolvimento dos setores marítimos.

Assim, a UE pretende olhar para as principais áreas da economia marítima e avaliar o seu potencial (qualitativa e quantitativamente). Para que as metas sejam alcançadas em 2020, estão definidas sete iniciativas emblemáticas, três prioridades e cinco objetivos, resumidos na Tabela 15.

Iniciativas emblemáticas Prioridades Objetivos

- Agenda Digital para a Europa - União da Inovação - Juventude em Movimento Crescimento inteligente * Inovação, Investigação e Desenvolvimento * Educação e competências * Mudança climática e energia * Emprego * Inclusão e combate à pobreza

- Europa de recursos eficientes - Uma política industrial para a era da globalização

Crescimento sustentável - Uma agenda para novas competências

e o emprego

- Plataforma europeia contra a pobreza

Crescimento Inclusivo

Tabela 15: Prioridades e objetivos para a Europa em 2020

3.1.4 Economia Marítima Portuguesa

O texto seguinte de Oliveira Martins (História de Portugal) relata o envolvimento dos portugueses pelo mar, que conduziram aos descobrimentos e a uma liderança mundial do conhecimento das atividades marítimas.

“A empresa iniciada pelo Infante D. Henrique prosseguia nas mãos do rei, que tomara a peito descobrir os mundos remotos. O seu poder naval era já tão grande, que o Tejo via com pasmo o famoso galeão de mil tonéis, monstro boiando na água, eriçado de canhões. Nunca os estaleiros tinham produzido navio tão grande; nunca até aí surgira a ideia que o rei teve de artilhar as caravelas, dando um alcance e uma mobilidade desconhecida aos trons do mar. No seu pensamento havia um propósito firme de o subjugar, desvendando-o até aos seus últimos confins, dissipando inteiramente as trevas e mistérios das ondas. Mandou aperfeiçoar as bússolas,

que entraram os seus físicos, mestre José e mestre Rodrigo, ambos judeus, como o famoso alemão Behaim, discípulo de João Monte Régio, que em Viena estudara astronomia com o célebre Purbach.” “Foi essa Junta que inventou as tábuas de declinação do Sol, permitindo aos navios alongarem-se das costas, rumando seguros em alto mar. Traçavam-se como que estradas sobre as ondas, estradas tão misteriosas como as regiões da Mina, cuja navegação costeira a astúcia do rei envolvia em descrições terríveis para afugentar rivais – à maneira do que os fenícios tinham feito, quando os romanos pretendiam segui-los nas suas viagens mediterrâneas. A posse dos segredos das costas e dos segredos das rotas enchia de confiança o ânimo do rei no futuro grandioso do seu império. O cabo da extrema África, limite por tanto tempo invencível, tinha já recebido o nome de Boa Esperança! (1486)”.

Na expressão de Donald Sassoon (Cem Anos do Socialismo) Portugal tirou proveito do crescimento económico europeu dos “30 gloriosos anos” do pós-guerra e, como salientou Henry Weber (Le troisième age du socialisme), permitiram à Europa e a Portugal, em particular, o êxito de Estados simultaneamente “redistribuidores”, “reguladores”, “desenvolvimentistas” e “estrategas”. Com a democratização e a descolonização e, posteriormente, com a integração na UE e a consequente abertura económica, Portugal procurou novas tendências de desenvolvimento, nomeadamente de intervenção macroeconómica.

Porém, Portugal defronta-se com um cenário de crise estrutural, que exige uma resposta para “o que fazer” e “como agir”. O estudo da economia marítima portuguesa caracteriza-se pela falta de dados, em quantidade e qualidade, o que obsta a um melhor conhecimento da realidade nacional. Todavia, com os dados disponíveis, podemos analisar alguns aspetos relevantes.

Portugal tem um território de 92.207 Km2, distribuído pela parcela continental e arquipélagos dos Açores e Madeira, apresentando a sua costa uma extensão significativa de 1.436 Km. Portugal ocupa o 110º lugar do ordenamento dos países em função da sua dimensão territorial. As águas interiores portuguesas totalizam 13.397 Km2 e o mar territorial de 50.957 Km2. A Zona Económica Exclusiva, com uma área de 1.660.456 Km2, corresponde ao valor de 18 vezes a área terrestre nacional e cerca de 19 vezes se incluirmos as águas interiores, mar territorial e ZEE. Se considerarmos a área terrestre e o espaço marítimo das águas sob soberania e jurisdição nacional, Portugal sobe para a 11ª posição, ocupando um lugar cimeiro. Refira-se que, excetuando as zonas marítimas dos territórios ultramarinos da França e Reino Unido, Portugal é o país da UE com maior vastidão de águas jurisdicionais. A dimensão nacional irá melhorar ainda muito mais, com a esperada inclusão dos novos territórios oceânicos, provenientes da extensão da plataforma continental, que envolve uma expansão de 3.769.293 Km2, duplicando a atual extensão de fundos marinhos.

O mar sob jurisdição portuguesa significa uma relevante área geoestratégica para a segurança nacional, europeia e atlântica. Da análise dos recursos e dos setores relativos

ao mar, resulta um leque de oportunidades em vários setores, nomeadamente: no desenvolvimento da aquacultura e da indústria transformadora de pescado; no desenvolvimento de portos nacionais; na construção e reparação naval; na qualificação do turismo; no desenvolvimento da náutica de recreio; na tecnologia e robótica submarina; nas energias renováveis; na cultura e diplomacia; na defesa e segurança; no ambiente e meio marinho; na ciência e investigação; e na própria governação. Estas oportunidades, na sua maioria, estão à espera de serem aproveitadas e não se limitam a um potencial conhecido, mas incluem novos usos do futuro.

Grandes constrangimentos têm impedido o desenvolvimento da economia do mar português. Refira-se, por exemplo, o nosso elevado défice público, como mostra a Figura 40 e a baixa taxa de crescimento do produto interno bruto, como mostra a Figura 41

Figura 40: Défice público português (Fonte: INE–BP, PORDATA)

Em Portugal, à exceção do turismo, o afastamento do mar é comprovado pelos indicadores relativos aos setores e atividades marítimas. No entanto, 60% das exportações portuguesas e 70% das nossas importações usam a via marítima, incluindo a totalidade do petróleo e quase dois terços do gás natural que consumimos. Sendo a grande fronteira de Portugal o mar, um facto curioso registou-se a partir do final da década de 1990, onde as exportações por via marítima foram ultrapassadas pelas exportações por via rodoviária. Acresce ainda que 53% do comércio externo da UE passa por águas portuguesas, como mostra a Figura 42.

O estudo da PRC (2010) para a UE, refere que o mar português apresenta, na sua maior parte, profundidades superiores aos 200 metros, o que o torna desfavorável à localização de potenciais atividades económicas, ao contrário do que acontece nos mares do Norte e Báltico. Com efeito, no mar português existe uma faixa relativamente pequena de águas rasas (0 - 200 m) e médias (200 m - 1000 m) perto do Continente Português, seguindo-se um declive acentuado do fundo do mar, que entra rapidamente em águas profundas (> 1000m). Dentro das águas pouco profundas já se exercem diversas atividades, tais como transporte marítimo, pesca, aquicultura marinha, exploração off-

shore de petróleo, turismo náutico e dragagens. Registe-se que também existem planos

para expandir a maioria destas atividades. Nesse estudo e no que se refere a Portugal, são salientados os seguintes pontos:

Cerca de 67% das importações portuguesas são feitas pelo mar, apesar da pequena dimensão da frota nacional;

Em 2008, as receitas provenientes de dragagens ascenderam de 14,3 milhões de Euros, gerando um VAB de 5,8 milhões de Euros, sendo esperado para 2010 um crescimento acima dos 10%;

Portugal não explora qualquer reserva de petróleo ou gás natural, embora existam grandes zonas marítimas concessionadas à sua prospeção;

As energias renováveis "off-shore" têm uma expressão pouco significativa, pois as áreas apropriadas a parques eólicos são escassas (áreas com uma profundidade máxima de 30-40 metros), pelo que a sua expansão depende do desenvolvimento de turbinas flutuantes. Existem planos para a construção de centrais eólicas em cinco áreas marítimas dimensionadas para uma capacidade de produção de 856 MW; No que respeita à energia das ondas e marés, devido à sua posição geográfica e

geológica, Portugal tem recursos disponíveis para a produção de 15 GW. Atualmente existe a produção experimental no valor de 2,25 MW, com possibilidades de expansão até aos 20 MW e já existem propostas para a concessão de uma área de 335 km².

A frota de pesca (local, costeira e de longa distância) compreende 8.585 navios, num total de 106.516 GT. Este setor emprega cerca de 27 mil pessoas, das quais 16 mil pescadores. Em 2006 as capturas cifraram-se em 229 mil toneladas (peso vivo) enquanto o total de desembarques atingiu as 166 mil toneladas, com um valor de 213 milhões de Euros. O VAB das pescas em 2010 foi de 365 milhões de Euros, cerca de 0,4% do PIB nacional.

Na aquacultura existem 24 explorações operacionais “off-shore” nas águas territoriais, das quais seis no continente. O VAB da aquacultura (marinha e terrestre), em 2010, foi de 23 milhões de Euros;

No que respeita à conservação da natureza, 1.763 km² do espaço marinho é reconhecido como Zona Natura 2000, existindo uma área de 5.698 km² considerada área marinha protegida. Existem duas zonas classificadas, nas quais a pesca é restrita ou temporária e outras áreas onde são interditos determinados tipos de artes de pesca;

O turismo de cruzeiros, em 2008, faturou 50 milhões de Euros, gerando um VAB de 20 milhões de Euros.

Já o turismo marítimo de recreio (náutica, mergulho, pesca) deverá, em 2010, ter receitas de 200 milhões de Euros e um VAB de 96 milhões de Euros.

Existem potenciais conflitos de interesse na ocupação do espaço marítimo entre as pescas e a instalação de parques de energia eólica off-shore, energia das ondas e das marés.