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3 O Planeamento na Economia do Mar

3.1 Economia do Mar

3.1.3 Economia e Política Marítima Europeia

3.1.4.1 Transportes Marítimos

Durante o período das possessões ultramarinas, o mar constituía o principal meio por onde passavam as ligações entre os dispersos territórios nacionais, o que evidenciava a sua importância para Portugal. Além desse interesse nacional, também aspetos históricos e culturais de convivência com o meio marinho, formavam um elo de profunda ligação entre Portugal e o mar. Nessa época, registou-se uma marinha de comércio de grande dimensão, mesmo à escala mundial, de uma frota de pesca capaz de satisfazer as necessidades de uma população e de uma estrutura portuária por onde passavam a quase totalidade das importações e exportações portuguesas.

De acordo com os valores estatísticos registados ao longo de vários anos, a evolução da frota nacional está associada a três períodos distintos:

Período anterior ao 25 de Abril de 1974 - em que uma política de integração do espaço territorial nacional suportava diversas formas de apoio à frota de registo português, mantendo uma marinha mercante significativa;

Período da descolonização - que levou à perda dos tráfegos coloniais, mantendo-se apenas alguns mecanismos de preferência dos navios de bandeira portuguesa ou afretados por armadores nacionais em tráfegos externos;

Período comunitário - que se seguiu à introdução, na ordem jurídica interna, das orientações comunitárias, em termos de regras de concorrência e de livre acesso aos mercados, que apenas tem permitido alguma atuação controlada dos armadores nacionais nos tráfegos insulares, no âmbito do serviço público que lhes está associado.

Figura 42: Extensão dos principais eixos transeuropeus de transporte aos países vizinhos, com relevo para Portugal (Fonte: COM 2007 32 final)

A marinha mercante portuguesa registou uma tendência crescente até à década de 1980, mas seguindo-se, nos anos seguintes, um acentuado decrescimento, como mostra a Figura 43.

Depois de Abril de 1975, com o novo quadro geopolítico e posteriormente com a adesão à Europa, o país não soube manter o equilíbrio que precisava e deixou definhar as suas atividades marítimas, não aproveitando até algumas oportunidades que as políticas da UE lhe podiam proporcionar. É pelo menos isso que se pode concluir dos resultados

visíveis da política da UE, segundo o Sjofartens Analys Institut da Noruega, que relata relativamente a outros países:

Na Holanda, de 1996 a 2001, o número de navios mercantes e a sua tonelagem aumentaram respetivamente de 40% e 37%; o número de tripulantes nacionais aumentou 34% e o total de marítimos cresceu 69%. No Reino Unido, de 2000 a 2002, o número de navios e a tonelagem

aumentaram respetivamente 13% e 57%; o número de instruendos a bordo dos navios subiu 35%.

A Dinamarca, de 1988 a 2003, construiu a frota mais moderna do mundo e mais do que duplicou a sua tonelagem.

Figura 43: Evolução da frota nacional (em TDW) controlada por armadores portugueses (Fonte: IPTM 2011)

De acordo com o relatório do Ministério das Obras Públicas Transportes e Comunicações (2007), o transporte marítimo, sendo o mais internacional meio de transporte de mercadorias, assume uma importância vital para o desenvolvimento económico, uma vez que grande parte das importações e exportações do comércio mundial é feita por via marítima, representando 80% do comércio internacional,

envolvendo 53.000 companhias e organizações na sua atividade e contribuindo com 200 mil milhões euros para a economia mundial.

A Tabela 16 apresenta o número de navios, por tipo e registo, controlados por armadores nacionais (Fonte: IPTM 2011).

Tabela 16: Número de navios por tipo e registo, controlados por armadores nacionais (Fonte: IPTM 2011)

O registo de navios controlados, direta ou indiretamente, por armadores nacionais diminuiu rapidamente de 152, em 1970, para 13 navios, em 2012, como mostra a Tabela 17. Por outro lado, a idade média destes navios é extremamente elevada, rondando os 33 anos, valor que ultrapassa o tempo médio de vida útil dos navios. Este número ainda vai ficar mais reduzido, pois dois dos armadores, que ainda detêm navios em registo nacional, já anunciaram a passagem desses navios para um registo de conveniência. Também a frota pesqueira reduziu significativamente, em cerca de 20% (só na última década).

Registo – Nr / TDW 1970 1980 1990 2000 2009 2012

Registo Convencional (Nrº Navios

/ Tonelagem DWT 103 ton) 152 - 94 2081,8 58 1179,5 28 272,6 13 80,5 13 81.4 Registo MAR (Nrº Navios /

Tonelagem TDW 103 ton) - - 1 2,8 24 330,2 25 103,6 22 94.2 Total de Navios Controlados

(Nrº Navios / Tonelagem 103 ton)

(inclui temporários) - 97 2086,7 63 1233,7 58 626,1 39 187,7 49 812.0

Tabela 17: Frota Nacional ao Serviço de Armadores Nacionais (Nota: * frota controlada direta ou indiretamente por armadores portugueses) Fonte: IPTM; INE

Para Tiago Pitta e Cunha (2011) a situação a que deixámos chegar a nossa frota de cargueiros é absolutamente inacreditável. Um país marítimo, com uma zona económica dezoito vezes maior que a área continental, que tem nas ligações marítimas aos arquipélagos dos Açores e da Madeira, um fator de coesão nacional essencial e crucial e que importa por via marítima grande parte das suas mercadorias, devia de ter uma frota de cargueiros com alguma dimensão.

Segundo a Associação de Armadores da Marinha de Comércio (AAMC), Portugal conta atualmente com 19 armadores inscritos, mas só doze têm navios registados, em registo nacional, da Madeira ou outro. Também, segundo o IPTM, o número de marítimos portugueses ao serviço de armadores nacionais, passou nas últimas duas décadas de dois mil para cerca de quinhentos marítimos inscritos.

É notório o decréscimo do número de navios de comércio de registo convencional registados em Portugal, particularmente até ao ano de 1993, a partir do qual, tal decréscimo se apresenta menos acentuado. O número de navios controlados por armadores nacionais registados no RINM-MAR (Registo Internacional de Navios da Madeira) tem vindo a aumentar notoriamente, sendo de 25 navios em 2009. Da análise da evolução da frota de registo no RINM-MAR pode-se constatar o carácter eminentemente internacional do referido registo, como mostra a Figura 44. Em 1 de Janeiro de 2009, assinala-se que 80% da frota de comércio registada no RINM-Mar corresponde a interesses estrangeiros.

Figura 44: Evolução da frota de registo no RINM-MAR , controlada por Armadores Nacionais e Estrangeiros (Fonte: IPTM 2011)

O transporte marítimo está associado aos portos e por sua vez a toda uma cadeia de empresas: logísticas, transitários, carregadores, agentes de navegação, serviços aduaneiros e de sanidade, como se mostra na Figura 45.

Fornecedor / Carregador

Agentes de Navegação

→ Operador Portuário Empresas e serviços de trabalho Portuário

Transitário ↓↓↓ Alfandega

NAVIO Estrangeiros e Fronteiras

Armador Sanidade Transitário ↓↓↓ Capitania Recebedor

Agentes de Navegação ← ← ←

Operador Portuário Segurança e Controlo de Tráfego Marítimo

Figura 45: Cadeia de transportes e serviços marítimos de base

A utilização dos transportes marítimos é geralmente complementada por outros serviços de modo a ligar o fornecedor ao destinatário, do tipo: serviços porta-a-porta, por ligações rodoviárias ou ferroviárias. Para que estes serviços possam ocorrer, de forma organizada e competitiva, torna-se necessário avaliar um conjunto de variáveis em termos de: tráfego, tipo de navios, ocupação portuária, plataformas logísticas e fluxos de informação, entre outras.