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3 O Planeamento na Economia do Mar

3.1 Economia do Mar

3.1.2 Economia e Política Marítima Mundial

A economia mundial, entre 2003 e 2008, atingiu um valor máximo de desenvolvimento, com um crescimento médio anual de 3,9% (2008), ao qual se seguiu uma enorme recessão, a mais grave desde o início dos anos 1970, como se mostra na Figura 33. A figura também mostra a estreita correlação entre os ciclos da economia mundial e os ciclos do comércio marítimo.

Figura 33: Percentagem de crescimento em função do PIB. (Fonte: Clarkson R.S. 2011)

Ao longo das últimas cinco décadas o crescimento anual do comércio marítimo registou amplas variações, de 7,5% por ano na década de 1950, para um mínimo de 0,9% na década de 1980. Na década de 2000 a 2009, o comércio cresceu cerca de 3% ao ano.

A título informativo, indicam-se na Tabela 11 os valores (em milhões de euros) dos principais setores da economia marítima, relativos ao ano de 2004, estimados pela Douglas-Westwood (2005), a nível mundial e europeu.

Da análise da Tabela 11 resulta a importância dos transportes marítimos, com uma cota mundial de 36,2% e Europeia de 48,6%. Assim, os transportes marítimos são o alicerce do comércio mundial, uma vez que cerca de 90% das trocas comerciais se efetuam por via marítima, valor que aumenta nalguns países, chegando a representar 95% do seu comércio externo.

Setores Marítimos Mundiais Valores relativos a 2004 Valor Mundial

(milhões euros) % do total Valor Europeu (milhões euros) % do Total Cota Europeia do valor mundial Transporte Marítimo 342.743 36,22% 151.137 48,63% 44,1% Turismo náutico 168.189 17,78% 71.812 23,11% 42,7%

Petróleo & Gás offshore 91.146 9,63% 19.112 6,15% 21,0% Transformação de pescado 79.859 8,44% 8.241 2,65% 10,3% Equipamento Marítimo 72.871 7,70% 16.675 5,37% 22,9% Pesca 55.983 5,92% 4.758 1,53% 8,5% Construção Naval 37.746 3,99% 13.143 4,23% 34,8% Portos 25.017 2,64% 10.478 3,37% 41,9% Aquacultura 23.876 2,52% 3.483 1,12% 14,6% Indústria de Cruzeiro 12.000 1,27% 2.365 0,76% 19,7% Investigação e desenvolvimento 10.629 1,12% 3.273 1,05% 30,8% Serviços Marítimos 6.840 0,72% 2.736 0,88% 40,0%

Apanha de Algas 5.988 0,63% n/a n/a n/a

TI Marítimas 3.570 0,38% 1.382 0,44% 38,7%

Minerais e Agregados Marinhos 2.741 0,29% 1.344 0,43% 49,0%

Biotecnologia Marítima 2.190 0,23% n/a n/a n/a

Pesquisa Oceanográfica 2.013 0,21% 538 0,17% 26,7%

Treino & Formação 1.537 0,16% n/a n/a n/a

Telecomunicações submarinas 1.126 0,12% 185 0,06% 16,4%

Energia Renovável 128 0,01% 121 0,04% 94,5%

Total 946.192 1 310.783 Coef. Cor. 0,97

Tabela 11: Faturação dos Setores Marítimos (Fonte: Douglas-Westwood, 2005)

O setor dos transportes marítimos viveu o melhor período de sempre nos últimos anos, com as taxas de frete a atingirem valores nunca antes alcançados. Esta subida das taxas de frete ocorre com o crescimento muito significativo do comércio mundial, onde não foi possível acompanhar o aumento da oferta do transporte. No mesmo período registou-se também um forte impacto nas encomendas efetuadas aos estaleiros navais.

capacidade oferecida. Este decrescimento, obviamente, terá impactos muito significativos nos setores da construção naval e dos serviços e equipamentos marítimos. A Figura 34 regista os valores de entregas e encomendas de navios nos últimos anos.

Figura 34: Valores de entregas e encomendas de navios. Fonte: Clarkson Research

Services (2011)

Pode dizer-se que, ao longo dos anos, o transporte marítimo apresentou baixos custos, com um desempenho fiável e eficiente e tem contribuído em muito na chamada globalização. Pouco interessa onde se encontram as matérias-primas e os locais de produção ou os destinos das mercadorias, pois os transportes e a logística asseguram facilmente essas tarefas. Como resultado, o mundo está no caminho de uma economia global e integrada, onde, na maioria dos casos, o transporte marítimo desempenha um papel crucial.

Um estudo desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América, feito na década de 1990, perspetivava a triplicação do comércio marítimo até 2020, com ênfase para o crescimento do transporte contentorizado. Esta perspetiva está a ser confirmada, como se representa no gráfico da Figura 34 que mostra os valores de entregas e encomendas de navios e no gráfico da Figura 35, que mostra o crescimento do comércio marítimo nas últimas décadas. Sem esse avanço nos transportes marítimos, a globalização do comércio internacional não teria crescido ao ritmo em que se tem concretizado.

Figura 35: Comércio Marítimo de 1840 a 2010 e extrapolação até 2060. Fonte: Clarkson

Research Services (2011)

Na perspetiva anterior, segundo um estudo publicado pela Drewry Shipping Consultants Ltd (2012), o rendimento global dos portos passou de 279,3 milhões de Teus, em 2002, para 558,8 milhões, em 2011. O estudo revela ainda que os portos chineses, destinados à movimentação de contentores, são atualmente responsáveis por 30% do volume internacional de contentores manuseados em todo o mundo. Estes valores, sem dúvida, traduzem a importância dos portos chineses na movimentação de contentores, a qual duplicou na última década.

A Clarkson Research Services (2011), na análise da economia mundial, refere que os ciclos comerciais marítimos seguem, aproximadamente, os ciclos do PIB mundial e que, de 1990 a 2008, o comércio marítimo quase duplicou, atingindo 8,2 biliões de toneladas, como se mostra a Figura 36. Os valores referidos representam atualmente mais de uma tonelada movimentada para cada habitante do planeta terra.

Com base nos dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), a Tabela 12 apresenta valores do comércio marítimo, em milhões de toneladas e por grandes regiões ou agrupamentos de países. Fazendo uma breve análise verifica-se que os países desenvolvidos com economia de mercado representam 38.7% do valor mundial das exportações e 58.2% do valor mundial das importações. Ainda segundo a UNCTAD, o comércio marítimo gera anualmente um volume de negócios equivalente a 5% do valor do comércio mundial, o que revela bem a importância do setor dos transportes

marítimos. Situação bem diferente é a que se tem passado nas últimas décadas em Portugal.

a) b)

Figura 36: Relacionamento: a) - do comércio marítimo mundial com o PIB e b) - crescimento da frota marítima (Fonte: Clarkson Research Services 2011)

Países Desenvolvidos com Economia de Mercado (PDEM)

Exportações Importações

Liquida Seca Total Liquida Seca Total América do Norte 95.1 502.8 597.9 681 .9 442.2 1.124.1. Europa 105.3 1.065.1 1.170.4 542.9 1.514.9 2,057.8 Japão 4.3 185.5 189.8 247.5 584.7 832.2 Austrália/Nova Zelândia 14.0 604.4 618.4 39.9 47.9 87.8 Outros 0.0 171.6 171.6 16.2 23.5 39.7 Total PDEM 218.7 2.529.4 2.748.1 1.528.4 2.613.2 4.141.6

Países Europa Central e Oriental 177.2 181.0 358.2 13.7 67.4 81.1 Países Socialistas Ásia 38.6 478.4 517.0 153.0 583.9 736.9 Países em Desenvolvimento 1.987.4 1.498.1 3.485.5 731.0 1.431.4 2.162.4

MUNDO 2.421.9 4.686.9 7.108.8 2.426.1 4.695.9 7.122.0 Tabela 12: Comércio marítimo, em milhões de toneladas (UNCTAD 2006)

O aumento global da população, associado á cada vez maior escassez de recursos, conduz a alterações no poder económico, na busca de novas fontes produtivas e em contendas que, obviamente, também se estendem à posse do mar. Segundo o relatório de 2006 da Organização para a Agricultura e a Alimentação, FAO (Food and Agriculture

Organization), integrada na ONU, 52% dos recursos pesqueiros encontram-se plenamente

explorados, 17% explorados além do nível ideal e 7% já esgotados. Face a esta situação, de grande gravidade, a FAO tem alertado para um planeamento mais eficaz das atividades de pesca e por um maior controlo e vigilância das frotas pesqueiras. Segundo a FAO (review of the state of world marine fishery resources – 2011) e o Banco Mundial, a tendência global de procura dos produtos do mar regista um crescimento acentuado nos últimos anos, como se representa na Figura 37.

Figura 37: Produção mundial dos setores da pesca e aquicultura (Fonte: FAO, 2011)

Algumas das decisões estratégias dos últimos anos, preconizadas a nível mundial e relacionadas, direta ou indiretamente, com a economia do mar, são as seguintes:

A Conferência das Nações Unidas sobre ambiente e desenvolvimento, Rio de Janeiro, 1992;

A Agenda 21, no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre o ambiente e desenvolvimento sustentável, realizada no Rio de Janeiro, em 1992. Uma das medidas adotadas, compromete os países com zonas costeiras, incluindo os da União Europeia, a promover a gestão integrada e o desenvolvimento sustentável das zonas costeiras e marinhas;

A Cimeira sobre desenvolvimento sustentável, que ocorreu em Joanesburgo (Julho de 2002);

A Convenção OSPAR (1992), sobre a proteção do ambiente marinho no atlântico nordeste.

A Convenção das Nações Unidas sobre a Lei do Mar (UNCLOS - United Nations

Convention on the Law of the Sea, 1982);

A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (UNFCCC - United

Nations Framework Convention on Climate Change) na ECO-92 no Rio de Janeiro,

Brasil (junho de 1992);

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO -

United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) editou em 1997 o

“Guide Méthodologique d`Aide a la Gestion Intégree de la Zone Côtière“.

A publicação da UNESCO (2009), sobre o Planeamento Espacail Marítimo "Step-by-

Step Approach for Marine Spatial Planning toward Ecosystem-based Management",

Paris.

São ainda de realçar as seguintes Convenções da Organização Marítima Internacional (IMO - International Maritime Organization), as quais têm sido revistas por diversas vezes e se encontram ratificadas pela maioria dos estados:

SOLAS, 1974 - International Convention for the Safety of Life at Sea (Convenção Internacional para a Salvaguarda da vida Humana no Mar);

SAR, 1979 - International Convention on Maritime Search and Rescue (Convenção Internacional de Busca e Salvamento);

MARPOL, 73/78 - International Convention for the Prevention of the Pollution

from Ships, 1973, as modified by the Protocol of 1978 relating thereto

(Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios);

LDC, 1972 - Convention on the Prevention of Marine Pollution by Dumping of

Wastes and Other Matter (Convenção sobre a Prevenção da Poluição Marinha

Devida a Descarga de Resíduos e outras matérias);

OPRC, 1990 - International Convention on Oil Pollution Preparedness, Response

and Co-operation (Convenção Internacional sobre Poluição por Hidrocarbonetos, Resposta e Cooperação);

HNS, Protocol 2000 - Protocol on Preparedness, Response and Co-operation to

pollution Incidents by Hazardous and Noxious Substances (Protocolo em

Preparação, Resposta e Cooperação para os Incidentes de Poluição Devidos a Substâncias Perigosas e Tóxicas);

International Convention on the Control of Harmful Anti-fouling Systems on

Ships, 2001 (Convenção Internacional sobre o Controlo dos Efeitos Nocivos dos

LL, 1966 - International Convention on Load Lines (Convenção Internacional de Linhas de Carga);

STP, 1971 - Special Trade Passenger Ships Agreement (Acordo para o Tráfego dos Navios de Passageiros);

Protocol on Space Requeriments for Special Trade Passenger Ships (Protocolo sobre o Espaço Requerido para os Navios de Passageiros);

COLREG, 1972 - Convention on the International Regulations for Preventing

Collisions at Sea (Convenção Internacional para Prevenção de Colisões no

Mar);

CSC, 1972 - International Convention for Safe Containers (Convenção Internacional sobre a Segurança de Contentores);

INMARSAT, 1976 - Convention on the International Maritime Satelite

Organisation (Convenção sobre a Organização Internacional dos Satélites

Marítimos);

SFV, 1977 - The Torremolinos International Convention for the Safety of Fishing

Vessels (Convenção Internacional de Torremolinos para a Segurança dos

Navios de Pesca);

STCW, 1978 - International Convention on Standards of Training, Certification

and Watchkeeping for Seafarers (Convenção Internacional sobre as Normas de

Formação, Certificação e Serviço de Quartos para os Marítimos);

STCW-F, 1995 - Internal Convention on Standards of Training, Certification and

Whatchkeeping for Fishing Vessel Personnel (Convenção Internacional sobre as

Normas de Formação, Certificação e Serviço de Quartos para o Pessoal da Pesca);

INTERVENTION, 1969 - International Convention Relating to Intervention on

the High Seas in Cases of Oil Pollution Casualties (Convenção Internacional

sobre a Intervenção no Alto Mar em Caso de Acidente que Provoque ou Possa Vir a Provocar a Poluição por Hidrocarbonetos);