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Após a etapa de pesquisa qualitativa, em que foi possível se aproximar mais do público- -alvo e compreender determinadas preferências, optou-se por escolher uma das crianças para o desenvolvimento de mais páginas contendo uma narrativa. André, 7 anos, foi se- lecionado porque se mostrou mais receptivo à proposta. Essa etapa foi realizada na casa da criança, na presença de seu pai e utilizando como materiais para o desenvolvimento da história lápis grafite e canetas hidrográficas de diferentes cores. Para o processo de criação, que durou uma hora, foi explicado a proposta da atividade. André escolheu uma temática familiar para ele, que visitou o aquário de Natal recentemente e ficou fascina- do com o que viu. Após a definição do tema, ele criou os personagens e os nomeou. Na construção da narrativa ele começou a criação sozinho, mas foram feitas algumas inter- venções ao longo do processo.

A narrativa construída envolveu animais marinhos, que foram capturados por uma rede de pesca e levados ao aquário de Natal. O protagonista apresentado inicialmente é um peixe, de nome Peixão, que introduz a seguir seus amigos (Figura 42), o Turabão, tro- cadilho feito com a palavra tubarão; a Turartu, que é uma tartaruga; o Pularão, o polvo; a Água Morta, também um trocadilho; e o Crak Crak, o caranguejo. Depois da apresen- tação dos personagens, eles são capturados por um homem com uma rede, que leva um choque da Água Morta (Figuras 43). Ao escapar da rede eles caem em um tanque no aquário de Natal (Figura 44). Depois de fazer a história, a criança inseriu um gato nas páginas, afirmando que ele estava de olho nos peixes.

Figura 41: Desenho de André,

capa da história

Figura 42: Desenho de André, apresentação dos personagens

A narrativa criada por André foi importante para uma maior compreensão de como as crianças vêem as histórias. Para a concepção do livro pop up, alguns elementos da nar- rativa construída por André foram preservados, como o ambiente aquático e a inserção de espécies aquáticas como personagens. A partir dessa decisão de tema, surgiu a ideia de produzir um livro voltado à apresentação de espécies presentes em alguns biomas brasileiros.

Os personagens escolhidos foram a Payara (Hydrolycus scomberoides), também denomi- nada Cachorra ou Peixe-vampiro por possuir dentes caninos maiores que os demais; o Pirá-Brasília (Simpsonichthys boitonei

)

, ou peixe anual, encontrado somente em uma la- goa de Brasília que se forma uma vez ao ano; o Peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inun- guis), conhecido pelo som que emite, sendo muitas vezes associado à lenda das sereias; o Boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), conhecido pela lenda do folclore brasileiro que dizia

Figura 43: Desenho de André, animais sendo capturados pela rede de pesca e homem levando choque da Água Morta

Figura 44: Desenho de André, se- quência de imagens que mostram os animais se libertando da rede e caindo no aquário

que em noites de lua cheia, durante o período das festas juninas, ele se transformava em homem; o Pirarucu (Arapaima gigas), um dos maiores peixes de água doce do Brasil, po- dendo chegar a três metros de comprimento; o Poraquê (Electrophorus electricus), espécie de peixe-elétrico parecido com uma enguia; e o Aruanã (Osteoglossum bicirrhosum), que pode saltar até a um metro fora d’água para capturar suas presas. Após a definição dos personagens, foram construídos textos misturando dados sobre as espécies e lendas que as cercam, de modo a apresentá-los às crianças de uma maneira mais divertida. Optou- -se, então, em construir um livro informativo ao invés de uma narrativa convencional com apresentação, problema e desfecho. Após uma pesquisa breve, foram redigidos os textos para cada um dos animais selecionados.

Payara

Sou chamada de cachorra ou peixe-vampiro, Tudo por causa dos meus dentes caninos. Fiz da bacia Amazônica o meu lar,

Mas também em aquários você pode me encontrar.

Pirá-Brasília

Uma vez ao ano Você pode me encontrar

Embaixo da terra das lagoas de Brasília É onde vou estar.

Peixe-boi-da-Amazônia

Sou dócil e amo cantar,

Até com sereias podem me confundir. Gosto de comer algas,

E minha paixão é dormir.

Boto-cor-de-rosa

Sou muito inteligente E gosto de comemorar, Na festa junina diz a lenda

Que em homem vou me transformar.

Pirarucu

Meu nome significa peixe vermelho,

Até três metros de comprimento posso chegar. Sou o maior peixe de água doce do mundo, Duzentos quilos posso pesar.

Poraquê (peixe-elétrico da Amazônia)

Tenho corpo alongado e cilíndrico, Pareço uma enguia.

E igual a ela,

Aruanã

Tenho muitas escamas E gosto de saltar Para pegar comida

8. EXPERIMENTAÇÃO

Com o texto definido, foram realizados modelos iniciais de cada página dupla e em se- guida foi pensado em como seria a inserção dos elementos da engenharia do papel nas páginas. Tendo o intuito de apresentar diferentes mecanismos da engenharia do papel ao longo das páginas, para cada espécie foi designada uma técnica diferente.

Na apresentação do Payara (Figura 45) foram feitos recortes em dois pedaços de papel, dobrados ao meio, encaixados e colados na página dupla, criando uma estrutura que se arma a 180º; na tentativa de reproduzir o Pirá-Brasília (Figura 46), foi levada em conta a informação de que o mesmo deposita seus ovos na areia, que eclodem uma vez ao ano, e com isso foi criada uma aba representando a areia da lagoa, mostrando a espécie ao ser levantada. Para o peixe-boi-da-Amazônia (Figura 47) foi feita uma estrutura que se arma a 90º, para o boto-cor-de-rosa (Figura 48) foi escolhida uma estrutura que se desloca pela página horizontalmente de modo a mostrar sua transformação em homem.

Figura 45: Estudo da página dupla com estrutura que se arma com 180º representando o Payara

Figura 46: Estudo da página dupla com aba que, quando levantada, revela o Pirá-Brasília

Para representar o Pirarucu (Figura 49), que é um dos maiores peixes de água doce do Brasil, foram utilizadas duas folhas dobradas para passar a ideia de maior dimensão em relação aos outros.

Para o Aruanã (Figura 50) foi realizado um teste utilizando uma estrutura cenário para mostrar ele saltando para fora da página, mas os testes mostraram que a estrutura ga- nharia maior destaque do que o peixe, então foi decidido fazer outro mecanismo de modo que a espécie ficasse mais realçada.

Figura 47: Estudo da página dupla com estrutura que se arma com 90º representando o Peixe- -boi-da-Amazônia

Figura 48: Estrutura que se desloca horizontalmente, mostrando dois personagens diferentes, representando a transformação do Boto-cor-de- rosa em homem

Figura 49: Estudo da página dupla representando o Pirarucu

Para o Poraquê (Figura 51) foi escolhido o mecanismo da lingueta “pull-strip”. Foi feito um recorte no papel e por trás foi colocado um papel com raios desenhados e a lingueta que, quando puxada, mostrará os raios, dando a noção à criança de que o peixe produz energia.

Após os primeiros testes das estruturas foram feitas algumas observações, como a ne- cessidade de refazer alguns desenhos de modo a melhor ocupar o espaço das páginas duplas e organizar melhor a parte textual. O texto escrito foi impresso e recortado para melhor visualização das possibilidades projetuais.

Figura 50: Aruanã, em um cená- rio construído sobre a página

Figura 51: Poraquê com quadrado onde passará o desenho a ser ligado pela lingueta

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