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CRISE DO SNCR NOS ANOS 1980 E MODIFICAÇÕES A PARTIR DOS ANOS

CAPÍTULO II: O SISTEMA NACIONAL DE CRÉDITO RURAL SNCR

2.4 CRISE DO SNCR NOS ANOS 1980 E MODIFICAÇÕES A PARTIR DOS ANOS

Na década de 1980, o Brasil enfrentou uma crise econômica (inflação inercial e hiperinflação) a qual ficou conhecida como a “década perdida”. Para Delgado (1985) a política monetária impactou a

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Os bancos e agentes financeiros acabaram ficando extremamente conservadores na política de distribuição de empréstimos exigindo informações cadastrais, propriedade de bens imóveis, conhecimento e confiança.

captação de fundos que favoreciam a agricultura e outros setores, fazendo que o crédito declinasse no início dos anos 1980. Em 1982, por exemplo, Delgado (1985) cita que os créditos para investimento na agricultura representavam apenas 39% do valor concedido no ano de 1975.

As duas crises do petróleo em 1973 e 1979, ocorreram na fase de substituição de importação de insumos básicos para agricultura. Delgado (1985) lembra que até 1978 os investimentos industriais para produção de defensivos e de NPK40 continuaram em expansão com incentivos do II PND. A desaceleração do crédito de custeio e do uso de insumos modernos trouxe uma queda de 36% do consumo de fertilizantes em 1981 em comparação com o ano anterior. A queda do consumo, embora tenha aliviado as importações, também desmobilizou inversões em plantas industriais em fase final de montagem, como por exemplo, as fábricas de nitrogenados e ácido ortofosfórico. (DELGADO, 1985).

Para Delgado (1985), a superação da crise não levaria à reversão à forma de financiamento que vigorou com relativo sucesso até o final da década de 1970. Para esse autor (1985, p.82), as causas do declínio do crédito que favorecia a agricultura eram conjunturais, “com a queda da Renda Nacional e das disponibilidades líquidas manipuladas pelo Banco Central e Banco do Brasil” e estruturais “que afetaram de maneira profunda a mobilização dos depósitos à vista.” Para o autor, era inviável reativar o SNCR nos moldes em que havia funcionado até 1980. penso que as mudanças estruturais profundas, quer no sistema financeiro brasileiro, quer na própria estrutura agrária em geral, tornam inviável a reativação do Sistema Nacional de Crédito Rural, nos moldes em que funcionou até 1980. A sua reestruturação é uma questão essencialmente política, que no fundo requer um novo aparato financeiro do Estado para regulação do desenvolvimento rural. (DELGADO, 1985, p.84). Para Graziano da Silva (1998) o processo de modernização da agricultura brasileira nos anos 1980 sofreu redução de ritmo devido à quatro fatores principais: a recessão econômica imposta perante a crise a partir do final da década de 1970; redução do crédito que incentivava o processo de modernização; o caráter desigual e excludente que fazia com que os produtores mais aptos à modernização já estivessem

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inseridos no processo, e; a mudança do padrão de modernização da agricultura que se baseava na incorporação de novas tecnologias como microeletrônica e biotecnologias.

Segundo alguns autores (GRISA, 2012; BIANCHINI 2010; BITTENCOURT, 2003) houve uma exclusão dos mini e pequenos produtores por parte das instituições financeiras que adotaram procedimentos operacionais que dificultavam o acesso ao crédito no contexto dos anos 1980. Para Grisa (2012), quando chega à crise entre 1981-1982, acaba com o crédito subsidiado. Nesta época houve muita falência da agricultura familiar o que levou os bancos a reagir com o fechamento de linhas de crédito para esse setor.

Com o aumento das taxas de juros e a introdução da correção monetária, aqueles que conseguiram acesso ao crédito passaram por enormes dificuldades de saldar suas dívidas, seja pela alta dos encargos, seja pela queda nos preços dos produtos agrícolas (GRISA 2012). A partir de 1986, as taxas de inadimplência aumentaram significativamente, principalmente em consequência dos Planos Cruzado, Bresser, Verão I e II. Com isso houve crescimento do processo de seletividade dos bancos excluindo ainda mais os agricultores familiares do acesso ao crédito. (BITTENCOURT, 2003).

entre os anos de 1987 e 1988 todas as linhas de crédito foram indexadas e os preços recebidos pelos agricultores não acompanharam os índices gerais de preços (taxas médias de inflação), ampliando ainda mais a inadimplência nos anos seguintes. (BITTENCOURT, 2003, p.64). Em 1988, a Assembleia constituinte concedeu perdão das dívidas rurais contraídas para projetos com até 5 módulos fiscais. Após isso, embora tenha havido a tentativa de promover o crédito rural por meio de fontes não inflacionárias, a disponibilização dos recursos continuava fortemente vinculada ao estado por meio do Tesouro Nacional, Fundos Constitucionais e recursos controlados. (BITTENCOURT, 2003).

No final dos anos 1980, para se ter ideia da instabilidade do sistema de crédito rural, o número de clientes rural do BB, havia passado de 800 mil para 240 mil. Em relação ao volume de crédito rural contratado, Bittencourt (2003) afirma que em 1988 e 1989 havia sido contratado apenas 45% do valor liberado em 1980. No entanto, com o início do governo Collor, em 1990, os recursos para a agricultura foram

reduzidos ainda mais. Comparando o total emprestado em 198041, o volume emprestado entre 1990 e 1993 foi inferior a 30%. (BITTENCOURT, 2003).

Helfand e Rezende (2001) citam que com o Plano Collor e o congelamento de todos os ativos financeiros por 18 meses, incluindo-se também os fundos utilizados para prover liquidez ao setor agrícola, em 1990 o fluxo de crédito caiu 43% em relação ao ano anterior. Com isso, Helfand e Rezende (2001) afirmam que a redução do governo no financiamento à agricultura, nesse ano, foi um efeito colateral de decisões voltadas ao combate à inflação.

Para Graziano da Silva (1998) e Massuqueti (1998), entre as safras 1989/1990 e 1990/1991 o Governo Collor provocou uma série de consequências desastrosas. Em 1990 houve queda na taxa real do PIB agropecuário em (-4,4%) e queda no rendimento físico de importantes produtos agrícolas, bem como de determinados insumos e máquinas. Em 1991, houve redução na quantidade colhida que só não causou maiores impactos porque havia estoques das safras anteriores e das importações durante o Plano Cruzado.

Para Bittencort (2003), durante todo o processo entre o auge e o declínio do SNCR, os pequenos agricultores possuíam tratamento diferenciado dos setores patronais apenas em relação à taxa de juros e maior percentual em VBC42. Com isso, constata-se que “esta diferenciação não reduziu as dificuldades dos pequenos agricultores para acessar o crédito rural porque eles tinham menos condições de fornecer garantias e contrapartidas aos bancos, além do menor valor dos seus contratos.” (BITTENCOURT, p.64).