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Cultura vs Função docente

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 60-64)

3. Contextos de um epílogo – O Estágio Profissional

3.1. Enquadramento legislativo e institucional

3.1.1. Enquadramento Funcional – A Escola Alexandre Herculano

3.1.1.3. Cultura vs Função docente

A cultura é constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, ideias, valores, mitos, que se transmite de geração em geração, se reproduz em cada indivíduo, controla a existência da sociedade e mantém a complexidade psicológica e social (Nóvoa 2008). Diante da diversidade de culturas dentro de diversas culturas, é da

competência do professor ter claros os objectivos e resultados que pretende alcançar com uma actividade, para que os alunos tenham as mesmas oportunidades, sendo que, para isso, estas têm que ser promovidas, obviamente, por recurso a estratégias distintas. Assim, penso que é de capital importância ter bem presente que o respeito pela diferença é a condição necessária para promover em todos um ensino com igualdade de oportunidades que caracteriza a condição humana.

Neste contexto, importa lembrar a Convenção da ONU e a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural que advogam a eliminação de todas as formas de discriminação racial.

―Os Estados Parte comprometem-se a proibir e a eliminar a discriminação racial em todas as suas formas e a garantir o direito de cada um à igualdade perante a lei, sem distinção de raça, de cor ou de origem nacional ou étnica.‖

Convenção da ONU sobre a Eliminação de todas as formas de descriminação racial ( 1966)

Já o Art.2 º da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural 2002 refere que :―Em sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se

indispensável garantir uma interacção harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como sua vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz‖.

Acresce, no artigo 5, dizendo: ―… toda a pessoa deve poder expressar-se, criar e difundir as suas obras na língua que deseje e, em particular, na sua língua materna; toda a pessoa tem direito a uma educação e formação de qualidade que respeite plenamente a sua identidade cultural.Toda a pessoa deve poder participar na vida cultural que escolha e exercer suas próprias práticas culturais, dentro dos limites que impõe o respeito aos direitos humanos e ás liberdades fundamentais.‖

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Deste excerto é possível inferir que: a) a diversidade cultural é uma realidade; b) a existência de diversidade cultural é uma riqueza para a humanidade; c) são as dinâmicas criadas pela diversidade cultural que colocam a humanidade na senda do progresso; d) todas as culturas têm o mesmo estatuto perante lei; e) os diferentes países do mundo têm que desenvolver políticas que favoreçam o desenvolvimento das diferentes culturas e garantam a liberdade de cada um poder exercer as suas próprias práticas culturais e de preservar a sua identidade cultural.

Na tentativa de alcançar estes objectivos, são várias as políticas que os governos podem adoptar, sendo que a política educativa é, seguramente, uma delas. Neste sentido, não vislumbro como poderia uma sociedade ou um País querer cumprir estas Declarações deixando de fora a Escola. Não só não vislumbro essa possibilidade, como considero que a Escola é, seguramente, o melhor, e mais importante, veículo para lá chegar.

Antes de analisar as implicações desta diversidade cultural, designadamente na Escola Secundária Alexandre Herculano, importa aqui efectuar um pequeno preâmbulo que delimite o campo conceptual associado a esta diversidade cultural.

O contributo da Biologia

Num primeiro patamar de análise uma questão se coloca: Como entender uma tão grande diversidade cultural se o ser humano é constituído apenas por uma espécie? Richard Dawkins, biólogo, dá-nos algumas pistas para a compreensão deste fenómeno no seu livro “O Fenótipo Estendido”. Nele expõe o conceito de Fenótipo, referindo que são as características observáveis ou caracteres de um organismo como, por exemplo: morfologia, desenvolvimento, propriedades bioquímicas ou fisiológicas e comportamento. Acresce, que o fenótipo resulta da expressão dos genes do organismo, da influência de factores ambientais e da possível interacção entre os dois. Assim, o Fenótipo é um conjunto de características distinguíveis de outras características observáveis, ocorrendo sob a forma de manifestação externa e visível do

genótipo6 oculto. Já o fenótipo estendido é uma particularidade de uma espécie animal que vai além da sua pele (exemplo: ninhos das cegonhas ou a barragem do castor, são ambos tão identificáveis como se víssemos a sua cauda, ou seja são extensões dos animais). E o homem? Este é, também, um fenótipo estendido na cultura, porém não existe no abstracto mas na profusão imensa de expressões. No ser humano, o fenótipo estendido constitui-se na diversidade (Professor R. Garcia, Seminário 1 – Tópicos 1, 2010. FADEUP).

Os Homens, em termos biológicos, são todos iguais, mas os animais não. Um ser humano do Árctico pode reproduzir-se com um Europeu, mas tal não é possível ocorrer com os animais.

Por conseguinte, observa-se então que o Homem é uniforme e multiforme, uno e diverso, convergente e divergente, o que determina a existência de uma multiplicidade cultural na uniformidade biológica.

No palco social, o Homem torna-se, assim, um actor cultural sendo que cada homem, dada a sua diversidade, é um actor diferente. E, neste palco, podemos considerar que existe um diálogo permanente entre os múltiplos actores culturais: jovens/idosos; urbanos/rurais; brancos/de cor; eu/outro. Este último tópico é fulcral, pois a vida em comunidade exige saber respeitar e aceitar o outro. Se transportarmos esta noção para a sala de aula, podemos afirmar que lá nós somos “vinte” vezes outro e uma vez eu (Professor R. Garcia, Seminário 1 – Tópicos 1, 2010. FADEUP).

De entre os conceitos que o campo conceptual da integração social abarca, deparamo-nos com multiculturalidade, pluriculturalidade e monoculturalidade. Mas qual o significado destes conceitos? É frequente, em textos não especializados ou em conversas provindas do senso comum, os conceitos multiculturalidade e pluriculturalidade serem usados como sinónimos. É verdade que tanto “pluri” como “multi” são dois prefixos que significam muito, muitas, vários ou várias, facto que permite depreender que, tanto multiculturalismo como pluriculturalismo, encerram o conceito de coexistência de muitas ou várias culturas numa mesma sociedade. No entanto, estes não

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englobam o mesmo significado, sendo marcados por uma pequena diferença, que faz toda a diferença.

Passemos então à delimitação conceptual de cada um destes conceitos, no sentido de retirar ensinamentos para o contexto escolar.

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