• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA O ENSINO

3.5 O Currículo Como uma Construção Coletiva e Integradora: O Seminário Integrado

A reforma curricular que rompe paradigmas na educação, na vida e nas práticas de todos os envolvidos na escola de Ensino Médio, exige uma nova postura de todos nesse processo.

Com a reestruturação curricular do Ensino Médio Politécnico que, segundo Ferreira (2013, p. 187), “utiliza o Seminário Integrado e a Avaliação Emancipatória como estratégias capazes de promover a mudanças do ensino e da escola, para que ela efetivamente cumpra sua primordial função de aprendizagem com qualidade social”.

Os educadores precisaram reorganizar seus planejamentos, construindo uma prática coletiva e dialógica; os alunos precisaram reorganizar sua forma de estudar, buscando a construção da autonomia por meio da pesquisa.

Com o início das atividades de Seminário Integrado, houve a necessidade de os alunos desenvolverem a prática da pesquisa estudando sobre assuntos de seu interesse, de sua preocupação. Da mesma forma, os professores da base diversificada precisaram estudar mais sobre assuntos que envolviam as diferentes áreas de saber, contribuindo com a produção dos trabalhos interdisciplinares realizados durante o Seminário Integrado que subsidiam a pesquisa.

A mudança ocorreu também em relação às práticas desenvolvidas dentro da sala de aula, pois se fez necessário utilizar outros recursos. Além do quadro-negro e/ou livros didáticos, foi se executando atividades mais coletivas e integradas. O fato de levar o aluno a se envolver com o processo da pesquisa, provocou a necessidade de atividades de observação, relatos, análises, experimentos em laboratórios e visitas em outros espaços sociais.

A formação dos educadores que, atualmente, encontram-se na escola, originou-se de um modelo universitário que se fragmentou em hiper-especializações dos conhecimentos, analisando os objetos a partir de um campo de conhecimento específico nas diferentes ciências. Esse fator refletiu na ação pedagógica dentro da escola de educação básica.

Sem generalizar, é visível que alguns educadores relutam com a integração curricular dos saberes em áreas do conhecimento, pois compreendem que os alunos sejam os responsáveis pelo fato de realizar a reflexão interdisciplinar.

Os educandos estão construindo sua bagagem de conhecimentos científico- tecnológicos e estão na escola para fazer o processo de aprendizagem científico, por isso se torna necessário um trabalho integrado, no qual seja possível significar os conteúdos escolares e as vivências a partir de práticas pedagógicas contextualizadas entre os conhecimentos formais e não formais, isto é, entre o conhecimento que já sabem e que precisam saber.

Segundo Ferreira (2013, p. 191), quatro fontes sustentam um currículo integrado:

Epistemológica: modos de produção do conhecimento; relação sujeito-objeto- sujeito; circunstância histórica transformada. Filosófica: especificidades temporais e espaciais; características próprias do aluno e seu contexto. Socioantropológica: significados socioculturais de cada contexto; sistemas simbólicos da relação entre sujeito que aprende e os objetos da aprendizagem. Sociopedagógica: relação entre etapas de desenvolvimento e aprendizagem; escola como espaço de trabalho cooperativo e coletivo.

Quando os estudantes não encontram significado entre sua realidade vivida e os conteúdos abordados na escola, começam a desinteressar-se em aprender os conteúdos escolares e realmente o horário que mais gostam de estar na escola é a “hora do recreio”, e a

motivação de aprender acaba se tornando secundária, porque as atividades ali realizadas não são compreensíveis, não dão significado às necessidades vividas. Dessa forma, estar na escola torna-se uma obrigação. Para Ferreira (2013, p. 192), a reestruturação curricular propõe que a escola assuma como objetivo, no seu Projeto Político Pedagógico, o conhecimento das problemáticas da comunidade escolar.

Recentemente uma jovem do Ensino Médio escreveu em sua prova de química o seguinte: – “Amo moda, já decidi que irei cursar faculdade de moda. Em que estas atividades de química irão contribuir para realizar meu sonho?”

O desabafo da jovem que não consegue compreender a relação entre a química e a moda lança à professora questionamentos e, de imediato, sua atitude é entrar em contato com a família, buscando ajuda para conversar com a filha. A atitude da professora certamente está correta, pois a função da escola é propiciar aos alunos os conhecimentos construídos pela humanidade, os conhecimentos formais; no entanto a forma como a escola de Ensino Médio organizava até então a distribuição dos conhecimentos, de certo modo não contemplava as expectativas da estudante.

Como conceber, então, espaço para que a aluna compreenda como os conhecimentos formais relacionam-se com suas expectativas ou problemáticas? Como a professora pode propiciar atividades que deem significado a estes conhecimentos da tradição que precisam ser trabalhados na área da ciência da natureza (química) e os sonhos que a estudante tem de se tornar profissional da moda? Quais atividades teórico/práticas contemplariam os conhecimentos científicos sobre moda para aquela aluna? Como é possível os alunos fazerem a relação entre os conhecimentos científico-tecnológicos desenvolvidos pela escola e as escolhas da vida?

Em primeira instância, a escola não considera as vozes dos estudantes, seus saberes, suas experiências, suas expectativas; em segunda instância, o professor, inconscientemente, assume-se ainda como detentor de um saber e, diante disso, prende-se em exercícios que promovem a memorização e não o entendimento dos assuntos trabalhados. Exemplo disso é quando o professor traz para a sala de aula explicações de conceitos, de conteúdos, fórmulas e tabelas para a resolução de exercícios e estes apenas servem para memorização. Por sua vez, não tem significado por parte dos alunos; fica distante do imaginável. Por mais que o aluno tenha desenvolvido a capacidade de abstração, o conteúdo estudado encontra-se distante, desconectado de sua realidade, sem significado. Conforme Marques:

Ao entender o conhecimento como representação mental dos objetos, a educação era a possibilidade de fazer chegar aos alunos aquilo que já se descobriu como verdade. Cada ciência organizava seus saberes de forma independente e fechada em si mesma. Ao professor cabia ensinar a verdade estabelecida pela ciência escrita nos livros. Os livros continham os conteúdos a serem assimilados. Observa-se que o livro didático, hoje, em grande número em nossas escolas, tem suas origens neste modo de entender e justificar o conhecimento (2000, p. 19).

Assim, as práticas educativas perpetuaram-se na transmissão e anularam a capacidade investigativa do professor e do estudante. O professor, em sua função de transmissor, que tem o conhecimento específico, necessita transmiti-lo; por sua vez, o aluno, em sua função de receptor, apenas absorve o que o professor explica. O interesse de descobrir, criar, reinventar, fica obscurecido. Consoante Marques (2000 p.26) “evidencia-se então a necessidade da complementaridade dos saberes de todas as ciências para a compreensão da totalidade do mundo da vida”.

Com o auxilio dessa passagem entende-se que a construção do saber é inseparável da constituição dos sujeitos e da construção dos objetos de conhecimento em interlocução (comunicação das diferentes vozes), mediados pelos processos educacionais.

Estes precisam promover a discussão e a argumentação com os demais sujeitos pelo consenso e validação de novos conhecimentos. Rompem-se as afirmativas conceituais individualistas trazidas pela razão instrumental, e todas as ciências juntas contextualizam o novo saber, e essas verdades passam a ser passíveis de novos questionamentos.

A partir desta reflexão percebe-se a passagem para um novo paradigma, que considera a prática social que, segundo Marques (2000, p. 26), entende “o conhecimento como uma questão de prática social que nos situa numa comunidade, espaço lógico das razões”. Eis as grandes mudanças! Adentra-se, por meio da política pública em estudo, na integração dos saberes e na construção efetiva de novos conhecimentos, tomando as práticas a partir de um processo dialógico, tendo como referência o grupo e sua realidade. Conforme Marques (2000, p. 26), “a educação é produção do conhecimento”, entendendo que o conhecimento somente existe porque se dá entre os sujeitos que se predispõem a produzi-lo, conhecê-lo e ressignificá-lo.

As primeiras mudanças visíveis na Escola Técnica Estadual 25 de Julho, após a introdução da Proposta Pedagógica para o Ensino Médio Politécnico são: a reorganização curricular e a integração das disciplinas em áreas de conhecimento, e a regulamentação dos documentos da escola (regimento escolar, planos de estudo, plano de trabalho docente, projeto político pedagógico). Diante disso, surgem as primeiras atividades

interdisciplinares, que são os planejamentos e elaboração de avaliações por áreas de conhecimento. O Seminário Integrado é realizado com sistematizações em bancas de apresentação e feiras de estudo.

Essas reestruturações iniciam-se movimentando as práticas dos docentes, por incluir na base curricular geral a articulação com a base diversificada, estando vinculadas às atividades da vida e do mundo do trabalho. A organização curricular do Ensino Médio Politécnico passa a contemplar 3 mil horas em sua totalidade; no 1º ano 75% de formação geral e 25% de formação diversificada, no 2º ano 50% formação geral e 50% formação diversificada e no 3º ano 25% de formação geral e 75% de formação diversificada.

1º 2º 3º Total

Formação Geral 750h 500h 250h 1.500h

Parte Diversificada 250h 500h 750h 1.500h

Total 1.000h 1.000h 1.000h 3.000h

Observação: Esses porcentuais de distribuição das cargas horárias dos dois blocos não foram executados na Escola 25 de Julho. A base ficou a mesma para os três anos: 75% de formação geral e 25% de formação diversificada.

Fonte: SEDUC, 2011, p. 23.

O que se entende por base geral (núcleo comum) e base diversificada, segundo o documento norteador?

Entende-se por formação geral (núcleo comum), um trabalho interdisciplinar com as áreas do conhecimento com o objetivo de articular o conhecimento universal sistematizado e contextualizado com as novas tecnologias, com vistas à apropriação e à integração com o mundo do trabalho. Entende-se por base diversificada (humana-tecnológica-politécnica) a articulação com as áreas do conhecimento, a partir de experiências e vivências, com o mundo do trabalho, a qual apresente opções e possibilidades para posterior formação profissional nos diversos setores da economia e do mundo do trabalho (SEDUC, 2011, p. 23).

As duas bases descritas são articuladas por um processo de integração interdisciplinar. O que vai estabelecer realmente a mudança, no entanto, será a práxis desenvolvida na sala e a relação entre os “aprendentes”, professor e aluno, que efetivará e conduzirá a integração.

Dependendo da forma como serão desenvolvidos os trabalhos envolvendo estas bases se edificará a introdução da proposta no ambiente escolar. Estas duas bases direcionarão a mudança e a integração, colocando o trabalho como princípio educativo e a pesquisa como princípio pedagógico. Qual o significado e a função de cada uma destas bases? Como ocorrerá a articulação destes saberes?

A base geral é formada pelas disciplinas em suas áreas de conhecimento. Ou seja, os conteúdos/conceitos da base geral permanecerão como sustentação para a aprendizagem dos sujeitos. A partir de agora, no entanto, as disciplinas terão a oportunidade de dialogar entre si e com as temáticas desenvolvidas na base diversificada por meio do Seminário Integrado.

A base diversificada é específica para o trabalho no Seminário Integrado. Esta é a principal mudança neste novo modelo curricular; o principal meio de articulação entre as áreas de conhecimento e o mundo do trabalho. Essa relação se dá mediada pela pesquisa como princípio pedagógico.

A partir da integração entre a base comum e diversificada, o Seminário Integrado na Escola 25 de Julho possibilitou o diálogo entre os componentes curriculares pelos movimentos efetuados com a pesquisa.

O trabalho no Seminário Integrado é coordenado por um professor orientador que dá as coordenadas do trabalho construído por meio da pesquisa como princípio pedagógico, porém precisa ser objeto de observação dos demais professores e seus conteúdos trabalhados nas áreas de conhecimento, porque a base geral (comum) tem como objetivo apropriar-se da base diversificada no sentido de contextualizá-la com as temáticas trabalhadas. Ou seja, o Seminário Integrado é onde as áreas de conhecimento (formadas pelas disciplinas) transitam para formatar o trabalho integrado com os eixos temáticos transversais.

A pesquisa socioantropológica como uma dimensão do currículo assume, nesse contexto, caráter pedagógico, pois é tomada como instrumento da práxis que possibilita percorrer e pensar a relação entre parte e totalidade, entre teoria e prática, entre pensamento herdado e vivido pelos sujeitos.

Por meio da pesquisa o trabalho pedagógico incentiva a participação e a socialização, a cooperação e o protagonismo, garantindo que o contexto vivencial do aluno seja considerado nas práticas escolares.

Os projetos de pesquisa são elaborados dentro dos eixos temáticos transversais descritos no documento (SEDUC, 2011, p. 24-25): 1 – Acompanhamento Pedagógico; 2 – Meio Ambiente; 3 – Esporte e Lazer; 4 – Direitos Humanos; 5 – Cultura e Artes; 6 – Cultura Digital; 7 – Prevenção e Promoção da Saúde; 8 – Comunicação e Uso de Mídias; 9 – Investigação no Campo das Ciências da Natureza; 10 – Educação Econômica e Áreas de Produção.

Ainda como forma de garantir o trabalho integrado e interdisciplinar envolvendo os eixos temáticos e as áreas de conhecimento, desafia-se os professores ao planejamento coletivo.

Kuenzer (1989) alerta que

os professores precisam mudar a forma tradicional de ensino, trabalhar os conteúdos escolares com base nas leituras da realidade e nos conhecimentos dos saberes tácitos e experiências dos alunos, organizar situações de aprendizagem que permitam desenvolver as capacidades de leituras e interpretação da realidade, de forma crítica, e promover situações em que os alunos transitem do senso comum para o comportamento científico.

Diante disso, a Escola Técnica Estadual 25 de Julho registra a formação integral dos sujeitos que a ela tiveram acesso, promovendo atividades de modo que a apropriação do saber parta dos próprios sujeitos e possibilite que os conhecimentos aprendidos na escola se articulem com a vida, levando-os a superar o senso comum.

Mediante as práticas desenvolvidas no Seminário Integrado tornou-se possível a escolha de temas para pesquisas presentes no dia a dia dos estudantes, advindos de sua realidade do mundo do trabalho em que estão inseridos, de problemas encontrados em suas comunidades e de suas inquietações.

A prática foi se constituindo em um processo contínuo de experimentação e avaliação das práticas desenvolvidas, motivando e valorizando sempre a experiência e a opinião do outro. Nesse processo de construção e reconstrução a prática docente foi alicerçando-se, fortalecendo as características de uma formação politécnica. A cada aula planejada, a cada elaboração e desenvolvimento de projetos e sistematizações nos Seminários Integrados, ficava visível a integração dos saberes e a superação das dificuldades, e isso passou a estimular os professores a buscar mais recursos, mais elementos; motivou muito mais os professores e alunos.

Isso significa que a formação escolar politécnica na Escola Técnica Estadual 25 de Julho conduziu os alunos a verificar o que precisa ser melhorado em sua vida, em sua realidade e, dessa forma, as experiências e aprendizagens produzidas na escola começam a dialogar com as necessidades, curiosidades da vida, produzindo significado a tudo o que existe a sua volta.

O Seminário Integrado torna-se um instrumento de articulação/integração dos saberes com o exercício da pesquisa; caminhos possíveis para a formação humana integral. Conforme Ferreira,

O Seminário Integrado organiza-se a partir da elaboração de projetos, nos quais a pesquisa se articula com eixos temáticos transversais, com eixos conceituais, linhas de pesquisa ou com os eixos produtivos tecnológicos, que sintetizam uma necessidade-demanda ou uma situação-problema relacionada à vida do aluno ou seu contexto. Nesse sentido, a pesquisa sócio-antropológica é a fonte de informação privilegiada para a organização dos projetos, trazendo os dados coletados e trabalhados pelos professores para o desvelamento e enfrentamento da realidade, na direção do empoderamento dos sujeitos para fazerem suas escolhas... Nessa nova dinâmica da escola, outras dimensões entram como ambiente educativo; o conceito de espaço pedagógico amplia-se para além da sala de aula e da escola... De complexidade crescente, o Seminário Integrado tece uma rede de conhecimentos, que identifica e cria possibilidade de intervenção na realidade, pela contextualização e significado dos conhecimentos construídos (2013, p. 193).

[...] além dos eixos e dos princípios orientadores, a reestruturação curricular está embasada numa concepção de educação emancipatória, na qual a concepção de conhecimentos se expressa como um processo humano, histórico, incessante, de busca, de compreensão, de organização, de transformação do mundo vivido e sempre provisório; a produção do conhecimento tem origem na prática do homem e nos processos de transformação da natureza (Idem, p. 190).

A prática do Seminário Integrado também efetivou o trabalho interdisciplinar por intermédio da articulação dos conhecimentos por meio da pesquisa. Os eixos temáticos auxiliam na articulação entre os conhecimentos da tradição e a realidade social, constituindo- se no exercício da interdisciplinaridade. Visualiza-se a possibilidade de interação entre as diferentes áreas do saber (e seus conteúdos), entre o mundo do trabalho (e suas problematizações) e entre a realidade dos alunos (com suas características culturais). A dependência dos diversos aspectos, mesmo que sejam complementares ou antagônicos, relacionam-se dialogicamente.

Ao escolher uma temática para a pesquisa, o estudante considera a sua realidade e as suas vivências pessoais e profissionais, trazendo-as à discussão para que os conhecimentos científicos (das diferentes áreas) possam clarificar o problema e conduzir a um novo entendimento. A partir do Seminário Integrado surge a possibilidade de uma prática que promova a interação entre parte e totalidade ou entre teoria e prática, constituindo-se no desafio da educação para o século 21. Trata-se de estimular um movimento de relação entre os processos educacionais de ensino e aprendizagem, os conhecimentos formais trazidos pela tradição, os saberes do cotidiano dos jovens e os problemas de sua realidade e de sua comunidade, tornando-os elementos de reflexão.

O professor orientador do Seminário Integrado tornou-se o propagador da prática da pesquisa, dos métodos e elaboração de uma pesquisa; fica ainda responsável em articular a base comum e a base diversificada para a contribuição dos significados das temáticas pesquisadas. O Seminário Integrado torna-se o articulador da integração curricular, além de promover a pesquisa (SEDUC, 2013, p. 193).

O Seminário Integrado organiza-se a partir da elaboração de projetos nos quais a pesquisa socioantropológica articula os eixos temáticos transversais. Ou seja, “a pesquisa antropológica é a fonte de informação privilegiada para a organização dos projetos trazendo os dados coletados e trabalhados pelos professores para o desvelamento e enfrentamento da realidade, na direção do empoderamento dos sujeitos para fazerem suas escolhas” (FERREIRA, 2013, p. 193).

A pesquisa e a articulação entre os conhecimentos formais e sociais constituem o esquema de operacionalização do Seminário Integrado, que prepara o aluno para o mundo da vida e do trabalho. Essa concepção também rompe com a dicotomia estabelecida entre o trabalho intelectual e o trabalho manual.

No Ensino Médio Politécnico a pesquisa atua como princípio pedagógico educativo, concordando com Marques (1990, p. 87) de que “as relações entre prática e teoria são referências obrigatórias em qualquer ciência, mas no caso da pedagogia tornam-se elas fundantes e constitutivas”. A articulação de suas respectivas tecnologias gera uma relação paralela entre a formação intelectual e a formação instrumental.

“A educação politécnica é considerada uma educação formal que integra trabalho, ciência, cultura e tecnologia, necessários para a fundação da existência e a consciência dos direitos políticos e sociais”, reforçando o caráter científico-tecnológico e histórico-social. Aceitar e enfrentar o desafio dessa nova prática constitui-se em um compromisso com o processo educacional. A esse respeito, Morin assevera:

A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana. Estamos na Era Planetária; uma aventura comum conduz os seres humanos, onde quer que se encontrem. Estes devem reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo o que é humano. Conhecer o humano significa situá-lo no universo e não separá-lo dele, todo conhecimento deve contextualizar seu objeto, para ser pertinente. “Quem somos?” é inseparável de “Onde estamos? De onde viemos? Para onde vamos?” (2001, p. 47).

Compreende-se que a dimensão integral do ser humano está sempre vinculada ao processo de aprendizagem, o que significa reconhecer a sua multiplicidade de formas possíveis e necessárias. A condição humana, inserida nesse contexto, pode e precisa se desenvolver socialmente para realizar as suas necessidades.

A possibilidade de mudança a partir de uma reforma curricular toca no que há de mais fundamental na tradição escolar. Esta Proposta Pedagógica interfere diretamente no “fazer” dos docentes. O processo das práticas pedagógicas possibilita um alargamento da noção de conhecimento e aprendizagem, questionando noções fechadas, compartimentadas, hierarquizadas.

Sacristán (2007, p. 42) afirma que, de certa forma, todas as sociedades já existentes foram do conhecimento, pois as pessoas geraram conhecimento, objetivaram fatos, criaram coisas, mas isso não significa que todos tiveram acesso aos conhecimentos produzidos; o que continua sendo um grande desafio para a educação.

O papel da escola e da universidade consiste, em última instância, em criar processos