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CAPÍTULO 3 DESAFIOS INOVADORES DA GESTÃO CURRICULAR

3.4. O currículo próprio da escola

O currículo próprio da escola é de extrema importância para a concretização das linhas orientadoras do currículo prescrito definido pela administração central. Nos contextos em que o sistema educativo é centralizado (sem autonomia curricular) ou descentralizado (com autonomia curricular para eleborarem os seus currículos), as escolas têm de definir micropolitas curriculares inovadoras para a concretização das aprendizagens. O currículo próprio da escola tem de demarca-se dos currículos tradicionais e ser um currículo moderno e desafiador que engloba nas suas linhas de atuação diversos saberes. Roldão (2013, p. 132) “sustenta que importa olhar o currículo como realidade socialmente construída que carateriza a escola como instituição em cada época, e abandonarmos uma visão naturalista de currículo como um figurino estável de disciplinas que nos últimos tempos têm sido ensinadas na escola. Constitui-se em

currículo aquilo que se atribui uma finalização em termos de necessidade e funcionalidade social e individual e que como tal, se institui”.

De acordo com Sacristán (1989, p. 65-66), “na escolaridade obrigatória o currículo tem de assumir a função socializadora da educação. Tem de ir mais além dos conteúdos académicos”. Freitas (1995, 1998, citado em Silva, 2016, p. 20) considera o currículo como tudo o que a escola intencionalmente proporciona aos alunos visando a sua aprendizagem, deixando de lado a imagem do currículo como um livro, um guia do professor, para orientar no sentido daquilo que o professor e os alunos desenvolvem na aula. Ao ser desenvolvido na sala, o currículo tem de proporcionar aprendizado aos alunos, neste contexto, o currículo segundo saylor e Alexander (1966, citado em Pacheco, 2001, p. 36), se traduz nas oportunidades de aprendizagem que a escola proporciona aos alunos.

O currículo da escola tem uma função desafiante e inovadora na medida em que expressa a ideia de valor acrescentado e assume-se como um projeto educativo. Segundo Roldão (2013, p. 131), “o currículo em sentido lato corresponde ao corpo de aprendizagens (conhecimentos de vários níveis e tipos, valores, técnicas, outros) de que essa sociedade considera que precisa para sobreviver e de que cada um dos seus membros precisa de se apropriar para nela se integrar de forma satisfatória”. Para Dawson (1934, citado em Pacheco, 2005, p. 57), o currículo da escola consiste em todas atividades, cursos de estudos, matérias e materiais que são utilizadas como significados para a prossecução de objetivos e resposta aos propósitos escolares.

Segundo Sacristán (1989, p. 65), “ na escolaridade obrigatória, o currículo é um projeto educativo globalizador, que agrupa diversas facetas da cultura, do desenvolvimento pessoal e social, as necessidades vitais dos indivíduos para desenvolver-se em sociedade, destrezas e habilidades consideradas fundamentais. Os conteúdos do projeto educativo vão mais além da seleção de conhecimentos pertencentes a diversos âmbitos do saber elaborado e formalizado” Esta ideia é corroborada e reforçada por Lima (1992, citado em Silva, 2016, p. 20), quando refere que o currículo engloba “todas as atividades educativas planificadas e desenvolvidas sob a responsabilidade da escola, letivas ou não e realizadas dentro ou fora dela. As atividades educativas para serem exequíveis, dependem em grande medida da parte estratégica do currículo, como afirma Canário (1992, p. 97-98), “o currículo adquire a sua expressão mais próxima da escola através daquilo que são os projetos curriculares da escola que são os programas e programação. O programa é o documento oficial, onde é especificado o projeto formativo para um determinado nível e programação é a interpretação-adaptação que cada escola elabora da referida proposta oficial”.

Diogo (2010, p. 22) “entende que o projeto curricular é a forma particular como, em cada contexto, se constroi e se apropria um currículo face a uma situação real, definindo opções e intencionalidades próprias, e construindo modos específicos de organização e gestão curricular, adequados à consecução das aprendizagens que integram o currículo para os alunos concretados daquele contexto.”

O currículo da escola assume-se como um desafio inovador, tendo como referência as dinâmicas confluentes entre o ideal e o concreto, isto é, de acordo com pacheco (2005, p. 37- 99), entre a racionalidade técnica (engenharia curricular associada à lógica do estado) e a racionalidade prática (nível de atuação dos atores e sujeitos como decisores das políticas currículares). De acordo com Correia (1991, citado em Silva, 2016, p. 20), a noção de inovação em educação referencia tanto práticas pedagógicas, que visam explicitamente melhorar o funcionamento dos sistemas de ensino sem pôr em causa as suas estruturas ou fundamentos ideológicos, como pode referenciar práticas que têm por objetivo explícito mudar radicalmente a escola e a estrutura das relações que ela mantém com a sociedade. Para Rivas (2000, citado em Silva, 2016. p. 21), a inovação, um termo polissémico, implica uma ação que comporta a introdução de algo de novo no sistema, modificando a sua estrutura e as suas funções de tal modo que implicam melhorias nos seus resultados educativos. Alonso (1998, citado em Silva, 2016, p. 25) sugere que a utilização do conceito de inovação refere-se a uma série de mecanismos e processos, mais ou menos deliberados e sistemáticos, através dos quais se pretende induzir e promover certas mudanças nas práticas educativas vigentes, à luz de determinados princípos e valores, que lhe dão sentido e legitimação.

Segundo Silva (2016, p. 25-26), o termo mudança tem a ver com “processos de inovação nos contextos educativos, onde escolas e professores assumem papel decisivo na melhoria dos processos e das práticas educativas, em relação com os contextos e as comunidades que os configuram[...]atribuindo-lhes uma maior autonomia e responsabilização, assim como a melhoria da profissionalização docente, através das dinâmicas de formação e colaboração”.

Atualmente, o currículo escolar assume vários desafios, pois, na sociedade globalizada os valores morais tendem a degradar-se cada vez mais, algumas famílias pela falta de tempo em função das pressões sociais do mercado laboral, transferem para a escola o papel educativo esperando que a mesma cumpra com o seu papel socializador como afirma (Sacristán, 1989, p. 66) “foi transferida para a instituição escolar missões educativas que em outros momentos históricos eram desempenhadas por outras instituições como a família, Igreja e os diferentes grupos sociais. O ingresso dos alunos nas instituições escolares acontecem cada vez mais cedo.”

Na perpetiva de Sacristán (1989, p. 61), “o currículo da escola é um projeto cultural que consiste no seguinte: um instrumento de comunicação entre a teoria e prática, desempenhando um papel ativo muito importante entre os professores e os alunos; uma perspetiva que estimula uma nova consciência sobre a profissionalidade dos docentes como indagadores reflexivos em suas práticas.”

Com base nas perspetivas apresentadas, podemos dizer que o currículo próprio da escola tem caraterísticas específicas que dão vida e consistência no processo de ensino e aprendizagem, entre as quais distinguimos as seguintes: função socializadora, desenvolvido pelo professor e alunos na aula, meio para oportunidades de aprendizagem aos alunos, tem valor acrescentado, corpo de aprendizagens e assume-se como um projeto educativo globalizador.

CAPÍTULO 4 - LIDERANÇA EDUCATIVA