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PERSPECTIVAS E DESAFIOS DE UMA LICENCIATURA PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

5 AS ENTREVISTAS COM O NÚCLEO DOCENTE ESTRUTURANTE (NDE)

5.2 O CURRÍCULO E O PROJETO PEDAGÓGICO

De acordo com Silva (2010, p. 150), “[...] O currículo é um lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. [...] O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade.”

Alicerçados neste conceito, perguntamos aos participantes do NDE o que eles entendem por currículo. Observamos que o entendimento dos participantes coaduna com o conceito de Silva (2011). Em linhas gerais, ficou claro que o currículo transcende a grade curricular e as ementas das disciplinas, e é a partir dele que são reveladas as identidades institucional, do curso e profissional.

Currículo, diferente de que muita gente confunde matriz curricular com currículo, é para além do conjunto de disciplinas toda a ideologia que está por trás dessas disciplinas, de metodologias utilizadas, o fator político, na escolha desse curso, na organização desse curso. Então são todas as ideias que compõem o projeto do curso, o ideário do curso. (D2)

É uma soma de experiência. Não são só as disciplinas que pertencem à grade do curso exigidas para a formação do aluno naquela formação, mas as experiências que ele teve ao longo do curso que agregaram a ele conhecimento para obter aquela formação. Estágio, seja ele obrigatório ou não, experiências anteriores que ele já teve, que poderiam fomentar a possibilidade de formação naquela carreira que ele escolheu. (D3)

Currículo é muito mais do que uma grade curricular. Ele não é só isso. Currículo revela a identidade institucional, a identidade do curso. O currículo, ele é o percurso. Percurso que se constrói historicamente, como eu acabei de falar, o currículo da licenciatura era um e as exigências políticas, contextuais, dos ministérios, das leis, dos decretos vão dando formatação a esse currículo. Então, o currículo é a identidade de um povo, é a identidade social. (D1)

Em seguida, pesquisamos sobre o envolvimento dos entrevistados na construção do currículo e do projeto pedagógico do Curso de Licenciatura em Eletromecânica. De maneira oposta aos conceitos de currículo apresentados por eles, percebemos que 2 membros do NDE participaram apenas da construção das disciplinas de suas respectivas áreas de atuação. Nestes casos, percebemos que o interesse maior foi de construir especificamente as ementas das disciplinas, prevalecendo o cuidado com o conteúdo, ao invés da construção do currículo como um todo.

A minha atuação maior foi nas disciplinas mesmo, de automação e circuito, que é a área mesmo que eu leciono, as disciplinas que eu dei o palpite mesmo nas ementas. (D5)

A gente pensou de início as disciplinas que poderiam estar presentes na grade do curso, quais os componentes curriculares que pesariam para cada área de eletrônica, de mecânica, as disciplinas de cunho pedagógico... Fiz a ementa da minha disciplina. (D3)

Um relato que deve ser considerado é que o currículo do CLEM foi formado com base nos cursos técnicos de eletromecânica que já existiam. De acordo com D5, “Como é um curso novo, vale ressaltar, não existe uma referência exata para a gente ter como base, então nossa referência essencial foi justamente os cursos de eletromecânica a nível técnico que existem [...]”. O CLEM seria um reflexo do curso técnico adicionando a ele, disciplinas de pedagogia: “nós tentamos refletir isso para o nível superior, para licenciatura, de uma forma mudando o foco de em vez de ser técnico, aquele conteúdo aplicado à técnica, aplicado a só fazer, mas aquele conteúdo agora a nível de ensino, de licenciatura” (D5).

Entendemos que, no projeto original, os saberes do CLEM foram escolhidos pelos professores das áreas de mecânica e elétrica de maneira que cada professor fez a sua ementa com a carga horária que achou conveniente, levando também em consideração os conteúdos ministrados nos cursos de eletromecânica de nível médio, sem que houvesse formação de grupos de trabalho e discussão entre os pares. Para a segunda versão do PPC, foram realizadas reuniões com o colegiado, a fim de adequar o projeto às exigências do MEC, revendo conteúdos e adequação de carga horária das disciplinas.

[..] minha hipótese é a de que os professores da área escreveram cada um a sua ementa, que fez o curso, esboçou esse projeto. Depois disso aí, para avaliar, nós fizemos reuniões no colegiado, [...] a coordenadora anterior, vinha falando com os professores, conversando sobre as ementas, se queriam modificar. (D1)

[...] deram sugestão, modificaram a ementa, daí nós percebemos que tinham algumas coisas repetidas... Agora, nem todos tiveram disponibilidade para participar dessa mudança apesar de terem sido convidados. (D1)

Havia uma carga horária excessiva com outras disciplinas, o professor da área avaliou isto e disse que essas disciplinas acabavam se repetindo em conteúdo por causa da carga horária excessiva, então se enxugou isso para duas disciplinas e foi reorganizado. (D2)

O projeto pedagógico do CLEM já teve uma melhora muito grande em relação a primeira versão. Segundo D1 “o projeto não tem nada do inicial” e sofreu a primeira mudança, principalmente para atender as exigências do MEC. Atualmente, o PPC está em um novo processo de reformulação, estão sendo alterados os pré-requisitos, a carga horária, retirada e inserção de disciplinas. A intenção, neste momento, é melhorar o currículo do curso e adequá- lo a Resolução nº 2 de 2015 “que faz algumas exigências e nós estamos aproveitando também

e reorganizando o projeto para que ele fique mais atualizado, discutindo as questões étnico- raciais, as leis que discutem a educação especial na perspectiva da inclusão.” (D2)

Contudo, mesmo com o prazo para reformulação do PPC ser mais extenso agora que quando de sua criação, foram apontadas algumas dificuldades na reorganização do projeto, devido ao curso considerar duas áreas distintas.

É uma característica importante nesse curso, a considerar, são duas áreas formando um licenciado. Então, se você olhar o currículo, você olha assim, você vê de um lado e de outro, e a pedagógica fica sendo costurada, nós costuramos a pedagógica entre eles. Mas é elétrica e mecânica. Existe um engenheiro elétrico, um engenheiro mecânico. Aí se cria uma licenciatura em eletromecânica. É complexo, é complicado. (D1)

D6 chega a declarar que há uma confusão no projeto de curso. “PPC do CLEM - meio confuso. É um projeto de curso que está passando por uma revisão justamente pra gente tentar deixar as coisas mais claras.” Numa narração, um outro entrevistado expõe a sua preocupação com o curso tratar as áreas de mecânica e de elétrica de forma distinta, sem que haja uma conexão entre as duas áreas: “a gente precisa pensar como eletromecânica. As disciplinas têm que ser de eletromecânica e não disciplinas de elétrica ou de mecânica, porque senão o aluno que vai sair daqui é como se ele tivesse que escolher, “eu vou escolher ser da área de elétrica? ou de mecânica?” (D5)

5.3 A ESCOLHA DOS SABERES E AS RELAÇÕES DE PODER NA FORMAÇÃO DO