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MARCO LEGAL DA FORMAÇÃO DA FORMAÇÃO DOCENTE PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL

UM OLHAR SOBRE A FORMAÇÃO DOCENTE PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E O CENÁRIO NO IFBA

3 MARCO LEGAL DA FORMAÇÃO DA FORMAÇÃO DOCENTE PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL

De acordo com Machado (2008, p.3), “a falta de concepções teóricas consistentes e de políticas públicas amplas e contínuas tem caracterizado, historicamente, as iniciativas de formação de docentes especificamente para a educação profissional, no Brasil”. Apesar da falta de políticas públicas consistentes muitas foram as legislações criadas com a finalidade de regulamentar a docência para a EPT.

O primeiro marco legal com essa finalidade ocorreu em 1960, em que, o exercício da educação profissional passou a ser regulamentado pelo Ministério da Educação (MEC), que por meio da Portaria Ministerial nº. 141/61, estabeleceu o registro de professor para a formação profissional (na época denominado de ensino industrial). Em seguida, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº. 4.024, sancionada em 1961, trazia em seu art. 59 que os professores do ensino técnico seriam formados em Cursos Especiais de Educação Técnica, discriminando os professores do ensino técnico dos de ensino médio. Daí, vários foram os dispositivos legais no sentido de conduzir a formação docente para a educação profissional a cursos de formação especiais. Machado (2006) cita alguns:

[...] “Parecer nº. 257 que aprovou o Curso Especial de Educação Técnica em Cultura Feminina destinado à constituição do magistério para a área de Economia Doméstica e Trabalhos Manuais”. (p.71)

“Em 1965, veio a Portaria Ministerial nº. 174 para determinar que o Curso de Didática do Ensino Agrícola, destinado à formação pedagógica dos professores das disciplinas de cultura técnica e de economia doméstica rural e ao aperfeiçoamento de professores do ensino médio agrícola, [...]” (p.71)

A situação começou a se modificar com a Reforma Universitária, instituída pela Lei nº. 5.540/68, que aumentou o nível de exigência na formação de professores instituindo carga horária mínima e exigindo que a formação de professores para o ensino de segundo grau, de disciplinas gerais ou técnicas, teria que se dar somente em cursos de nível superior, retirando a ideia de cursos especiais para os professores do ensino profissional. No entanto, uma das exigências desta Lei foi o prazo de 5 anos para o seu cumprimento, o que deu origem ao Decreto-lei nº. 655/1969, autorizando órgãos técnicos do MEC a organizarem, em nível superior e para as respectivas áreas, os cursos de Formação de Professores para o Ensino Técnico. Então, foi criada a Fundação CENAFOR (Centro Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal para Formação Profissional), por meio do Decreto-lei nº. 616/69, no âmbito do próprio

MEC, que além de regular, passou a executar a formação de docentes. Ademais, em 1971 foi criada a Lei nº. 5.692/71 que tornou obrigatório o ensino do segundo grau profissionalizante. (MACHADO, 2006).

Isso foi alterado pela Lei n°. 7.044/82, que desobrigou a profissionalização do aluno no ensino de 2° grau, ficando a habilitação profissional como opcional e a critério do estabelecimento de ensino, que deveria, então, atender os mínimos fixados pelo CFE (Conselho Federal de Educação) para conteúdos e duração (MACHADO, 2008).

Constatamos que o CFE, já nesta época, se sustentava basicamente de pareceres para regulamentar a profissão docente, sem políticas consistentes que pudessem se firmar como políticas de Estado.

Minha argumentação é a de que as soluções vistas como emergenciais e provisórias se tornaram permanentes e criaram um conjunto de referências que até hoje estão presentes nas orientações sobre formação docente para o campo da educação profissional e tecnológica. Houve até a intenção do CFE, com a Resolução nº. 3 de 1977, e do MEC, com a Portaria nº. 396/77, de criar uma licenciatura plena para a parte de formação especial do 2º grau, mas sem muito sucesso. (MACHADO, 2006, p.77)

A LDB nº 9.394/96 conduziu menções generalizadas para a formação de professores e o “Decreto 2.208/97, que regulamentou os artigos da nova LDB referentes à educação profissional, interpretou, no seu artigo 9º, que as disciplinas do ensino técnico poderiam ser ministradas não apenas por professores, mas por instrutores e monitores” (MACHADO, 2008, p.8).

No Quadro 1 podemos visualizar melhor os acontecimentos e normas que os nortearam, em relação a formação de professores para a educação profissional e tecnológica.

Quadro 1 – Marco Legal da Formação Docente para a Educação Profissional Tecnológica de 1961 a 2006.

Ano Acontecimentos Regulamentação

1961 Normatiza o registro de professores de ensino industrial.

Previsão de cursos para a formação de professores - Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, os que se destinassem ao magistério no ensino médio e Cursos Especiais de Educação Técnica, os que se habilitassem para disciplinas do ensino técnico. Portaria nº141/61 LDB nº. 4.024/1961, artigo 59 1967 1968

Regulamentação dos Cursos Especiais de Educação Técnica previstos pela LDB nº. 4.024/61, com obrigatoriedade de currículo e carga horária pré- determinada mínimos.

Parecer CFE nº. 12/1967, Parecer CFE nº 479/68 e a Portaria Ministerial nº. 111/68 1968 Determinação que a formação de todos os professores do ensino de segundo

grau, tanto para disciplinas gerais quanto técnicas deveria se dar em nível superior. Dá o prazo de 5 anos para regularização da situação de docentes que não atendiam essa exigência.

Reforma Universitária (Lei nº. 5.540/68) 1969 Em decorrência da Lei nº. 5.540/68, o MEC organizou e coordenou cursos

superiores de formação de professores para o ensino técnico agrícola, comercial e industrial e cria Fundação CENAFOR (Centro Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal para a Formação Profissional). Chegou-se a

planejar a formação de professores para a formação profissional.

1971 A reforma do ensino de 1º e 2º graus instituiu a profissionalização universal e compulsória para o 2º grau, por isso foi criado um plano sobre formação de professores para disciplinas especializadas. O Relatório do Grupo de Trabalho (1970), que serviu de base para o anteprojeto da Lei 5.692/71, indicou a necessidade de formar cerca de 200.000 professores até 1980.

Lei 5.692/71

1977 Instituição da licenciatura plena para a parte de formação especial do 2º grau, fixando currículo mínimo. Dado o prazo de 3 anos para cumprimento da norma, que não obteve sucesso.

Resolução nº. 3 do CFE/1977

1978 A transformação das Escolas Técnicas Federais, onde um de seus objetivos era precisamente oferecer ensino superior de licenciatura plena e curta, visando à formação de professores e especialistas para as disciplinas especializadas do ensino de 2º grau e dos cursos de formação de tecnólogos.

Lei nº. 6.545/78

1982 Flexibilização da Lei 5.692/71, tornando opcional a habilitação profissional no 2º grau.

Lei n°. 7044/82 e Resolução CFE nº. 7/82

1986 Extinção dos órgãos dedicados à formação docente para o ensino técnico vinculados ao MEC: COAGRI (Coordenadoria Nacional de Ensino Agropecuário) e CENAFOR (Centro Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal para a Formação Profissional). Suas responsabilidades foram transferidas para a Secretaria de Ensino de Segundo Grau (SESG) do MEC.

Portaria Ministerial nº. 821/86

1996 As disciplinas do ensino técnico poderiam ser ministradas não apenas por professores, mas por instrutores e monitores, um desleixo com relação às exigências de habilitação docente. Previa que estes deveriam ser selecionados, principalmente, pela experiência profissional.

LDB nº. 9.394/96 e Decreto 2.208/97 1997 Possibilidade de profissionais graduados tirarem a licenciatura com apenas 240

horas de aulas teóricas, podendo ser oferecidas à distância.

Resolução CNE nº. 2/97

2001 Estabelecer programas de formação de formadores para à educação tecnológica e formação profissional e modificar, dentro de um ano, as normas atuais que regulamentam a formação de pessoal docente para o ensino EPT, de forma a aproveitar e valorizar a experiência profissional dos formadores.

Plano Nacional de Educação, Lei 10.172 de 9 janeiro de 2001. 2006 Prevê cursos de licenciatura para professores dos ensinos fundamental, médio

e profissional de nível médio organizados em habilitações especializadas por componente curricular ou abrangentes por campo de conhecimento.

Parecer CNE/CP nº. 5/06

Fonte: Adaptado de MACHADO (2006 e 2008).

Tivemos prejuízos legais em relação a formação docente para EPT, no sentido de que iniciamos um processo de profissionalização destes professores, inicialmente por meio da Portaria Ministerial nº. 141/61 e, no decorrer dos anos seguintes, após essa regulamentação, sucederam vários afrouxamentos e flexibilizações legais, que tiveram como consequência, praticamente o fim das exigências dessa profissionalização com o Decreto 2.208/97.

De acordo com Saviani (2009), ao longo da nossa história, as constantes modificações adotadas no processo de formação docente apresentam um quadro de descontinuidade, ainda que sem interrupção. Para ele:

[A questão pedagógica] ... não encontrou, até hoje, um encaminhamento satisfatório. Ao fim e ao cabo, o que se revela permanente no decorrer dos seis períodos analisados [de 1827 a 2006] 1 é a precariedade das políticas formativas, cujas sucessivas mudanças não lograram estabelecer um padrão minimamente consistente de preparação docente para fazer face aos problemas enfrentados pela educação escolar em nosso país. (p. 148)

Muitos autores compactuam com essa opinião, no que se refere à formação docente para EPT, a qual evidencia instabilidade nas políticas de formação “provisórias, emergenciais ou

especiais, caracterizadas pela transitoriedade e precariedade emergenciais” (MOURA, 2008, p. 32).

O governo Lula inicia em 2003, e dá continuidade nos seus dois mandatos, o programa de expansão da rede federal de educação profissional. Com a adoção desse plano, já em 2006, o CNE/CP produz o Parecer nº 5/06 que prevê cursos de licenciatura para professores dos ensinos fundamental, médio e profissional de nível médio organizados em habilitações especializadas por componente curricular ou abrangentes por campo de conhecimento (MACHADO, 2008).

Em favorecimento a esse Parecer, no ano de 2008, a Lei nº 11.784/08 cria a carreira de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico. Nessa nova carreira, a exigência de ingresso no cargo de Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico é “possuir habilitação específica obtida em licenciatura plena ou habilitação legal equivalente” (BRASIL, 2008). Ainda no mesmo ano foram criados os Institutos Federais por meio da Lei nº 11.892/08. Nela, a questão da oferta de vagas para formação de professores para a Educação Básica e Educação Profissional foi exigida como uma das metas a serem cumpridas pelos institutos, ou seja, os Institutos, que não têm referência na oferta de cursos de licenciatura passaram a ter a obrigatoriedade de oferta-los, missão antes delegada às universidades.

Estes aparatos legais reproduzem as discussões e propostas expostas para a rede federal de educação profissional e tecnológica até os dias atuais, ficando nítida a necessidade de formar docentes para trabalhar no ensino técnico, igualmente, a imprescindibilidade do desenvolvimento de políticas claras e específicas para essa finalidade.

Seguindo o mesmo princípio do governo Lula, de profissionalizar docentes, no governo Dilma, foi aprovada a Resolução CNE/CP nº 2, de 1º de julho de 2015. A mesma trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial e continuada, materializando a profissão docente num contexto em que as licenciaturas passam a ser requisitos necessários para o exercício da docência.

Na contramão da história e de maneira retrógrada, o governo de Temer converte em lei a Medida Provisória nº 746/2016. A Lei nº 13.415, de 16 de fevereiro de 2017, conhecida como a lei da reforma do ensino médio traz mudanças significativas para a formação docente, principalmente para o educação profissional e tecnológica, permitindo que profissionais com “notório saber” possam dar aulas no ensino técnico. Estamos aguardando o processo de regulamentação desta nova lei, o qual deve ainda sofrer modificações e especificar de que maneiras as novas regras serão atendidas.

Enquanto isso não ocorre, dentre as premissas que envolvem a criação dos institutos federais, constata-se: 1. Destinar, no mínimo, cinquenta por cento das vagas para educação profissional técnica de nível médio; e, 2. Reservar, no mínimo, vinte por cento das vagas para “cursos de licenciatura, bem como programas especiais de formação pedagógica, com vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e matemática, e para a educação profissional” (Lei nº 11.892/08, Art. 7º, VI, b).

Desta forma, assume especial relevância o fato de analisar os múltiplos aspectos que permeiam o processo de implantação de cursos de Formação de Professores para EPT. Este é um dos objetivos do item 4 deste artigo, com especial atenção para o Instituto Federal da Bahia (IFBA).

4 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NO